terça-feira, 27 de novembro de 2018

Inácio Briantchaninov - Escritos sobre a Prece de Jesus - Parte 2-B: Da Prece de Jesus





VIII
INTRODUÇÃO À PRECE HESIQUIASTA


A farmácia dos Padres

Antes de abordar a descrição do método da prece que os Santos Padres expõem quase que exclusivamente em intenção dos hesiquiastas, acreditamos necessário preparar um pouco o leitor para isso. Podemos comparar os escritos dos Padres a uma farmácia na qual se encontram numerosos medicamentos; porém, o enfermo que não é versado na arte médica e que não tem um médico para guiá-lo sentirá grandes dificuldades para encontrar um medicamento que sirva à sua enfermidade. E se, levado pela presunção e a irresponsabilidade, um doente, na ausência do médico, escolhe por si mesmo apressadamente um remédio, sem antes consultar com toda atenção as obras de medicina, sua escolha corre o risco de ser extremamente infeliz: um medicamento que possua em si mesmo uma virtude curativa pode, nesse caso, se revelar não apenas inútil, como até extremamente nocivo. Privados dos guias teóforos, nós nos encontramos, em relação aos escritos dos Santos Padres referentes à operação mística da prece do coração e seus efeitos, numa situação análoga à daquele doente. Nos livros patrísticos que chegaram até nós, o ensinamento sobre a prece está exposto por completo e com suficiente clareza; mas quando, com toda a nossa ignorância, nos vemos diante desses livros nos quais estão descritas, em sua grande diversidade, as práticas e os estados dos iniciantes, dos que progridem e dos perfeitos, experimentamos uma grande dificuldade em escolhes a prática e o estado que nos correspondem. Infinitamente feliz daquele que compreende e sente essa dificuldade! Pois, por não o terem entendido ao longo de uma leitura superficial dos Santos Padres, e por se colocarem apressadamente ao corrente das práticas que eles expõem, muitos acabaram por adotar uma que não lhes convinha, e assim erraram completamente.

O risco das leituras

Em seu tratado, redigido para um hesiquiasta muito avançado, Longino, São Gregório o Sinaíta escreve: “O hesiquiasmo é uma coisa, a vida comunitária é outra. Permanecendo dentro do modelo de vida para o qual foi chamado, cada qual será salvo. É por isso que eu reluto em escrever, em razão dos fracos no meio dos quais eu o vejo viver; pois quem quer que pratique por ouvir dizer, ou seguindo um estudo pessoal, uma ascese de prece demasiado árdua para si, vai se perder, como alguém que não possui guia”; Os Santos Padres relatam que muitos que se puseram a praticar a prece de maneira incorreta, seguindo métodos para os quais não estavam maduros nem eram capazes, caíram na cegueira espiritual e foram atingidos por problemas mentais.

O risco dos encontros

Não é apenas a leitura de livros patrísticos insuficientemente compreendidos que pode ser causa de sérios prejuízos, mas próprios os contatos com os maiores servidores de Deus e a escuta de suas santas doutrinas podem, da mesma forma, conduzir aos piores resultados. É o que aconteceu ao monge sírio Malpatos, que era discípulo de São Júlio. Acompanhando seu mestre, Malpatos visitou Santo Antônio o Grande e teve o privilégio de ouvir de sua boca um ensinamento muito elevado sobre a vida monástica, sobre a mortificação de si mesmo, a oração mental, a pureza da alma e as visões. Malpatos, que não captara corretamente esse ensinamento, inflamou-se com um ardor todo terrestre e impôs a si mesmo uma ascese das mais austeras, vivendo como recluso na esperança de alcançar os estados espirituais mais elevados, dos quais ouvira Santo Antônio falar, que ele vira e como que tocara com o dedo q1uando estivera com ele. Essa prática o mergulhou na pior das cegueiras. Sua ascese era intensa, e intensa foi a ilusão que se seguiu, enquanto que a presunção que inundava sua infeliz alma o tornava impermeável ao arrependimento e, por conseguinte, à cura: Malpatos se tornou o fundador e o chefe da heresia dos Messalianos[1]. Que triste acontecimento! Que espetáculo lamentável! Ser discípulo de um grande santo, escutar o ensinamento do maior dos santos e depois colocar tudo a perder por não o colocar corretamente em prática! E ele sucumbiu em uma época na qual, em razão do grande número de santos capazes de dirigir e curar, poucos se deixavam levar pela ilusão. Digo tudo isso para nossa salvaguarda.

Como estudar os escritos dos Padres

Mesmo no tempo em que brilhavam luzes incontáveis, o caminho do monaquismo interior – o isolamento e a quietude mística do intelecto em prece no coração – era considerado como cheio de perigos; quão mais perigoso será ele hoje, quando a escuridão da noite se impôs a tudo! Os luminares celestes estão ocultos pela neblina e por nuvens espessas. É preciso viajar com extrema lentidão, como que tateando. O estudo dos livros patrísticos oferecidos pela Providência divina aos monges contemporâneos para lhes servir de guias na via espiritual exige um sério esforço. Para realizá-lo, é preciso renunciar a si mesmo, abandonar os cuidados do mundo, sem falar nas distrações, no lazer e nas diversões; é preciso viver segundo os mandamentos do Evangelho; é preciso ter a pureza do intelecto e do coração, a única que permite discernir e compreender o ensinamento místico do Espírito, e isso proporcionalmente ao  grau de nossa purificação. Em nossa época, o tesouro da salvação e da perfeição Cristã está enfurnado debaixo das palavras proferidas pelo Espírito Santo ou sob sua inspiração, ou seja, na Santa Escritura e nas obras dos Santos Padres. Que se alegre espiritualmente quem pôde adquirir um conhecimento essencial, que se oculte por completo do mundo numa vida orientada só para Deus, que se retire, venda tudo o que possui e adquira esse campo[2], no qual estão ocultas a salvação e a perfeição.

Fazer um estudo aprofundado das Escrituras e se esforçar para conformar sua vida a ela exige um bocado de tempo. Depois disso, agindo com grande prudência e pedindo constantemente a ajuda de Deus pela prece e as lágrimas, e com a pobreza de espírito, podemos abordar as atividades espirituais que conduzem à perfeição. Um santo monge contou a propósito de si mesmo que havia estudados os escritos dos Padres por vinte anos, enquanto levava a vida comum de um monge cenobita; ao final desse período, ele se decidiu a colocar em prática a profunda ascese monástica, da qual adquirira uma conhecimento teórico por meio das leituras e também, provavelmente (como costumava acontecer nessa época) pelas conversas com padres mais avançados. Notemos, entretanto, que os progressos de um monge que se guia exclusivamente pelas leituras são incomparavelmente mais lentos do que quando ele está sob a condição de mestres teóforos.

A ordem das leituras

O que cada Santo escreveu procede de sua própria experiência da graça, e de sua própria prática ascética, e é reflexo disso. Devemos sempre levar isso em conta. Não nos deixemos entusiasmar por um livro escrito como fogo e que fala de práticas e de estado elevados, mas que não condizem com nosso grau de progresso. Sua leitura, inflamando nossa imaginação, pode nos prejudicar, dando-nos prematuramente o conhecimento e o desejo de explorações ascéticas que nos ultrapassam. Voltemo-nos para os textos de algum Padre mais próximo de nosso estado, segundo o grau de seu progresso.

Serafim de Sarov

Com esse conceito das obras patrísticas, podemos, como primeira leitura, propor ao monge que deseja tomar conhecimento da ascese interior, as Instruções de Serafim de Sarov, as obras de Païssy de Niamets e as de seu amigo, o monge de “grande hábito” Basílio. A santidade desses homens e a justeza de seus ensinamentos estão fora de dúvida.

Nilo de Sora

Depois do estudo desses escritos, podemos abordar o livro de São Nilo de Sora. Por suas dimensões exteriores esse livro é pequeno, mas por sua envergadura espiritual é de uma amplidão pouco comum. É difícil encontrar uma questão referente à atividade espiritual que não tenha nele sua resposta. Tudo está aí exposto com uma simplicidade e uma clareza excepcionais, e de uma maneira inteiramente satisfatória. Nele encontramos igualmente um método para praticar a Prece de Jesus. Mas desde já é preciso esclarecer que esse método (assim como o próprio livro em seu conjunto) foi concebido para monges já capacitados para viver a vida hesiquiasta.

Nilo de Sora prescreve o silêncio interior, proibindo não apenas pensar em qualquer coisa de pecador e vão, mas também em coisas aparentemente úteis e espirituais. Em lugar de pensar, devemos olhar continuamente para as profundezas do coração e dizer: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador”. Podemos orar em pé, sentados ou deitados. Os que são robustos e gozam de boa saúde oram de pé; os fracos podem orar mesmo estando deitados, pois nessa prece a ascese espiritual tem precedência sobre a ascese corporal. É preciso dar ao corpo uma postura que forneça ao espírito toda liberdade para que exerça sua própria atividade. Devemos nos lembrar que estamos falando aqui da maneira de agir de monges que, por meio de uma ascese corporal adequada, já colocaram em boa ordem as inclinações do corpo, e que, em razão do progresso já realizado, puderam passar da ascese do corpo à da alma.

Controle da respiração

Nilo de Sora recomenda encerrar o intelecto no coração e comprimir aí, na medida do possível, a respiração, a fim de não respirar com frequência. Em outros termos: é preciso respirar suavemente. De modo geral, é preciso reprimir todos os movimentos do sangue e manter o corpo e a alma num estado aprazível e pacífico, num estado de silêncio, adoração e de temor a Deus; caso contrário, a atividade propriamente espiritual não tem como se manifestar em nós; ela só o faz quando todos os movimentos e ebulições do sangue são apaziguados. A experiência ensinará rapidamente que a retenção do sopro, ou seja, o fato de respirar com menos frequência e mais suavemente, contribui muito para nos fazer entrar num estado de calma e para resgatarmos nosso intelecto de sua vagabundagem. “Existem muitas obras virtuosas, diz São Nilo, mas todas elas são parciais; ao contrário, a prece do coração é a fonte de todos os bens: ela irriga a alma como um jardim. Essa obra, que consiste em guardar o intelecto no coração sem nenhum pensamento, é extremamente difícil para aqueles que não aprenderam a praticá-la; ela o é não apenas para os iniciantes, mas também para aqueles que já longamente penaram sem que ainda tenham recebido ou guardado no coração a doçura concedida pela prece movida pela graça. A experiência mostra que essa prática é extremamente árdua e penosa. Mas quando o homem recebe a graça, ele ora sem esforço e com amor, porque ele é consolado por ela. Quando advém a atividade da prece, ela atrai para si o intelecto, alegra-o e o liberta das distrações[3]”.

A fim de se costumar com esse método preconizado por Nilo de Sora, é muito benéfico combiná-lo com o de São João Clímaco e orar sem nenhuma pressa. Na apresentação de seu método, São Nilo cita numerosos Padres da Igreja do Oriente, mas sobretudo Gregório o Sinaíta.


IX
OS MESTRES DA PRECE HESIQUIASTA


Gregório o Sinaíta

Os escritos de São Gregório o Sinaíta possuem um valor espiritual de primeiro plano, mas eles não são tão claros e acessíveis como os de São Nilo de Sora. A razão está no estilo da exposição, nas ideias que nesse tempo se fazia a respeito de diversos assuntos e que hoje nos são pouco familiares, e, sobretudo, no avanço espiritual, tanto do autor da obra como de seu destinatário. O método de prece proposto pelo Sinaíta é quase o mesmo que o descrito por Nilo. De resto, esse último havia emprestado sua doutrina da prece, tanto da leitura e do estudo dos tratados do Sinaíta, como das conversas que ele teve com discípulos seus em sua viagem ao Oriente.

Sentar-se num assento baixo

“Pela manhã, diz São Gregório citando o sábio Salomão, ‘lança tua semente’ – ou seja, a prece – ‘e à tarde não deixes tua mão inativa’, a fim de que sua prece seja contínua, não entrecortada pela intermitência, de maneira a que ela não falte no momento em que puder ser estendida, ‘pois, das duas sementes, não sabes qual irá brotar[4]’. Desde a manhã, sentado num assento da altura de um palmo, faça descer seu intelecto desde a cabeça ao coração, guarde-o lá e mantenha-se dolorosamente inclinado para frente; então, com fortes dores no peito, nas espáduas e no pescoço, ore sem cessar pelo intelecto e pela alma: ‘Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim’. Retenha um pouco o sopro, a fim de não respirar sem atenção[5]”.

