segunda-feira, 26 de junho de 2017

Kalistos Ware - A Igreja Ortodoxa - Parte I: O Século Vinte (Tradução: Padre Pedro de Oliveira)

O Século Vinte.

Gregos e Árabes.

A Igreja Ortodoxa de hoje existe em duas situações contrastantes: fora da esfera comunista, estão quatro antigos Patriarcados e a Grécia e, sob o comunismo estão as igrejas eslavas e a Romênia. Enquanto o comunismo só afeta a periferia dos mundos católicos romano e protestante, no caso da Igreja Ortodoxa, a vasta maioria de seus membros vive em estados comunistas. No momento presente existem entre sessenta e noventa milhões de ortodoxos praticantes — o número de batizados é consideravelmente maior — e desses mais de oitenta e cinco por cento estão em países comunistas.

Segundo essa óbvia linha de divisão, neste capítulo nós vamos considerar as igrejas ortodoxas fora do bloco comunista e no próximo a posição da ortodoxia no "segundo mundo." O terceiro capítulo é dedicado à dispersão da ortodoxia em outras partes do mundo e à atividade missionária ortodoxa no tempo presente.

Das sete igrejas ortodoxas que não estão sob o domínio comunista, quatro — Constantinopla, Grécia, Chipre e Sinai — são predominantemente ou exclusivamente gregas, uma, Alexandria, é  parcialmente grega, parcialmente árabe e africana. As duas restantes, Antioquia e Jerusalém, são, principalmente árabes, apesar de em Jerusalém, a alta administração da Igreja estar em mãos gregas.

O Patriarcado de Constantinopla, que no século X compreendia 624 dioceses, hoje está significativamente reduzido em tamanho. No presente, na jurisdição do Patriarca, estão: Turquia, Creta e várias outras ilhas do mar Egeu, todos os gregos na dispersão, junto com certas dioceses russas, ucranianas, polonesas e albanesas na emigração, Monte Atos e Finlândia.

Isso tudo junta cerca de três milhões de pessoas, mais da metade sendo gregos moradores na América do Norte.

No fim da primeira guerra mundial, a Turquia tinha uma população de um milhão e quinhentos mil gregos, mas a maior parte deles foram massacrados ou deportados no final da desastrosa guerra greco-turca de 1922, e hoje em dia (com exceção da Ilha de Imbros), o único lugar na Turquia onde é permitido que gregos morem é em Istambul (Constantinopla). Mesmo em Constantinopla, o clero ortodoxo (com exceção do Patriarca), é proibido de se mostrar nas ruas com vestes clericais. A comunidade grega na cidade diminuiu muito desde os distúrbios anti-gregos (e anti-cristãos), em setembro de 1955, quando numa única noite sessenta das oitenta Igrejas Ortodoxas em Constantinopla foram danificadas e saqueadas, o dano total das propriedades cristãs tendo atingido a cifra de cinqüenta milhões de libras esterlinas. Desde então, muitos gregos fugiram com medo ou foram forçadamente deportados e existe um grave perigo que o governo turco venha eventualmente a expelir o Patriarcado. Atenágoras, Patriarca entre 1948 e 1972, infatigável como trabalhador pela unidade cristã e seu sucessor, Patriarca Dimitri, mostram muita paciência e dignidade nessa trágica situação. O Patriarcado tinha uma conhecida escola teológica na Ilha de Halki, perto de Constantinopla, que em 1950 começou a adquirir um certo caráter internacional, com estudantes não só da Grécia como do oriente próximo em geral. Mas, desafortunadamente, de 1971 em diante as autoridades turcas proibiram a escola de admitir qualquer novo estudante, e existe quase nenhuma perspectiva de que a admissão de novos alunos venha a ser reaberta.

Monte Athos, como Halki, não é somente grego, mas internacional. Dos vinte mosteiros que funcionam, no presente, dezessete são gregos, um russo, um sérvio e um búlgaro; nos tempos bizantinos um dos vinte mosteiros era georgiano, e existem também mosteiros latinos. Fora os mosteiros regulares, existem outras casas grandes e inumeráveis instalações menores conhecidas como skete ou kellia; existem também eremitas, a maioria dos quais vivem acima de precipícios assustadores na montanha sul da Península, em grutas ou cavernas freqüentemente acessíveis só por escadas de cordas. Assim as três formas de vida monástica, datando do século quarto no Egito — a vida comunitária, a vida semi-eremita, e os eremitas — continuam lado a lado na montanha sagrada, hoje em dia. É uma remarcada ilustração da continuidade da ortodoxia. 

O Monte Athos enfrenta muitos problemas, o mais óbvio e sério sendo o declínio espetacular em números e parece que o número continuará a declinar, pois a maioria dos monges de hoje são homens velhos. Apesar de terem existido no passado períodos — por exemplo, no começo do século dezenove, quando os monges eram ainda menos numerosos que hoje, ainda assim o decréscimo súbito nos últimos cinqüenta anos é muito alarmante.

Em muitas partes do mundo ortodoxo de hoje, e não menos em certos círculos da própria Grécia, a vida monástica é vista com indiferença e desprezo e isso é em parte responsável pela falta de novas vocações para o Monte Athos. Outra causa é a situação política. Em 1903 mais da metade dos monges era eslava ou romena, mas depois de 1917 o fornecimento de noviços da Rússia foi cortado, enquanto desde 1945 o mesmo aconteceu com a Romênia e a Bulgária. O Mosteiro russo de São Panteleimon, que em 1904 tinha 1978 membros, em 1959 contava com menos de 60; o vasto skete russo de Santo Elias tem agora menos de cinco monges, enquanto o de Santo André encontra-se fechado; as espaçosas construções de Zographou, a Casa Búlgara, estão virtualmente desertas e no Skete romeno de São João Batista existem 4 ou 5 monges. Em 1966, após demoradas negociações, o governo grego permitiu que 5 monges da União Soviética entrassem em São Panteleimon e que 4 da Bulgária entrassem em Zographou: mas claramente, um recrutamento em escala muito maior é necessário. Das comunidades não-Gregas só o mosteiro Sérvio está em posição ligeiramente melhor, porque alguns  jovens foram recentemente autorizados a vir da Iugoslávia para serem recebidos como
monges.

Nos tempos Bizantinos a Montanha Santa, era um centro de ensino teológico, mas hoje em dia a maioria dos monges vem de famílias de camponeses e tem muito pouca educação. Isso, apesar de não ser uma situação nova, tem certas conseqüências desafortunadas. Seria de fato triste se o Monte Athos para se modernizar o fizesse a custa dos valores tradicionais e atemporais do monasticismo Ortodoxo; mas enquanto os mosteiros continuarem intelectualmente isolados, ele não poderão dar a sua completa (e inteiramente necessária) contribuição para a vida da Igreja como um todo. Existem sinais de que os lideres do Monte Athos estão conscientes do perigo desse isolamento e estão procurando meios de superar isso. A Escola Athonita de Teologia foi reaberta em 1953, na esperança de atrair e treinar um tipo diferente de noviços. Pai Theoklitos, do mosteiro de Dionysiov, vai regularmente para Atenas e Tessalonica para falar em reuniões, e escreveu um livro importante sobre vida monástica, Entre o Céu e a Terra, assim como um estudo sobre São Nicodemos da Montanha Santa. Pai Gabriel, por muitos anos Abade de Dionysiov, também é bastante conhecido e respeitado na Grécia toda.

