A Igreja é uma. Isso não significa simplesmente que existe apenas uma
Igreja, mas também que a Igreja é uma unidade. Nela a humanidade é transportada
a um novo plano de existência, de modo a que possa aperfeiçoar-se como unidade
na imagem da vida da Trindade. A Igreja é uma no Espírito Santo e o Espírito a
“constrói” no Corpo perfeito e completo de Cristo. A Igreja é predominantemente
uma na irmandade dos sacramentos. Colocando de outra maneira, a Igreja é uma no
Pentecostes, que foi o dia da misteriosa fundação e consagração da Igreja,
quando todas profecias a ser respeito se cumpriram. Nessa “celebração temível e
desconhecida”, o Espírito Consolador descer e entrou no mundo no qual nunca
estivera antes presente do mesmo modo como Ele então passou a habitar. Ele
então entrou no mundo para morar nele e para se tornar a fonte onipotente da
transfiguração e da deificação. A concessão e descida do Espírito consistiu
numa única e irrepetível Revelação. Naquele dia, naquele momento, uma fonte
inexaurível de água viva e Vida Eterna se abriu aqui na terra.
O Pentecostes, assim, constitui a plenitude e a fonte de todos os
sacramentos e de todas as ações sacramentais, a fonte única e inexaurível para
toda a misteriosa e espiritual vida da Igreja. Habitar ou viver na Igreja
implica a participação no Pentecostes. Mais do que isso, o Pentecostes se torna
eterno na Sucessão Apostólica, na ordenação hierárquica ininterrupta na qual
todas as partes da Igreja estão, a todo momento, organicamente unidas à sua
fonte primária. As linhas do poder procedem da Câmara Alta. A Sucessão
Apostólica não é meramente uma espécie de esqueleto canônico da Igreja. Falando
de modo geral, a hierarquia é, em primeiro lugar, um princípio carismático, ou
seja, um “ministério dos sacramentos”, ou uma “economia divina”. E é
precisamente nessa capacitação que a hierarquia constitui um órgão da unidade
Católica da Igreja. Essa é a unidade da graça. Ela é para a Igreja aquilo que a
circulação do sangue é para o corpo humano. A Sucessão Apostólica não e tanto
uma fundação mística e canônica da unidade da Igreja. Ela está mais associada
ao lado divino do que ao lado humano da Igreja. Do ponto de vista histórico a
Igreja se mantém uma no seu sacerdócio. É pela ininterruptibilidade das
ordenações sucessivas que a totalidade da Igreja é conectada a uma unidade de
corpo a partir de uma unidade de Espírito. E aí só existe um caminho e uma
perspectiva: aproximar-se e beber da fonte única da vida, agora revelada.
A função específica dos bispos é de serem o órgão da Sucessão
Apostólica. Os bispos diferem dos padres por seu poder de ordenar, e somente
por isso. Isso sequer constitui um privilégio canônico, mas apenas um poder de
jurisdição. Trata-se de um poder de ação sacramental que está além daquele que
o padre possui. Na celebração da Eucaristia o bispo não tem nenhuma precedência
sobre o padre, nem pode ter, pois o padre tem pleno poder para celebrar, sendo
seu propósito primário exatamente o de oferecer o Sacrifício Eucarístico. É
enquanto celebrante da divina Eucaristia que o padre é ministro e construtor da
unidade da Igreja. A unidade do Corpo de Cristo se derrama a partir da unidade
do alimento Eucarístico. Mas adicionalmente a isso o bispo tem sua função
particular na construção da unidade da Igreja, não como aquele que oferece o
Sacrifício Incruento, mas como aquele que o ordena. A Última Ceia e o Pentecostes
estão inseparavelmente ligados um ao outro. O Consolador desce quando o Filho é
glorificado em Sua morte na Cruz. Mas eles permanecem sendo dois sacramentos
que não podem ser mesclados um ao outro.
O mesmo se aplica aos dois graus em ordem: o bispo está acima do padre
e é através do episcopado que o Pentecostes se torna universal e eterno. Mais
do que isso, toda Igreja em particular, através de seu bispo – ou melhor, em
seu bispo – se vê incluída na plenitude Católica da Igreja como um todo.