Quando o Espírito ora em nós

No que diz respeito ao ensinamento sobre a retenção do sopro, o Sinaíta menciona os Santos Isaías o Anacoreta, João Clímaco e Simeão o Novo Teólogo. “Se quisermos encontrar a verdade e conhecê-la sem nos perdermos, diz o Sinaíta, esforcemo-nos por ter unicamente a atividade do coração, sem nenhuma representação mental. Não demos a menor liberdade à nossa imaginação, nem permitamos aos nossos fantasmas que invoquem a imagem de um santo ou de qualquer luz; com efeito, é costume dos fantasmas enganadores desse tipo que a ilusão cria, em especial no início da ascese, de seduzir o espírito dos que são inexperientes. Esforcemo-nos por não ter em nosso coração nada além da atividade da prece, aquecendo e alegrando o intelecto, abrasando a alma com um inefável amor a Deus e aos homens. Então, sob o efeito da prece, uma profunda humildade e uma grande compunção irão aparecer, pois, entre os iniciantes, a prece é uma atividade espiritual sempre em movimento produzido pelo Espírito Santo. No começo, essa atividade lembra um fogo que sobre do coração, mas, no final, ela é como uma luz perfumada[6]”. O termo ‘iniciante’ designa aqui os que se iniciam no hesiquiasmo; com efeito, o livro de São Gregório o Sinaíta é inteiramente destinado aos hesiquiastas. 

Orar de dois modos

O Sinaíta escreve ainda: “Alguns, ao expor seus ensinamentos sobre a prece, recomendam dizê-la com a boca, enquanto outros, apenas mentalmente. Quanto a mim, recomendo os dois modos. Às vezes, por causa da preguiça, o intelecto não tem mais força para orar, e às vezes os lábios; por isso devemos orar dos dois modos, tanto oral como mentalmente. Claro, é preciso invocar silenciosamente e sem perturbação a fim de que a voz não descomponha o sentido e a atenção do intelecto, e não se torne um obstáculo à prece. Quando o intelecto se habitua a essa prática, ele progride e recebe do Espírito a força de orar intensamente e de todas as maneiras. Então já não somos obrigados a dizer a prece com os lábios, e até não poderemos fazê-lo, por estarmos plenamente absorvidos pela oração realizada apenas com o intelecto[7]”.

Ao recomendar que oremos de tempos em tempos oralmente, São Gregório combina seu método com o de São João Clímaco. Na realidade, trata-se do mesmo método: mas São Gregório o descreve tal como ele se apresenta ao atingir um determinado grau de perfeição. Quando seguimos escrupulosamente o método de Clímaco, chegamos, no devido tempo, ao estado de prece de que fala o Sinaíta.

Orar com dor

Segundo a opinião fundamentada e realista do Sinaíta, a paciência, em especial deve cooperar na oração. “Quando ora, o hesiquiasta deve estar sentado na maior parte do tempo, e às vezes deve mesmo se deitar em seu leito por uns instantes para dar algum repouso ao corpo. Você deverá sentar-se com paciência para cumprir o mandamento segundo o qual é preciso perseverar na oração[8], e não se levantar rapidamente por perder a coragem devido ao esforço doloroso representado pela invocação mental e a constante imersão do intelecto no coração. Assim falou o Profeta: “As dores me assaltaram, como a uma mulher em trabalho de parto[9]”. Incline sua cabeça para baixo, reúna seu intelecto no coração – se seu coração estiver aberto para você – e chame pelo socorro do Senhor Jesus. Sentindo dores nas espáduas e muitas vezes sofrendo dores de cabeça, suporte tudo isso com constância e zelo, e busque o Senhor em seu coração, pois o Reino dos céus pertence aos que são violentos, e são esses que tomam posse dele[10]. O Senhor mostrou que o verdadeiro fervor consiste em suportar essas dores, e outras semelhantes. Em toda obra, a paciência e a perseverança geram dores no corpo e na alma[11]”.

O termo ‘dor’ designa aqui sobretudo a contrição do espírito – as lamentações, aflições e sofrimentos do espírito que percebe seu estado de pecado, que toma consciência de sua morte eterna e que sente sua servidão aos espíritos decaídos. O sofrimento do espírito se comunica ao coração e ao corpo, que estão indissoluvelmente ligados a ele e que participam desses estados por uma necessidade natural. Para os que são fisicamente fracos, a contrição do espírito e as lamentações substituem plenamente o labor corporal[12]; mas para os que possuem uma constituição robusta, pedimos com insistência que maltratem seu corpo, na falta de que seu coração permanecerá privado da bem-aventurada aflição que invade os fracos, quando esses sentem e reconhecem sua fraqueza.

Os violentos se apoderam do Reino

“Toda atividade corporal ou espiritual, diz São Gregório, que não é acompanhada de dores e de esforços, jamais dará frutos a quem a exerce, porque ‘o Reino dos céus sofre violência, e são os violentos que se apoderam dele[13]’. Pelo termo ‘violência’, entenda uma sensação de dor corporal em tudo o que você faz. Muitos trabalharam por muitos anos e continuam a fazê-lo sem sofrer, mas como eles fazem esforços sem dor e sem o zelo fervoroso do coração, eles permanecem sem pureza e privados da comunhão do Espírito Santo, porque recusaram a opressão dos sofrimentos. Os que realizam uma obra com negligência e relaxamento fazem aparentemente, segundo pensam, grandes esforços; mas eles não recolhem fruto, por causa da ausência de dor, porque estão completamente livres dela. Disso é testemunha aquele que disse: ‘Por maiores que sejam as práticas nas quais nos exercitemos, devemos considerá-las como inúteis e falsas se não adquirirmos um coração doloroso[14]’. O grande Efrém confirma isso, ao dizer: ‘Quando você fizer esforços, faça-os com dor, para evitar a dor de ter trabalhado em vão’. Se, como disse o Profeta[15], nossos rins não estão extenuados por jejuns penosos e se as dores do parto não nos invadem, como uma mulher que dá à luz, com uma dolorosa contrição do coração, não daremos nascimento ao Espírito de salvação sobre a terra de nosso coração, como você ouviu, mas nos vangloriaremos (o que é digno de piedade e desprezo), pensando sermos alguma coisa, pelo fato de termos vivido por anos num deserto estéril, na indolência e na calma. No momento de nossa partida dessa vida, todos conheceremos sem equívoco todos os frutos de nossas vidas[16]”.

Explicação dessa dor

O que São Gregório o Sinaíta diz sobre as dores que acompanham a prática assídua da oração mental hesiquiasta pode parecer estranho – e, de fato, o é – ao homem carnal e físico que não está familiarizado com a vida monástica. Nós convidamos essas pessoas a prestar atenção a esse ensinamento fundado sobre a experiência, e damos testemunho de q eu não apenas a prática da oração mental, como mesmo a leitura atenta dos escritos patrísticos que tratam dela, produzem dores de cabeça. Em razão de nosso estado de pecado, de cativeiro e de morte que a prece nos revela, a contrição do coração se torna tão forte que produz no corpo sofrimentos e dores, dos quais, quem não está a par da ascese da prece não suspeita a existência, nem sequer a possibilidade. Quando o coração confessa ao Senhor seu estado de pecado e sua condição miserável, o corpo é crucificado. “Encontro-me na miséria”, dizia Davi, que conhecia a experiência da ascese da prece, “e encurvado caminho todo o dia entristecido. Minhas chagas são objeto de gracejo, nada existe de são em minha carne. Estou afligido e humilhado além das medidas, rugindo por causa dos espasmos de meu coração[17]”.

A arte da Prece

No ensinamento de São Gregório sobre a prece, notamos a seguinte particularidade: ele sublinha que o intelecto deve se recolher dentro do coração. É isso que os Padres denominam de prece praticada “com arte”; eles a proíbem aos monges iniciantes e às pessoas do mundo, pois ela necessita de um treinamento prévio considerável. Mesmo os monges preparados devem abordá-la com a maior reverência, com temor a Deus e muitas precauções. Depois de haver prescrito que o intelecto deve se concentrar no coração, o Santo especifica: “se seu coração estiver aberto para você”. Isso significa que a união do intelecto com o coração é um dom da graça de Deus, concedido no momento exato e escolhido por Deus, não importando nem quando, nem o grau de progresso do asceta. O dom da prece atenta é normalmente precedido de grandes aflições e profundas comoções da alma que mergulham nosso espírito numa aguda tomada de consciência de sua pobreza e de sua nulidade[18]. O dom de Deus é atraído pela humildade e pela fidelidade a Deus, manifestadas pela rejeição absoluta de todos os pensamentos pecaminosos, desde seu mero aparecimento. A fidelidade é causa da pureza. É à pureza e à humildade que são confiados os dons do Espírito.

Nicéforo o Solitário

A oração mental praticada “com arte” é descrita de maneira especialmente clara e completa pelo bem-aventurado Nicéforo, monge que viveu como hesiquiasta no Monte Athos. Com razão, ele chama a prática da prece de “arte das artes e ciência das ciências”, pois ela fornece ao intelecto e ao coração conhecimentos e impressões que provêm do Espírito de Deus, enquanto que todas as demais ciências fornecem conhecimentos e impressões somente humanos. A oração mental constitui a mais alta escola da Teologia[19].

Buscar um mestre

“Essa obra, grande entre as maiores”, diz esse eminente mestre dos hesiquiastas, “muitos, ou mesmo todos, a adquirem pelo caminho do ensinamento. Raros são os que, sem que tenham sido instruídos, a recebem diretamente de Deus graças a um esforço intenso e uma fé ardente. Ora, a exceção não faz a regra. Por essa razão, devemos buscar um mestre seguro, para que, por suas instruções, possamos aprender a discernir as faltas e os exageros, sejam da direita ou da esquerda, que se produzem enquanto nos exercitamos na atenção e somos levados pelas armadilhas do Maligno. Com efeito, o mestre no-las desmascarará, pois ele as conhece por experiência pessoal, por ter sido ele próprio exposto a elas. Ele nos mostrará com segurança essa via espiritual e, sob sua direção, nós a percorreremos sem obstáculos. Se você não conhecer um mestre, deve a toda custa buscar por um. E se, malgrado suas buscas, não o encontrar, então, invocando a Deus com um espírito contrito e muitas lágrimas, você deve suplicar a Ele pela despossessão, e fazer como eu lhe disse.

Fazer descer o intelecto ao coração

“Você sabe que o sopro que respiramos se compõe de ar; nós asseguramos nossa respiração pelo coração, e só por ele. Ele é o órgão da vida e o calor do corpo. O coração aspira o ar a fim de retirar seu calor graças ao sopro, e para buscar o frescor. O princípio desse mecanismo, ou, mais exatamente, seu instrumento, é o pulmão. Deus o criou com um tecido poroso, o que lhe permite fazer com que o que está dentro dele entre e saia com facilidade. Eis como o coração, aspirando o frescor pelo sopro e rejeitando o calor, observa inviolavelmente a função que lhe foi assinalada para a manutenção da vida. Assim, portanto, estando sentado, recolha seu intelecto e introduza-o pelas narinas, caminho pelo qual o sopro chega ao coração; dê ao sopro um ritmo bem lento e force seu intelecto a descer ao coração juntamente com o ar inalado. Quando ele entrar aí, o que acontecerá então será para você motivo de alegria e felicidade. Quando um homem, que esteve ausente de sua casa, volta a ela, ele se esquece de si mesmo de tanta alegria por poder reencontrar sua esposa e seus filhos; da mesma forma, quando o intelecto se une à alma, ele se enche de doçura e de uma alegria inexprimíveis”.