Mas seria errado julgar o Monte Athos ou qualquer outro centro monástico por somente números ou produção literária, pois o verdadeiro critério não é tamanho ou escolaridade mas a qualidade da vida espiritual. Se no Monte Athos hoje em dia existem sinais em alguns lugares de uma alarmante decadência, no entanto não pode existir dúvida que a Montanha Santa ainda continua a produzir Santos, Ascetas e homens de oração formando nas traduções clássicas da Ortodoxia. Um dos tais monges foi Pai Silvano (1866-1938), do Mosteiro Russo de São Panteleimon: de formação camponesa, homem simples e humilde, sua vida foi externamente vazia de eventos, mas ele deixou atrás de si algumas profundas e impressionantes meditações, que foram publicadas em várias línguas (ver Arquimandrita Sofrony, The Monk of Mont Athos, e Wisdom from Mont Athos, London 1973-1974 [muito valiosos]). Outro desses monges foi Pai José (morto em 1959), um grego que viveu semi-eremiticamente no Skete Novo, no sul do Monte Athos, e que juntou em torno de si um grupo de monges que sob sua orientação praticavam a Oração do Coração continuamente. Enquanto o Monte Athos tiver entre seus membros, homens como Silvano e José, ele não estará de modo algum falhando em suas tarefas. (o texto acima descreve a situação como estava no Monte Athos em 1960 e 1966. Desde então houve uma notável melhora. Apesar dos Mosteiros não Gregos terem sido capazes de receber somente poucos novos recrutas, em muitas casas gregas houve um surpreendente aumento em números, e muitos dos novos monges são dotados e bem educados. O renascimento é particularmente evidente em Simonos Petras, Phillotheov e Stravonikita. Em todos esse mosteiros há excelentes Abades).

A Igreja Ortodoxa da Finlandia deve sua origem a monges do mosteiro Russo de Valam no lago Laroga, que pregaram entre as tribos finlandesas pagãs em Karelia durante a Idade Média. Os Ortodoxos finlandeses eram dependentes da Igreja Russa até a Revolução mas desde 1923 eles estiveram sob os cuidados espirituais do Patriarcado de Constantinopla, apesar da Igreja Russa não ter aceitado essa situação até 1957. A vasta maioria de Finlandeses são Luteranos, e os 65.000 Ortodoxos compreendem somente 1,5 por cento da população. Existe um seminário Ortodoxo em Kuopio. "Com sua juventude atuante; preocupada com contatos internacionais e ecumênicos, ansiosa por parecer uma comunidade ocidental e européia, ao mesmo tempo guardando suas tradições Ortodoxas, a Igreja Finlândia está talvez destinada a desempenhar um papel importante no testemunho ocidental da Ortodoxia." (J. Meyendorff, L’Eglise Orthodoxe hier et avyourd’hui, Paris 1960, pg. 157). 

O Patriarcado de Alexandria tem sido uma Igreja pequena desde a separação dos monofisistas no quinto século, quando a grande maioria dos cristãos do Egito rejeitaram o Concílio de Calcedônia. Hoje eles são 10.000 Ortodoxos no Egito, e talvez 150.000 a 250.000 em outros lugares da África. O chefe da Igreja de Alexandria é conhecido oficialmente como "Papa e Patriarca": no uso Ortodoxo, o título "Papa" não é limitado ao Bispo de Roma. O Patriarca e a maioria do clero são gregos. O continente Africano inteiro fica sob o encargo do Patriarca, e desde que os Ortodoxos estão justo agora iniciando um trabalho missionário na África Central, pode muito bem acontecer que a antiga Igreja de Alexandria, muito diminuída no presente, venha a se expandir por meios novos e inesperados nos anos que virão. (sobre missões na África, ver capítulo 9).

O Patriarcado de Antioquia soma 300.000 Ortodoxos na Síria e Líbano, e talvez mais 150.000 no Iraque e na América (Católicos romanos, uniatas e latinos, somam cerca de 640.000 na Síria e no Líbano). O Patriarca que vive em Damasco tem sido um Árabe desde 1899, mas antes disso, ele e o alto clero eram gregos, apesar da maioria do clero paroquial, e povo do Patriarcado Antioquino terem sido e serem hoje em dia Árabes. 

Há uns trinta anos atrás um líder Ortodoxo no Líbano, Padre (hoje Bispo) George Khodre, disse: "Síria e Líbano formam um quadro escuro entre os países Ortodoxos." Na verdade, até recentemente o Patriarcado de Antioquia podia sem qualquer injustiça ser tomado como um surpreendente exemplo de uma Igreja "Dormente." Hoje em dia há sinais de um despertar, principalmente como resultado do Movimento Jovem do Patriarcado de Antioquia, uma organização notável e inspiradora, originalmente formada por um pequeno grupo de estudantes em 1941-1942. O Movimento Jovem gerou escolas de catecismos, seminários sobre as sagradas escrituras, também publicando um periódico Árabe e outros materiais religiosos. Tomou conta de movimentos sociais, combatendo a pobreza e provendo assistência médica. Encorajou a oração e está tentando restabelecer a comunhão freqüente; e sob sua influência duas excelentes comunidades religiosas foram fundadas em Trípoli e Deir-el-Harf. No Movimento jovem em Antioquia, assim como nos movimentos das "Casas Missionárias" da Grécia, um papel de liderança é desempenhado pelo Laicado.

O Patriarcado de Jerusalém sempre ocupou uma posição especial na Igreja; nunca com grandes números, sua tarefa principal sempre foi guardar os lugares sagrados. Como em Antioquia, Árabes formam a maioria do povo; eles somam cerca de 60.000 mas estão decrescendo, pois antes da guerra de 1948 eram 5000 gregos dentro do Patriarcado e no presente são muito menos (mais ou menos 500). Mas o Patriarca é ainda um grego, e a Irmandade do Santo Sepulcro, que dela zela pelos lugares sagrados, está completamente sob controle grego.

Antes da revolução Bolshevik, um dado notável na vida da Palestina Ortodoxa era o fluxo anual de peregrinos Russo, pois com freqüência encontravam-se mais de 10.000 ao mesmo tempo na Cidade Santa. Em sua maior parte eles eram camponeses velhos, para quem essa peregrinação era o evento mais notável de suas vidas: Depois de um percurso de talvez muitos milhares de quilômetros através da Rússia, eles tomavam um barco na Crimeia e enfrentavam uma viagem que para nós de hoje parece ser de um incrível desconforto, chegando se possível a tempo para a Páscoa (ver Stephen Graham, With the Russian Pilgrim to Jerusalém, London, 1913 — O autor viajou com os peregrinos, e nos dá uma reveladora visão dos camponeses Russos e sua Religiosidade externa). A Missão Espiritual Russa na Palestina assim como cuidava dos peregrinos Russos, fazia um mui valioso trabalho pastoral entre os Árabes Ortodoxos e mantinha um grande número de escolas. Essa Missão Russa foi naturalmente reduzida a partir de 1917, mas não desapareceu inteiramente, e ainda existem três mosteiros Russos em Jerusalém; dois deles recebem moças Árabes como noviças.

