segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Inácio Briantchaninov - Escritos sobre a Prece de Jesus - Parte 2-A: Da Prece de Jesus



Tradução para o francês do Hieromonge Simeão
Mosteiro São João Batista, Tolleshunt Knights, Essex



I
A PRECE DE JESUS NA TRADIÇÃO DA IGREJA



Propondo-me a falar da Prece de Jesus, eu me volto agora para Ele para que, em sua bondade e onipotência, Ele socorra a fraqueza de meu espírito. E nesse momento eu me lembro das palavras do Justo Simeão a respeito do Senhor: “Eis que este menino vai ser causa de queda e elevação de muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição[1]”. Assim como o Senhor foi, e segue sendo em nossos dias, um verdadeiro sinal – sinal de contradição e objeto de desacordo e de discórdia entre os que O conhecem e os que não O conhecem – também a invocação de Seu Nome, que é, na acepção plena do termo, um sinal grande e maravilhoso, se tornou depois de algum tempo um objeto de desacordo e de discórdia entre aqueles que a praticam e aqueles que não a praticam. Um Padre notou, com muita justeza, que esse modo de oração só é rejeitado pelos que não o conhecem e que o criticam com base em preconceitos e em concepções errôneas[2].

Sem prestar atenção aos clamores levantados pelos preconceitos e pela ignorância, e colocando nossa esperança na misericórdia e no socorro de Deus, apresentamos aos nossos pais e irmãos bem-amados nosso modesto tratado sobre a Prece de Jesus, fundamentando-nos na santa Escritura, sobre a Tradição da Igreja e sobre os escritos patrísticos nos quais se encontra exposto o ensinamento relativo a essa santa e poderosa oração. “Que se calem, os lábios ímpios, que falam com audácia contra o Justo[3]” e contra seu Nome maravilhoso, “com arrogância” e uma profunda ignorância acompanhada de desdém em relação ao milagre de Deus.

Quando consideramos a grandeza do Nome de Jesus e o poder de salvação contido em sua invocação, exclamamos com alegria e maravilhamento espirituais: “Senhor, quão grande é a Tua bondade, que Tu reservas para aqueles que Te temem, que confias àqueles que buscam em Ti seu refúgio diante dos filhos dos homens[4]”. “alguns confiam em seus carros, outros em seus cavalos[5]” – sobre as vãs especulações da sabedoria carnal – mas nós, com a simplicidade e a fé das crianças, “invocamos no Nome do Senhor, nosso Deus”.

A fórmula

A Prece de Jesus se diz assim: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador”. Originalmente, ela era dita sem a palavra “pecador”; só depois ela foi acrescentada às demais palavras da prece. Essa palavra, que exprime a consciência e a confissão da queda, se aplica bem a todos nós, lembra São Nilo de Sora, e agrada a Deus, que nos ordenou dirigir-Lhe preces com a consciência e a confissão de nosso estado de pecado[6].

Levando em consideração a fraqueza dos iniciantes, os Padres os autorizaram a dividir a prece em duas partes, e a dizer tanto “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim, pecador”, como “Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador”. Isso não passa de uma permissão, uma concessão, não sendo absolutamente uma ordem ou uma prescrição que deva ser seguida à risca. É melhor utilizar sempre a mesma fórmula inteira, sem se preocupar em alterá-la, coisa que distrai o espírito. Mesmo aquele que, devido à sua fraqueza, sente a necessidade de alternar as fórmulas, não deve se permitir fazê-lo com frequência. Podemos, por exemplo, utilizar uma metade da prece até a hora do almoço, e outra à tarde. São Gregório o Sinaíta desaconselha as mudanças frequentes ao dizer: “As árvores que são mudadas com frequência não formam raízes[7]”.  

A prece, instituída por Cristo

Orar por meio do Nome de Jesus é uma instituição divina. Ela foi introduzida não por intermédio de algum Profeta, de um Apóstolo ou de um Anjo, mas pelo próprio Filho de Deus. Depois da Ceia mística, o Senhor Jesus Cristo deu aos seus discípulos mandamentos e preceitos sublimes e definitivos; e, dentre esses, encontra-se a prece de Seu Nome. Ele apresentou esse modo de oração como um dom novo e extraordinário, de valor inestimável. Os Apóstolos já conheciam em parte o poder do Nome de Jesus: por meio dele eles curavam os doentes incuráveis, por meio dele submetiam os demônios, dominavam-nos, acorrentavam-nos e expulsavam-nos. Foi esse Nome poderoso e maravilhoso que o Senhor ordenou utilizar nas orações, prometendo que ele agiria de maneira especialmente eficaz. “Tudo o que pedirdes ao Pai em Meu Nome”, disse Ele aos seus Apóstolos, “vos será concedido, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes qualquer coisa em Meu Nome, Eu o concederei[8]. Em verdade, em verdade, Eu vos digo, que aquilo que pedirdes ao Pai em Meu Nome, Ele vo-lo dará. Até agora não pedistes nada em Meu Nome. Pedi e recebereis, a fim de que vossa alegria seja completa[9]”.

O Nome divino

Que dom maravilhoso! Ele é a garantia dos bens eternos e infinitos. Ele provém dos lábios de Deus, que, transcendendo toda limitação, revestiram-se de uma humanidade limitada e tomou um nome humano: “Salvador[10]”. Quanto à sua forma exterior, esse Nome é limitado, mas, por representar um objeto ilimitado – Deus – ele recebe Dele um valor ilimitado e divino, ou seja, as propriedades e o poder do próprio Deus. “Generoso doador de um dom precioso e incorruptível! Como podemos nós, pecadores miseráveis que somos, receber esse dom? Nem nossas mãos, nem nosso intelecto, nem nosso coração, são capazes disso. Ensina-nos Tu mesmo, na medida das nossas possibilidades, a grandeza desse dom, seu significado e a maneira de recebê-lo e utilizá-lo, para que não nos aproximemos dele de modo indigno e sofrermos assim um castigo por causa de nossa louca temeridade, mas para que, graças à sua compreensão e à sua utilização corretas, recebamos de Ti os outros dons que prometestes e que só Tu conheces”.

A prática dos Apóstolos

Nos Evangelhos, nos Atos e nas Epístolas, vemos a confiança sem limites dos santos Apóstolos no Nome do Senhor Jesus, sua veneração infinita por ele. Foi por meio dele que eles realizaram os sinais mais extraordinários. É verdade que não encontramos nenhum exemplo que nos ensine sobre a maneira como eles oravam utilizando o Nome do Senhor, mas é certo que o faziam. Como poderiam eles agir de outra forma, se esse mandamento lhes havia sido dado e confirmado em duas ocasiões? Se a Escritura silencia a esse respeito é apenas porque essa prece era de uso comum; não haveria nenhuma necessidade de mencioná-la especialmente, pois ela era bem conhecida e sua prática era generalizada.

Uma regra antiga

Que a prece de Jesus era largamente conhecida e praticada, isso se deduz claramente a partir de uma prescrição da Igreja que recomendava aos iletrados de substituir todas as orações escritas pela Prece de Jesus[11]. A antiguidade dessa prescrição não deixa nenhuma dúvida. Em seguida, ela foi complementada para levar em conta o aparecimento na Igreja de outras preces escritas. São Basílio o Grande teria redigido essa regra de prece voltado para seu rebanho; pelo menos, muitos atribuem a ele sua paternidade. No entanto, certamente ela não foi criada nem instituída por ele; ele se limitou a colocar por escrito a tradição oral, exatamente como o fez com as orações da Liturgia. Essas orações, que existiam desde os tempos apostólicos, não estavam escritas, mas se transmitiam de boca a ouvido, com o objetivo de proteger esse ato litúrgico contra os sacrilégios dos pagãos.

Os primeiros monges

A regra de oração do monge consiste essencialmente na dedicação à Prece de Jesus. É sob essa forma que essa regra foi dada de maneira geral a todos os monges da Igreja Ortodoxa; é sob essa forma que ela foi transmitida por um anjo a São Pacômio o Grande para seus monges cenobitas[12]. Esse santo viveu no século IV. Nessa regra, ele mencionava a Prece de Jesus da mesma maneira que a prece dominical, o Salmo 50 e o Símbolo da Fé, ou seja, como coisas conhecidas universalmente e aceitas por todos. Quando Santo Antônio o Grande, que viveu entre os séculos II e IV, exortou os discípulos a se exercitar com maior zelo à Prece de Jesus, ele falou dela como de algo que não requeria maiores esclarecimentos. As explicações relativas a essa prece aparecem mais tarde, na medida em que foi perdendo seu conhecimento vivo. Assim é que um ensinamento detalhado sobre a Prece de Jesus foi dado pelos Padres dos séculos XIV e XV, quando sua prática começou a desaparecer entre os monges.

Testemunhos indiretos

Nos documentos provenientes dos primeiros séculos do Cristianismo que chegaram até nós, a Prece do Nome de Jesus não é tratada isoladamente, mas somente quando em conexão com outros assuntos.

Na Vida de Santo Inácio o Teóforo, bispo de Antioquia, que recebeu em Rima a coroa do martírio sob o imperador Trajano, lemos o seguinte: “Enquanto ele era conduzido para ser entregue às feras, ele tinha sem cessar o Nome de Jesus Cristo nos lábios; então os pagãos lhe perguntaram por que razão ele mencionava continuamente aquele Nome. O santo respondeu que ele tinha o Nome de Jesus Cristo inscrito em seu coração, e que confessava com sua boca Aquele a quem trazia sempre no coração. Em seguida, depois que ele fosse devorado pelas feras, quis a vontade de Deus que seu coração permanecesse intacto no meio de seus despojos. Os infiéis que o encontraram se lembraram de sua resposta; eles então cortaram seu coração em dois para verificar a exatidão das palavras do santo. E, no interior, eles encontraram, nas duas metades, uma inscrição em letras de ouro: “Jesus Cristo”. É assim que o santo mártir Inácio foi, tanto por seu nome como por sua vida, um “Teóforo[13]”, pois ele trazia sempre em seu coração o Cristo Deus impresso pela meditação contínua de seu espírito, como pela pena de um escriba[14]”.

Inácio foi discípulo do santo apóstolo e evangelista João o Teólogo e teve, em sua infância, o privilégio de ver o Senhor Jesus Cristo. É ele a criança mencionada no Evangelho. O Senhor o colocou no meio dos Apóstolos que disputavam sobre qual deles seria o maior; depois de tê-lo abraçado, Ele lhes disse: “Em verdade, eu vos declaro, se não mudardes e não vos tornares como as crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Aquele que se tornar humilde como essa criança será o maior no Reino dos Céus[15]”.