O reino dos céus está em nós

“Irmão, habitue seu intelecto a não sair apressadamente daí. No começo, de fato, ele fica muito incomodado com o apertamento dessa reclusão interior. Mas uma vez que se habitue, ele não desejará mais errar por aí, pois ‘o Reino dos céus está dentro de nós’. O intelecto que percebe isso e que o busca por meio da prece pura, considera tudo o que é exterior como vil e desprezível. Assim, quando você entrar desde o começo, como eu disse, pelo intelecto no lugar do coração que eu lhe mostrei, dê graças a Deus, glorifique-O e exulte. Agarre-se sempre a esse exercício, e ele lhe ensinará coisas que você não conhece”.

A Prece de Jesus

“Você deve saber ainda que quando seu intelecto se encontrar firmemente estabelecido no coração, ele não deve permanecer silencioso e ocioso, mas deve ter como ocupação e meditação constante, jamais interrompida, a prece: ‘Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim’. Essa prece, guardando o intelecto ao abrigo das divagações, o torna inacessível e inviolável às sugestões do Inimigo e o faz progredir dia a dia no amor e no desejo de Deus”.

O poder espiritual

“Mas se, meu irmão, malgrado todos os seus esforços, você não conseguir penetrar na região do coração, como eu lhe prescrevi, faça o que vou lhe dizer e, com a ajuda de Deus, encontrará o que procura. Você sabe que o poder espiritual do homem está localizado no peito. É em nosso peito, mesmo quando a boca está muda, que nós falamos, deliberamos, dizemos as preces e os salmos. Você deve banir todos os pensamentos desse poder espiritual – você pode, desde que queira – e ordenar que ele diga: ‘Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim’. Force-se a exclamar essas palavras no interior do peito, excluindo todos os demais pensamentos. Se você agir assim, então, com o tempo, sem a menor dúvida, essa prática abrirá a entrada do coração, conforme descrevi. Eu próprio fiz essa experiência. Acompanhando a atenção tão desejada e cheia de doçura, virá também todo o coro das virtudes: o amor, a alegria, a paz e as outras; graças a elas, todos os seus pedidos serão atendidos em nosso Senhor Jesus Cristo[20]”.

A quem se destina esse método?

Aqui convém mencionar antes de tudo o grau de desenvolvimento do bem-aventurado Padre e do monge a quem ele estava instruindo. Podemos fazer uma ideia disso a partir das passagens de seu tratado que precedem sua exposição sobre a arte da oração mental. Essas passagens mostram por referências feitas à Vida de São Sabas, que o ensinamento sobre a hesíquia do coração, em vista da qual e de acordo com a qual a hesíquia exterior do corpo está relacionada, se dirigia a monges que já haviam assimilado plenamente os princípios da vida monástica e que eram capazes de lutar contra os pensamentos adversos e de supervisionar seu intelecto.

Despertar o espírito

O bem-aventurado Nicéforo diz àquele a quem instruía: “Você sabe que o poder espiritual do homem está localizado no peito. É em nosso peito, mesmo quando a boca está muda, que nós falamos, deliberamos, dizemos as preces e os salmos”. Raros são os que percebem o poder espiritual situado em seu peito com clareza suficiente para poder dizer aí as preces e a salmodia. Só o conseguem aqueles que realizaram um progresso substancial, que se dedicaram à prece por um longo período, seguindo o método de São João Clímaco, que alcançaram um alto grau de concentração e que, por meio de uma prece muito atenta, despertaram o espírito – chamado aqui de poder espiritual – e conseguiram entrar “em simpatia” com seu intelecto. No estado comum do homem, o espírito, abatido pela queda, dorme no pesado sono da morte; ele assim não é capaz de realizar os exercícios espirituais de que tratamos aqui, e não despertará para eles senão quando o intelecto se aplicar com energia e perseverança a despertá-lo por meio do Nome vivificante de Jesus.

O método preconizado pelo bem-aventurado Nicéforo é excelente. Na exposição que ele faz dele, o homem que compreende corretamente essa prática poderá discernir, de um lado, as etapas pelas quais deverá passar para se aproximar dela, e, de outro, o fato de que sua plena pose é um dom de Deus. Como esse método é explicado em detalhe na obra que os dois Xanthopoulos dedicaram à prece e ao hesiquiasmo, passaremos agora ao exame de seu tratado.

Calixto e Inácio Xanthopoulos

São Calixto Xanthopoulos foi discípulo de São Gregório o Sinaíta e levou a vida monástica no Monte Athos. Ele recebeu sua primeira formação num mosteiro cenobítico; em seguida, ele passou à vida hesiquiasta logo que foi reconhecido como maduro para ela. Ele se familiarizou com a oração mental ainda quando era ajudante de cozinha do mosteiro. Ele possuía além disso um bom conhecimento do mundo, coisa que vemos claramente no livro que ele redigiu. Ele já estava com uma idade avançada quando foi elevado ao grau de Patriarca de Constantinopla. Santo Inácio foi seu amigo mais íntimo e seu companheiro de ascese. Ambos atingiram um alto grau de prece. Seu livro foi escrito exclusivamente à intenção dos hesiquiastas. Eles especificam o mecanismo descrito pelo bem-aventurado Nicéforo, acrescentando que é preciso colocá-lo em prática mantendo a boca fechada. Eles diziam que o noviço, no domínio da vida hesiquiasta, devia se dedicar à Prece de Jesus, segundo o método do bem-aventurado Nicéforo, fazendo-a continuamente entrar docemente no coração por meio de fortes inspirações pelo nariz, e que era preciso também expirar mansamente, mas tendo a boca fechada[21].

Razão de ser dos métodos

É essencial conhecer o alcance que os santos mestres da oração mental atribuem ao método que eles preconizam. Enquanto auxiliar material, o método não deve, de modo algum, ser confundido com o ato de orar propriamente dito, e jamais se deve dar a ele uma importância exagerada, como se dele dependesse todo sucesso. O que nos permite progredir na prece é a força e a graça divinas; são elas que realizam tudo. Quanto aos auxiliares, eles não passam de suportes aos quais nossa fraqueza recorre, mas que abandonamos como inúteis e supérfluos assim que fazemos algum progresso. É perigoso colocar no método nossa esperança: isso conduzirá a uma concepção material, incorreta, da prece, e nos impedirá de ter uma noção espiritual, a única justa. Uma compreensão errônea da prece traz consigo uma prática estéril, inclusive prejudicial à alma.

“Saiba, portanto, irmão”, dizem os dois Xanthopoulos, “que cada método, cada regra, ou, se você preferir, as diversas práticas, foram prescritas e com justeza instituídas porque nós não somos ainda capazes de orar em nosso coração com toda pureza e sem distrações. Quando aí chegarmos pela benevolência e a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, tendo abandonado o múltiplo, o diverso e o variado, nós nos uniremos sem intermediário, para além de toda palavram com o Um, o Simples e o Unificante[22]”.

Unir o intelecto e o coração

“Perseverando no método descrito acima, da prece do coração, da prece pura e sem distrações – embora ela possa ser parcialmente privada dessa pureza e perturbada por distrações da razão, pois é evidente que pensamentos e lembranças do passado podem surgir para entravá-la – o asceta chega finalmente a orar sem constrangimentos, sem distrações, de uma maneira pura e verdadeira; em outros termos, ele atinge um estado em que o intelecto permanece no coração, sem necessidade de ser aí introduzido penosamente e forçado por meio da respiração, para logo escapar outra vez; nesse estado, o intelecto retorna constantemente sobre si mesmo, permanece voluntariamente no coração e ora sem cessar[23]”.

Orar sem distrações

A ascese da prece mental e do coração “se realiza com a ajuda da graça de Deus, que cobre o intelecto com sua sombra, e pela invocação monológica de nosso Senhor Jesus Cristo – invocação pura, feita sem distrações no coração e com fé – e não pela simples técnica natural descrita mais acima, fundamentada sobre o ritmo respiratório, nem pelo fato de se estar sentado num lugar silencioso e escuro quando nos dedicamos à prece – longe disso!  Essa técnica foi concebida pelos divinos Padres unicamente como um auxílio para reunir os pensamentos de sua vagabundagem habitual, para fazer com que o intelecto retorne sobre si mesmo e à atenção. (...) Antes de todos os outros dons da graça, é a ausência de distrações que é concedida ao intelecto por nosso Senhor Jesus Cristo quando invocamos Seu santo Nome no coração e com fé. A técnica natural que consiste em fazer descer o intelecto para o coração por meio da respiração, o fato de estar sentado num lugar escuro e silencioso, bem como o recurso a outros auxiliares de mesmo gênero contribuem muito pouco para isso[24]”.

A obediência precede a hesíquia

Os Santos Calixto e Inácio Xanthopoulos proíbem estritamente aspirar prematuramente àquilo que, segundo a ordem espiritual da vida monástica, deverá chegar à sua hora. Eles desejam que o monge trabalhe na ordem que lhe foi estabelecida, segundo as leis que foram ensinadas pela graça divina. Dizem eles: “Quanto a você, que deseja aprender a conhecer a hesíquia que conduz ao céu, siga sabiamente as leis instituídas e, em primeiro lugar, ame com bom coração a obediência, e, em seguida, a hesíquia. Assim como a ação conduz à contemplação, também a obediência leva à hesíquia. ‘Não desloque as fronteiras antigas que seus pais estabeleceram[25]’, diz a Escritura; e também: ‘Infeliz de quem é só[26]’. Assim, tendo colocado sólidas fundações à sua empresa, você poderá a seguir colocar um teto resplendente sobre sua construção espiritual. Do mesmo modo como tudo desmorona quando a fundação é instável, também, ao contrário, tudo é belo e bem ordenado quando o começo é colocado de modo comprovado – embora o contrário possa acontecer eventualmente[27]”.

As etapas que conduzem à vida hesiquiasta

Admite-se geralmente que antes de vencer as distrações de uma maneira que não seja apenas aparente ou passageira, mas autêntica e durável, é útil se dedicar à Prece de Jesus numa comunidade monástica, sustentando esse exercício com o cumprimento assíduo dos mandamentos evangélicos, ou, o que dá no mesmo, pela humildade. Depois de ter recebido o dom da concentração, é permitido abordar a vida hesiquiasta. É assim que procederam Basílio o Grande e Gregório o Teólogo. Segundo o relato de Santo Isaac o Sírio, eles se dedicaram, para começar, ao cumprimento dos mandamentos que se referem àqueles que vivem numa comunidade humana, e praticaram uma forma de prece correspondente à sua condição. Graças a esse modo de vida, seu intelecto entrou pouco a pouco num estado de imobilidade e de concentração. Somente então eles mergulharam no deserto; e lá eles se dedicaram à ascese do homem interior e alcançaram a contemplação[28].

Em nossa época, levar uma vida hesiquiasta é extremamente difícil, para não dizer impossível. Serafim de Sarov, Inácio do Mosteiro de São Nicéforo e NIcandro do Mosteiro de Babayev, todos monges avançados na oração mental, viveram tanto na hesíquia, como em companhia de outros monges. O último, em especial, jamais se retirou numa hesíquia perceptível aos olhos dos homens, embora, em sua alma, fosse um grande hesiquiasta.

O exemplo de Arsênio

A forma de hesíquia seguida por Arsênio o Grande sempre foi excelente, e mesmo agira ela deve ser considerada como a melhor. Esse Padre mantinha constantemente o silêncio, jamais se dirigia às celas dos irmãos, não recebia ninguém na sua cela, a não ser em caso de extrema necessidade, permanecia na igreja escondido atrás de uma coluna, não escrevia nem recebia cartas, evitava, de modo geral, todas as relações que pudessem romper seu recolhimento interior, e tinha como objetivo de vida e de todas as suas ações a guarda da atenção[29]. Santo Isaac o Sírio fala elogiosamente do modo de vida e da hesíquia graças à qual Arsênio chegou a um alto grau de realização espiritual, e o recomenda como um modelo a ser seguido, prático, equilibrado e profundo[30].