A Igreja da Grécia continua a ocupar continua a ocupar um lugar central na vida do país como um todo. Escrevendo nos primeiros anos da década de 1950, um simpatizante anglicano escreveu: "Surpresa! Quando tudo é dito a respeito do espalhamento do secularismo e indiferença, permanece ainda uma nação Cristã num sentido do qual nós no ocidente não podemos ter senão uma pequena concepção." (Hammond, The Waters of Norah, pg. 25). No censo de 1951, de uma população total de 7.632.806, os Ortodoxos somavam 7.432.559, outros Cristãos não mais do que 41107; além disso 112.665 maometanos, 6325 judeus, 29 pessoas de outras religiões, e 121 ateus. Hoje existem muito mais indiferença do que em 1950, e o governo socialista eleito em 1981 começou a tomar medidas para uma separação na Igreja e do Estado; mas a Igreja continua a influenciar profundamente!

As dioceses gregas de hoje em dia, como na Igreja primitiva, são pequenas: existem 78 (contraste com a Rússia antes de 1917, com 67 dioceses para 100 milhões de fieis), e no norte da Grécia muitas dioceses tem menos de 100 paróquias. Como ideal e muito freqüentemente na realidade, o Bispo Grego não, é meramente uma figura administradora distante, mas uma figura acessível com quem seu rebanho pode ter contato pessoal, e em quem os pobres e simples confiam, chamando diariamente para aconselhamento prático e espiritual. O Bispo Grego delega muito menos para o seu clero paroquial que um Bispo no ocidente, e em particular ele reserva para si muito da tarefa de pregação, ainda que nisso seja assistido por um pequeno grupo de monges e/ou de leigos bem instruídos, trabalhando sob sua direção.

Por isso quase nenhum membro do clero casado na Grécia, no passado fazia sermão (Homilia); nem isso é surpresa, pois poucos tinham recebido um treinamento teológico regular. Na Rússia pré-revolucionária todos os Padres paroquiais tinham passado por um seminário teológico, mas na Grécia no ano de 1920 de 4500 membros do clero casado, menos de 1000 tinham recebido mais do que uma simples educação escolar elementar. Por isso o Padre no meio rural grego era fortemente integrado com a comunidade local; usualmente ele era um nativo na cidade à qual servia; depois da ordenação, mesmo sendo Padre ele continuava com seu trabalho anterior, fosse qual fosse — carpinteiro, sapateiro ou mais comumente fazendeiro; ele não era um homem de estudos mais altos que os leigos que os cercavam, muito possivelmente nunca tinha estudado num seminário. Esse sistema teve certas vantagens inegáveis, e em particular significou que a Igreja Grega evitou um golfo e espiritual entre o pastor e o povo, como por exemplo existiu na Inglaterra por séculos. Mas com a elevação dos padrões
educacionais da Grécia nos anos recentes, uma modificação no sistema tornou-se necessária. Hoje em dia o Padre necessita de um treinamento mais especializado, e parece que daqui para a frente, a  maioria senão todos, os ordenados gregos serão mandados a estudar em um seminário.

As duas universidades mais antigas da Grécia, Atenas e Tessalônica tem Faculdades de Teologia. Não-ortodoxos ficam freqüentemente surpresos com o fato de que a grande maioria dos professores, em ambas as faculdades, é leiga e que muitos dos estudantes não tem intenção de serem ordenados; mas os Ortodoxos consideram natural que os leigos assim como o clero, venham a se interessar por teologia. Muitos estudantes depois ensinam religião em escolas secundárias, e é usual que sejam os mestres-escolas locais que os Bispos escolham como seus pregadores leigos. Somente alguns poucos
desses estudantes tornam-se clero paroquial; alguns outros poucos são recebidos como monges, apesar de somente uma minoria desses monges graduados irem viver como membros residentes de um mosteiro: A maioria dos casos eles trabalharão nas equipes de Bispos, ou talvez se tornem pregadores.

Os professores de teologia da Grécia produziram um considerável corpo de trabalhos importantes no último meio século: Pensa-se imediatamente em Chrestos Androutsos, autor de uma famosa Teologia Dogmática publicada pela primeira vez em 1907, e mais recentemente em nomes com P.N. Trembelas, P.I. Bratsiotis, I.N. Karmiris, B. Ioanvides e Ieronymos Kotsoni, o recente Arcebispo de Atenas, um expert em lei canônica. Mas ao mesmo tempo que se reconhece as notáveis conquistas da teologia grega moderna, não se pode negar que ela possui certas falhas. Muitos escritos teológicos gregos, particularmente se comparados, com o trabalho de membros da Imigração Russa, parecem ter um tom árido e acadêmico. A situação mencionada em capítulo anterior continua até hoje, e muitos teólogos gregos estudaram por um período em uma universidade estrangeira, normalmente na Alemanha; e algumas vezes o pensamento religioso Alemão parece ter influenciado seus trabalhos à custa de sua própria tradição Ortodoxa. A teologia na Grécia hoje em dia sofre por conta do divórcio entre os mosteiros e a vida intelectual da Igreja: É uma teologia dos salões de leitura das universidade, mas não uma teologia mística, como nos idos de Bizâncio quando a teologia florescia nas celas monásticas tanto quanto nas universidades. No entanto na Grécia atual existem sinais encorajadores de uma aproximação mais flexível à teologia, e de uma vívida recuperação do Espírito dos Santos Padres.

O que dizer da vida monástica? Em comunidades de homens, a diminuição é alarmante na Grécia continental como era na Ilha do Monte Athos até recentemente, e muitas casas correm o risco de serem fechadas todas juntas. Existem poucos homens instruídos nas comunidades. Mas essa perspectiva sombria é aliviada por surpreendentes exceções, como por exemplo o Mosteiro de Paráclito em Oropos (Atttica) fundado recentemente. Algumas comunidades mais velhas ainda atraem noviços — Por exemplo São João, o evangelista na Ilha de Pathos (sob o Patriarcado Ecumênico). Em Meteora alguns esforços notáveis foram feitos pelo Metropolita Dionysius de Trikkala para reviver a vida monástica. Ali existe uma séria de casas monásticas, penduradas em pináculos rochosos numa parte remota da Tessália, que foram parcialmente repopuladas nos anos 60 (do século vinte) por monges jovens e bem instruídos. Mas o fluxo constante de turistas tornou a vida monástica impossível e quase todos os monges nos anos 70 mudaram-se para o Monte Athos.

Mas enquanto a situação dos mosteiros de homens é freqüentemente crítica, as comunidades de mulheres estão numa situação muito mais vívida, e o número de monjas está aumentando rapidamente. Alguns dos conventos mais ativos são de origem muito recente, tal como convento da Santíssima Trindade em Aegina, datando de 1904, cujo fundador Nektários (Kephalas), Metropolita de Pentápolis (1846-1920), já foi canonizado; ou o convento de Nossa Senhora Auxiliadora em Chios, estabelecido em 1928, que agora já tem 50 membros. O convento da Anunciação em Pathos, iniciado em 1936 pelo Padre Anfilóquio (morto em 1970; talvez o maior pneumatikos ou Pai Espiritual na Grécia pós-guerra) Já tem outros dois conventos ligados a ele, em Rhodes e Kalymnos. (A respeito desse assunto deve-se mencionar também o impressionante Convento Velho Calendarista de Nossa Senhora em Keratea, Attica fundado em 1925, que hoje tem entre 200 e 300 monjas. Sobre os Velhos Calendaristas, ver cap.15).