Através de seu bispo ela se liga com o passado e com a antiguidade. Através de
seu bispo ela toma parte do organismo vivo do Corpo da Igreja Universal. Pois
todo bispo é ordenado por muitos bispos em nome do episcopado indiviso. Em seu
bispo toda Igreja particular cresce e transcende seus próprios limites, entre
em contato e se mistura às demais Igrejas, não meramente num amor fraterno ou
numa lembrança comum, mas na unidade de uma misteriosa vida na graça.
Assim é que cada Igreja local encontra seu centro e sua unidade no
bispo, não tanto por ser ele o cabeça e o pastor local, mas porque é através
dele que ela está incluída na misteriosa sobornost
(“catolicidade”) da Igreja-corpo por todos os tempos. “Afirmamos que a ordem
dos bispos é tão necessária à Igreja que, sem ela, a Igreja não é a Igreja e um
Cristão não é um Cristão, e sequer podem receber esse nome. Pois o bispo é um
sucessor dos Apóstolos por meio da imposição das mãos e da invocação do
Espírito Santo, recebendo sucessivamente o poder concedido por Deus ligar e
desligar. Ele é uma imagem viva de Deus sobre a terra, e devido à atividade
divina e ao poder do Espírito Santo ele se torna a fonte abundante de todos os
sacramentos da Igreja Universal por meio dos quais a salvação pode ser obtida.
Consideramos que o bispo é essencial à Igreja, como a respiração o é para o
homem, e o sol para o mundo[1]”.
No Dia de Pentecostes o Espírito desceu não apenas sobre os Apóstolos,
como também sobre todos os que estavam ali presentes com eles: não só sobre os
Doze, mas sobre uma quase multidão (compare-se com os Discursos de Crisóstomo e
sua interpretação dos Atos). Isso significa que o Espírito desceu sobre toda a
Igreja Primitiva então presente em Jerusalém. Mas, embora o Espírito seja um,
os dons e os ministérios da Igreja são muitos e variados, de modo que, no
Sacramento de Pentecostes, o Espírito desceu sobre todos, mas apenas aos Doze
ele concedeu o poder e o grau do sacerdócio prometido a eles por nosso Senhor
nos dias de Sua carne. As qualidades distintivas do sacerdócio não foram
ofuscadas pela plenitude abarcante do Pentecostes. Mas a simultaneidade dessa
aspersão Católica do Espírito sobre toda a Igreja testemunha o fato de que o
sacerdócio foi fundado dentro da sobornost
da Igreja.
É com isso que se relaciona especificamente a proibição direta da
ordenação num sentido “geral” ou “abastrato” (por exemplo, sem a nomeação
definida para uma Igreja ou congregação), conforme a Regra No. 6 do IV Concílio
Ecumênico. Também é proibida a ordenação secreta. Ela deve ser sempre pública e
aberta, na própria Igreja, diante do povo e com o povo. Mais do que isso, a
participação do “povo” é requerida na própria ordenação, e não apenas como
espectadores reverentes que acompanham as orações. O “aksios” ou “amém” obrigatórios não constituem um mero
acompanhamento, mas também um testemunho e uma aceitação. O poder de ordenar é
concedido aos bispos, e somente a eles, mas foi concedido a eles dentro da
Igreja, enquanto pastores de um rebanho definido. E eles podem e devem realizar
esse poder apenas na sobornost da
Igreja, e em acordo com todo o Corpo – vale dizer, os sacerdotes e o povo – e
não “em geral” ou de modo “abstrato” isso implica que o bispo deve habitar a
Igreja, e a Igreja deve habitar o bispo.
A antiga determinação de que um bispo deve ser ordenado por dois ou
três bispos é especialmente significativa. A implicação desse requisito é quase
óbvia[2].
Mas o que estão testemunhando os bispos que ordenam? Na ordenação de um bispo,
nenhum bispo isoladamente pode agir por si como bispo de uma Igreja local
específica e definida, pois nesse caso ele permaneceria como um estranho tanto
quanto como em relação a qualquer outra diocese ou bispado. Ele age como
representante da sobornost dos demais
bispos, como um membro e um participante dessa sobornost. Ademais, está implícito que esses bispos pertencem a
alguma diocese particular, e como bispos dirigentes eles não estão separados,
nem podem ser separados de seus rebanhos. Cada bispo que ordena age em nome da sobornost e da plenitude Católica,
conforme o I Sínodo Ecumênico, regra 4: “é mais digno para um bispo ser
indicado por todos os bispos de sua região; mas se isso for inconveniente por
alguma razão especifica, ou devido à distância, que pelo menos três se reúnam
num lugar, e que os ausentes expressem sua aquiescência por carta, permitindo
que se prossiga com a ordenação”.