Um longo e penoso esforço

Em conclusão de nossos extratos tirados das obras dos Xanthopoulos, mencionaremos ainda sua opinião, fundada em sua própria experiência e corroborada pela dos demais Santos Padres, que ensina que, para atingir a prece do coração livre de distrações, é preciso muito tempo e esforço. “O fato de orar constantemente no coração, dizem eles, assim como os estados ainda mais elevados, não são coisas que se realizam simplesmente, por assim dizer por si próprias, sem que a ela consagremos muito tempo e labor, embora isso às vezes possa acontecer em virtude da insondável economia de Deus; ao contrário, isso exige muito tempo e um labor considerável, uma ascese do corpo e da alma, e é preciso que nos violentemos durante muito tempo. Nossos labores ascéticos devem ser, quanto à intensidade, proporcionais e adaptados à excelência do dom e da graça de que pretendemos participar, se quisermos que, conforme o ensinamento místico e sagrado, o Inimigo seja expulso das pastagens de nosso coração pela lembrança de Deus e que Cristo aí se estabeleça manifestamente. Santo Isaac disse: ‘Aquele que deseja ver ao Senhor deve se esforçar para purificar seu coração pela lembrança de Deus e assim, na claridade de seu pensamento, ele verá ao Senhor a toda hora’. E São Barsanulfo o Grande: ‘Se a obra interior inspirada pela graça de Deus não assiste o homem, é em vão que ele trabalha no exterior. A obra interior, unida à dor do coração, traz a pureza, e essa traz o verdadeiro silêncio do coração. É pelo silêncio que se obtém a humildade, e essa faz do homem a morada de Deus.
Quando Deus habita num homem, os demônios e as paixões são expulsos, e o homem se torna um templo de Deus, cheio de santificação, pleno de luz, pureza e graça. Bem-aventurado aquele que, contemplando o Senhor como num espelho, dentro do esconderijo mais íntimo de seu coração, derrama sua oração e suas lágrimas diante de Sua bondade’. E São João Carpathos: ‘É preciso consagrar à prece muito tempo e esforço para encontrar num estado sem perturbações do intelecto um outro céu dentro do coração, no qual Cristo reside, como diz o Apóstolo: Ou vocês não reconhecem que Jesus está em vocês? A não ser que não passem na prova’[31][32].


X
SUPORTES EXTERIORES E RISCOS DE ILUSÃO


Vamos nos contentar com alguns extratos das obres dos Padres citados acima, pois elas lançam uma luz suficiente sobre a prática da Prece de Jesus. O mesmo ensinamento se encontra em outros escritos patrísticos.

Cremos necessário repetir aos nossos padres e irmãos bem-aventurados nossa advertência para que não se precipitem nos escritos patrísticos relativos às práticas e aos estados monásticos mais elevados, ainda que seja o desejo de conhecê-los que os atraia para essas leituras, e mesmo que elas os encham de entusiasmo e os satisfaçam inteiramente.

Não há ninguém para nos curar

Nos tempos atuais não devemos abusar de nossa liberdade. Quando existiam mestres carismáticos, os desvios dos iniciantes eram facilmente reparados e corrigidos. Mas agora já não existe ninguém que possa curá-los, e nem mesmo para dar-lhes discernimento. Acontece com frequência que mestres inexperientes confundam um funesto desvio com um grande progresso. Quem se desviou se deixará facilmente levar por um desvio ainda mais grave. Quando um desvio assim influencia um monge malgrado sua vontade, continuará agindo sobre ele e o afastará cada vez mais da boa direção.

Ler com discernimento

Podemos afirmar sem risco de errar que a maior parte dos homens se encontra em alguma forma de desorientação; não existe ninguém que já não tenha se perdido, mas existem poucos, pouquíssimos que tenham retornado de seu extravio. É por isso que, agora que os livros patrísticos se tornaram para nós o único meio de nos dirigir, é preciso escolher com discernimento e lê-los com prudência, a fim de não transformar nosso único meio de direção espiritual em causa de práticas errôneas e das perturbações que delas resultam.

A escolha de um mestre

Diz São João Clímaco a respeito da escolha de um mestre: “Busquemos, não aqueles que possuem o dom da presciência e da clarividência, mas antes de mais nada aqueles que são realmente humildes e que, por seu caráter e pelo local onde residem, estão melhor qualificados para curar as enfermidades que nos oprimem[33]”.

A respeito dos livros. Devemos fazer a mesma recomendação: devemos escolher dentre todos, não os mais elevados, mas os que estão mais próximos de nosso estado e que expõem uma obra que esteja adaptada a nós. “É um grande mal, disse Santo Isaac o Sírio, dar um ensinamento elevado a alguém que está ainda no nível dos iniciantes e que é, quanto à sua idade espiritual, ainda uma criança[34]”.

Quando um homem carnal e psíquico escuta uma palavra espiritual, ele a entende de um modo que corresponde ao seu estado, ou seja, ele a deforma e falseia; seguindo-a de acordo com seu sentido deformado, ele toma uma direção errada e se agarra a ela com obstinação, como se tivesse sido dada por uma palavra santa.

Uma falta de discernimento

Um staretz chegou, por uma economia especial de Deus, à perfeição cristã após ter entrado, contrariamente às regras, na quietude hesiquiasta desde sua juventude. Ele praticou a vida hesiquiasta primeiro na Rússia, vivendo numa cabana no meio da floresta, e depois foi ao Monte Athos; depois de seu regresso à Rússia, ele se estabeleceu num mosteiro cenobita não subvencionado. Vendo nesse staretz sinais indubitáveis de santidade, muitos irmãos se dirigiram a ele para lhe pedir conselhos. O staretz deus instruções tiradas de sua própria experiência, e causou muitos danos às almas dos irmãos. Um monge que o conhecia bem lhe disse: “Padre, você fala aos irmãos de práticas e de estados que ultrapassam sua compreensão e suas possibilidades, e eles, interpretando as palavras à sua maneira e agindo conforme essa interpretação, acabam por se prejudicar”. Com uma santa simplicidade, o staretz respondeu: “Eu vejo isso muito bem! Mas o que posso fazer? Eu os considero como superiores a mim, e, quando eles me fazem perguntas, eu lhes respondo de acordo com meu estado”.

Esse staretz não conhecia as regras da vida monástica comum. Não é só o pecado que é nefasto para nós, mas o próprio bem, quando não o fazemos no momento oportuno e na medida do conveniente; assim é que é nociva a fome, mas também o excesso de comida, ou um tipo de comida que não convém à nossa idade e à nossa constituição. “Não se pode colocar vinho novo em odres velhos; senão, os odres se rasgam, o vinho se derrama e os odres se perdem. Ao contrário, colocamos vinho novo em odres novos, e um e outro se conservam[35]”. O Senhor disse isso a respeito das obras da virtude que devem sem falta corresponder ao estado daquele que as realiza, para que não causem sua ruína e elas próprias se perderão, ou seja, serão empreendidas em vão e causaram prejuízo e ruína à alma, coisa que é o oposto de sua destinação.

Suportes exteriores

Ademais dos auxiliares apresentados acima, existem muitos outros para os iniciantes na prática da Prece de Jesus, enumeraremos os principais:

1.      Um terço, habitualmente composto por cem grãos ou nós, ou uma régua, composta por cem divisões, pois na regra da Prece de Jesus é costume contar as orações por centenas. Utiliza-se também o terço para contar as metanias, ou prosternações. Quando sentados, os monges dizem, para começar, a Prece de Jesus com o terço; mas quando, durante a prece, a atenção aumenta, se torna impossível usar o terço e contar as orações: toda a atenção se concentra então sobre a própria prece.
2.      É extremamente útil aprender a dizer a Prece de Jesus acompanhando-a com grandes ou pequenas metanias; essas metanias são feitas sem pressa e com um sentimento de arrependimento, como o fazia Georges, esse bem-aventurado jovem de que fala São Simeão o Novo Teólogo em sua Catequese sobre a Fé[36].
3.      É útil manter os olhos fechados quando dizemos a Prece de Jesus, seja na igreja ou em qualquer outro lugar.
4.      É igualmente útil ter à mão esquerda sobre o peito, ligeiramente mais alta. Esse gesto ajuda a perceber o poder espiritual que se encontra localizado no peito.
5.      Os Padres aconselham os hesiquiastas a manter a cela um pouco escura, com as janelas com cortinas fechadas, para proteger o intelecto contra as distrações e para ajudar a concentrá-lo no coração.
6.      Recomenda-se aos hesiquiastas que se sentem sobre um assento baixo, primeiramente porque a prece atenta precisa de uma posição estável, e depois para seguir o exemplo do cego  de que fala o Evangelho, e que, sentado à beira do caminho, se pôs a gritar para o Senhor: “Filho de Davi, Jesus, tem piedade de mim![37]”; ele foi atendido e teve seu pedido realizado. Por outro lado, esse assento baixo representa o monte de esterco sobre o qual Jó se sentou fora de sua casa, quando o Diabo o feriu dos pés à cabeça com uma doença terrível[38]. O monge deve se enxergar mutilado, desfigurado, despedaçado pelo pecado, excluído por ele doestado natural e precipitado por aquele que é contra a natureza; desse estado deplorável, ele deve clamar por Jesus, o Renovador misericordioso e todo-poderoso da natureza humana: “Tem piedade de mim!”. Um assento baixo é muito cômodo para praticar a Prece de Jesus. Não obstante, isso não exclui que se fique de pé durante a oração; mas, como um verdadeiro hesiquiasta consagra quase todo o seu tempo à oração, permite-se a ele praticá-la também sentado, e mesmo deitado. Em particular, os que se encontram doentes e os idosos devem evitar uma ascese corporal excessiva, para que ela não os esgote e não os impeça de se dedicar à ascese interior. A essência da obra está no Senhor e no Seu Nome. O paralítico foi descido diante do Senhor sobre seu estrado, desde o teto da casa, e recebeu a cura[39]. A cura é atraída pela humildade e a pela fé.
7.      Os ascetas que se consagram à oração mental às vezes sentem necessidade de se espargir com água fresca, ou de aplicar linho molhado em água sobre as partes do corpo nas quais se produz o fluxo de sangue. A água deve ser tépida e em caso nenhum ser demasiado fria, para não aumentar o aquecimento. De maneira geral, as atividades intelectuais têm a particularidade de produzir febre em alguns indivíduos. O santo abade Doroteu sentia esse tipo de febre quando estudava as ciências, e então se refrescava com um pouco de água[40]. Também a poderão sentir aqueles que se impõem muitas penas para unir o intelecto ao coração por meios materiais, atribuindo a esses uma importância excessiva e sem dar a importância devida aos meios espirituais.

Um calor no coração

Quando fazemos esforços corporais consideráveis para alcançar a prece do coração, um calor começa a se propagar no coração. Isso é consequência direta desse esforço ascético[41]. De fato, cada membro do corpo humano se aquece quando é submetido à fricção; o mesmo acontece com o coração quando ele sofre uma tensão constante e prolongada. O calor que resulta de uma intensa ascese corporal é, ele também, corporal. Trata-se do calor da carne, do sangue; ele pertence ao domínio da natureza decaída[42]. Se acontece de que um asceta inexperiente sinta esse calor, ele imaginará certamente algo de elevado a respeito de si, encontrará aí uma confirmação e se deleitará – nisso está o começo de sua cegueira[43]. Não devemos pensar em nada de especial a respeito desse calor, mas, ao contrário, devemos tomar precauções redobradas quando ele aparece. Essas precauções são necessárias porque esse calor, sendo do sangue, não se espalha apenas nas regiões do peito, mas pode facilmente descer para as partes baixas do ventre e provocar nelas uma violenta excitação. Nesse caso, é natural que o desejo carnal se faça sentir, pois ele é próprio dessas partes, quando elas estão em estado de aquecimento.

Uma deplorável confusão

Alguns monges se viram nesse estado e, não compreendendo o que lhes estava acontecendo, se deixaram cair em confusão, na acídia e no desespero, como sabemos por experiência. Reconhecendo estarem num estado lamentável, dirigiram-se a anciãos de grande reputação, esperando encontrar em seus conselhos um remédio para suas almas despedaçadas pela aflição e a dúvida. Ouvindo que esse aquecimento violento, combinado com a ação da concupiscência carnal, se produzia quando da invocação do Nome de Jesus, esses anciãos temeram por aquilo que tomaram como sendo uma armadilha do diabo. Eles pensaram estar diante de uma temível forma de ilusão: então, eles proibiram seus “pacientes” de praticar a Prece de Jesus, como se fosse ela a causa de tais males; eles deram a conhecer esses casos a outros ascetas, apresentando-os como sendo o resultado surpreendente e desastroso da prática dessa prece. Muitos, que tinham em grande estima a esses anciãos, deram fé ao enunciado de seu julgamento; confiaram neles, pensando que os próprios fatos os confirmavam. Mas, na realidade, essa terrível ilusão não passava de um afluxo de sangue provocado pelo recurso intenso e ignorante de meios materiais. Esse afluxo pode ser facilmente controlado em dois ou três dias pela aplicação de linho molhado em água fresca e aplicado sobre os locais inflamados.