Nos últimos vinte anos um número surpreendente de obras sobre espiritualidade monástica foi reimpresso na Grécia, incluindo uma nova edição da Philocalia. Parece existir um interesse revivido sobre os tesouros ascéticos e espirituais da Ortodoxia, um desenvolvimento que dá um bom corpo para o futuro dos mosteiros.

A arte religiosa na Grécia está sofrendo uma benvinda transformação. O desprezível estilo ocidental, universal no início do século vinte, tem sido fortemente abandonado em favor da antiga tradição Bizantina. Numerosas Igrejas em Atenas e outros lugares foram redecoradas recentemente com um esquema completo de ícones e frescos, executados em estreita conformidade com as regras tradicionais. O líder desse reviver artístico, Photíus Kontoglou (1896-1965), tornou-se notório por sua descompromissada advocacia da arte Bizantina. Típico de seu pensamento é seu comentário sobre a arte da Renascença Italiana: "Aqueles que enxergam de modo secular dizem que ela progrediu, mas aqueles que a vêem de modo religioso dizem que ela declinou." (C. Cavarnos, Byzantine Sacred Art: Selected Writings of the comtemporany Greek Icon painter Folis Kontoglous, New York, 1957, pg. 21). 

A Grécia tem uma contraparte Ortodoxa a Lurdes: A ilha de Tinos, onde em 1823 um ícone milagroso da Virgem com o Menino foi encontrado, enterrado nas fundações de uma igreja em ruínas. Um grande santuário de peregrinação existe hoje no local, que é visitado particularmente pelos doentes, e muitos casos de curas milagrosas ocorreram. Há sempre grandes multidões na ilha por ocasião da Festa da Dormição da Virgem (15 de agosto no calendário Juliano).

Na Igreja Grega nos dias de hoje há um impressionante desenvolvimento do movimento "Lar Missionário," devotado a trabalho evangelizador e educacional. Apostoliki Diaconia ("Serviço Apostólico"), a organização oficial responsável pelo "Missão do Lar," foi fundada em 1930. Ao longo do tempo surgiram numerosos movimentos paralelos, que mesmo colaborando com os Bispos e outras autoridades da Igreja, nasceram da iniciativa privada — Zoe, Sotir, the Orthodox Christian Unions, e outros. 

O mais antigo, mais influente, e mais controvertido desses movimentos, Zoe ("Vida"), também conhecido como "Fraternidade de Teólogos," foi iniciado pelo Padre Eusébius Matthopoulos em 1907. É de fato uma espécie de ordem semi-monástica, pois todos os seus membros devem ser não-casados, apesar deles não receberem nenhum voto formal e serem livres para deixar a Fraternidade quando quisessem. Cerca de um quarto da Fraternidade são Monges (nenhum dos quais vive regularmente em um Mosteiro) e o resto leigos. Ficamos nos perguntando o quanto Zoe, com sua estrutura monástica aponta o caminho dos futuros desenvolvimentos da Igreja Ortodoxa. No passado a tarefa principal de um Monge oriental era rezar; mas, além desse tradicional tipo de monasticismo, não há espaço na Ortodoxia para ordens Religiosas "Ativas," paralelas aos dominicanos e franciscanos no ocidente, e dedicadas ao trabalho da evangelização do mundo?

Esses movimentos de "Lares Missionários," especialmente Zoe, põe grande ênfase no estudo das Sagradas Escrituras e encorajam a comunhão freqüente. Entre eles, publicam um número impressionante de periódicos e livros, com uma circulação bastante ampla. Sob sua liderança e guia existem hoje 9500 escolas de catecismo (em 1900 existiam poucas, talvez nenhuma na Grécia) e, é afirmando que cinqüenta e cinco por cento das crianças gregas — em algumas paróquias uma proporção mais alta — regularmente assistem as aulas de catecismo. Além dessas escolas, um vasto programa de trabalho para o jovem é realizado: "O período da adolescência," para citar um escritor anglicano, "Quando uma proporção abrangente de nossas crianças perde todo contato vital com a Igreja, é quando os jovens Cristãos gregos começam a ter uma participação ativa na vida de suas comunidades locais" (P. Hammona, The Watersof Marah, pg. 133).

A influência desses movimentos de "Lares Missionários" teve um declínio considerável nas décadas de 1960 e 1970, e em particular as palavras citadas — escritas há mais de vinte e cinco anos atrás — desafortunadamente deveriam hoje ser requalificadas. A antiga Igreja de Chipre, independente desde o Concílio de Efeso (431), tem atualmente 600 padres e mais de 450.000 fiéis. O sistema turco pelo qual o chefe da Igreja é também o líder civil da população Grega, foi mantido pelos Britânicos quando eles tomaram a ilha em 1878. Isso explica o duplo papel, político e religioso, desempenhado por Makarios, o chefe recente da Igreja Cipriota, "Etnarca" e Presidente, bem como Arcebispo.

A Igreja do Sinai, de algum modo uma "excentricidade" no mundo Ortodoxo, consistindo como é o caso em um único Mosteiro, Santa Catarina, aos pés da montanha de Moisés. Existe alguma discordância se o Mosteiro deveria ser qualificado como uma Igreja "Autocéfala" ou "Autônoma" (ver p.314). O Abade, que é sempre um Arcebispo, é eleito pelos Monges e consagrado pelo Patriarca de Jerusalém; o Mosteiro é totalmente independente de controle externo. Triste mencionar que hoje existem menos de vinte monges.

Ortodoxia Ocidental.

Olhemos, brevemente, para as comunidades Ortodoxas na Europa Ocidental e na América do Norte. Em 1922, os gregos criaram um Exarcado para a Europa Ocidental, com seu centro em Londres. O primeiro Exarca, Metropolita Germanos (1872-1951), foi sobejamente conhecido por seu trabalho em prol da unidade Cristã e teve um papel destacado e de liderança, no Movimento Fé e Ordem entre as guerras. Em 1962, esse Exarcado foi divido em quatro Dioceses separadas, com Bispos em Londres, Paris, Bonn e Viena; mais Dioceses foram formadas posteriormente na Escandinávia e na Bélgica, e a mais recente de todas (1982), na Suíça. Existem cerca de 130 paróquias na Europa Ocidental, com Igrejas permanentes e clero residentes, e além desses, grupos de Igreja Menores, mas numerosos.

Os centros principais da Ortodoxia Russa na Europa Ocidental, são Munique e Paris. Em Paris, o celebre Instituto São Sérgio de Teologia (sob a jurisdição da jurisdição da Igreja Russa em Paris), fundado em 1925, agiu como um importante ponto de contato entre ortodoxos e não ortodoxos. Particularmente durante o período entre-guerras, o Instituto contou entre os seus numerosos professores, com um grupo extraordinariamente brilhante de "scholars." Esses, anteriormente ou no presente no staff de São Sérgio, incluem: Arcipreste Sérgio Bulgakov (1871-1944), o primeiro Reitor; Bispo Cassiano (1892-1965), seu sucessor; A. Kartashev (1875-1960); G.P. Fedotov (1886-1951), P.Evdokimov (1901-1970), Padre Boris Brobriskoy e o francês Olivier Clément. Três professores, Padres Gerorges Florovsky, Alexander Schmemann, John Meyendorff, mudaram-se para a América, onde tiveram um papel decisivo no desenvolvimento da Ortodoxia Americana. Uma lista de livros publicados pelos professores do Instituto, entre 1925 e 1947, ocupa 92 páginas e inclui setenta livros
completos — um feito destacado, rivalizado por muitas poucas Academias (ainda que maiores) de qualquer Igreja. São Sérgio é também conhecido por seu coral, que muito fez para reviver o uso de antigos cantos eclesiásticos da Rússia. Quase que completamente russo entre as duas guerras, agora o instituto capta a maioria de seus estudantes de outras nacionalidades. Em 1981, por exemplo, dos trinta e quatro estudantes, sete eram Russos (sendo seis nascidos na França), sete Gregos, cinco Sérvios, um Georgiano, um Romeno, sete Franceses, dois Belgas, dois da África, um de Israel e um da Holanda. Os cursos são ministrados hoje em dia, principalmente em Francês.