Mais uma vez, essas não são medidas canônicas, administrativas ou
disciplinares. Existe uma profundidade mística aqui. Nenhuma realização ou
extensão da Sucessão Apostólica é possível de outra forma, que não dentro da
inquebrantável sobornost de toda a
Igreja. A Sucessão Apostólica não pode ser prejudicada ou divorciada do
contexto orgânico da vida de toda a Igreja, embora possuindo sua própria raiz
divina. No rito Romano apenas um bispo ordena, mas a presença de “testemunhas”
ou “assistentes” é necessária, de modo a confirmar a plenitude e a sobornost do ato sacramental. O ponto
principal reside aqui na cooperação de toda a Igreja, ainda que isso seja
concedido e representado simbolicamente. Sob condições normais da vida da
Igreja a Sucessão Apostólica jamais pode ser reduzida a uma enumeração abstrata
de ordenadores sucessivos. Nos tempos antigos, a Sucessão Apostólica usualmente
implicava, antes de tudo, a sucessão a uma cátedra definida, a uma sobornost específica e local. A Sucessão
Apostólica não representa uma cadeia autossuficiente, nem uma lista ordenada de
bispos. Ela é um órgão e um sistema da unicidade singular da Igreja. Mais do
que isso, não apenas as “santas ordens” (ordo),
como também o “poder sacerdotal” (jurisdictio)
são congruentes na graça. A “jurisdição” significa a concretude do poder e da
dignidade do bispo, e ela se mantém precisamente pela sobornost, vale dizer, pela unidade orgânica com o corpo específico
do povo de uma Igreja. Dessa maneira, fora da “jurisdição”, ou seja, na mera
autossuficiência do grau episcopal, o poder de ordenar não pode ser praticado.
Se uma ordenação “abstrata” não pode ser reconhecida como válida, ela será
ainda não apenas “ilegal (ilícita), como também será misticamente deficiente.
Pois toda ruptura dos limites canônicos implica simultaneamente uma certa perda
da graça, a saber: o isolamento, a separação, o abandono, o esquecimento
místico, a limitação da vigilância da Igreja, e uma diminuição do amor. Pois a
Sucessão Apostólica foi estabelecida para a garantia da unidade e da sobornost, e jamais deve se tornar um
veículo de exclusivismo e divisão.
A Apostolicidade da Igreja não se esgota pelo caráter ininterrupto da
sucessão sacerdotal a partir dos Apóstolos. A Sucessão Apostólica não deve ser
separada da Tradição Apostólica, e, de fato, não pode. A Tradição Apostólica
não constitui uma reminiscência histórica, e tampouco a fidelidade à Tradição
significa apenas uma obstinada insistência no que é antigo, nem exige uma
adaptação arcaica do presente aos modos e costumes do passado. A Tradição não é
uma arqueologia da Igreja, mas uma vida espiritual. Ela é a memória da Igreja.
Ela é, em primeiro lugar, uma corrente de vida espiritual ininterrupta que
procede desde a Câmara Alta. Tampouco a fidelidade à Tradição Apostólica uma
fidelidade restrita apenas à antiguidade, mas uma ligação viva com a plenitude
da vida da Igreja. A fidelidade à Tradição é, similarmente, uma participação no
Pentecostes, e a Tradição representa a realização do Pentecostes: “Quando vier
o Espírito da Verdade, ele encaminhará vocês para toda a verdade[3]”.
Falando de modo geral, a Tradição não é tanto uma salvaguarda e um princípio
conservador, quanto um princípio progressista e condutor, o começo da vida, a
renovação e o crescimento. Os tempos Apostólicos não constituem apenas um
exemplo exterior a serem imitados ou repetidos, mas uma fonte eternamente
renovada, uma experiência da vida na graça. A Tradição é o poder de ensinar,
confessar, testemunhar e proclamar a profundidade da experiência da Igreja, que
permanece sempre a mesma e incomparável. E esse “poder de ensinar” (potestas magisterii) está incluído na
Sucessão Apostólica e se baseia nela. O poder de ensinar é conferido exatamente
no episcopado – ele é o “poder” mais apostólico de todos.