A Igreja primitiva conhecia a Prece de Jesus

Ninguém duvida de que o Evangelista tenha ensinado a Prece de Jesus a Santo Inácio, e que esse a praticava nessa época florescente do Cristianismo, bem como todos os outros Cristãos. Nessa época, todos os Cristãos aprendiam a praticar a Prece de Jesus, primeiro pela grande importância dessa prece, e depois pela raridade e o alto custo dos livros sacros copiados à mão, e também em razão do pequeno número daqueles que sabiam ler e escrever (grande parte dos Apóstolos era iletrado), e enfim porque essa prece é de uso cômodo, ao mesmo tempo em que possui um poder e efeitos realmente formidáveis.

O Pastor de Hermas

“O Nome do Filho de Deus”, disse um Anjo a Santo Hermas, discípulo direto dos Apóstolos, “é grande infinito; ele sustenta o mundo inteiro”. Ao ouvir essas palavras, Hermas perguntou ao Anjo: “Se toda a criação é sustentada pelo Filho de Deus, que dizer daqueles que, chamados por Ele, trazem seu Nome e caminham sob seus mandamentos?”. O Anjo respondeu: “Ele sustenta aqueles que de todo coração trazem Seu Nome. Ele próprio serve a eles de fundamento e os sustenta com Seu Amor, porque eles não se envergonham de trazer Seu Nome[16]”.

São Calístrato

Na história da Igreja, encontramos o seguinte relato: “Um soldado de nome Neócoros, originário de Cartago, encontrava-se na guarnição romana que guardava Jerusalém na época em que Nosso Senhor Jesus Cristo suportou voluntariamente seus sofrimentos e sua morte pela redenção do gênero humano. Em vista dos milagres que aconteceram aquando da morte e ressurreição do Senhor, Neócoros acreditou no Senhor e foi batizado pelos Apóstolos. Ao final de seu período de serviço, Neócoros retornou a Cartago e comunicou o tesouro da fé a toda sua família. Dentre os que aceitaram o Cristianismo achava-se Calístrato, neto de Neócoros. Ao atingir a idade necessária, Calístrato entrou para o exército. A tropa à qual ele foi incorporado era constituída por idólatras. Eles começaram a vigiar Calístrato, pois observaram que ele não venerava os ídolos e que, durante as noites, ele cumpria longos períodos de prece em locais solitários. Num dia em que eles afinaram os ouvidos para escutar o que ele dizia, ouviram-no repetir sem cessar o Nome do Senhor Jesus Cristo e o denunciaram ao seu comandante. São Calístrato, que confessava Jesus na solidão e na escuridão da noite, confessou-O em pleno dia, publicamente, e selou essa confissão derramando seu sangue[17]”.

Declínio progressivo

Um escritor do século V, Santo Hesíquio de Jerusalém, já lamentava que a prática dessa prece havia declinado muito entre os monges[18]. Com o tempo, esse declínio se acentuou ainda mais; também os santos Padres se esforçavam por encorajar essa prática por meio de seus escritos. O último, cronologicamente, a escrever sobre essa prece foi o bem-aventurado Staretz Serafim de Sarov. O Staretz não escreveu pessoalmente as Instruções que foram publicadas com seu nome, mas elas foram escritas a partir de seu ensinamento oral por um dos monges que estavam sob sua direção: elas traziam manifestamente a marca da inspiração divina[19]. Em nossos dias[20], a prática da Prece de Jesus foi quase abandonada pelos que levam a vida monástica. Santo Hesíquio menciona a negligência como a causa desse abandono; devemos reconhecer que essa acusação é plenamente justificada.

O poder do Nome

A força espiritual da Prece de Jesus reside no Nome do Deus Homem, nosso Senhor Jesus Cristo. Embora numerosas passagens da santa Escritura proclamem a grandeza do Nome divino, seu significado foi explicado com grande clareza pelo apóstolo Pedro diante do Sinédrio judeu que o interrogava para saber “por meio de que poder e de que nome” ele havia curado um homem paralítico desde o nascimento. “Chefes do povo e anciãos! Hoje estamos sendo interrogados em julgamento porque fizemos o bem a um enfermo e pelo modo com que ele foi curado. Pois fiquem sabendo todos vocês, e também todo o povo de Israel: é pelo nome de Jesus Cristo, de Nazaré – aquele que vocês crucificaram e que Deus ressuscitou dos mortos – , é pelo seu nome, e por nenhum outro, que este homem está curado diante de vocês. Jesus é a pedra que vocês, construtores, rejeitaram, que se tornou a pedra angular. Não existe salvação em nenhum outro, pois debaixo do céu não existe outro nome dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos[21]”. Esse testemunho é do Espírito Santo: os lábios, a língua, a voz do Apóstolo não eram mais do que os instrumentos do Espírito.

Outro órgão do Espírito Santo, o Apóstolo dos Gentios, fez uma declaração similar. “Porque todo aquele que invoca o nome do Senhor, será salvo[22]”. E: “Jesus Cristo humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso, Deus o exaltou grandemente, e lhe deu o Nome que está acima de qualquer outro nome; para que, ao nome de Jesus, se dobre todo joelho no céu, na terra e sob a terra[23]”.


II
A ESCOLA DOS SALMOS



Percebendo previamente o futuro distante, Davi, o ancestral de Jesus segundo a carne, cantou a grandeza de Seu Nome. Ele descreveu com talento a ação desse Nome, sua utilização na luta contra os poderes do pecado, sua força para libertar do cativeiro das paixões e dos demônios aqueles que oram por meio dele, o triunfo dos que obtêm a vitória por meio dele. Escutemos com atenção a Davi, o profeta inspirado de Deus.

O Nome por toda parte

Descrevendo com incrível precisão o advento do reino espiritual de Cristo sobre a terra, que viria a se realizar mil anos mais tarde, o Rei Profeta disse que o domínio do Deus Homem se estenderia “de mar a mar, desde o grande rio até as extremidades da terra [...] Todos os reis da terra o adorarão, todas as nações o servirão [...] seu Nome será honrado diante deles [...] que por Ele orem continuamente, e o bendigam todos os dias [...] Que Seu Nome seja bendito eternamente; que Seu Nome dure tanto quanto o sol. Todas as raças da terra serão nele benditas, todas as nações o proclamaram bem-aventurado [...] E bendito seja Seu Nome de glória, eternamente, e pelos séculos dos séculos. E que toda a terra esteja cheia de Sua glória[24]”.

O grande benefício da prece, que conduz os homens a uma união íntima com Deus, foi difundido amplamente por toda a terra desde a época da reconciliação com Deus realizada pela mediação do Deus Homem. Esse benefício abarca o mundo todo. Ele penetra nas cidades e nas vilas; ele floresce nos desertos selvagens e até então inabitados; ele brilha nas cavernas sombrias, nos abismos, nos precipícios, sobre o cume das montanhas e até o fundo das mais impenetráveis florestas.

O Nome, vitorioso sobre os demônios

O Nome do Deus Homem recebeu no ofício da oração um lugar muito importante, pois ele é o Nome do Salvador dos homens, do Criador dos homens e dos Anjos, o Nome do Deus que se fez Homem, do Vencedor dos servidores revoltados, dos demônios.

“Diante Dele” – de nosso Senhor e nosso Redentor – “se prosternarão as hostes do deserto” – os demônios – “e seus inimigos” – os espíritos decaídos – “beijarão o pó[25]”. “Senhor, nosso Deus, quão maravilhoso é Teu Nome, de um lado a outro da terra! Tua majestade se eleva acima dos céus. Da boca das crianças, dos recém-nascidos, tu fazes subir um louvor perfeito que desafia Teus adversários, reduzindo a nada o inimigo e o homem vingativo[26]”. Isso é exato. A grandeza do Nome de Jesus escapa ao entendimento das criaturas racionais da terra e do céu, mas ela é misteriosamente captada pela simplicidade e a fé das criancinhas. É com a mesma disposição desinteressada que devemos nos aproximar da invocação do Nome de Jesus e nos mantermos nele firmemente. A perseverança e a aplicação colocadas nessa invocação devem ser semelhantes ao impulso incessantemente renovado do bebê para o seio da mãe; a invocação do Nome de Jesus poderá então ser coroada de um completo sucesso, e os inimigos invisíveis serão pisoteados, “o inimigo e o homem vingativo” serão definitivamente derrotados. O inimigo é chamado de vingativo porque ele tenta, todo o tempo e em certos momentos em especial, roubar dos homens aquilo que eles obtiveram durante sua prece, assim que essa termina[27]. Para uma vitória decisiva, é preciso orar sem cessar e vigiar a si próprio incessantemente.

Todos estão chamados à oração

Pelo fato de ser a invocação do Nome de Jesus tão importante, Davi convida a todos os Cristãos a essa forma de oração. “Filhos do Senhor, louvai, louvai o Nome do Senhor! Bendito seja o Nome do Senhor, agora e por toda a eternidade. Da alvorada ao por do sol, louvado seja o Nome do Senhor![28]”. “Dedicai ao Senhor a glória de Seu Nome, adorai ao Senhor no esplendor sagrado[29]”. Orem de tal maneira que, em suas preces, se manifeste a grandeza do Nome de Jesus, e que, por Seu poder, vocês possam entrar no templo “não feito por mão humana” dos seus corações e aí adorá-Lo em espírito e verdade. Orem com aplicação e perseverança: orem com temor e com tremor diante da grandeza do Nome de Jesus, “e que confie em Ti”, ó Jesus todo-poderoso e rico em bondade, “aquele que conhece Teu Nome” por meio de uma benfazeja experiência pessoal, “pois Tu não abandonas jamais aqueles que buscam o Senhor[30]”.

Somente o pobre no espírito, constantemente ligado ao Senhor pela oração e com uma aguda consciência de sua pobreza, é capaz de descobrir em si a grandeza do Nome de Jesus. “Que o humilde e o ofendido não sejam recusados” à oração, mas que possam oferecê-la a Deus, intacta e não perturbada pelas distrações: “o pobre e o indigente louvarão Teu Nome[31]”. “Bendito o homem cuja esperança está no Nome do Senhor, pois ele não se volta para as vaidades, para aquilo que perde e engana[32]”: ele não prestará atenção, durante sua prece, ao apelo das vãs preocupações e dos laços passionais que a tentam perturbar e destruir.

Orar à noite

 A noite é particularmente propícia à prática da Prece de Jesus, graças ao silêncio e à escuridão que reinam por toda parte. Era durante a noite que o grande asceta da prece, Davi, se dedicava à lembrança de Deus: “À noite eu me recordo de Teu Nome, Senhor”, dizia ele; “à noite eu dei à minha alma um estado de espírito divino” e, tendo-o encontrado, “guardei Tua Lei[33]” durante minhas atividades do dia seguinte. “À noite”, aconselha São Gregório o Sinaíta citando São João Clímaco, “consagre muito tempo à oração e pouco tempo à salmodia[34]”.