Na Europa Ocidental, durante o período de pós-guerra, existiu, também, um ativo grupo de teólogos Ortodoxos pertencentes ao Patriarcado de Moscou, incluindo Vladimir Lossky (1905-1958), Arcebispo Basil (Kriwocheine) de Bruxelas, Arcebispo Aléxis (Van Der Mensbrugghe) (1899-1980) e Arcebispo Peter (L´Huillier) (atualmente nos Estados Unidos), sendo os dois últimos convertidos para a Ortodoxia. Outro convertido, o Francês Padre Lev (Gillet) (1892-1980), um Padre do Patriarcado Ecumênico, escreveu vários livros, como por exemplo, "Um Monge da Igreja do Oriente"
Muitos mosteiros Russos existem na Alemanha e na França. O maior de todos é o mosteiro para mulheres dedicado ao ícone de Lesna da Santa Mãe de Deus, em Provemont, na Normandia (Igreja Russa no exílio); existe um mosteiro menor para mulheres em Bussy-en-Othe, em Yonne (Arquidiocese Russa para a Europa Ocidental). Na Grã-Bretanha existe o mosteiro de São João Batista, em Tholleshunt Knights, Essex (Patriarcado Ecumênico), fundado pelo Arquimandrita Sofrony, um discípulo do Padre Silvano do Monte Athos, com monges Russos, Gregos, Romenos, Alemães e Suíços, e com uma comunidade para mulheres na proximidade. Existe, também, o mosteiro da Anunciação em Londres (Igreja Russa no exílio), com uma Abadessa Russa e monjas Árabes, e algumas fundações menores em vários lugares.

Na América do Norte existem entre dois e três milhões de Ortodoxos, subdivididos em, no mínimo, quinze nacionalidades e jurisdições, e com um total de mais de quarenta Bispos. Antes da primeira guerra mundial, os Ortodoxos da América, qualquer que fosse sua nacionalidade, procuravam o Arcebispo Russo atrás de liderança e cuidados pastorais, pois entre as nações Ortodoxas, foi a Rússia que primeiro estabeleceu Igreja no novo mundo. Oito monges, principalmente de Valamo, no lago Ladoga, chegaram originalmente no Alaska, em 1794: um deles, Padre Herman, de Spruce Island foi canonizado em 1970. O trabalho no Alaska foi muito encorajado por Inocêncio Veniaminov, que trabalhou no Alaska e na Sibéria Oriental, de 1823 a 1968, primeiro como Padre e depois como Bispo. Ele traduziu o Evangelho de São Mateus, a Liturgia e um Catecismo em Aleutiano. Em 1845, ele criou um mosteiro em Sitka, no Alaska, em 1859 um Episcopado Auxiliar foi instalado lá, o qual tornou-se uma Sé missionária, independente quando o Alaska foi vendido para os Estados Unidos, em 1887. No Alaska, hoje em dia, de uma população total de duzentas mil pessoas, talvez existam
vinte mil Ortodoxos, quase todos nativos; o seminário foi reaberto em 1973.

Enquanto isso, na Segunda metade do século XIX, numerosos Ortodoxos começaram a se estabelecer fora do Alaska, em outras partes da América. Em 1872, a Diocese foi transferida de Sitka para São Francisco, em 1905 para Nova York, ainda que um Bispo Auxiliar tenha permanecido no Alaska. Na virada do século, o número de Ortodoxos foi muito aumentado por numerosas Paróquias uniatas que se reconciliaram com a Ortodoxia. O futuro Patriarca Tikhon foi Arcebispo na América do Norte por nove anos (1898-1907). Depois de 1917, quando as relações com a Igreja da Rússia ficaram confusas, cada grupo nacional tornou-se uma organização separada e, surgiu a presente multiplicidade de jurisdições. Muitos vêem, na concessão dada por Moscou de Autocefalia para a OCA (Ortodox Church of American), um esperançoso primeiro passo, na direção da restauração da unidade Ortodoxa na América.

A Ortodoxia Grega, na América do Norte, conta com mais de um milhão de fieis, com mais de quatrocentas Paróquias. São chefiadas pelo Arcebispo Jakovos, que preside um Sínodo de dez Bispos (um mora no Canadá, e outro na América do Sul). A escola teológica Grega da Santa Cruz, em Boston, tem perto de cento e dez estudantes, muitos deles candidatos ao sacerdócio. Os Bispos da Arquidiocese Grega na América vieram, na maioria dos casos da Grécia, mas quase todo o clero paroquial nasceu e foi criado nos Estados Unidos. Existem dois ou três pequenos mosteiros na Arquidiocese Grega; o Mosteiro da Transfiguração, em Boston, muito maior, originalmente Grego, está agora sob a Igreja Russa no exílio.

Os Russos tem quatro seminários teológicos na América: São Vladimir, em Nova York e São Tikhon, em South Canaan Pennsylvania (ambos pertencentes a OCA); Holy Trinity Seminary, em Jordanville, Nova York (Igreja Russa no exílio); e o seminário de Cristo, o Salvador em Johnstown, Pennsylvania (Diocese Carpatho-Russa). Existem vários mosteiros russos, sendo o maior o Holy Trinity, Jordanville, com trinta monges e dez noviços. O mosteiro, além de manter um seminário para estudantes de teologia, tem uma imprensa bastante ativa, que produz livros litúrgicos em Eslavônico de Igreja e outros livros e periódicos em Russo ou Inglês. Os monges também plantam e colhem e construíram sua própria Igreja, decorada por dois membros da comunidade, com ícones e afrescos, na melhor tradição da arte religiosa Russa.

A vida Ortodoxa na América de hoje, mostra uma encorajadora vitalidade. Novas Paróquias estão sendo formadas continuadamente e novas Igrejas construídas. Em alguns lugares faltam Padres, mas enquanto numa geração atrás o clero na América era ordenado apressadamente, com pouco treino, hoje em dia, em quase todas jurisdições, a maioria, senão todos os ordenados têm um grau teológico. Teólogos Ortodoxos na América são poucos e, freqüentemente, sobrecarregados, mas seu número está crescendo gradualmente. Santa Cruz e São Vladimir (seminários já citados) produzem substancial quantidade de periódicos na língua Inglesa.

O grande problema com o qual se defronta a Ortodoxia Americana é o do nacionalismo e sua posição na vida da Igreja. Entre membros de muitas jurisdições, existe em forte sentimento de que a presente subdivisão em grupos nacionais, está retardando tanto o desenvolvimento interno da Ortodoxia na América, quanto seu testemunho perante o mundo exterior. Existe o perigo de que o nacionalismo excessivo venha a alienar a geração mais jovem de Ortodoxos da Igreja. Essa geração mais jovem não conhece outro país, que não a América, seus interesses são americanos, sua língua primeira (freqüentemente a única) é o Inglês: não se afastarão eles da Ortodoxia, se sua Igreja insistir na louvação em uma língua estrangeira, e agir como se fosse um depositório de relíquias culturais do "velho país"?