O calor que não é efeito da graça

Temos que lidar com um perigo bem mais próximo da ilusão, quando um asceta que sente um calor no coração ou no peito, toma-o como sendo um efeito da graça, quando ele concebe ideias elevadas a respeito desse fenômeno e, por conseguinte, a respeito de si mesmo, quando ele começa a se deleitar com isso, a penetrar nas trevas, a enganar a si próprio, a se empedrar e se arruinar por causa de sua presunção. Quanto mais um asceta que se contenta com a ascese corporal se impões esforços intensos sobre esse plano, mais o calor do sangue aumenta. Isso é normal. Para moderar esse calor, para impedir que ele desça do peito, é preciso evitar constranger o intelecto a entrar no coração, evitar fatigar o coração, evitar produzir nele uma febre pela retenção exagerada do sopro, evitar impor a ele uma tensão excessiva; devemos, ao contrário, reter o sopro com moderação e conduzir o intelecto com grande doçura para que se uma ao coração; é preciso vigiar para que a prece aja sobre a parte superior do coração, onde se encontra, segundo o ensinamento dos Padres, o poder espiritual, e onde, por conseguinte, deve se realizar nossa liturgia interior.

O calor espiritual

Quando a graça de Deus cobre com sua sombra o asceta da prece e começa a unir nele o intelecto e o coração, o calor material do sangue desaparece por completo. O ato da prece muda então completamente: ele se torna, por assim dizer, natural, absolutamente livre e fácil. Então aparece no coração outro calor, sutil, imaterial e espiritual. Não se produz aquecimento algum; ao contrário, ele se parece com um orvalho, traz um frescor e ilumina. Ele age como um bálsamo espiritual, como uma unção curativa; ele suscita um inexprimível amor a Deus e aos homens. É assim que Máximo o Capsocalyvita descreve esse calor, segundo sua própria experiência[44].

A prudência se impõe

Darei aos meus padres e irmãos um conselho que suplico que não descartem: não se esforcem prematuramente para descobrir em vocês o funcionamento da prece do coração. Uma sábia prudência é absolutamente necessária, especialmente em nossa época, quando se tornou, por assim dizer, impossível encontrar um mestre competente nesse domínio, quando o asceta deve dirigir a si mesmo, tateando (guiando-se pelos escritos dos Santos Padres) em direção ao tesouro dos conhecimentos espirituais, e deve, igualmente, ele próprio escolher cegamente dentre os que convêm ao seu estado. Levem uma vida de acordo com os ensinamentos do Evangelho e apliquem-se em dizer a Prece de Jesus com atenção, segundo o método de São João Clímaco; unam a prece às lamentações e tenham, como começo e fim da prece, o arrependimento.

A prece do coração dada por Deus é superior

No momento certo, conhecido somente por Deus, a atividade da prece do coração se manifestará por si só. Essa atividade revelada pelo dedo de Deus é claramente superior àquele na qual chegamos obrigando-nos a uma técnica corporal. Ela é superior sob muitos aspectos: é muito mais ampla, muito mais fecunda; ademais ela está totalmente ao abrigo da ilusão e de outros inconvenientes. Quem a recebe dessa maneira não vê nela senão a misericórdia e o dom de Deus, enquanto que aquele que a alcança graças ao recurso intensivo a meios materiais não pode, ainda que reconheça o dom de Deus, deixar de reconhecer seu próprio esforço ascético e o método mecânico utilizado, nem se impedir de atribuir a essas coisas um valor especial. No contexto do caminho interior, isso constitui um grave erro, uma séria pedra de tropeço, um entrave considerável ao progresso espiritual. Esse não conhece detença, mas limites. A mínima esperança, ainda que inconsciente, em qualquer coisa fora de Deus, pode interromper o progresso; ora, no progresso espiritual, é a fé em Deus que serve de guia, de pernas e de asas. “Para aquele que crê, Cristo é tudo”, disse São Marcos[45].

Dentre os que se utilizaram com zelo dos suportes materiais, pouco o fizeram com sucesso, enquanto que a maior parte sofreu fracassos e se prejudicaram. Segundo um mestre experiente, seu uso não apresenta grandes riscos; mas quando nos guiamos por meio de livros corremos grande perigo por causa da facilidade em cair, por ignorância ou imprudência, na ilusão e em outros problemas psíquicos e físicos. Assim, constatando os efeitos nefastos de uma ascese irrefletida, alguns – que não tinham senão uma noção vaga e superficial da Prece de Jesus e de tudo o que a acompanha – atribuíram esses efeitos, não à sua ignorância e irreflexão, mas à própria Prece de Jesus. Podemos imaginar coisa mais triste e lamentável do que essa blasfêmia, essa trágica confusão?

O coração participa da prece

Em seus ensinamentos sobre a Prece de Jesus, os Santos Padres não especificaram em qual parte do coração ela deveria ser realizada – provavelmente, porque nessa época a necessidade de tais precisões não se fazia sentir. São Nicéforo diz, como falando de algo bem comum, que o poder espiritual se encontra no peito e que quando esse poder desperta e começa a participar da prece, o próprio coração começa a participar dela também. É difícil, para quem sabe alguma coisa profundamente e em todos os seus detalhes, prever e antecipar todas as questões que podem nascer de semelhante ignorância; pois onde o ignorante não vê senão trevas, o homem informado não encontra a menor obscuridade! Nas épocas que se seguiram, o caráter impreciso das referências ao coração que encontramos nos escritos patrísticos foi causa de uma profunda perplexidade e de uma prática errônea entre os que, por não possuírem mestre e por não perscrutarem com a necessária diligência os escritos patrísticos, se decidiram, com base em algumas noções superficiais apressadamente adquiridas em leituras, a praticar a arte da prece do coração fundamentados apenas nas suas esperanças a respeito da eficácia desse método. Assim, algumas palavras de explicação se fazem necessárias.

Onde fica o coração?

O coração humano tem o formato de um saco oblongo, que se alarga em cima e se estreita em baixo. Ele está fixado por sua extremidade superior, que se encontra na altura do seio esquerdo do peito, enquanto que sua parte inferior, que desde até abaixo das costas, é livre; quando essa se coloca em movimento, essa oscilação se chama de batimento do coração. Muitos não têm nenhuma noção da anatomia do coração e pensam que ele se encontra no lugar onde sentem seu batimento. Buscando por sua própria iniciativa praticar a prece do coração, eles dirigem seu sopro para essa parte do coração; isso tem como efeito provocar um aquecimento carnal e intensificar consideravelmente os batimentos. Tudo isso os faz realizar um estado espiritual incorreto e os mergulha na ilusão.

O monge “de grande hábito” Basílio e o staretz Païssy Velitchokovsky relatam que muitos de seus contemporâneos se prejudicaram por terem feito mau uso dos suportes materiais[46]. A partir daí os casos de problemas provocados dessa maneira se repetiram com frequência; eles continuam a acontecer em nossos dias, embora a atração pela Prece de Jesus tenha diminuído ao extremo. De fato, é impossível que eles não se produzam, pois eles são com efeito a consequência inevitável da ignorância, da ausência de obediência, da presunção, do zelo inoportuno e orgulhoso e, por fim, da extrema raridade de mestres experientes.

As três potências da alma

Referindo-se a São Teofilacto e a outros Padres, o monge “de grande hábito” Basílio afirma que as três potências da alma (a potência espiritual, a potência do zelo e a potência do desejo) estão repartidas da seguinte maneira: a potência espiritual, ou o espírito do homem, se encontra no peito, mais exatamente na parte superior do coração; na sua parte central, encontra-se a potência do zelo; na parte inferior, a potência do desejo e da concupiscência carnal. Quem se esforça por colocar em movimento e aquecer a parte inferior de seu coração estimula na realidade a potência concupiscente que, em razão de sua proximidade dos órgãos genitais e em virtude de sua natureza própria, coloca em movimento esses órgãos. Uma utilização imprudente de suportes materiais trás assim condigo uma forte excitação da concupiscência carnal. Que paradoxo! Um asceta aparentemente pratica a prece, mas sua atividade desperta a concupiscência que ele deveria, ao contrário, mortificar! A ignorância faz mau uso da ajuda material, pois atribui à Prece de Jesus aquilo que, na realidade, deve ser atribuído unicamente ao seu mau uso.

A Prece do coração

A prece do coração provém da união do intelecto com o espírito, separados pela queda, mas reunidos pela graça da Redenção. No espírito do homem acham-se reunidos os sentimentos da consciência, da humildade, da doçura, do amor a Deus e ao próximo, e outros atributos semelhantes; é preciso que, durante a prece, a atividade desses atributos se uma à do intelecto. Toda a atenção do homem que ora deve estar fixada sobre esse ponto. A união em si é realizada pelo dedo de Deus, o único que pode curar a chaga produzida pela queda; por sua vez, o homem prova a sinceridade de sua vontade de receber a cura ao permanecer constantemente em prece, ao encerrar seu intelecto nas palavras da prece e ao agir no interior e no exterior segundo os mandamentos do Evangelho, o que torna o espírito apto a se unir ao intelecto na prece. Com isso, obteremos algum benefício em dirigir metodicamente, “com arte”, o intelecto para a potência espiritual e para a região superior do coração. Porém, uma tensão excessiva quando do recurso a essa ajuda material é nociva, pois ela suscita o calor material; ora, o calor da carne e o do sangue não devem tomar parte na prece.



XI
OS ADVERSÁRIOS DA PRECE DE JESUS


De onde vem a resistência?

Em razão da ação salutar da prece, em geral, e a lembrança de Deus ou Prece de Jesus, em particular, como meios para permanecer em incessante união com Deus e para afastar constantemente os ataques do Inimigo, a prática da Prece de Jesus é especialmente odiada pelo Diabo. Os que se dedicam à Prece de Jesus estão particularmente expostos às perseguições do Diabo. “Todo esforço e toda atenção de nosso adversário, diz Macário o Grande, consistem em separar nosso pensamento da lembrança de Deus e de nosso amor por ele; para tanto, ele recorre às seduções do mundo e nos desvia do bem verdadeiro para os bens ilusórios e irreais[47]”. Por essa razão, aquele que se consagra ao verdadeiro serviço de Deus por meio da incessante Prece de Jesus deve se guardar especialmente da dispersão dos pensamentos, e em absoluto se deixar levar pelo “falatório” mental. Deixando, sem lhes dar atenção, os pensamentos e os fantasmas que surgem em si, ele deve constantemente retornar à invocação do Nome de Jesus como que retorna a um porto, acreditando que Jesus cuidará sem descanso de seu servidor que está continuamente junto Dele por meio de uma lembrança vigilante.

Tática do Diabo

“À noite, diz São Nilo o Sinaíta, os demônios maus se esforçam por perturbar por si mesmos o atleta espiritual; durante o dia, eles se servem dos homens para rodeá-lo de calúnias, de adversidades e de perigos[48]”. A experiência revelará rapidamente que essa é exatamente a ordem dos ataques demoníacos contra os que praticam a prece.

O ataque dos pensamentos

Os demônios nos tentam com pensamentos e imagens mentais, com a lembrança de coisas necessárias, com reflexões aparentemente espirituais, com o surgimento de cuidados e de diversas apreensões, e com outras manifestações da falta de fé[49]. Em todos os ataques demoníacos, um sentimento de perturbação é sempre o indício da aproximação dos espíritos decaídos, mesmo que a atividade suscitada por ele apresente uma aparência de justiça[50]. Quando os ascetas oram intensamente na solidão, os demônios lhes aparecem sob a forma de espantalhos, de objetos tentadores, às vezes até sob os traços de Anjos luminosos, de mártires, de santos e do próprio Cristo; não devemos temer suas ameaças, mas opor a todas essas aparições em geral uma extrema incredulidade. Em tais casos, que certamente não são frequentes, nossa primeiríssima reação deve ser a de nos voltarmos para Deus, abandonando-nos à Sua vontade e implorando Sua ajuda. Não devemos prestar atenção às aparições, nem entrar em relação ou diálogo com elas, mas revemos nos reconhecer como fracos demais para ter contato com espíritos hostis, e indignos de entrar em contato com os espíritos santos.