O “flagelo dos inimigos”

No furioso combate contra os inimigos invisíveis de nossa salvação a Prece de Jesus é nossa arma suprema. “Todos as nações” – os demônios tagarelas e astuciosos são chamados de nações – “me cercaram, mas em Nome do Senhor eu as repeli, elas me cercaram e tolheram, mas em Nome do Senhor eu as repeli. Elas me cercaram como abelhas, e queimavam como o fogo nos espinheiros, mas em Nome do Senhor eu as repeli[35]”. “Fustigue seus adversários com o Nome de Jesus, pois não existe arma mais poderosa nos céus e na terra[36]”. “Contigo agredimos nossos opressores, por Teu nome calcamos nossos agressores. Não era no meu arco que eu confiava, nem era a minha espada que me trazia a vitória. Eras Tu que nos salvavas de nossos opressores, e envergonhavas aqueles que nos odiavam. Em Deus nos orgulhávamos o dia todo, celebrando o Teu nome para sempre[37]”.

Tendo vencido e dispersado os inimigos pelo Nome de Jesus, o intelecto do homem é admitido no número dos espíritos celestes e aí penetra, para prestar um culto verdadeiro a Deus, no templo de seu coração que até então se encontrava fechado, cantando um canto novo e espiritual, cantando em segredo: “Senhor, eu Te confesso de todo meu coração: Tu ouviste as palavras de minha boca. Eu Te cantarei diante dos Anjos! Em Teu santo templo eu me prosterno: por Tua misericórdia e por Tua verdade eu confesso Teu Nome. Tu elevaste Tua Palavra acima de todo Nome. Nesse dia eu Te chamo, escuta-me! Tu me fizeste ousado: Tua força está em minha alma[38]”.

As virtudes do Nome

São Davi enumera os maravilhosos efeitos do “Nome santo e temível[39]” de Jesus. Ele age como um remédio cujo modo de ação é desconhecido e incompreensível para o enfermo, mas cuja eficácia se torna manifesta pela cura que ele produz. Graças ao Nome de Jesus, invocado por aquele que ora, a ajuda de Deus desce sobre ele, que recebe a remissão de seus pecados. É por isso que, quando São Davi apresenta diante dos olhos de Deus a devastação e o lamentável estado que se produzem na alma do homem por causa de uma vida de pecados, ele implora pela misericórdia divina em nome de todos os homens, dizendo: “Ajuda-nos, Deus de nossa salvação, pela honra de Teu Nome. Liberta-nos, perdoa nossos pecados, por causa do Teu Nome[40]”.

É graças ao Nome do Senhor que nossa prece é ouvida e que a salvação nos é concedida. Por estar firmemente convencido disso, Davi ora mais uma vez: “Meu Deus, em Teu Nome salva-me, por Teu poder, julga-me! Meu Deus, escuta minha prece, dá ouvidos às palavras de minha boca![41]”.

A renovação da natureza

Pelo poder do Nome de Jesus, o intelecto se liberta das hesitações e incertezas, e a vontade é fortalecida; a justiça é concedida ao zelo e às demais faculdades da alma. Só os pensamentos e sentimentos agradáveis, que pertencem à natureza humana não corrompida, podem então permanecer na alma; não existe aí mais lugar para os pensamentos e sentimentos estranhos, “pois o Senhor salvará Sião, construirá cidades em Judá; é lá que habitaremos, lá possuiremos tudo! A linhagem de seus servidores as herdará e nelas habitarão aqueles que amam Teu Nome[42]”. Em Nome do Senhor Jesus, a alma, morta pelo pecado, retorna à vida. O Senhor Jesus Cristo é a Vida[43]; Seu Nome é vivo: ele vivifica aqueles que o invocam e clamam pela fonte da Vida, o Senhor Jesus Cristo. “Por Teu Nome, Senhor, dar-me-ás a vida[44]; não Te abandonaremos mais; faze-nos reviver para que invoquemos Teu Nome[45]”.

Fonte dos dons espirituais

Quando, graças ao poder e à ação do Nome de Jesus, a prece é ouvida, quando a ajuda divina desce sobre o homem, quando seus inimigos são derrotados e se afastam dele, quando lhe é concedido o perdão, quando ele se vê curado e restabelecido no estado da natureza não corrompida, quando seu espírito reencontra seu poder, então chegam a ele em Nome do Senhor a generosa distribuição dos dons da graça, dos bens e dos tesouros espirituais, e das primícias da bem-aventurada eternidade, “pois Tu, meu Deus, atendeste meu apelo: Tu me concedeste a herança prometida àqueles que temem Teu Nome. Acrescenta ao rei dias e dias, e anos de geração em geração. Que ele reine diante de Deus por toda a eternidade[46]”. Então o homem se torna capaz de “cantar ao Senhor um canto novo”: ele escapa ao número dos homens carnais e dos homens psíquicos, e se vê admitido nas fileiras dos homens espirituais, e assim celebra o louvor ao Senhor “na Igreja dos santos[47]”.

Apelo à alegria

O Espírito Santo, que até então convidava unicamente ao pranto e ao arrependimento, agora convida o homem à alegria: “Que Israel se regozije Naquele que o criou, que exultem os filhos de Sião em seu Rei, que celebrem Seu Nome com danças, que a Ele cantem com a cítara e o tamborim[48]”. Depois da renovação da alma, suas potências, conduzidas a um acordo e a uma harmonia notáveis, se tornam capazes, sob os impulsos da graça divina, de produzir sons e melodias espirituais que sobem até o céu diante do trono de Deus e O alegram. “Que meu coração se alegre no temor de Teu Nome. Que meu coração Te confesse, meu Senhor e meu Deus. Que ele glorifique Teu Nome eternamente. Tu aumentaste Tua misericórdia por mim: tiraste minha alma do fundo dos infernos[49]”.

Diante da Face de Deus

“Os justos confessarão Teu Nome; os homens direitos habitarão com Tua Face[50]”. Com efeito, após a expulsão dos inimigos que produzem as distrações, que enfraquecem e poluem a mente, o intelecto penetra nas trevas onde ele nada vê e se coloca diante da Face de Deus sem nenhum intermediário. Essa treva imaterial é o véu, a cortina que cobre a Face de Deus. Esse véu é a incognoscibilidade de Deus para todas as inteligências criadas. O humilde enternecimento do coração se torna então tão forte que ele é chamado de “confissão”.

Eis como Davi descreve o efeito da Prece de Jesus num Cristão que fez progressos: “Bendiz ao Senhor, ó minha alma, e que tudo o que existe em mim bendiga o Seu santo Nome[51]”. Isso é exato: quando nos dedicamos intensamente à Prece de Jesus, todas as potências da alma e do corpo dela participam.

A Prece para todas as idades espirituais

São Davi – ou, mais especificamente, o Espírito Santo por intermédio de sua boca –  recomenda a prática da Prece de Jesus a todos os Cristãos, sem exceção: “Reis da terra e todos os povos, príncipes e todos os juízes da terra, homens jovens e mulheres jovens, velhos e crianças, celebrem o Nome do Senhor, pois Seu Nome é o único sublime[52]”. Uma interpretação literal dos estados de vida enumerados aqui não seria falsa, mas sua interpretação real é essencialmente espiritual. Sob o nome de “povos”, devemos entender todos os cristãos; sob o de “reis”, os cristãos que foram considerados dignos de alcançar a perfeição; sob o de “príncipes”, os que realizaram progressos notáveis; são chamados de “juízes” aqueles que ainda não obtiveram o poder sobre si mesmos, mas que, por seu conhecimento da Lei de Deus, são capazes de discernir o bem do mal e, em conformidade com as indicações e as exigências da Lei divina, conseguem perseverar no bem e rejeitar o mal. Por “jovens”, homens e mulheres, devemos entender o coração livre de laços passionais, que se torna particularmente apto para a oração. Os “velhos” e as “crianças” representam os diversos graus de progresso realizados pelos esforços do homem; esse progresso é muito diferente daquele realizado pela graça, embora tenha também um valor considerável. Aquele que atingiu a perfeição da ação espiritual é chamado de “velho”; mas o que foi elevado até a perfeição dada pela graça é chamado de “rei”.




III
A ARMA DO COMBATE ESPIRITUAL



Dentre as misteriosas e surpreendentes propriedades do Nome de Jesus, está a de expulsar os demônios. Essa propriedade foi anunciada pelo próprio Senhor. Ele disse, a respeito daqueles que creram Nele: “Em Meu Nome eles expulsarão os demônios[53]”. É preciso que nos detenhamos com atenção sobre esse aspecto do Nome de Jesus, pois ele é de uma importância extrema para aqueles que praticam a Prece de Jesus.

Duas formas da presença demoníaca

Devemos, antes de tudo, dizer algumas palavras a respeito da presença dos demônios no homem. Essa presença se reveste de duas formas: uma pode ser chamada de “sensível”, e a outra de “moral”.

Satanás está sensivelmente presente quando ele se estabelece fisicamente em um homem e o tortura no corpo e na alma. Um ou mais demônios podem viver assim dentro de um homem. Diz-se então que o homem está possuído. No Evangelho, vemos que o Senhor curava os possessos; da mesma forma, os discípulos do Senhor os curavam expulsando deles os demônios pelo Nome do Senhor.

Satanás está moralmente presente num homem quando esse se torna agente da execução da vontade do Diabo. Assim é que “Satanás entrou[54]” em Judas Escariotes, ou seja, que ele se apoderou de sua razão e de sua vontade, que ele se uniu ao seu espírito. É nesse estado que se encontravam e se encontram todos aqueles que não creem em Cristo, como disse o santo Apóstolo Paulo aos Cristãos que haviam se convertido do paganismo ao Cristianismo: “E vós que estáveis mortos por causa de vossas faltas e dos pecados em que estivestes envolvidos, quando seguíeis o deus desse mundo, o príncipe que reina entre o céu e a terra, o espírito que age agora entre os rebeldes. Estávamos nós entre esses, nós também, que então nos abandonávamos aos desejos de nossa carne; fazíamos suas vontades, seguíamos seus impulsos, e estávamos, por natureza, como todos os demais, consagrados ao ódio[55]”. Nesse estado se acham, em maior ou menor grau, segundo a gravidade de suas faltas, aqueles que foram batizados em Cristo, mas que Dele se separaram por causa de seus pecados. É assim que os santos Padres entendem as palavras de Cristo a respeito do retorno do Diabo com mais outros sete espíritos mais cruéis ao templo da alma que se afastou do Espírito Santo[56].

O Nome de Jesus expulsa os demônios

Os espíritos que penetraram desse modo podem ser novamente expulsos pela Prece de Jesus, com a condição de que se passe a viver num constante e profundo arrependimento. Devemos empreender essa ascese salutar. Vigiemos com grande cuidado a fim de expulsarmos pela Prece de Jesus os espíritos que penetraram em nós aproveitando-se de nossa negligência[57]. Essa prece tem a propriedade de dar a vida aos que estão mortos pelo pecado, e de expulsar os demônios. Disse o Senhor, “Eu sou a Ressurreição e a Vida: aquele que crê em Mim, ainda que morto, viverá[58]”. E: “Eis os sinais que acompanharão aqueles que creram: em Meu Nome eles expulsarão os demônios[59]”.