Esse é o problema, e muitos diriam que só existe uma solução: formar uma única e autocéfala "American Orthodox Church." Essa visão de uma Igreja Americana Autocéfala tem seus mais ardentes advogados na OCA, que vê-se com o núcleo de tal Igreja e entre os Sírios. Mas há outros, especialmente entre os Gregos, os Sérvios e Russos da Igreja no Exílio que vêem com reservas essa ênfase sobre a Ortodoxia Americana. Eles são profundamente conscientes do valor das civilizações cristãs, desenvolvidas por muitos séculos pelos povos gregos e eslavônicos e eles sentem que seria um empobrecimento desastroso para a geração mais jovem, se sua Igreja tivesse que sacrificar essa grande herança e tornar-se completamente "americanizada." Contudo, podem os bons elementos das tradições nacionais serem preservados, sem, ao mesmo tempo, obscurecer a universalidade da Ortodoxia?

Muitos dos que são a favor da unificação, estão conscientes da importância das tradições nacionais e se dão conta dos perigos aos quais as minorias Ortodoxas na América seriam expostas se elas cortassem suas raízes nacionais e fossem imersas na cultura secularizada da América contemporânea. Eles sentem que a melhor política é que as Paróquias, no presente, sejam "bilíngües," oferecendo ofícios tanto na língua do país mãe com em inglês. De fato, essa situação "bilíngüe" está se tornando usual em muitas partes da América. Todas as jurisdições, em princípio, permitem o uso do inglês nos ofícios, e na prática estão começando a empregar o inglês, mais e mais, esta língua é particularmente comum na OCA e na Arquidiocese Síria,. Por um longo período os Gregos, ansiosos por preservarem sua herança helênica como uma realidade viva, insistiram que somente a língua grega deveria ser usada em todos os ofícios, mas a partir de 1970 a situação começou a mudar e, em muitas Paróquias o inglês é hoje em dia, tão empregado quanto o Grego.

Nos últimos anos tem aparecido crescentes sinais de cooperação entre grupos nacionais. Em 1954, o Conselho dos Jovens Líderes Ortodoxos Orientais da América foi fundado, no qual a maioria das organizações de jovens ortodoxos participou. Desde 1960 um comitê de Bispos Ortodoxos, representando a maioria (mas não todas) das jurisdições nacionais, tem se reunido em Nova York sobre a presidência do Arcebispo Grego (esse comitê existiu antes da guerra, mas caiu em estado de espera por muitos anos). Até agora este comitê, conhecido como a "conferência permanente" ou "SCOBA," não foi ainda capaz de contribuir tanto para a unidade da Ortodoxia, como era, originalmente, esperado. A concessão de Autocefalia para a OCA, com o tempo, originou grande controvérsia e os problemas levantados então, permanecem até agora não resolvidos; mas na prática a colaboração inter-ortodoxa ainda continua.

Uma pequena minoria em um ambiente estrangeiro, os Ortodoxos da diáspora acharam uma tarefa difícil, até mesmo assegurar sua sobrevivência. Mas alguns deles, a qualquer custo, constataram que além da mera sobrevivência, eles tinham uma tarefa mais abrangente, Se eles acreditam que a fé Ortodoxa é a verdadeira fé Católica, eles não podem se isolar da maioria não Ortodoxa ao seu redor, mas eles têm a obrigação de contar aos outros o que é a Ortodoxia. Eles devem dar testemunho perante o mundo. A Diáspora tem uma vocação "missionária." Como o Sínodo da Igreja Russa no Exílio disse em sua carta de outubro de 1953, ortodoxos foram espalhados pelo mundo com a permissão de Deus, para que possam "anunciar para todos os povos a verdadeira fé ortodoxa e preparar o mundo para a Segunda vinda de Cristo" (Essa ênfase na Segunda vinda de surpreenderá muitos Cristãos nos dias presentes, mas não era considerada estranha para os Cristãos do primeiro século. Os acontecimentos dos últimos cinqüenta anos, conduziram, a uma forte consciência escatológica, vários círculos Ortodoxos Russos).

O que isso significa para os Ortodoxos? Isso não implica em proselitismo no mau sentido. Mas significa que os ortodoxos sem sacrificar nada de bom nas suas tradições nacionais — devem libertar-se de um estreito e exclusivo nacionalismo; eles devem estar prontos a apresentar sua fé para outros, e não se comportarem como se essa fé fosse alguma coisa restrita aos gregos e russos e de nenhuma importância para todos os outros. Eles devem redescobrir a universalidade da Ortodoxia.

Se os ortodoxos vão apresentar sua fé, efetivamente para outros povos, duas coisas são necessárias. Primeiro, eles devem entender melhor a sua fé: assim o fato da diáspora forçou os ortodoxos a examinarem a si próprios e a aprofundar sua própria ortodoxia. Segundo, eles devem entender a situação daqueles para quem eles falam. Sem abandonar sua ortodoxia, eles devem entrar na experiência de outros Cristãos, procurando apreciar a visão diferente do cristianismo ocidental, sua história passada e suas dificuldades presentes. Eles devem tomar parte ativa nos movimentos intelectuais e religiosos do ocidente contemporâneo — em pesquisas bíblicas, no reviver Patrístico, no Movimento Litúrgico, no movimento que visa a unidade Cristã, nas muitas formas de ação social Cristã. Eles precisam "estar presentes" nesses movimentos, fazendo sua contribuição ortodoxa especial e, ao mesmo tempo, pela sua participação, aprendendo mais sobre sua própria tradição.

É normal falar-se em "Ortodoxia Oriental." Mas muitos ortodoxos na Europa ou América, hoje em dia, olham para si próprios como cidadãos dos países onde eles se estabeleceram.; eles e seus filhos, nascidos e criados no ocidente, consideram-se não "orientais," mas sim "ocidentais." Assim, uma "Ortodoxia Ocidental" veio a existir. Além dos nascidos ortodoxos, essa Ortodoxia Ocidental inclui um número pequeno, mas crescente de convertidos (quase um terço do clero da Arquidiocese Síria na
América é de convertidos). A maioria desses Ortodoxos Ocidentais usam a Liturgia Bizantina, de São João Crisóstomo (o ofício Eucarístico normal da Igreja Ortodoxa), em Francês, Inglês, Alemão, Holandês, Espanhol ou Italiano. Existem, por exemplo, paróquias francesas ou alemãs, assim como (sob o Patriarcado de Moscou) uma missão Ortodoxa Holandesa — todas essas paróquias seguindo o rito Bizantino. Mas alguns Ortodoxos acreditam que a Ortodoxia Ocidental, para ser verdadeira em si própria, deveria usar, especificamente, formas ocidentais de oração — não a Liturgia Bizantina, mas as Liturgias Vetero-Romana ou Galicana. As pessoas falam da "Liturgia Ortodoxa," quando, na verdade, estão se referindo à Liturgia Bizantina, como se só esta Liturgia fosse Ortodoxa; mas as pessoas não deveriam esquecer que as antigas Liturgias do ocidente, datando dos primeiros séculos das era Cristã, também tem seu lugar na abrangência total da Ortodoxia.