O ataque dos homens

O verdadeiro asceta, aquele que agrada a Deus e se consagra à oração, está submetido, por parte de seus irmãos, os homens, a aflições e perseguições particulares. Também aqui, como já dissemos, são os demônios os principais autores. Com efeito, eles utilizam como instrumentos tanto homens que alinharam suas atividades com as deles, como outros que, por não compreender seus ataques, se tornam facilmente seus instrumentos, e até aqueles que, embora compreendendo a malícia do Inimigo, não são suficientemente atentos a si próprios, nem prudentes o bastante, e que assim se deixam enganar.

O exemplo mais notável que ilustra todo o ódio contra Deus, contra o verbo e contra o Espírito Santo, que anima os homens que alinharam as disposições de seu espírito às daqueles demônios, nos é fornecido pelos sumos sacerdotes, os anciãos, os escribas e os fariseus judeus que realizaram o maior de todos os crimes humanos: o deicídio.

São Simeão o Novo Teólogo diz que os monges que levam uma vida preguiçosa e hipócrita se tornam, a uma sugestão dos demônios, invejosos dos verdadeiros ascetas e passam a fazer todo o possível para perturbá-los e expulsá-los do mosteiro.

Mesmo os monges bem-intencionados, mas que levam uma vida monástica “exteriormente” e que não se fazem uma concepção exata da vida espiritual, ficam escandalizados com aqueles que agem de uma maneira autenticamente espiritual, acham estranha sua conduta, criticam-nos, caluniam-nos e lhes causam aflições e vexames. O grande homem de oração, e em especial da Prece de Jesus, que foi o bem-aventurado staretz Serafim de Sarov, sofreu numerosas agressões devidas à ignorância de seus confrades e à maneira carnal como esses entendiam o monaquismo. Com efeito, aqueles que leem a Lei divina de uma maneira “corporal”, pensam cumpri-la apenas por meio de atos exteriores, sem ascese mental, “mas não sabem nem o que dizem, nem o que afirmam tão fortemente[51]”.

Não devemos ceder

“Ao percorrer o caminho da vida interior e contemplativa”, ensina e exorta Serafim, que extraiu seu ensinamento e suas exortações de sua própria experiência espiritual, “não devemos ceder nem abandoná-lo por causa de homens ligados às aparências exteriores e sensíveis nos ferem em nossos sentimentos mais íntimos, opondo-nos suas opiniões, e esforçando-se por todos os meios para nos impedir de seguir a via interior, colocando nela diversos obstáculos. Não devemos nos deixar estremecer por nenhuma oposição no caminho dessa via, apoiando-nos, nesses casos, nas palavras divinas: “Onde temeis, nós não temos temor nem perturbação, pois Deus está conosco. Santifiquemos o Senhor nosso Deus (lembrando-nos sempre em nosso coração de Seu Nome divino) pois só a Ele devemos temer[52]”.

Quando São Gregório o Sinaíta – de quem, no século XIV, a Providência divina se serviu, como um instrumento, para restabelecer dentre os monges a oração espiritual caída no esquecimento – chegou ao Monte Athos, ele começou a comunicar o conhecimento que Deus lhe havia dado a dois piedosos ascetas. Eles eram fervorosos e inteligentes, mas não compreendiam o serviço a Deus senão de uma maneira corporal, de modo que, no começo, eles fizeram forte oposição a São Gregório. É que o ensinamento sobre a ascese espiritual parece estranho a quem não tem nenhuma ideia a respeito e sequer suspeitam de sua existência, e também àqueles que atribuem à ascese corporal uma importância exagerada.

A inteligência carnal não compreende o espiritual

A oração mental parece ainda mais estranha à inteligência carnal e psíquica, em especial quando essa está infectada pela presunção e pelo veneno da heresia. Então o ódio do espírito humano que se aliou a Satanás contra o Espírito divino se manifesta com fúria desenfreada. Para explicar isso e para deixar evidente com quais aberrações a inteligência carnal e psíquica compreende de modo enviesado tudo o que é espiritual, deformando-o para acomodá-lo às trevas nas quais se encontra apesar de toda a sua erudição, exporemos a seguir resumidamente as calúnias e acusações dirigidas contra a prática mental pelo monge Latino Barlaam e por alguns outros autores ocidentais.

O caso de Barlaam

Em sua História da Igreja, o Bispo Inocêncio conta que Barlaam, monge calabrês, chegou no século XIV a Tessalônica, cidade do Império do Oriente. Lá, a fim de agir por conta da Igreja do Ocidente soba cobertura da Ortodoxia, ele repudiou o latinismo. Depois de ter escrito alguns textos para provar a correção da Igreja do Oriente, ele ganhou a estima e a confiança do Imperador João Cantacuzeno. Sabendo que o monaquismo grego era o principal pilar da Igreja, ele pretendeu enfraquecê-lo, e mesmo destruí-lo, a fim de arruinar com isso toda a Igreja. Com esse objetivo ele expressou o desejo de levar a vida monástica mais estrita e persuadiu astuciosamente um eremita Athonita a lhe revelar o modo de praticar “com arte” a Prece de Jesus. Tendo obtido o que desejava e compreendendo de maneira superficial e deformada o que lhe havia sido comunicado, Barlaam não reteve como única coisa essencial mais do que os suportes materiais que os Padres, conforme vimos, consideravam apenas como uma pequena ajuda, e tomou as visões espirituais como visões materiais contempladas unicamente pelos olhos do corpo. Ele reportou isso ao Imperador como sendo um erro grave. Foi convocado um Concílio em Constantinopla. São Gregório Palamas, monge Athonita que praticava a oração mental, entrou em discussão com Barlaam e, com a ajuda da graça divina, triunfou sobre ele. Foi lançado um anátema sobre Barlaam e seus blasfemos. Ele então retornou à Calábria e retomou o latinismo. Muitos Gregos que eram cristãos superficiais colocaram fé em sua doutrina. E ele a levou consigo para o Ocidente, onde suas blasfêmias e suas ineptas calunias foram aceitas como se fossem uma confissão da verdade[53].

Outras deformações

Descrevendo as atividades de Barlaam, o historiador Fleury credita, como ele, toda a prática da oração mental aos suportes materiais, e assim também a deforma completamente. Fleury cita uma passagem sobre a técnica da prece tirada do tratado de Simeão o Novo Teólogo sobre os três modos da prece (que se encontra na Filocalia), e afirma que Simeão ensinava que é preciso, sentado num canto da cela, “voltar os olhos e todo o pensamento para o meio do ventre, ou seja, para o umbigo, e reter o sopro, mesmo pelo nariz”, e assim por diante. Teríamos dificuldade em acreditar que Fleury, homem inteligente e erudito, tenha podido escrever tamanhas inépcias, se não as tivéssemos lido nas páginas de sua História[54].

Bergier, outro escritor extremamente inteligente e sábio, disse que os monges contemplativos gregos faziam tamanhos esforços para chegar à contemplação, que eles perdiam a razão e caíam no fanatismo (ou na ilusão). A fim de entrar num estado de transe, eles fixavam os olhos no umbigo enquanto retinham o sopro; parecia que então eles viam uma luz resplandecente, e assim por diante[55].

A luz de Cristo

Ao dar uma ideia deformada da maneira como oram os espirituais da Igreja do Oriente, desacreditando-os, os Latinos não deixam de denegrir também os estados de graça produzidos pela prece, e de blasfemar contra a ação do Espírito Santo. Deixemos ao julgamento de Deus as calúnias e as blasfêmias dos hereges. Com um sentimento de tristeza, mas não de condenação, desviemos nossa atenção de suas elucubrações e escutemos o que diz da contemplação da luz de Cristo nosso bem-aventurado especialista na Prece de Jesus, Serafim de Sarov: “Para receber a luz de Cristo e contemplá-la no coração, é preciso, na media do possível, se desviar dos objetos visíveis. Tendo purificado nossa alma pelo arrependimento, pelas boas ações e pela fé Naquele que foi crucificado por nós, é preciso fechar os olhos do corpo, mergulhar o intelecto no interior do coração, e de lá fazer subir a invocação do Nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Então, na medida de seu zelo e do fervor de seu espírito pelo Bem-Amado, o homem encontrará no Nome invocado um deleite que excitará nele o desejo de buscar uma iluminação superior. Quando, graças a essa prática, o intelecto permanece no coração, a luz de Cristo começa a brilhar, santificando o santuário da alma com sua irradiação divina, como disse o profeta Malaquias: “E o sol da justiça vos iluminará, vós que credes em Meu Nome[56]”. Essa luz é ao mesmo tempo a vida de que fala o Evangelho: “Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens[57]”.

É uma luz espiritual

Pelo precedente podemos ver que essa luz, contrariamente à concepção que dela fazem os Calabreses e os Latinos, não é física, mas espiritual, que ela abre os olhos da alma e por eles é contemplada, embora, ao mesmo tempo, ela atue sobre os olhos do corpo, como aconteceu com São Paulo[58]. São Macário o Grande, expondo em detalhe e com grande clareza a doutrina dessa luz em seu sétimo Discurso, diz que “ela se torna na alma uma resplendência essencial da energia do Espírito Santo; graças a essa resplendência, todo conhecimento é comunicado e Deus se torna verdadeiramente conhecido pela alma digna de Deus e por Ele amada[59]”.

Os Padres falam pouco dos dons da graça

Os testemunhos de todos os Santos Padres da Igreja do Oriente concordam com o de Macário o Grande. É pela experiência que eles conheceram a perfeição cristã; em seguida eles a descreveram por meio de fórmulas próprias a expressar no plano da realidade material esse mistério inexprimível. Convém saber que um dos frutos da prece pura e sem distrações é a renovação da natureza, e que a natureza renovada é dotada e ornada com dons da graça divina; mas a aspiração a possuir esses dons prematuramente – aspiração que, num movimento de presunção, se antecipa à benevolência de Deus a nosso respeito – é extremamente nefasta e conduz à ilusão. Por essa razão todos os Padres falam sucintamente dos dons da graça, mas detalham bastante a aquisição da prece pura que dá acesso a esses dons. A ascese da prece exige um aprendizado assíduo, enquanto que os frutos da graça aparecem por si sós, como atributos da natureza renovada, quando, depois de ter sido purificada pelo arrependimento, ela é santificada pela vinda do Espírito.


O staretz Païssy Velitchkovsky, que viveu no final do século XVIII, redigiu um opúsculo sobre a oração mental para refutar as calúnias feitas contra ela por um certo monge filósofo de espírito vazio que vivia nas montanhas de Mochen e que era seu contemporâneo. “Em nossos dias”. Escreveu Païssy em sua carta ao staretz Teodósio, “um monge, filósofo limitado, vendo que alguns, que tinham zelo por essa prece mas aos quais faltava o entendimento, caíam vítimas da ilusão devido à sua insuficiência e a uma direção espiritual cega dada por guias inexperientes na matéria, não atribuiu a responsabilidade por isso à insuficiência de uns e às instruções deficientes de outros, mas armou-se, instigado pelo Diabo, de calúnias contra essa prece santa, a ponto de ultrapassar de longe até os antigos heréticos três vezes malditos Barlaam e Acindinos, que a haviam denegrido. Não temendo a Deus nem enrubescendo diante dos homens, ele atirou terríveis e cínicas calúnias contra essa santa prece, contra seus defensores e contra os que praticavam, proferindo críticas intoleráveis ao ouvido delicado de um homem. Ademais, ele provocou uma grande perseguição contra os partidários dessa prece, a ponto de que alguns abandonaram tudo e se refugiaram em nosso país, onde levam uma vida eremítica agradável a Deus. Mas outros, aos quais faltava o juízo, foram empurrados a tal grau de demência pelos propósitos corruptos do filósofo, que chegaram a atirar aos rios, conforme soubemos, os livros patrísticos que possuíam, depois de amarrá-los com pesos. Esses ataques foram tão eficazes que alguns anciãos proibiram a leitura dos livros patrísticos sob a ameaça de retirar sua bênção aos que os lessem. Não contente de criticar de viva voz, o filósofo concebeu o projeto de colocar seus ataques por escrito; porém, atingido em cheio pelo castigo divino, ele ficou cego, coisa que pôs fim à sua empresa dirigida contra Deus”.