Mas esse “poder” é uma função da plenitude Católica da Igreja. “De omnium fidelium ore pendeamus, quia in
omnem fidelem Spiritus Dei spirat”. Podemos dizer que a hierarquia, em sua
capacidade de ensinar, representa os lábios da Igreja. Isso não significa que a
hierarquia adquire do povo da Igreja sua credencial para ensinar, pois ela a
recebe do Espírito Santo, como uma “unção de verdade” (charisma veritatis certum), de acordo com a expressão de Santo
Irineu de Lyon, no sacramento da ordenação. Esse é o direito, ou o poder, de
expressar e dar testemunho da fé e da experiência da Igreja. A hierarquia
ensina enquanto órgão da Igreja. Por isso ela é limitada pelo “consenso da
Igreja” (consensu ecclesiae), e mais
uma vez não tanto na ordem dos cânones quanto na vida e na evidência
espiritual. Somente à hierarquia é concedido o direito de ensinar e testemunhar
na Igreja. Mas a hierarquia não constitui um “corpo de ensinamento” completo e
autossuficiente na Igreja. A hierarquia só ensina de modo Católico quando
deveras tem e contém a Igreja dentro de si. Toda Igreja local tem direito a uma
“voz que ensina” na exclusiva pessoa de seu bispo, o que, naturalmente, não
exclui o direito à liberdade de opinião. Por outro lado, o bispo possui seu
“poder de ensinar” somente dentro da Igreja, somente dentro da verdadeira sobornost de seu povo e de seu rebanho.
O bispo recebe esse poder e essa capacidade de ensinar, não de seu rebanho, mas
do próprio Cristo, de cujo ministério de ensinamento ele participa através da
graça da Sucessão Apostólica. Mas o poder de ser uma espécie de coração de seu
povo é conferido a ele, e desse modo o povo também tem um direito e uma
obrigação de dar testemunho, de consentir, e de recusar seu consentimento, na
busca pela total unanimidade e plenitude da sobornost.
O poder de ensinar está. Portanto, baseado numa dupla continuidade.
Primeiramente, no caráter ininterrupto da vida espiritual da Igreja, enquanto “plenitude
Daquele que plenifica tudo[4]”.
Todo o sentido e a grandeza da vida Cristã consiste em receber o Espírito.
Entramos em comunhão com o Espírito por intermédio dos sacramentos, e devemos
nos esforçar para estarmos cheios do Espírito nas orações e nas ações. Nisso
consiste o mistério de nossa vida interior. Mas, mesmo nessa vida interior, é
pressuposto que pertençamos à Igreja e que sejamos parte de sua própria
textura. Cada maneira de vida individual está incluída na sobornost, e isso significa que ela é condicionada e limitada pela
Sucessão Apostólica. Em segundo lugar, a comunhão universal por todo o tempo ou
a união nos sacramentos só é possível mediante a não interrupção da sucessão
sacerdotal. O desenvolvimento histórico da Igreja, sua integridade orgânica em
revelar o “depositum fidei”
fundamental é, da mesma forma, baseada na Sucessão Apostólica. A plenitude
Católica do ensinamento da Igreja só é possível para nós mediante a Sucessão
Apostólica, que ultrapassa a relatividade histórica das eras separadas, e que
ainda age como um verificador interno entre o que é variável e o que é
permanente. A liberdade de investigação teológica e de opinião encontra suporte
e fundamento para si na “unção de verdade” hierárquica. É precisamente a
Sucessão Apostólica que nos permite, em nossa teologia, nos erguermos acima e
além do espírito de nosso tempo e penetrar na plenitude da verdade.