Essa concepção de um rito ocidental Ortodoxo não permaneceu meramente uma teoria. A Igreja Ortodoxa dos dias presentes contém algo equivalente ao Movimento Uniata na Igreja de Roma. Em 1937, quando um grupo de Velhos Católicos na França, sob Monsenhor Louis-Charles Winnaert (1880-1937), foi recebido na Igreja Ortodoxa, eles foram autorizados a manter o uso do rito ocidental. Esse grupo esteve originalmente na jurisdição do Patriarcado de Moscou e esteve por muitos anos sob a chefia do Bispo  Jean de S. Dennys (Evgrafh Kovalevsky) (1905-1970). No presente está sob a Igreja da Romênia. Existem vários pequenos grupos de ritos ocidentais ortodoxos nos Estados Unidos. Várias ordens experimentais da missa foram arranjadas para uso dos Ortodoxos de Rito Ocidental, em particular pelo Bispo Aléxis (Vander Mensbrugghe).

No passado, as diferentes Igrejas autocéfalas — freqüentemente não por sua responsabilidade — mantiveram-se muito isoladas, umas das outras. Somente a troca regular de cartas entre os chefes de Igreja, era a forma de contato. Hoje em dia, esse isolamento ainda continua, mas tanto na diáspora quanto nas antigas Igrejas Ortodoxas, existe um desejo crescente por cooperação. A participação Ortodoxa no Conselho Mundial de Igrejas (World Concil of Churches) teve seu papel nessa área: nas grandes reuniões do "Movimento Ecumênico," os delegados Ortodoxos de diferentes Igrejas Autocéfalas, constataram que estavam despreparados para falar com uma voz única.

Porque, eles perguntavam, foi necessário o World Concil of Chuches, para juntar os Ortodoxos? Porque nós nunca nos reunimos para discutir problemas comuns? A urgente necessidade por cooperação é também sentida por muitos movimentos jovens Ortodoxos, particularmente na diáspora. Um trabalho valioso, nessa área, foi feito pelo Sindesmos, uma organização internacional, fundada em 1953, na qual grupos Ortodoxos jovens de muitos países diferentes colaboram.

Nas tentativas de cooperação, um papel de liderança é naturalmente representado pelo Hierarca Sênior de liderança Ortodoxa, o Patriarca de Constantinopla. Depois da primeira guerra mundial, o Patriarca de Constantinopla considerou a hipótese de reunir um "Grande Concílio" de toda a Igreja Ortodoxa e, como primeiro passo para isso, foram feitos planos para um "Pró-Sínodo" que deveria prepara a agenda para o Concílio. Um comitê Inter Ortodoxo preliminar reuniu-se no Monte Athos, em 1930, mas o "Pró- Sínodo," em si, nunca se materializou, em grande parte devido a obstrução pelo governo Turco. Cerca de 1950, o Patriarca Athenágoras reviveu a idéia e, após sucessivos adiamentos, uma "Conferência Pan Ortodoxa," eventualmente, se reuniu, em Rodhes, em setembro de 1961. Outras conferências Pan Ortodoxas reuniram-se em Rhodes (1963-1964) e Genebra (1968, 1976, 1982). Itens principais na agenda do "Grande Concílio," quando e se eventualmente ele se reunir, serão provavelmente o dos problemas recorrentes da desunião da ortodoxia no Ocidente, as relações da Ortodoxia com outras Igrejas Cristãs ("ecumenismo"), e a aplicação do ensinamento moral Ortodoxo no mundo moderno.

Missões.

Já falamos do testemunho missionário da diáspora, mas falta dizer algo do trabalho missionário ortodoxo propriamente dito, pregar aos pagãos. Desde os tempos de Joseph De Maistre, no Ocidente, a moda é dizer que a Ortodoxia não é uma Igreja missionária. Certamente, os Ortodoxos deixaram freqüentemente de ver suas responsabilidades missionárias. No entanto, a acusação de De Maistre não é inteiramente correta.

Qualquer pessoa que reflita sobre o trabalho missionário de Cirilo e Metódio, de seus discípulos na Bulgária e na Sérvia, e na história da conversão da Rússia, compreenderá que Bizâncio pode reivindicar feitos missionários da mesma dimensão que o cristianismo Celta ou Romano, durante o mesmo período. Sob a dominação Turca, tornou-se impossível conduzir o trabalho missionário abertamente, mas, na Rússia, onde a Igreja permaneceu livre, as missões continuaram — mesmo se, às vezes, houve períodos de atividade reduzida — de Estevão de Perm (e até antes) a Inocêncio do Alaska e o começo do século XX. É fácil, para um ocidental, esquecer da imensidão do campo missionário que o continente Russo constituiu. As missões russas se estendiam além da Rússia, não somente ao Alaska (do qual já falamos), mas à China, Japão e Coréia.

E no presente? Sob os Bolcheviques, como sob os Turcos, o trabalho missionário não é possível. Mas as missões estabelecidas pela Bósnia na China, no Japão e na Coréia ainda existem, enquanto que uma nova missão Ortodoxa brotou, de repente e espontaneamente, na África Central. Ao mesmo tempo, tanto na América do Norte, quanto nas Igrejas antigas do mediterrâneo oriental, aonde os Ortodoxos não sofrem dos mesmos males que seus irmãos em países comunistas, começam a mostrar uma nova consciência missionária.

A missão chinesa em Pequim foi fundada em 1715 e suas origens datada de mais cedo ainda, de 1686, quando um grupo de cossacos entraram a serviço da guarda imperial chinesa e levaram consigo um capelão. O trabalho missionário em si, entretanto, não começou de fato até o final do século XIX e em 1914 havia somente em torno de 5.000 convertidos, ainda que já houvesse Padres chineses e um seminário de teologia para estudantes chineses. (Tem sido a prática das missões Ortodoxas de formar um clero local mais rápido possível). Após a revolução de 1917, longe de acabar, o trabalho missionário aumentou consideravelmente, já que um número importante de emigrantes Russos, inclusive muitos membros do Clero, fugiu em direção ao oriente a partir da Sibéria. Na China e na Manchúria, em 1939, havia 200.000 Ortodoxos (na maioria Russos, mas incluindo alguns convertidos), com cinco Bispos e uma universidade ortodoxa em Harbin.

Desde 1945, a situação mudou drasticamente. O governo comunista na China, quando deu a ordem a todos os missionários estrangeiros de deixar o país, não deu tratamento preferencial aos Russos. O clero Russo, junto com a maioria dos fieis ou foram "repatriados" a URSS, ou escaparam para a América. Nos anos 50 havia, no mínimo, um Bispo Ortodoxo Chinês, com cerca de 20.000 fieis; quanto da ortodoxia chinesa sobrevive até hoje? É difícil de dizer. Desde 1957, a Igreja chinesa, apesar do pequeno tamanho, é autônoma; já que o governo chinês não permite missões estrangeiras. Essa é, provavelmente, a única maneira que essa Igreja tem chances de sobreviver. Isolada na China vermelha, essa minúscula comunidade tem um caminho espinhoso pela frente.