A sabedoria que se torna loucura

Por mais rica que seja sobre o plano da sabedoria desse mundo, a inteligência carnal e psíquica considera a oração mental de uma perspectiva intransigente e sem nenhuma benevolência. A prece é um meio para unir o espírito do homem ao Espírito de Deus; por isso ela é especialmente odiosa e insólita para aqueles que preferem deixar seu espírito no meio da multidão dos espíritos decaídos. Esses espíritos não reconhecem sua própria queda, mas proclamam e exaltam o estado de queda como sendo o da realização mais elevada possível. “A linguagem da cruz”, anunciada pelos lábios dos Apóstolos a todos os homens, “é loucura para aqueles que se perdem”, e permanece como loucura até que seja anunciada pelo intelecto ao coração e a todo o velho homem por meio da prece; “mas para aqueles que se salvaram, ela é o poder de Deus[60]”. Os Gregos que não conheceram o Cristianismo e os que retornaram deste para o Helenismo, buscam na oração mental uma sabedoria que corresponda ao seu estado, e a consideram como loucura; mas, pela ascese aparentemente ineficaz e insignificante da oração mental, os verdadeiros Cristãos encontram a Cristo, “poder de Deus e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens[61]”. Não é de espantar que mesmo os nossos sábios, que não possuem uma concepção da oração mental de acordo com a tradição da Igreja Ortodoxa, mas que leram a respeito apenas o que se encontra nas obras de autores ocidentais, tenham repetido seus ataques e suas inépcias.

Motivos da rejeição

O amigo espiritual do staretz Païssy menciona também outros monges de sua época que rejeitavam a prática da Prece de Jesus por três razões: primeiro, por considerarem que essa prática não convinha senão aos homens santos e sem paixões; depois, por causa da extrema raridade de mestres capazes de ensiná-la; finalmente, por causa da ilusão que às vezes aparece pela prática da ascese mental.

Exame dos motivos

Já explicamos em outra parte a falta de fundamento desses argumentos[62]. Aqui, bastará dizermos que aqueles que rejeitam por esses motivos a prática da oração mental, se dedicam apenas à prece vocal, e sem sequer realizar nesse domínio progressos notáveis. Ao recusar conhecer por experiência a oração mental, eles são incapazes de atingir, mesmo durante a oração vocal, a atenção requerida; ora, essa é, antes de tudo, necessária à oração mental.

A salmodia executada vocal e oralmente, sem atenção e com as distrações frequentes que assaltam os que praticam uma ascese corporal sem se preocupar com o intelecto, não age senão fracamente sobre a alma e produz os frutos correspondentes a essa maneira de orar. Muitas vezes, quando realizada regularmente e em grande quantidade, ela gera a presunção, com todas as suas consequências.

“Muitos, diz o monge Basílio, não conhecendo a ascese mental por experiência, estimam erradamente que ela só convém aos homens impassíveis e santos. Por essa razão, eles se dedicam unicamente, segundo um costume pouco fundamentado, à salmodia, aos tropário e aos cânones, e se contentam apenas com essa forma de prece exterior. Eles não compreendem que essa prece cantada não nos foi dada pelo Padres senão por um tempo e em razão da fraqueza e da falta de maturidade de nosso intelecto, a fim de que, fazendo nosso aprendizado pouco a pouco, possamos subir ao nível da oração mental sem precisarmos permanecer até a morte na salmodia. O que é verdadeiramente pueril, é que depois de termos dito com nossos lábios a prece exterior, sejamos arrebatados pelo pensamento exaltado de termos realizado algo de grande, nos satisfazendo unicamente com a quantidade de preces ditas e nutrindo com isso nosso interior farisaico[63]”.


XII
PERSPECTIVAS SOBRE A PRECE


O Nome purifica

“Que se afaste da iniquidade qualquer um que invoque o Nome do Senhor[64]”, ordena o Apóstolo. Esse mandamento diz respeito a todos os Cristãos e especialmente àqueles que têm intenção de praticar a incessante invocação do Nome de Jesus. O puríssimo Nome de Jesus não suporta habitar no meio da impureza; ele exige que tudo o que é impuro seja rejeitado e excluído da alma. Penetrando no cálice de acordo com o seu grau de pureza, Ele começa a agir ali e a realizar a purificação ulterior para a qual os esforços pessoais do homem não bastam. Essa purificação é necessária para que o cálice se torne um receptáculo digno do tesouro espiritual, dos dons mais santos.

Refrear as paixões

Evitemos comer demais e mesmo beber até a saciedade; fixemos como regra comer com uma frugalidade moderada, porém constante; abstenhamo-nos de nos regalar com comidas e bebidas deliciosas; repousemos dormindo o suficiente, mas sem excesso. Abstenhamo-nos de falatório, risadinhas, graçolas e blasfêmias. Ponhamos fim às saídas desnecessárias de nossas celas sob pretexto de amor fraternal, nome que serve de máscara para conversas e ocupações fúteis que devastam a alma. Cortemos pela raiz os delírios e os pensamentos vãos que surgem em nós devido à nossa falta de fé, de nossa tendência irracional a nos preocuparmos com nossa vanglória, com nosso ciúme, nossa irritabilidade e as demais paixões que possuímos.

No Palácio do Rei

Com fé total, confiemos toda nossa vida a Deus e troquemos nossa falação interior e nossos sonhos vazios por uma prece ininterrupta ao Senhor Jesus. Se, além disso, estivermos cercados de inimigos, gritemos com lágrimas e clamores ao Rei dos reis, como gritam no meio da multidão os que foram escarnecidos e oprimidos; e, se formos admitidos ao interior do Palácio do Rei, apresentemos a Ele nossa súplica e, do fundo de nossa alma, peçamos a Ele, com grande humildade e doçura, Sua misericórdia. Essa prece é particularmente poderosa; ela é totalmente espiritual, e se dirige diretamente ao ouvido e ao coração do Rei.

Observar os mandamentos

A condição indispensável, essencial para progredir com sucesso na Prece de Jesus consiste em observar os mandamentos do Senhor Jesus. “Permanecei em Meu amor[65]”, disse Ele aos discípulos. O que significa “permanecer no amor do Senhor”? Isso quer dizer lembrar-se Dele sem cessar, permanecer sem cessar unido a Ele em espírito. Sem o segundo, o primeiro é moribundo e não pode sequer existir. “Se observardes meus mandamentos, permanecerão em meu amor”. Se observarmos constantemente os mandamentos do Senhor, estaremos unidos a Ele pelo espírito. Se estivermos unidos a Ele pelo espírito, tenderemos a Ele com todo o nosso ser, e nos lembraremos Dele sem cessar.

As disposições de Jesus

Dirija todas as suas ações e toda a sua conduta de acordo com os mandamentos do Senhor Jesus; dirija de acordo com eles as suas palavras, seus pensamentos e seus sentimentos, e você conhecerá as disposições íntimas de Jesus. Ao sentir em si essas disposições sob a influência da graça divina e ao possuir assim um conhecimento vivo, você desfrutará de uma doçura imperecível que não pertence a esse mundo, nem a esse século. Essa doçura é calma, mas é forte, e ela destrói as inclinações do coração por todo desfrute terrestre.

Quando você apreciar as disposições de Jesus, você O amará, e desejará que Ele habite todo em você. Sem Ele, você se considerará em perigo e perdido. Então você clamará sem cessar, com plena convicção e com toda sua alma: “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim, pecador”. A Prece de Jesus substituirá em você todas as demais orações. Quanto a essas, que pensamento mais grandioso e mais universal poderiam elas conter e exprimir do que o da misericordiosa piedade com que Jesus abarca os pecadores?

A vontade de Jesus

Fixe como objetivo único de sua vida realizar a vontade de Jesus em todas as circunstâncias, por importantes ou fúteis que elas possam lhe parecer; esforce-se para não realizar atos que não sejam agradáveis a Jesus, e tudo o que fizer será digno do céu. Ame a vontade de Jesus mais do que os desejos de sua carne, mais do que a tranquilidade e os confortos, mais do que a vida, mais do que sua alma. Leia o Evangelho o máximo possível, e nele você aprenderá a conhecer a vontade de seu Senhor. Não deixe escapar o menor detalhe do Evangelho, nenhum mandamento que, visto do exterior, poderia parecer de pouca importância.

O bem da natureza decaída não é o bem verdadeiro

Dome e mortifique todos os movimentos que lhe são próprios, não apenas os pecaminosos, como também os que lhe parecem bons, mas que pertencem ainda à esfera da natureza humana decaída. Esses últimos muitas vezes atingem um alto grau de perfeição entre os pagãos e os heréticos, mas eles estão tão distantes das virtudes evangélicas quanto dista o Oriente do Ocidente[66]. Que tudo o que pertence ao velho homem se cale em você! Que em você não aja senão Jesus, por meio dos seus santos mandamentos, e pelos pensamentos e sentimentos que esses mandamentos inspirarem em você.

Quando você viver dessa maneira, sem dúvida a Prece de Jesus florescerá em você, independentemente do fato de que você viva num deserto profundo ou no meio dos rumores e da agitação de uma comunidade. Com efeito, o “lugar” onde se realiza e se situa essa prece, é o intelecto e o coração renovados pelo conhecimento, a ruminação e a realização “da vontade de Deus, daquilo que é bom e agradável a Deus, do que é perfeito[67]”. Levar uma vida conforme aos mandamentos do Evangelho é a única fonte verdadeira de progresso espiritual; ela é acessível a qualquer um que deseje sinceramente progredir, quaisquer que sejam as condições exteriores nas quais esteja colocado pela insondável providência de Deus.

Em razão de suas particularidades, a prática da Prece de Jesus exige uma vigilância ininterrupta sobre si mesmo: “Uma prudência marcada pelo temor a Deus, diz o staretz Serafim, é necessária aqui, porque esse mar” – ou seja, nosso coração, com todos os seus desejos e pensamentos que é preciso purificar por meio da atenção – “é largo e profundo; lá pululam animais que não se pode contar”, ou seja, os inúmeros pensamentos vãos, falsos e impuros, filhos dos espíritos maus[68]”.

Conhecer a vontade de Deus

Quando a percepção dessa brisa leve surge em nós, ela permite conhecer com mais clareza a vontade de Deus e de cumpri-la mais facilmente. Quando discernimos mais lucidamente a vontade de Deus, a fome e a sede de justiça divina são grandemente estimuladas. Profundamente consciente de sua pobreza e com muitas lamentações, o asceta faz então novos esforços para descobrir em si essa justiça, por meio de uma atenta e fervorosa prece.

“Como essa prece divina, diz o staretz Païssy, é o mais elevado dos labores monásticos, o cume dos esforços para se corrigir (segundo a definição dos Padres), a fonte das virtudes, uma atividade sutilíssima e invisível do intelecto nas profundezas do coração, assim também, de modo correspondente, o Inimigo invisível dispõe contra ela redes sutis e invisíveis, dificilmente perceptíveis para o espírito humano, feitas com todas as espécies de ilusões e fantasmas[69]”.

O único fundamento

É impossível dar outro fundamento à invocação do Nome de Jesus, do que esse que já foi colocado: o próprio nosso Senhor Jesus Cristo, Deus e Homem, que, de uma maneira incompreensível para nós, velou a natureza infinita de Deus com a natureza finita do homem, e que manifestou na natureza finita do homem as ações do Deus infinito. Em razão de nosso estado de infância, os Santos Padres ensinaram alguns métodos, como dissemos mais acima, que nos permitem assimilar mais facilmente a Prece de Jesus. Esses auxiliares, no entanto, não passam de ajudas e não contêm em si nada de especial. Não devemos nos deter neles com uma atenção excessiva, nem lhes atribuir uma importância exagerada.