A Prece de Jesus revela a presença dos demônios no homem, e os expulsa. Acontece então algo semelhante ao que houve com o jovem possesso na Transfiguração do Senhor. Quando o menino viu o Senhor se aproximar, “o espírito se pôs a agitar a criança com convulsões; essa, caindo por terra, começou a rolar e a espumar[60]”. Quando o Senhor ordenou-lhe que deixasse a criança, o espírito, num acesso de malícia e crueldade, saiu lançando gritos e sacudiu tão violenta e demoradamente o menino, que esse caiu como se estivesse morto[61].

O Nome divino revela as paixões

Enquanto o home permanece no turbilhão da vida, o poder de Satanás passa desapercebido e permanece ignorado, mas quando ele escuta o Nome do Senhor Jesus invocado por aquele que ora, ele é tomado de perturbação. Então ele convulsiona no homem todas as paixões; por seu intermédio, ele o mergulha inteiramente numa terrível agitação e produz em seu corpo toda espécie de estranhas enfermidades.

Testemunho dos Padres: João o Profeta

 É dentro dessa perspectiva que João o Profeta disse: “A nós que somos fracos, não nos resta senão recorrer ao Nome de Jesus: pois as paixões são, como foi dito, demônios, e a invocação desse Nome os faz sair[62]”. Eis o que isso significa: as ações das paixões e dos demônios são combinadas, pois os demônios agem por intermédio das paixões. Quando, na prática da Prece de Jesus, constatamos em nós uma agitação inabitual e uma ferveção das paixões, não nos deixemos, por causa disso, vencer pela acídia e pela perplexidade. Ao contrário, retomemos a coragem e preparemo-nos para um esforço espiritual, para a invocação mais atenta do Nome do Senhor Jesus, pois na realidade o que recebemos foi o sinal evidente de que a Prece de Jesus começou a produzir seus efeitos.

João Crisóstomo

São João Crisóstomo disse: “A menção do Nome de nosso Senhor Jesus Cristo excita o inimigo ao combate. Pois a alma que se esforça na Prece de Jesus pode receber tudo dela, seja o bem, seja o mal. No início ela pode descobrir o mal nas profundezas de seu coração, mas depois vem o bem. Essa prece pode colocar a serpente em movimento, mas também pode derrotá-la. Essa prece pode desmascarar o pecado que vive em nós, e pode também exterminá-lo. Essa prece pode colocar em movimento no coração toda a força do inimigo, mas também pode vencê-lo e extirpá-lo pouco a pouco. Ao descer nas profundezas do coração, o Nome de Jesus Cristo submete a serpente que controla suas pastagens, e ele salva a alma, devolvendo-lhe a vida. Permaneça sem cessar no Nome do Senhor Jesus, e que seu coração absorva o Senhor, e o Senhor absorva seu coração, e que esses dois se tornem um. Mas essa obra não se realiza em um ou dois dias, mas necessita de longos anos: é preciso muito tempo e esforço para expulsar o inimigo, e para que Cristo aí se instale[63]”.

Macário o Grande

É evidente que temos aqui a descrição da obra ascética (com uma referência explícita ao instrumento adequado a essa obra), da qual fala e para a qual convida São Macário o Grande em seu primeiro Discurso: “Quem quer que você seja, abra para si uma passagem através dos pensamentos que se levantam constantemente dentro de você, vá até sua alma prisioneira e escrava dos pecados, e examine suas ideias até as raízes, analise as profundezas de onde surgem seus pensamentos: você descobrirá então nas dobras profundas de sua alma uma serpente que rasteja e se esconde; é ela que o matou, envenenando as diversas regiões da sua alma. Se você matar essa serpente, glorifique-se diante de Deus por sua pureza; se não, humilhe-se como sendo um homem fraco e pecador, e ore a Deus para que o liberte de seus pecados secretos”[64]. O mesmo grande servidor de Deus escreveu: “O reino das trevas, em outros termos o príncipe dos espíritos maus, tendo de início capturado o homem, envolveu sua alma dentro do poder das trevas. Esse mau mestre revestiu de pecado a alma e toda a sua substância; ele a manchou completamente e a conduziu inteiramente cativa ao seu reino. Ele não deixou livres nem os pensamentos, nem a razão, nem a carne e, por fim, nenhum dos elementos da alma; ele a envolveu por completo numa capa de trevas. Esse inimigo encarniçado sujou e deformou o homem por inteiro, corpo e alma. Ele o revestiu com o “homem velho”, um homem maculado, impuro, revoltado contra Deus, insubmisso à Lei de Deus; dito de outro modo, ele revestiu o homem de pecado para que esse já não o veja como antes, mas através do prisma deformado das paixões, para que ele tenha os pés ágeis para as más ações, as mãos prontas para realizar a iniquidade, e um coração inclinado aos maus pensamentos. Mas nós, oremos a Deus para que Ele nos despoje do homem velho, pois somente Ele pode retirar de nós o pecado; com efeito, aqueles que nos fizeram prisioneiros e que nos mantêm em seu poder são mais fortes do que nós, mas Deus prometei nos libertar dessa escravidão[65]”.

Calixto e Inácio Xanthopoulos

Baseando-se em concepções semelhantes, os santos Padres dão àqueles que praticam a Prece de Jesus as seguintes instruções: “A menos que sofra consideravelmente com as perseguições importunas do pecado, a alma não é capaz de apreciar com justeza o bem da justiça. O homem que deseja purificar seu coração deve inflamá-lo sem cessar com a invocação do Senhor Jesus, fazendo dessa menção uma meditação e uma atividade ininterruptas. Os que pretendem evitar seu “desgaste” não devem tanto orar como não orar, mas devem perseverar sem cessar na prece, por meio da vigilância do espírito, mesmo quando se encontrem fora de seus locais de oração. Se quem trabalha para purificar o ouro deixar, ainda que por um breve instante, o fogo se extinguir no cadinho, provocará um endurecimento da matéria que está tentando refinar. Da mesma forma, o homem que tanto se lembra de Deus como se esquece dele, destrói com sua inação aquilo que imagina adquirir com sua prece. É próprio do homem que ama a virtude combater constantemente o peso terrestre de seu coração pela lembrança de Deus para que, dessa maneira, o mal seja pouco a pouco consumido pelo fogo da lembrança do bem, e que sua alma esteja perfeitamente entregue ao seu brilho natural com grande glória. Assim, mantendo-se no coração, o intelecto se dedica à prece pura e sem ilusão, como disse Santo Diádoco: “A prece é verdadeira e sem ilusão quando o intelecto em estado de oração está unido ao coração[66]”.

Nós que praticamos a Prece de Jesus, não nos deixemos amedrontar nem pelos ventos, nem pelas vagas! Eu chamo de “ventos” os pensamentos e as imagens demoníacos; por “vagas” eu entendo a revolta das paixões revoltadas pelos pensamentos e as imagens. Do meio da tempestade que ruge, oremos com perseverança, com coragem e com lágrimas ao Senhor Jesus Cristo, e ele dominará os ventos e as vagas; e nós, tendo conhecido por experiência própria a onipotência de Jesus, Rendamos a Ele a adoração que Lhe é devida, dizendo: “Em verdade, Tu és o Filho de Deus[67]”.

Simeão o Novo Teólogo

Nós lutamos pela nossa salvação. Nosso destino eterno depende de nossa vitória ou de nossa derrota. Diz São Simeão o Novo Teólogo: “Então (ou seja, durante a prática da Prece de Jesus) um grande combate se desenrola. Os demônios começam a guerra com um grande tumulto, produzindo por meio das paixões uma agitação e uma tempestade no coração, mas eles são consumidos e destruídos pelo Nome do Senhor Jesus Cristo, como a cera pelo fogo. Mais uma vez: quando eles são repelidos e se retiram do coração, eles não abandonam a luta, mas perturbam o intelecto desde o exterior por meio dos sentidos corporais. Por essa razão, o intelecto não começa a sentir imediatamente em si o silêncio e a quietude; é que os demônios, quando não têm força suficiente para perturbar o intelecto na sua profundidade, o perturbam desde o exterior com imagens. É por isso que não se pode estar completamente liberto da luta e não ser atacado pelos maus espíritos. Isso só é possível aos perfeitos e àqueles que estão completamente afastados de tudo e cuja atenção permanece continuamente fixada no coração[68]”.

Não se desencorajar

No começo, essa prática parece extraordinariamente árida, sem promessa de algum dia produzir frutos. O intelecto que se esforça por se unir ao coração encontra desde logo trevas impenetráveis, a dureza e a insensibilidade do coração que não entra senão lentamente em “simpatia” com ele[69]. Essa observação não deve nos lançar na acídia e no desencorajamento, ela está feita apenas para que estejamos cientes e para nos colocarmos desde já em guarda. Quem ora com perseverança e paciência será sem falta recompensado e consolado; ele será cumulado com tal profusão de frutos espirituais, que ele não tem ideia enquanto permanece ainda no estado carnal e psíquico.

Quando a prece começa a agir

A Prece de Jesus age por graus sucessivos: de início sua ação se dá apenas sobre o intelecto, conduzindo-o a um estado de silêncio e de atenção; depois ela começa a ganhar o coração, despertando-o de seu sono de morte; seu retorno à vida se manifesta pela aparição nele de sentimentos de humilde enternecimento e de aflição espiritual. Mergulhando mais profundamente, a prece começa a atuar sobre todos os membros da alma e do corpo, a expulsar o pecado de todas as partes e a destruir a tirania, a influência e o veneno dos demônios. Por essa razão, desde que a Prece de Jesus começa a agir, “produz-se uma inefável contrição e uma indizível dor da alma”, diz São Gregório o Sinaíta. A alma sofre como uma mulher enferma em trabalho de parto, como diz a Escritura[70]. “Viva é, com efeito, a Palavra de Deus”, ou seja, Jesus, “eficaz e mais incisiva do que qualquer espada de dois gumes, ela penetra até o ponto de divisão da alma e do espírito, das articulações e do tutano dos ossos, ela pode julgar os sentimentos e os pensamentos do coração[71]”, ela penetra, extirpando o pecado de todas as partes da alma e do corpo[72].