Genericamente falando, a eficácia e a realidade dos sacramentos não
dependem da fé daqueles que deles participam. Pois os sacramentos são cumpridos
pelo poder de Deus, e não do homem, e a fragilidade e imperfeição de um
sacerdote individualmente são tornadas boas pela misteriosa participação de
toda a Igreja em suas ações – da mesma Igreja que o escolheu e autorizou a
realizar o “ministério dos Sacramentos”. De qualquer forma, independentemente
disso, é quase impossível isolar por completo o momento objetivo em que a graça
se manifesta nos sacramentos. Por exemplo, como pode a Sucessão Apostólica ser
preservada quando a Tradição Apostólica foi rompida juntamente com a
continuidade da vida espiritual? Em nenhum caso uma injúria à fé deixa de se
refletir de alguma maneira na hierarquia dessas comunidades nas quais o
“depósito de fé” Apostólico não foi preservado, e onde a plenitude da Tradição
foi diminuída pelas brechas na continuidade histórica. Isso se aplica
especialmente aos casos em que a injúria atinge os motivos básicos da própria
“sucessão”, quando a fé Eucarística se torna turva, e quando a ideia de
sacerdócio se torna vaga e imprecisa. Podemos acrescentar que em tais casos a
ligação empírica com a plenitude da vida da Igreja, tanto passada quanto
presente, costuma ser rompida, e a comunidade se torna contida em si mesma e
isolada, de modo que surge aí uma separação empírica – um cisma. Esse desejo de
isolamento e, podemos dizer, essa solidão, não pode deixar de afetar esse
ministério da Igreja, cujo sentido total reside na preservação e na expressão
da unidade. Mais uma vez, não se
trata apenas de uma questão de legalidade ou “jurisdição”. Não é tanto
canonicamente, quanto misticamente, que cada sacerdote age em favor e em nome
de toda a Igreja – e somente então seu ministério Divino se enche de valor
místico. A Eucaristia é uma e indivisível, e só pode ser celebrada dentro dos
limites místicos da Igreja Católica. Como poderia um “dissidente” celebrar a
Eucaristia?
Ainda mais equivocada é a continuidade da Sucessão Apostólica nos
corpos cismáticos, em especial se ela foi continuada, ou mesmo “restabelecida”
com o objetivo de tornar a separação permanente. Como pode uma corrente
hierárquica persistir na divisão, quando sua própria razão de ser é a unidade?
Como podem hierarcas cismáticos agir em favor ou em nome da Igreja Católica?
Ainda assim, a vida da Igreja na prática testemunha o fato de que isso é
possível, e que a vida na graça dentro dos corpos cismáticos não se extingue
nem se esgota, a qualquer custo, pelo menos não imediatamente. Entretanto, não
podemos pensar que seja possível que isso prossiga inalterado, precisamente
pela razão de que não se pode isolar diferentes aspectos do todo orgânico da
vida da Igreja. O isolamento humano e histórico, ainda que juntos não cheguem a
romper com a Sucessão Apostólica, devem, de um modo ou de outro, enfraquece-la
misticamente. Pois a unidade na graça só pode ser revelada no “mistério da
liberdade”, e apenas por meio de um retorno à plenitude e à comunhão Católica,
cada corpo hierárquico separado pode recobrar todo seu significado místico.
Simultaneamente a esse retorno, acontece a aceitação do “depósito de fé”
Apostólico na sua totalidade. A Sucessão Apostólica só pode ser fortalecida
pela fidelidade e a realização da Tradição Apostólica. Nessa inseparabilidade
reside a plenitude do Pentecostes.
CONSENSUS ECCLESIAE, Nov. 24, 1934
[Duas notas explicativas ao artigo do Professor Florovsky sobre “O
Sacramento do Pentecostes”]
I.
“Somente à hierarquia é dado o direito de
ensinar e testemunhar na Igreja”. Isso não significa que o clero e os leigos
estejam destinados simplesmente a uma obediência formal e incondicional do
episcopado. Similarmente, isso não implica que o “direito de ensinar” seja
conferido aos bispos, independentemente do povo. Ao contrário, não existe
espaço para o exclusivismo dentro da Igreja. Dessa forma, o agudo contraste que
existe na Igreja Romana entre as Igrejas “que ensinam” e “que aprendem” é
abandonado. É mais correto falar em coordenação entre os estratos, ou
elementos, dentro da Igreja. Mais uma vez, enfatizo que “o bispo tem o poder de
ensinar” apenas dentro da Igreja, apenas dentro da sobornost de seu povo e de seu rebanho. Todos na Igreja são
chamados não somente à obediência, como também ao entendimento. Precisamente em
questões de fé e dogma, todos são compelidos a uma responsabilidade pessoal. É
preferível não falar em “responsabilidade” – o termo é demasiado formal – e é
melhor dizer que todos devem residir na
verdade. O rebanho deve não apenas ouvir, como também aquiescer. Não é
tanto a autoridade que decide, quanto uma evidência interior de vida espiritual.