A Igreja Ortodoxa japonesa foi fundada pelo Padre, e mais tarde Arcebispo, Nicholas Kassatkin (1836-1912), canonizado em 1970. Enviado em 1861 a serviço do consulado Russo no Japão, ele decidiu desde o início trabalhar não só entre os Russos, mas, também, entre os japoneses. Depois de um tempo, dedicou-se, exclusivamente, ao trabalho missionário. Batizou o primeiro convertido, em 1868 e, quatro anos depois, dois japoneses ortodoxos foram ordenados ao Presbiterado. Curiosamente, o primeiro Bispo Ortodoxo japonês, John Ono, (consagrado em 1941), viúvo, era genro do primeiro convertido japonês. Após um período de desânimo, entre as duas grandes guerras, a Ortodoxia no Japão agora está se restabelecendo. Existem hoje cerca de 40 paróquias, com 25.000 fieis. O seminário de Tóquio, fechado em 1919, foi reaberto em 1954. Praticamente todo clero é de origem japonesa, mas um dos dois Bispos é americano. Há um fluxo pequeno, mas constante, de convertidos — em torno de 200- 300, por ano, na maioria, jovens na vintena ou trintena, alguns com educação superior. A Igreja Ortodoxa no Japão é autônoma, no que diz respeito à vida interna, ficando sob os cuidados espirituais de sua Igreja-Mãe, o Patriarcado de Moscou. Apesar do número
limitado de fieis, ela pode se chamar uma Igreja local do povo japonês, e não uma missão estrangeira.

A missão russa na Coréia, estabelecida em 1918, sempre foi de escala menor. O primeiro Padre Ortodoxo coreano foi ordenado em 1912. Em 1934 havia 820 ortodoxos na Coréia, mas hoje parecem ser menos. A missão sofreu, em 1950, durante a guerra civil coreana, quando a Igreja foi destruída; mas ela foi reconstituída em 1953, e uma Igreja maior foi construída em 1967. Atualmente, a missão está sob os cuidados da Diocese Grega da Nova Zelândia.

Fora estas Igrejas Ortodoxas asiáticas, há, agora, uma Igreja ortodoxa africana, extremamente vigorosa, em Uganda e no Quênia. Inteiramente nativa desde o começo, a ortodoxia africana não nasceu da evangelização missionária proveniente de países tradicionalmente ortodoxos, mas foi um movimento espontâneo dentre os africanos mesmo os fundadores do movimento ortodoxo africano foram dois originários de Uganda, Rauben Sebansja Mukasa Spartas (Nascido em 1899, tornou-se Bispo em 1972, morreu em 1982) e seu amigo Obadiah Kabanda Basajjakitalço. Criados na tradição anglicana, foram convertidos à ortodoxia nos anos 20, não como resultado de qualquer contato pessoal com outros ortodoxos, mas através de suas próprias leituras e estudos. Nos últimos 40 anos; pregaram energicamente sua fé recém-descoberta a seus compatriotas africanos, desenvolvendo uma comunidade que, segundo alguns relatos, conta com mais de cem mil pessoas, a maioria do Quênia. Em 1982, após a morte do Bispo Rauben, havia dois bispos africanos.

Inicialmente, a posição canônica da ortodoxia Ugandense era duvidosa, pois originalmente Rauben e Obadiah estabeleceram relações com uma organização surgida nos Estados Unidos, a "Igreja Ortodoxa Africana," a qual usava o título de Ortodoxa sem nenhuma conexão com a comunhão ortodoxa verdadeira e histórica. Em 1932 foram ambos ordenados por um certo Arcebispo Alexander da tal Igreja, mas pelo final do mesmo ano, ficaram cientes da situação duvidosa da "Igreja Ortodoxa Africana." A partir desse momento, cortaram todas as relações com ela e contataram o Patriarcado de
Alexandria. Somente em 1946, quando Rauben visitou Alexandria, em pessoa o Patriarcado reconheceu oficialmente a comunidade ortodoxa africana em Uganda e recebeu-a sob sua proteção. Mais recentemente, o elo com Alexandria tem se fortalecido e desde 1959, um dos Metropolitas do Patriarcado — um Grego — está encarregado de responsabilidade especial pelo trabalho missionário na África Central. Ortodoxos africanos foram mandados para estudar a teologia na Grécia e desde 1960 mais de oitenta africanos foram ordenados Diáconos e Presbíteros (até esse ano, os únicos Padres haviam sido os dois fundadores). Em 1982, um seminário para tratamento de Padres foi inaugurado em Nairóbi: muitos africanos ortodoxos têm grandes ambições e estão ansiosos para largar ainda mais suas redes. Nas palavras do Padre Spartas: " E, eu acho, que, em pouco tempo, esta Igreja vai incluir todos os africanos e, com isso, tornar-se uma das principais Igrejas da África (citado em F.B. Welbourn, "Rebeldes Africanos Orientais," Londres, 1961, p.83; este livro relata de maneira crítica, mas não insensível, a Ortodoxia em Uganda). A ascensão da Ortodoxia em Uganda deve, com certeza, ser vista na ótica do nacionalismo africano: um dos atrativos evidentes do cristianismo ortodoxo, aos olhos dos Ugandenses, é o fato dele ser completamente desvinculado dos regimes coloniais dos últimos cem anos. Ainda assim, apesar de algumas notas políticas, a ortodoxia na África central constitui um movimento religioso genuíno.

O entusiasmo com o qual estes africanos aceitaram a Ortodoxia tem atiçado a imaginação do mundo Ortodoxo e ajudou a despertar o interesse missionário em vários lugares. Paradoxalmente, até agora, na África, foram os africanos mesmo que tomaram a iniciativa e se converteram à Ortodoxia. Talvez os Ortodoxos, encorajados pelo precedente ugandense, irão, agora, fundar missões em outros lugares por sua própria iniciativa, em vez de esperar que os africanos venham a eles. A situação "missionária"
da diáspora tornou a Ortodoxia mais consciente do significado de sua tradição: não poderá um envolvimento mais marcado na evangelização ter o mesmo efeito?

Todo corpo cristão é confrontado hoje em dia a graves problemas, mas talvez os ortodoxos tenham maiores dificuldades que os outros. Na Ortodoxia contemporânea, não é sempre fácil "reconhecer a vitória sob as aparências externas de um fracasso, de discernir o poder de Deus se realizado na fragilidade, a verdadeira Igreja dentro da realidade histórica" (V.Lossky, Teologia Mística da Igreja Oriental, p.246); mas, se existem fraquezas evidentes, existem, também, vários sinais de vida. Quaisquer que sejam as dúvidas e ambigüidades das relações Igreja-Estado nos países comunistas, a Ortodoxia, no presente como no passado, tem seus mártires e confessores. O declínio do Monasticismo Ortodoxo, óbvio em muitas regiões, não é universal: há centros que podem vir a ser a fonte de uma ressurreição monástica no futuro. Os tesouros espirituais da Ortodoxia — Por exemplo, a Filocalia e a oração de Jesus — longe de haverem sido esquecidos, são usados e apreciados cada vez mais. São poucos os Teólogos Ortodoxos, mas alguns — freqüentemente estimulados por estudos ocidentais — estão redescobrindo elementos vitais de sua herança teológica. Um certo nacionalismo míope está atrapalhando o trabalho da Igreja, mas há tentativas, em número cada vez maior, de cooperação. Missões existem numa escala ainda muito pequena, mas a Ortodoxia está demonstrando maior entendimento de sua importância. Nenhum Ortodoxo realista e honesto consigo próprio pode se sentir confortável sobre o estado atual da Igreja; por outro lado, mesmo com seus muitos problemas e omissões, a Ortodoxia pode, ao mesmo tempo, olhar para o futuro com confiança e esperança.

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