O poder de dominar os demônios

Quando os setenta Apóstolos enviados a pregar pelo Senhor Quando os setenta Apóstolos enviados a pregar pelo Senhor retornaram a Ele, tendo cumprido a missão que lhes havia sido confiada, eles Lhe anunciaram com alegria: “Senhor, mesmo os demônios se nos submeteram em Teu Nome[73]”. Oh! Quão justificada era essa alegria, quão fundamentada! Durante mais de cinco mil anos o Diabo reinara entre os homens, tendo-os sujeitado e assimilado por meio do pecado, e agora ele escutava o Nome de Jesus! Ele se submeteu aos homens que até então lhe eram submissos, foi por eles amarrado, por eles a quem antes acorrentara, e pisado aos pés daqueles que pisoteara. Em reposta aos discípulos que se regozijavam de haver destruído o poder dos demônios sobre os homens, e de haver obtido um poder sobre os demônios, o Senhor disse: “Eis que Eu vos dei o poder de pisar as serpentes e escorpiões, e todo poder do Inimigo, e nada vos poderá prejudicar[74]”. O poder nos foi dado, mas somos livres para pisar as serpentes e escorpiões, ou, ao contrário, de negligenciar esse dom e nos submetermos voluntariamente a eles. Pelo termo “serpentes” os santos Padres entendiam as empresas manifestamente pecaminosas, e por “escorpiões” aquelas que se dissimulam sob a máscara inocente do próprio bem.

O poder dado pelo Senhor aos setenta discípulos é concedido a todos os Cristãos[75]. Utilize-o, Cristão! Pelo Nome de Jesus, corte as cabeças, ou seja, as primeiras aparições do pecado nos pensamentos, nas imagens mentais e nos sentimentos. Destrua em si o domínio do Diabo; destrua toda influência sua sobre você; adquira a liberdade espiritual. O fundamento de seu combate espiritual é a graça do Batismo, e sua arma, a invocação do Nome de Jesus.

Qual é a vitória?

Depois de haver concedido aos seus discípulos o poder de pisotear as serpentes e os escorpiões, o Senhor acrescentou: “No entanto, não vos regozijeis de que os espíritos vos sejam submissos, mas de que vossos nomes estejam inscritos nos céus[76]”. “Não se regozijem, diz o bem-aventurado Teofilacto, de que os demônios sejam submetidos a vocês, mas que seus nomes sejam inscritos no céu, não com tinta, mas com a graça divina e na lembrança de Deus[77]”, pela Prece de Jesus. Essa prece tem a particularidade de transportar da terra ao céu o homem que a pratica, e de colocá-lo no número dos habitantes celestes. Permanecer pelo intelecto e o coração no céu e em Deus, esse é o principal fruto, o objetivo dessa prece; a recusa e o despedaçamento dos inimigos que nos impedem de alcançar esse objetivo não passam de um aspecto secundário; ele não deve tomar toda a nossa atenção, para que a consciência e a contemplação de nossa vitória não abram uma grande porta à soberba e à presunção, e que, em razão mesma de nossa vitória, não soframos uma terrível derrota.

Quem pode vencer?

Mais adiante, o Evangelho relata: “Naquele instante, Jesus exultou sob a ação do Espírito Santo e disse: ‘Eu Te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes essas coisas dos sábios e dos inteligentes e as revelastes aos pequeninos. Sim, Pai, é assim que dispusestes em Tua benevolência’[78]”. E dirigindo-se aos seus discípulos: “Tudo me foi dado por Meu Pai, e ninguém conhece quem é o Filho, senão o Pai[79]”. O Senhor transborda de inconcebível alegria divina ao constatar o sucesso daqueles homens. Ele anuncia que os mistérios da fé Cristã são revelados, não aos sábios e aos grandes desse mundo, mas aos pequeninos, às crianças – aos olhos da sociedade – que eram seus discípulos, homens sem instrução, ilustrados, escolhidos entre o povinho. Para se tornar discípulo de Cristo é preciso ser como uma criança, e receber seu ensinamento com a simplicidade e o amor de uma criança. Dirigindo-se então àqueles que já eram seus discípulos, o Senhor lhes expôs uma doutrina muito misteriosa: Ele revelou que o Filho, apesar do fato de ter assumido a natureza humana, permaneceu não obstante além da compreensão de todas as criaturas racionais. Seu Nome ultrapassa, igualmente, todo entendimento. Recebamos então com a simplicidade e a confiança de crianças o ensinamento que nos mostra como orar pelo Nome de Jesus; com a mesma simplicidade e confiança, ponhamo-nos a praticar essa prece: Deus, o único que conhece plenamente o mistério no-la dará na medida em que nos seja acessível. Regozijemo-nos por nosso trabalho e nosso progresso no ofício que Ele nos confiou e ordenou.



IV
CARÁTER UNIVERSAL DA PRECE DE JESUS


Como dissemos acima, a Prece de Jesus era de uso generalizado dentre os Cristãos dos primeiros séculos. E nem poderia ser de outro modo. Foi pelo Nome do Senhor Jesus Cristo que se realizaram os sinais mais impressionantes sob os olhos de toda a comunidade Cristã, o que inspirava aos fiéis uma grande fé em seu poder ilimitado. Os que haviam progredido entendiam essa força graças ao seu próprio progresso. Eis como São Barsanulfo o Grande se expressa a respeito dessa força que se desenvolve abundantemente nos santos: “Eu conheço um servidor de Deus que é de nossa raça e que vive em nossa época nesse lugar bendito; esse homem é capaz mesmo de ressuscitar os mortos em Nome de nosso Mestre Jesus Cristo, e expulsar os demônios, curar as doenças incuráveis e realizar outros milagres não menos do que os Apóstolos, como testemunha Aquele que lhe concedeu esse dom ou, mais exatamente, esses dons. Sim, e o que é isso em comparação com o que pode fazer o Nome de Jesus?[80]”.

A Prece, desde a época primitiva

Tendo sob seus olhos os milagres do Senhor, em sua lembrança seus preceitos e em seu coração um amor ardente por Ele, os fiéis da Igreja primitiva praticavam a invocação do Nome de Jesus com o zelo inflamado dos Querubins e dos Serafins. Essa é a propriedade do amor! Ele se lembra sem cessar do amado; ele se regozija sem cessar com seu nome; ele o guarda no coração e o tem no espírito e nos lábios. O Nome do Senhor está acima de todo nome; ele é a fonte das delícias, a fonte da alegria, a fonte da vida. Ele é Espírito: ele vivifica, ele muda, ele recria, ele deifica. Para os iletrados, ele substitui de modo plenamente satisfatório a leitura das orações escritas e a salmodia; os que sabem ler e que progrediram na Prece de Jesus abandonam a salmodia por causa de sua grande diversidade e se põem a praticar de preferência a Prece de Jesus, pois nela encontram a força e o alimento em abundância. Tudo isso resulta claramente dos escritos e das regras dos santos Padres.

A Prece dos iletrados

A santa Igreja Ortodoxa do Oriente propõe aos iletrados que substituam todas as preces escritas pela Prece de Jesus[81]; ela o faz não como uma inovação, mas como uma prática bem testada. Essa regra, assim como outras tradições da Igreja do Oriente, passou da Grécia para a Rússia, e muitas pessoas simples, pouco ou nada instruídas, foram nutridas pela força da Prece de Jesus para sua salvação e para a vida eterna; e muitos realizaram grandes progressos espirituais.

João Crisóstomo

Quando São João Crisóstomo recomenda a prática assídua da Prece de Jesus, em especial para os monges, ele fala dela como de uma coisa bem conhecida por todos. “Também nós, diz ele, temos exorcismos espirituais: o Nome de nosso Senhor Jesus Cristo e o poder da Cruz. Esse exorcismo não apenas expulsa o dragão de seu covil e o atira ao fogo, como ainda cura as feridas feitas por ele. E, se muitos pronunciaram esse exorcismo, mas não foram curados, isso se deve à sua falta de fé e não à ineficácia da prece. Numerosos homens seguiram infatigavelmente a Cristo e se mantiveram próximos a ele, pressionando-o, mas não retiraram daí nenhum benefício, enquanto que a mulher hemorroísa que tocara, nem mesmo seu corpo, mas apenas a franja de sua túnica, viu o fluxo de sangue que corria há anos se deter imediatamente[82]. O Nome de Jesus Cristo é terrível para os demônios, para as paixões e as enfermidades da alma. Para nós, ela é beleza e proteção. Foi por meio dela que o apóstolo Paulo se tornou grande, embora fosse da mesma natureza que nós[83]”.

São Pacômio

Um Anjo de Deus deu uma regra de oração a São Pacômio o Grande, em intenção dos muitos monges que dependiam dele. Os monges submetidos à sua direção espiritual deveriam cumpri-la a cada hora. Os que haviam atingido a perfeição e a prece ininterrupta estavam dispensados dessa regra. A regra transmitida pelo Anjo comportava o Trisságio, a prece dominical, o Salmo 50, o Símbolo da Fé e cem Preces de Jesus[84]. Na regra, fala-se da Prece de Jesus exatamente como da prece dominical, ou seja, como uma prece conhecida por todos e de uso geral.

São Barsanulfo o Grande relata que a prece era a principal ocupação dos monges de Sceta. Observamos a mesma coisa na Vida de São Pambo, monge e abade da montanha da Nìtria, situada não longe de Sceta, onde os monges, como os de Sceta, levavam a vida hesiquiasta[85].

Os testemunhos escritos

Dentre os servidores de Deus mencionados nesse estudo, e que praticavam a Prece de Jesus, ou que escreveram a esse respeito, encontramos Santo Inácio o Teóforo, que viveu em Antioquia e morreu em Roma; o santo mártir Calístrato, que nasceu e viveu em Cartago; São Pacômio o Grande, que viveu no Alto Egito; os monges de Sceta e de Nítria, assim como Santo Isaías, que viveram no Baixo Egito; São João Crisóstomo, que viveu em Antioquia e em Constantinopla; São Basílio o Grande, na parte oriental da Ásia Menor, na Capadócia; São Barsanulfo o Grande, nas cercanias de Jerusalém; São João Clímaco, no Monte Sinai e durante algum tempo no Baixo Egito, perto de Alexandria. Isso nos mostra que a invocação do Nome de Jesus estava espalhada por toda parte e era de uso generalizado em todas as regiões atingidas pela Igreja.

A Filocalia e os autores Russos

Além dos Padres mencionados acima, outros autores também escreveram a respeito da Prece de Jesus. Assim é que Santo Hesíquio, discípulo de São Gregório o Teólogo, padre em Jerusalém no século V, já então se queixava de que os monges abandonavam a prática da Prece de Jesus e a da vigilância. Encontramos ainda São Filoteu o Sinaíta, São Simeão o Novo Teólogo, São Gregório o Sinaíta, São Teolepto de Filadélfia, São Gregório Palamas, os Santos Calixto e Inácio Xanthopoulos e muitos outros. Seus escritos se encontram principalmente na Filocalia, vasta coleção de autores ascéticos. Dentre os Padres russos que escreveram sobre a prece, encontramos Nilo de Sora, o hieromonge Doroteu, o arquimandrita Païssy Velitchkovsky, o monge de “grande hábito” Basílio de Polianomeroul e o hieromonge Serafim de Sarov.