Dentro dos limites da sobornost intacta existe uma atribuição de atividades e
de tarefas. Para todos os efeitos, todos
são chamados a ser um exemplo vivo e um testemunho de sua fé e de sua verdade,
para ensinar e ajudar qualquer pessoa. Essa questão não se coloca aqui,
como também não se coloca um problema de busca teológica, que formalmente não
pode ser delimitada por nenhuma posição da Igreja. A questão é como relação ao direito ao testemunho dogmático a favor da
Igreja.
Mais uma vez, o poder da hierarquia não implica que a verdade seja
como que revelada ao bispo automaticamente, por força de sua ordenação e
dignidade, ou que ele possa descobri-la sem consulta ou comunhão com a Igreja,
fora da qual ele perde todo seu “poder”. Porém, apenas a ele é dado o poder de
falar de maneira Católica. Não se
trata apenas de um direito ou privilégio canônico. Isso está vinculado ao fato de
que o bispo enquanto tal constitui um centro místico de seu rebanho, unindo em
si a unicidade da agremiação sacramental. O fato de que com muita frequência os
bispos não sejam bons teólogos não contradiz essa determinação. Nesses casos
eles são forçados a encontrar apoio em outros sacerdotes mais instruídos do que
eles. Isso aconteceu desde os tempos mais antigos: basta lembrar Eusébio de
Cesareia, cujo conselheiro principal era Basílio o Grande. Não se trata de uma
contradição maior do que o simples fato de que existem bispos indignos, tanto
quanto existem Cristãos indignos. Mesmo os leigos podem e devem estudar,
discutir, pregar, escrever e argumentar; e eles podem ainda discordar dos
bispos. Mas testemunhar em favor da
Igreja, somente os bispos podem fazê-lo. Podemos também colocar as coisas
da seguinte maneira: o direito de opinião e aconselhamento é dado a todos, mas
o “poder de ensinar” é concedido apenas à hierarquia – naturalmente, dentro da
agremiação intacta da sobornost. A falta
de bispos instruídos dentro da Igreja Ortodoxa nos tempos recente é lamentável,
mas de modo algum está ligado a esse postulado.
Com relação aos “teólogos leigos” na Rússia, não se pode dizer que
eles tenham o poder de ensinar em favor de toda a Igreja – o que, de modo
algum, limita seu grande significado histórico. Pois a voz dos leigos deve ser
ouvida no coro Ortodoxo. O líder do coro, naturalmente, só pode ser um bispo. Existem
inúmeros dons, e todos os dons são necessários. Porém, somente um é apontado
como pastor, e o cajado é confiado a ele. “E o rebanho o segue, pois conhece a
Sua voz[5]”.
II.
A desunião dentre os Cristão implica, naturalmente,
uma fraqueza mística, e aqui nada é muito claro. Eu gostaria apenas de
enfatizar um ponto. O simples fato de que
exista uma divisão na Igreja é um paradoxo e uma antinomia. Um abandono da
Igreja é mais compreensível do que uma divisão na Igreja, na medida em que, num
cisma, a própria eficácia dos sacramentos em si não elimina o fato indubitável
de que o espírito de divisão constitui um sintoma de falta de saúde. Não é fácil
desenvolver esse ponto de vista, pois se trata precisamente de um paradoxo. Porém,
creio que foi o Ocidente que se separou do Oriente, e que a culpa do Ocidente é
maior. Toda a história do desvio Romano dá testemunho disso, e ainda
sobrecarrega a Igreja Anglicana tanto quanto. Mas isso nos levaria a um novo e
complicado tema, a saber, a divisão entre as Igrejas, e é mais aconselhável
voltar em separado a ele em outra ocasião.
[1] Epistola dos Patriarcas do Oriente aos
Bispos da Grã-Bretanha, 1723, §10.
[2]
“...tome com você mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja
decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas” (Mateus 18: 16).
[3]
João 16: 13.
[4]
Efésios 1: 23.
[5] João
10: 14.
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