Toda a virtude e a eficácia da Prece de Jesus provêm do Nome adorável e todo-poderoso de Jesus, “pois não existe, sob os céus, nenhum outro Nome dado aos homens e que seja necessário para nossa salvação[70]”. Entretanto, para que nos tornemos capazes de descobrir essa eficácia, devemos nos “cultivar”, cumprindo os mandamentos evangélicos, segundo a palavra de Cristo: “Não basta dizer ‘Senhor, Senhor’, para entrar no Reino dos céus” – tanto naquele que nos aguarda após uma morte bem-aventurada como o que se revela em nós já durante nossa vida sobre a terra – “mas é preciso fazer a vontade de Meu Pai que está nos céus[71]”.

Os obstáculos estão em nós

Para aqueles que já progrediram, nenhuma ajuda exterior é necessária; mesmo no meio de uma multidão barulhenta, eles são capazes de permanecer na quietude da hesíquia. Todos os obstáculos que nos impedem de progredir espiritualmente estão em nós, somente em nós! Mas se, desde o exterior, qualquer coisa age como obstáculo, isso não faz mais do que desmascarar e revelar a fraqueza de nossa resolução, nossa indecisão e os estragos causados em nós pelo pecado. Nenhuma ajuda exterior seria necessária, se vivêssemos como se deve. Mas nossa vida é relaxada, nossa vontade é volúvel, nula. E é por isso que necessitamos de suportes exteriores, como aqueles cujas pernas estão doentes precisam de bengalas e muletas.

Alguns conselhos dos Padres

Vendo que eu desejo me dedicar à Prece de Jesus, e constatando, por outro lado, que eu vivo inteiramente para o mundo, e que esse age poderosamente sobre mim através dos meus sentidos, os Padres me aconselharam que fosse orar numa cela isolada e sombria, de tal modo a que meus sentidos entrassem em repouso, me fossem cortados meus contatos com o mundo exterior e para que eu pudesse voltar-me para mim mesmo com mais facilidade. Eles ainda me aconselharam para me sentar, quando estivesse dizendo a Prece de Jesus, num assento baixo, para que meu corpo adotasse a postura de um mendigo pedindo esmolas, e para que eu sentisse mais facilmente a pobreza de minha alma. Quando eu assistisse aos ofícios e me dedicasse à Prece de Jesus, os Padres me aconselharam a fechar os olhos para me proteger das distrações. Com efeito, meu olhar é sensível ao mundo material, e, mal eu abro os olhos, os objetos que vejo começam a se imprimir no meu espírito e a me distrair da prece.

Existem ainda muitos outros auxiliares exteriores descobertos pelos homens da oração, para servir de suportes materiais à ascese espiritual. Eles podem ser utilizados com grande benefício; mas quando recorremos a eles, devemos levar em conta as particularidades físicas e psíquicas de cada um; assim é que um método mecânico que convém a um asceta pode ser inútil e mesmo nocivo a um outro. Os que progrediram dispensam esses suportes materiais assim como um homem curado e que já não manca abandona suas muletas, como uma criança que atingiu certa idade não precisa mais de fraldas, e como retiramos os andaimes de um edifício que acaba de ser construído.

Porque Deus demora

Para todos e cada um é essencial começar o aprendizado da invocação do Nome do Senhor Jesus, dizendo a Prece de Jesus oralmente e encerrando o intelecto nas palavras da prece. Por “encerrar o intelecto nas palavras da prece”, entendemos a atenção estrita às palavras, sem a qual a prece é como um corpo sem alma. Deixemos ao Senhor o cuidado de transformar nossa prece oral e atenta em prece do intelecto, do coração e da alma. Ele o fará certamente quando vir que estamos mais purificados, educados, maduros e preparados para a prática dos mandamentos evangélicos. Pais sensatos certamente não entregariam uma espada afiada a uma criança, ao seu próprio filho. A criança ainda não possui discernimento para utilizar uma espada contra um inimigo, mas irá sair brincando com esse objeto perigoso e não poderá evitar de se machucar.

Quem ainda é criança quanto à sua idade espiritual, ainda não está apto a receber os dons espirituais: ele os utilizaria, não para a glória de Deus, não para seu próprio bem e o do seu próximo, nem para derrotar os inimigos invisíveis; ao contrário, ele se serviria deles para destruir a si mesmo, fazendo uma alta opinião de si e enchendo-se, para sua própria perda, de desprezo pelos demais e de autossuficiência. Embora privados de dons espirituais e cheios de paixões nauseabundas, nós nos jactamos, tomamos ares de importância e não cessamos de criticar e denegrir nossos próximos que são, sob todos os aspectos, melhores do que nós! O que aconteceria se recebêssemos qualquer riqueza espiritual, qualquer dom espiritual que separasse seu beneficiário de seus irmãos e testemunhasse ser ele um eleito de Deus? Não seria isso causa da ruína de nossa alma?

A humildade é o único receptáculo

Apressemo-nos, pois, em nos aperfeiçoar na humildade. Ela consiste numa disposição particular do coração, dada pela graça e que aparece quando cumprimos os mandamentos evangélicos. A humildade é o único altar sobre o qual a lei espiritual nos permite oferecer o sacrifício da prece, sobre o qual a oferenda da prece sobe até Deus e se apresenta diante de Sua Face. A humildade é o único vaso no qual o dedo de Deus deposita os dons de Sua graça.

Pratiquemos a Prece de Jesus sem ambicionar estados espirituais elevados, mas com simplicidade e com uma intenção reta, com objetivo de arrependimento, com fé em Deus, com um total abandono à vontade de Deus e colocando nossa esperança em Sua sabedoria, Sua bondade e Sua onipotência. Quando nos utilizarmos de processos mecânicos, esforcemo-nos para agir com a maior circunspecção possível, sem nos deixarmos levar por uma curiosidade vã, nem por um entusiasmo irresponsável que, aos olhos dos inexperientes, se apresentam como virtudes, mas que os Santos Padres chamam de “temeridade inspirada pelo orgulho”, e de “tola excitação”.

Voltemo-nos de preferência para os procedimentos mais simples e mais modestos, pois esses são os menos perigosos. Repetimos: não devemos tomar todos esses auxiliares mecânicos senão por aquilo que eles são: suportes úteis unicamente em razão de nossa fraqueza. Não coloquemos nossa esperança nem neles, nem no lado quantitativo de nossa ascese, para que não nos vejamos privados de nossa esperança no Senhor, e para que não coloquemos, na realidade, nossa esperança em nós mesmos ou em qualquer coisa material.

Em companhia de leprosos...

Não busquemos consolações e visões; somos pecadores indignos de consolações e de visões espirituais e não somos capazes de tê-las por causa de nosso estado de ruína. Antes esforcemo-nos, por meio de uma prece atenta, a voltar o olhar de nosso intelecto para nossas próprias profundezas, a fim de aí descobrirmos nosso estado de queda. Quando o tivermos descoberto, postemo-nos em pensamento diante de nosso Senhor Jesus Cristo, na companhia dos leprosos, dos cegos, dos surdos, dos paralíticos, dos mancos e dos possuídos. Experimentando a pobreza de nosso espírito e com um coração quebrantado e doloroso por causa de nosso pecado, façamos subir a Ele nossos clamores, nossa prece acompanhada de lágrimas e prantos. Que nada venha a abafar nosso apelo. Que toda verborragia e eloquência silenciem e se reconheçam incapazes de expressá-lo! Poderoso e ao mesmo tempo inexprimível, que nosso apelo tome sem cessar a forma da prece mais breve, mas a mais rica de sentido: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim pecador”. Amém.


[1] Cf. Santo Isaac o Sírio, op. cit., 55.
[2] Cf. Mateus 13: 14.
[3] Regra Monástica, 2.
[4] Eclesiastes 11: 6.
[5] Quinze Capítulos sobre a Hesíquia, 2 e 3.
[6] Da Hesíquia e da Prece, “Como encontrar a energia”, in Filocalia, Tomo IV.
[7] Como o Hesiquiasta deve se sentar para orar, “De como se deve dizer a prece, in Filocalia, Tomo IV.
[8] Cf. Colossenses 4: 2.
[9] Jeremias 8: 21.
[10] Cf. Mateus 11: 12.
[11] Ibid.
[12] Cf. Santo Isaac o Sírio, Discursos Ascéticos, 89.
[13] Mateus 11: 12.
[14] A Escada Santa, VII, 7.
[15] Cf. Isaías 21: 3; 26: 18.
[16] Quinze Capítulos sobre a Hesíquia, 14, in Filocalia, Tomo IV.
[17] Salmo 37: 7-9.
[18] Cf. Isaac o Sírio, Discursos Ascéticos, 78.
[19] Cf. São Nilo o Sinaíta: “Se você for teólogo, orará verdadeiramente; se você orar verdadeiramente, você é teólogo”. Da Prece, 60, in Filocalia, Tomo I.
[20] Nicéforo o Solitário, Tratado sobre a Vigilância e a Guarda do Coração, in Filocalia, Tomo IV.
[21] Cf. Calixto e Inácio Xanthopoulos, Centúria Espiritual, 19 e 45, in Filocalia, Tomo IV.
[22] Ibid., 38.
[23] Ibid., 53.
[24] Ibid., 24.
[25] Provérbios 22: 28.
[26] Eclesiastes 4: 10.
[27] Ibid., 14.
[28] Cf. Discursos Ascéticos, 55.
[29] Cf. Apoftegmas, Arsênio.
[30] Cf. op. cit., 41.
[31] II Coríntios 13: 5.
[32] Calixto e Inácio Xanthopoulos, op. cit., 52.
[33] A Escada Santa, IV, 131.
[34] Op. cit., 74.
[35] Mateus 9: 17.
[36] Cf. Filocalia, Tomo V.
[37] Marcos 10: 47.
[38] Cf. Jó 2: 8.
[39] Cf. Marcos 2: 4.
[40] Cf. Doroteu de Gaza, Obras Espirituais, 10, “Da Vigilância para caminhar sobre a via de Deus”.
[41] Cf. São Calixto, Patriarca de Constantinopla, Capítulos sobre a Prece, in Filocalia, Tomo IV.
[42] Cf. Ibid.
[43] Cf. Ibid.
[44] Cf. Filocalia, Tomo V.
[45] Marcos o Asceta, Da Lei Espiritual, in Filocalia, Tomo I.
[46] Cf. Introdução aos escritos do bem-aventurado Filoteu o Sinaíta; Carta do Staretz Païssy ao staretz Teodósio, Optina Poustyne, 1847.
[47] Discurso I, 3; II, 15.
[48] Da Prece, 139, in Filocalia, Tomo I.
[49] Cf. ibid., 9, 10 passim.
[50] Cf. ibid, 91 e 100. Calixto e Inácio Xanthopoulos, op. cit. 73, in Filocalia, Tomo IV.
[51] I Timóteo 1: 7. Cf. Marcos o Asceta, Da Lei Espiritual, 34.
[52] Isaías 8: 12-13, Septuaginta.
[53] Cf. Tomo II, O Cisma de Barlaam.
[54] Cf. Tomo IV, Livro 95, Capítulo 9.
[55] Cf. Bergier, Dictionnaire Théologique, Tomo IV, “Hesichastes”.
[56] Malaquias 4: 2.
[57] João 1: 4.
[58] Cf. Atos, 9.
[59] Discursos, VII, 23.
[60] I Coríntios 1: 18.
[61] I Coríntios 1: 22-25.
[62] Cf. Experiências Ascéticas, Tomo I, “Conversas de um staretz com seu discípulo sobre a Prece de Jesus”.
[63] Basílio, monge de “grande hábito, Introdução aos Escritos de São Gregório o Sinaíta.
[64] II Timóteo, 2: 19.
[65] João 15: 9.
[66] Salmo 102: 12.
[67] Romanos 12: 2.
[68] Instruções, 5.
[69] Païssy Velitchkovsky, O Pergaminho, 4.
[70] Atos 4: 12.
[71] Mateus 7: 21.

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