Ordem das leituras

Todos os escritos dos Padres que mencionamos merecem uma profunda estima, em razão da graça e do conhecimento espiritual que vivem neles e que depreende deles; no entanto, as obras dos autores Russos nos são mais acessíveis do que as dos luminares Gregos, em razão da clareza e da simplicidade de suas exposições, e também porque eles se encontram mais próximos de nós no tempo[86]. Em particular, podemos e devemos considerar os escritos do Staretz Basílio como sendo os primeiros para os quais deve se voltar aquele que, em nossa época, deseja praticar a Prece de Jesus com sucesso. Essa foi bem a sua intenção. O Staretz chamou seus escritos de “Introdução”, ou seja, como textos que preparam para a leitura dos Padres Gregos. O livro de São Nilo de Sora é notável. Sua leitura deve também preceder a dos autores Gregos; como ele os cita e comenta abundantemente, ele facilita a leitura e a compreensão desses mestres profundos e santos que, com frequência, eram também oradores, filósofos e poetas.

Quando os verdadeiros mestres se tornam raros

De uma maneira geral, todos os escritos dos santos Padres relativos à vida monástica, e em especial à Prece de Jesus, constituem para nós, monges dos últimos tempos, um tesouro insubstituível. Na época de São Nilo de Sora – já lá se vão três séculos -  os receptáculos vivos da graça divina eram extremamente raros: “eles diminuíram ao extremo”, segundo sua própria expressão; e hoje eles são tão raros que podemos dizer, sem grande risco de errar, que já não existem mais. É certamente um favor divino excepcional conseguir encontrar de improviso, em algum lugar num canto perdido, já no fim de seus dias, um tal receptáculo, um homem que não é nada aos olhos dos outros homens, mas que é magnificado e exaltado por Deus. Foi assim que, no deserto desabitado da Transjordânia, Zózimo encontrou, além de qualquer esperança, uma grande santa, Maria Egipcíaca[87].

A fonte única

Em razão da extrema raridade dos mestres pneumatóforos, os escritos patrísticos constituem a única fonte para a qual pode se voltar a alma torturada pela fome e a sede de encontrar os conhecimentos absolutamente necessários para o combate espiritual. Esses livros são uma herança preciosa deixada pelos santos Padres à sua descendência monástica, a nós, desprovidos que somos. Esses livros são as migalhas caídas para nós da mesa espiritual dos Padres, e que constituem a nossa parte. Constatamos que a época em que foram redigidos a maior parte dos livros sobre a oração mental coincide com aquela em que essa atividade estava particularmente diminuída entre os monges. Quando São Gregório o Sinaíta, que viveu no século XIV, chegou ao Monte Athos, dentre os milhares de monges que aí viviam ele encontrou não mais do que três que tinham uma certa compreensão da atividade espiritual. A maior parte dos escritos sobre a Prece de Jesus data justamente dos séculos XIV e XV.

“Movidos por uma secreta inspiração divina, diz Païssy Velitchkovsky, numerosos Padres puseram por escrito o santo ensinamento, inteiramente penetrado pela sabedoria do Espírito Santo, relativo a essa oração mental, baseando-se nas santas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos. Isso foi devido à providência de Deus, a fim de que essa obra divina não caísse num esquecimento definitivo. Com a permissão de Deus, muitos desses livros foram destruídos, por causa de nossos pecados, pelos muçulmanos que conquistaram o Império Bizantino; alguns, no entanto, foram conservados, graças a uma economia divina, até nossa época[88]”.

A tarefa do mestre

A atividade espiritual suprema é extraordinariamente simples. Para adotá-la, devemos ter uma simplicidade e uma fé de criança; mas nós somos tão complicados, que precisamente essa simplicidade se tornou inacessível e incompreensível para nós. Mas nós queremos ser inteligentes, queremos inchar o nosso eu, não queremos renunciar a nós mesmos nem nos deixar guiar pela fé. Por essa razão, temos necessidade de um mestre que nos faça sair de nossa complexidade, de nossa astuciosa habilidade, de nossos artifícios, de nossa vanglória e de nossa presunção, e que nos faça entrar na largura e na simplicidade da fé. Por essa razão, pode acontecer que, no domínio da atividade espiritual, uma criança realize notáveis progressos, enquanto que um sábio perde seu caminho e cai nos sombrios abismos da ilusão.

Porque eles escreveram

“Nos tempos antigos, escreveu Païssy Velitchkovsky, a prática da oração mental brilhava nos inúmeros lugares onde estavam os santos Padres. Havia então numerosos mestres para essa ascese espiritual; assim, quando os santos Padres dessa época escreviam a esse respeito, eles não explicavam senão as benesses espirituais extraordinárias que dela resultavam, sem sentir a necessidade de tocar – na minha opinião – na parte da obra relativa aos iniciantes. Eles também escreveram em parte sobre coisas que eram claras para aqueles que tinham a experiência da ascese, mas que, para os que não tinham, permaneciam incompreensíveis. Quando alguns Padres viram que os verdadeiros mestres, aqueles em quem podiam ter confiança, começavam a se tornar extremamente raros, eles foram levados pelo Espírito divino a escrever, a fim de que não desaparecesse o ensinamento autêntico referente às primeiras etapas da oração mental. Eles então expuseram por escrito os rudimentos da obra e os procedimentos que permitiam aos noviços aprender e entrar, por meio do intelecto, no lugar do coração, para aí realizar uma prece verdadeira e isenta de ilusão[89]”.


V
OS GRAUS DA PRECE

Encorajamentos

Dissemos que o profeta Davi chama todo o povo de Deus, sem exceção, à invocação do Nome Divino, e que, por suas prescrições, a Igreja estabelece a todos os iletrados e aos que não conhecem a santa Escritura de cor a substituir as orações escritas e a salmodia pela Prece de Jesus. São Simeão, bispo de Tessalônica, recomendava aos hierarcas, aos padres e a todos os monges e leigos dizer essa prece em todo tempo e todo lugar, e de fazer dela, por assim dizer, seu sopro de vida[90]. No momento da profissão monástica, quando o postulante recebe o capuz, o celebrante lhe diz: “Recebe, irmão, a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; traga-a em sua boca, em seu espírito e no seu coração, e diga sem cessar: Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim[91]”.

Defesas

Por sua vez, São Nilo de Sora ensina que “a lembrança de Deus, ou seja, a oração mental, é superior a qualquer outra atividade; ela é, como o amor de Deus, a primeira das virtudes. Quem pretende, com impudência e temeridade, ir a Deus para conversar com Ele com pureza, quem se esforça para possuí-Lo em si mesmo, será facilmente morto pelos demônios – se isso lhes fosse permitido – pois está buscando com presunção orgulhosa alcançar algo que o ultrapassa[92]”.

À primeira vista, a defesa de São Nilo de Sora pode parecer em contradição com as prescrições da santa Escritura, dos santos Padres e da tradição da Igreja. Na realidade, não existe contradição, mas se trata da Prece de Jesus na sua forma mais elevada.

Dois graus da prece

Todos os cristãos podem e devem praticar a Prece de Jesus com o objetivo de se arrepender e de pedir a ajuda do Senhor; eles devem praticá-la com fé e temor a Deus, com uma grande atenção sobre os sentidos e às palavras da prece, e com o espírito contrito; mas não é todos que é permitido avançar para a prece realizada pelo intelecto na cela do coração. Não apenas os monges que vivem em mosteiros e que se veem ocupados com as obediências, mas também os leigos que vivem no mundo podem e devem praticar a Prece de Jesus tal como a descrevemos em primeiro lugar. Essa forma de prece, dita com atenção, pode também ser chamada de “oração mental” e de “prece do coração”, pois ela costuma ser realizada somente pelo intelecto, e, entre aqueles que oram com zelo, ela é sempre feita com a participação do coração, coisa que se manifesta por um sentimento de aflição e por lágrimas provocadas por um enternecimento humilde do coração.

Começar pelo começo

A hierurgia da prece realizada pelo intelecto no coração exige que se tenha primeiramente praticado o primeiro modo de orar, e que nele se tenha realizado algum progresso. É a graça divina que, em sua benevolência, e no momento certo que só ela conhece, fará o asceta passar da primeira maneira de orar para a segunda. Se agradar a Deus que o asceta permaneça na prece do arrependimento, que ele se mantenha aí e não busque um estágio superior; que ele não tente ir além, convencendo-se firmemente de que isso não se obtém por esforços humanos, mas que se trata de um dom de Deus. Permanecer no arrependimento é uma garantia de salvação. Contentemo-nos, portanto, com esse estágio, sem buscarmos algo superior. Essa busca é um sinal patente de orgulho e de presunção; ela não conduz ao sucesso, mas às quedas e à ruína.

Não antecipar

Fundamentado nos ensinamentos de todos os santos Padres, São Nilo proíbe de se esforçar prematuramente para fazer descer o intelecto no coração, em buscar a hesíquia exterior e interior, e tentar sentir a doçura da prece e outros estados espirituais elevados; eles se revelarão quando a prece de arrependimento foi aceita por Deus, e quando os inimigos tiverem se retirado da alma. Disse o salmista: “Afastai-vos de mim, ó vós que fazeis o mal; o Senhor escutou a voz das minhas lágrimas. O Senhor escutou a minha súplica, ele recebeu minha prece[93]”. O consolo, a alegria, as delícias, a distribuição dos dons, essas são as consequências da reconciliação; buscá-las antecipadamente é uma empresa alucinada.

Qual é a preparação para a prece do coração?

Para adquirir a prece profunda do coração, é necessária uma preparação considerável. Essa consiste num conhecimento e numa experiência suficientes da vida monástica, e em aprender a agir em conformidade com os mandamentos do Evangelho. A verdadeira prece é, com efeito, fundada sobre a disposição da alma que resulta de uma vida levada em conformidade com os mandamentos; a prece repousa sobre essa disposição interior e não pode permanecer na alma quando essa disposição lhe falta. A preparação deve também consistir num conhecimento sólido do Novo Testamento e dos escritos patrísticos referentes à Prece de Jesus. Essa última preparação é tanto mais necessária na medida em que, na ausência de guias pneumatóforos os escritos patrísticos e nossos clamores diante de Deus durante a prece devem ser nossos únicos guias.

O discernimento é essencial

A prece do coração é ardentemente buscada, assim como a hesíquia do coração. É igualmente desejável viver como hesiquiastas em sua cela como num deserto retirado, pois isso favorece muito a prece do coração e a hesíquia interior. “Entretanto, mesmo sendo essas obras excelentes e boas em si, diz São Nilo de Sora, é preciso abordá-las com discernimento, no tempo conveniente e depois de haver suficientemente progredido. Como disse Basílio o Grande, ‘o discernimento deve preceder toda ação’. Sem discernimento, mesmo uma boa ação pode se tornar má, não sendo realizada no momento oportuno e na medida adequada. Mas quando o momento e a medida do bem são determinados com discernimento, o benefício resultante será admirável. Expressando-se com as palavras da Escritura, João Clímaco diz: ‘Existe um tempo para todas as coisas que estão sob o céu[94]; dentre todas essas coisas, também em nossa vida santa existe um tempo para cada ocupação’. E ele prossegue: ‘Existe um tempo para o silêncio, e um tempo para uma palavra agradável; existe um tempo para a prece incessante, e um tempo para o serviço sincero’. Não nos deixemos seduzir por um zelo intempestivo e orgulhoso, e não busquemos prematuramente aquilo que deve acontecer a seu tempo. Caso contrário, nada receberemos, nem mesmo no momento azado. Existe um tempo para semear os esforços, e um tempo para colher os frutos maduros da graça[95]”. Em particular, São Nilo proíbe de aspirar sem discernimento à vida eremítica (coisa que acontece com frequência entre pessoas que sequer compreendem a vida monástica), porque é nesse modo de vida que os tropeços e a cegueira espiritual são mais graves.

A exceção não faz a regra

Se não é permitido aos monges se lançarem inoportunamente à prece oferecida pelo intelecto no santuário do coração, com mais forte razão isso é proibido às pessoas que vivem no mundo. Santo André, o louco de Cristo, e alguns outros leigos pouquíssimo numerosos chegaram a conhecer a prece do coração mais profunda; mas trata-se de uma exceção e uma grande raridade, que não podem absolutamente servir de norma para todos. Considerar-se como entre essas pessoas excepcionais não passa de cegueira provocada pela presunção, trata-se de uma ilusão latente antes de se tornar manifesta.

As reservas de Païssy Velitchkovsky

Em sua Carta ao Staretz Teodósio, Païssy Velitchkovsky escreve: “Os textos patrísticos, em especial os que ensinam a verdadeira obediência, a vigilância do intelecto e a hesíquia, a atenção e a oração mental (ou seja, aquela que se realiza pelo intelecto no coração) convêm exclusivamente à ordem monástica e não a todos os cristãos ortodoxos em geral. Quando os Padres Teóforos expõem o ensinamento referente a essa prece, eles sublinham que a verdadeira obediência é seu princípio e seu fundamento indestrutível, e que ela nasce da verdadeira humildade; essa humildade protege aquele que se dedica à prece contra todas as ilusões que fazem com que se percam os que pensam ser seus próprios mestres. É absolutamente impossível às pessoas do mundo adquirir a verdadeira obediência monástica e a perfeita renúncia à sua própria vontade e à sua razão, em todas as coisas. Como seria possível para quem vive no mundo, para quem vive sem obediência, se obrigar, por sua própria iniciativa – coisa que abre a porta para a ilusão – a uma atividade tão terrível e temível, vale dizer, a essa prece, sem o benefício de nenhuma instrução?  Como poderá escapar das numerosas e diferentes ilusões que o Inimigo atira com extrema habilidade sobre essa prece e sobre os que a praticam? Essa coisa – a prece não simplesmente interior (mental), realizada “sem arte” apenas pelo intelecto, mas a prece realizada “com arte” pelo intelecto no coração – é tão temível, que mesmo os verdadeiros discípulos, aqueles que não apenas afastaram, mas que destruíram sua vontade própria e sua razão perante seus pais espirituais – autênticos mestres dotados de grande experiência e competentes para guiá-los na prática dessa prece – se veem constantemente com temor e tremor, com medo de sofrer alguma ilusão no exercício da prece, embora Deus os guarde sempre, por causa de sua verdadeira humildade, obtida pela graça divina em resposta à sua verdadeira obediência. Com mais forte razão, as pessoas do mundo e que vivem sem a obediência, se tentarem praticar essa prece apenas depois de ler alguns livros a respeito, estarão expostas a cair em qualquer ilusão, coisa que acontece aos que tentam por si sós obter a ascese dessa prece”.

“Os Santos chamaram a essa prece de “arte das artes”; como seria possível aprendê-la sem um artista, sem um mestre experiente? Essa prece é uma espada espiritual dada por Deus, para abater o Inimigo de nossas almas. Essa prece brilhou como o sol unicamente entre os monges, em especial no Egito, na região de Jerusalém, no Monte Sinai e nos desertos da Nítria, em vários lugares na Palestina e além, por toda parte, como se extrai da I de São Gregório o Sinaíta. Ele percorreu toda a Montanha Santa (Athos) buscando cuidadosamente monges que praticassem a prece; mas não encontrou nenhum que fosse além de uma vaga noção do que fosse ela[96]. Se São Gregório não encontrou nenhum monge que praticasse a prece num lugar tão santo como o Monte Athos, podemos concluir que a prática dessa prece devia ser igualmente desconhecida entre os monges dos outros lugares. Mas onde os monges a conheciam, onde ela brilhava como um sol entre eles, ela era guardada em segredo como um grande mistério do qual não se fala, conhecido somente por Deus e pelos que oravam. A prática dessa prece era completamente desconhecida das pessoas do mundo. Mas agora, que os escritos patrísticos foram publicados, não apenas os monges, como todos os cristãos têm conhecimento dela. Por causa disso, eu temo e tremo de pensar que, pelas razões indicadas acima (ou seja, pelo perigo de empreender por si próprio a ascese dessa prece sem possuir um guia espiritual), esses autodidatas caiam na ilusão. Possa Cristo, nosso Salvador, libertar por sua graça todos aqueles que desejam ser salvos[97]”.



VI
UM MÉTODO QUE CONVÉM A TODOS


Consideramos nosso dever expor aqui, na medida de nossos modestos conhecimentos e de nossa limitada experiência, o ensinamento dos Santos Padres sobre o modo de cultivar “com arte” a Prece de Jesus. Indicaremos claramente qual a maneira de praticar a prece e qual a forma da prece mental e do coração conveniente a todos os cristãos sem exceção, incluindo aí os monges e os iniciantes, e qual forma é, ao contrário, reservada àqueles que, com a benevolência e a graça de Deus, progrediram nesse caminho.

Método de São João Clímaco

Sem dúvida, dentre todos os métodos, o primeiro posto cabe àquele recomendado por São João Clímaco. Com efeito, esse método é especialmente cômodo, sem nenhum perigo, necessário e mesmo indispensável para a eficácia da prece; ele convém a todos os Cristãos que vivem com piedade e que buscam a salvação, tanto monges como leigos. Esse grande guia dos monges fala desse método em duas passagens de sua Escada Santa que conduz da terra ao céu: no degrau sobre a obediência e no degrau sobre a prece. O próprio fato de que ele expõe seu método no capítulo dedicado à doutrina da obediência dos monges cenobitas mostra claramente que ele foi concebido especialmente para os monges iniciantes. A exposição desse método é retomada ao longo do capítulo consagrado à prece, depois de instruções referentes aos hesiquiastas, e, por conseguinte, dirigida aos monges avançados. Isso indica claramente que o método é plenamente válido também para os hesiquiastas e para os monges avançados. Seu grande mérito consiste em que ele é totalmente satisfatório, sem apresentar perigo algum.

“Encerra teu pensamento nas palavras”

No degrau sobre a prece, São João Clímaco diz: “Esforce-se para conduzir, ou melhor, para encerrar seu pensamento nas palavras da prece. Se, em razão de seu estado de infância, o pensamento enfraquece e se dispersa, conduza-o de volta. A instabilidade é própria do intelecto. Mas Aquele que que ordena todas as coisas pode detê-lo. Se você perseverar nessa atividade e se a guardar constantemente, Aquele que estabeleceu em você limites ao seu mar, virá, e dirá durante sua prece: ‘Você chegou até aqui e não irá mais longe[98]’. Não é possível amarrar o espírito; mas ali, onde se encontra o Criador desse espírito, tudo se submete a Ele[99]”. “O começo da prece consiste em afastar os pensamentos por meio da prece desde que eles surgem; o meio, é quando o intelecto permanece exclusivamente nas palavras pronunciadas, seja vocal ou mentalmente; o coroamento consiste no arrebatamento do intelecto para Deus[100]”. No degrau sobre a obediência, São João Clímaco diz: “Lute constantemente contra seus pensamentos, fazendo-os retornar para você a cada vez que se dispersarem; Deus não exige cos noviços uma prece totalmente isenta de distrações. Não se aflija se você se dispersar, mas mantenha-se firme e faça constantemente com que seus pensamentos retornem a você[101]”.

Orar com atenção

O método aqui exposto consiste em orar com atenção, seja vocal ou mentalmente. Quando oramos com atenção, o coração não pode deixar de participar da prece, como disse São Marcos: “O intelecto que ora sem distrações aquebranta o coração[102]”. Portanto, aquele que ora segundo o método proposto por São João Clímaco deverá orar com seus lábios, com seu intelecto e com seu coração; quem progredir nesse modo de orar possuirá a prece do intelecto e do coração, e atrairá sobre si a graça divina, como vemos pelas palavras citadas do grande mestre dos monges. O que mais podemos desejar? Nada, certamente.

Quando praticamos a Prece de Jesus dessa maneira, a qual ilusão poderemos sucumbir? Só corremos um risco: o de nos deixarmos levar pelas distrações. Mas esse erro aparece claramente: ele é inevitável entre os iniciantes e pode ser imediatamente corrigido pelo retorno do pensamento às palavras da prece. Finalmente, ele pode ser inteiramente eliminado graças à misericórdia e à ajuda de Deus, e ao preço de um constante esforço ascético.

Como João Clímaco fala da prece do coração

Algumas pessoas poderão se perguntar se um Padre tão ilustre, e que viveu numa época na qual florescia a oração mental, não teria dito nada da prece realizada pelo intelecto no coração. Mas ele fala disso, porém de um modo tão velado que somente os que conhecem essa prece por experiência podem compreender do que se trata. O santo agiu assim guiado pela sabedoria espiritual com a qual seu livro foi escrito. Depois de expor o ensinamento dobre a prece, da forma mais segura e capaz de conduzir o praticante a um estado de graça, Clímaco se expressou da seguinte maneira alegórica sobre o que acontece quando a graça chega para coroar o labor da prece: “Uma coisa é voltar-se frequentemente para o coração, diz ele, e outra, colocar-se no coração sob a supervisão do intelecto, esse príncipe e grande sacerdote que oferece os sacrifícios espirituais a Cristo[103]”. Uma coisa é orar com atenção, com a participação do coração; e outra, é descer pelo intelecto ao templo do coração e aí oferecer uma prece mística cheia de força e da graça de Deus. A segunda procede da primeira. A atenção do intelecto durante a prece atrai a participação do coração. Quando a atenção aumenta, a participação do coração no intelecto se transforma em união entre o coração e o intelecto. Finalmente, quando se opera a fusão da atenção com a prece, o intelecto desce ao coração para nele realizar o profundo ofício sagrado da oração. Tudo isso se realiza sob a direção da graça de Deus, segundo Lhe agrade e de acordo com Seu Juízo. Buscar o segundo estado sem ter realizado o primeiro não apenas é inútil, como ainda poderá causar muitos prejuízos. Para evitar esse risco, o mistério da prece é protegido contra a curiosidade e a leviandade do espírito nesse livro destinado ao uso comum dos monges. Nesse tempo abençoado em que viveram tantos receptáculos da graça, era possível recorrer aos seus conselhos em todas as circunstâncias em que fosse necessário.

Linguagem simbólica dos Padres

Dentre os monges de Raithou para os quais o bem-aventurado João escreveu sua Escada, a oração mental florescia sob a direção de guias espirituais experientes. O santo escritor fez novas alusões à prece, de maneira velada, em sua Carta ao Pastor. Eis como ele se exprimiu: “Antes de tudo, venerável Pai, precisamos de forças espirituais para podermos tomar pela mão como criancinhas e libertar da multidão de pensamentos aqueles que queremos conduzir aos Santo dos Santos, e aos quais esperamos mostrar a Cristo repousando sobre seu altar místico e secreto, e isso na medida em que eles se encontrem na antecâmara desse lugar e que notemos que a multidão os pressiona com o objetivo de impedi-los de fazer a entrada almejada. E, se essas crianças são tão fracas e nuas, devemos colocá-las sobre as nossas espáduas e levá-las até que elas tenham franqueado a porta de entrada. Eu sei perfeitamente que aí existem turbas enfurecidas e agitações de toda espécie. É por isso que alguém já disse a respeito: ‘Esse labor está diante de mim, até que eu entre no santuário de Deus[104]’. Mas o labor dura somente até a entrada[105]”.

Isaac o Sírio

“Quem desejar ver o Senhor em si mesmo deve se esforçar para purificar seu coração pela lembrança incessante de Deus. A pátria spiritual de um homem cuja alma é pura, se encontra dentro dele. O sol que aí brilha é a luz da Santíssima Trindade. O ar que respiram seus habitantes é o Espírito Santo. A vida, a alegria e a felicidade desse país é Cristo, Luz da Luz que é o Pai. Lá está essa Jerusalém, ou esse Reino de Deus oculto em nós, conforme a palavra do Senhor[106]. Nesse país, que é a nuvem de glória de Deus, somente os que são puros de coração poderão entrar para ver a Face de seu Mestre e para que seus intelectos sejam iluminados pelos raios de Sua luz[107]”. “Esforcem-se por entrar na cela que existe em você, e aí você verá a cela celeste. Uma e outra são a mesma: pela mesma entrada você penetrará em ambas. A escada que conduz ao reino dos céus está em você, misteriosamente instalada em sua alma. Mergulhe em si mesmo ao abrigo do pecado, e aí você encontrará os degraus pelos quais você chegará até o céu[108]”.

São Barsanulfo

São Barsanulfo foi um monge que atingiu os mais altos cumes da vida espiritual; ele introduziu seus discípulos no santuário da prece do coração, movido pela graça, e nos estados aos quais ela conduz. Dentre suas instruções, lemos aquela que ele deu a um hesiquiasta que se achava sob sua direção: “Que Deus, o único sem pecado, e que salva os que Nele esperam, fortaleça o amor com o qual você O serve na santidade e na justiça por todos os dias de sua vida, no santuário e sobre o altar do homem interior, onde você oferece a Deus os sacrifícios espirituais, o ouro, o incenso e a mirra, onde é sacrificado o bezerro gordo, onde é derramado o sangue precioso do Cordeiro sem mácula, e onde ressoam os hinos harmoniosos dos santos Anjos. “Então serão oferecidos novilhos sobre o Teu altar[109]”. Então... quando? Quando vier nosso Senhor, esse Grande Sacerdote que oferece e recebe o sacrifício incruento; quando, em Seu Nome, o paralítico sentado à Bela Porta for considerado digno de escutar a alegre notícia: “Levanta-te e caminha[110]”. Então ele entrará no santuário, caminhando, saltando e louvando a Deus. Então chegará ao fim o sono da negligência e da ignorância; então se retirará das pálpebras a sonolência da acídia e da preguiça; então as cindo Virgens acenderão suas lâmpadas[111] e exultarão com o Esposo na santa câmara nupcial, cantando a uma só voz e sem perturbação: “Provai e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que Nele coloca sua esperança[112]”. Então chegarão ao fim as lutas, as profanações e os movimentos; então reinará a paz da Santa Trindade; o tesouro será selado e permanecerá em segurança. Ore para que você possa compreender e realizar essas coisas, e se regozijar em Cristo, nosso Senhor[113]”.

Orar à porta do santuário

O modo grandioso como os Padres descrevem a hierurgia da prece do coração inspira por ela a maior reverência. Essa reverência e a própria prudência exigem de nós que renunciemos a todo esforço prematuro, arbitrário, presunçoso e irrefletido, de entrar no santuário secreto; elas nos ensinam a perseverar na prece atenta, na prece do arrependimento, à porta do templo. A atenção e a contrição de espírito, essa é a cela oferecida como refúgio aos pecadores arrependidos. Ela é a antecâmara do santuário. Aí nos abrigaremos e nos encerraremos, longe do pecado. Que nessa Betesda se assentem todos os que sofrem de paralisia espiritual, todos os leprosos, todos os cegos e todos os surdos, numa palavra, todos os que estão enfermos pelo pecado e que aguardam a agitação das águas[114], a ação da misericórdia e da graça de Deus. O próprio Senhor, e somente Ele, num tempo que somente Ele conhece, concederá, segundo sua insondável benevolência a cura e a entrada no santuário. “Eu conheço aqueles a quem escolhi”, disse o Senhor. “Não foram vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi, disse Ele aos eleitos, e que vos instituí para que ides e produzis frutos, e que vosso fruto permaneça: de tal maneira que tudo o que pedirdes ao Pai em Meu Nome, ele vos concederá[115].

Como começar

O hieromonge Doroteu, asceta e autor espiritual russo, propôs um método excelente para aprender a Prece de Jesus. “Aquele que ora com os lábios, escreveu esse autor, mas que negligencia sua alma e não guarda seu coração, faz com que suas preces subam aos ares, mas não até Deus, e pena em vão, pois Deus está atento ao espírito e ao zelo, e não à multiplicação das palavras. É preciso orar com grande fervor: com toda a sua alma, com todo o seu espírito e com todo o seu coração, com temor a Deus e com todas as suas forças. A oração mental não permite que penetrem na cela interior, nem os delírios, nem os maus pensamentos. Você deseja aprender a prece do intelecto e do coração? Eu o ensinarei. Esteja atento, meu amigo, e obedeça-me. Para começar, você deve dizer a prece vocalmente, ou seja, com os lábios, a língua e a voz, com firmeza e força bastantes para que possa se ouvir. Quando os lábios, a língua e os sentidos estiverem saciados da prece dita vocalmente, a prece vocal cessará e você começará a dizê-la num murmúrio. Depois disso você deverá aprender a fixar constantemente sua atenção sobre a região da frente do pescoço. Então, a um sinal[116], a prece do intelecto e do coração começará a brotar espontaneamente e sem detenção; ela se apresentará por si só e agirá todo o tempo, durante toda atividade e em todo lugar[117]”.

O ensinamento de Serafim de Sarov

O bem-aventurado staretz e hieromonge Serafim de Sarov prescreve ao iniciante, conforme um costume já estabelecido no “deserto” de Sarov, que diga sem cessar a oração: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador”. “Durante a prece, ensina o staretz, esteja atento a si mesmo, ou seja, reúna o seu pensamento e una-o à sua alma. No começo, por um ou dois dias ou mais, faça essa prece apenas com o intelecto, destacando cada palavra e fixando sua atenção sobre cada uma em particular. Quando o Senhor aquecer seu coração com o calor de Sua graça, e unificar todo o seu ser num só espírito, essa prece começará a jorrar em você sem detença, ela estará sempre em você, trazendo-lhe alegria e alimento[118]”. Esse é exatamente o sentido das palavras pronunciadas pelo profeta Isaías: “Teu orvalho é a cura para todos eles[119]”. Mas quando você possuir em si esse alimento da alma – falo do diálogo com o Senhor – que vantagem haverá de ir de cela em cela encontrar os irmãos, mesmo tendo sido convidado? Eu direi francamente: a falação também é uma forma de indolência. Se você não entende por si só, poderá você estabelecer um juízo sobre seja lá o que for, e ensiná-lo aos demais? Cale-se, guarde constantemente o silêncio, lembre-se sempre da presença de Deus e de Seu Nome. Não entre em conversas com ninguém; e ao mesmo tempo evite criticar os conversadores e os que riem. Nesse caso, fique surdo e cego. Seja o que for que digam de você, não preste atenção. Você pode tomar como exemplo Estevão o Novo, cuja prece era incessante, o caráter doce, os lábios silenciosos, o coração humilde, o espírito contrito, o corpo e a alma puros, a virgindade imaculada, a despossessão real e a pobreza, a de um eremita; ele obedecia sem murmurar, era paciente em seu ofício e consciencioso no trabalho. Quando você estiver sentado à mesa, não olhe nem critique a quantidade que os outros comem, mas fique atento a si mesmo e alimente sua alma com a oração[120]”.

A vida ativa precede a vida contemplativa

Depois de ter dado essa instrução ao monge iniciante que leva a vida ativa nos trabalhos monásticos e de ter ensinado a prática da prece que lhe convém, o ancião proíbe-o de se lançar de maneira prematura e irrefletida na vida contemplativa e na forma de prece que lhe corresponde. “Todo homem, diz ele, que deseja levar uma vida espiritual deve começar pela vida ativa e só depois entrar na vida contemplativa, pois é impossível chegar à segunda sem ter antes passado pela primeira. A vida ativa nos purifica de nossas paixões pecadoras, faz com que nos elevemos até a perfeição ativa e, por isso mesmo, nos franqueia o caminho que conduz à vida contemplativa. Dela só podem se aproximar os que se purificaram de suas paixões e que receberam uma formação completa na vida ativa, como podemos ver pelas palavras da Escritura: “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus[121]”, e pelas de São Gregório o Teólogo: “Só podem se aproximar da contemplação aqueles que adquiriram uma experiência perfeita na vida ativa”. É preciso se aproximar da vida contemplativa com temor e tremor, com um coração contrito e humilhado, depois de perscrutar longamente as Santas Escrituras e estando sob a direção de um guia experiente – se for possível encontrar um – e não com temeridade e por sua própria conta. No dizer de Gregório o Sinaíta, o homem temerário e presunçoso busca um estado espiritual que o ultrapassa e se esforça com orgulho para atingi-lo prematuramente. E mais: se, inspirado por um desejo satânico e não verdadeiro, alguém sonha em sua imaginação alcançar um estado elevado, o diabo o apanhará em sua rede e fará dele um escravo[122]”.

Vigilância e prece incessante

Mesmo nos colocando em guarda contra uma busca orgulhosa dos estados superiores da prece, o staretz insiste na necessidade, para todos os monges, incluindo os noviços e os mais jovens, de uma vida atenta e uma prece incessante. Ele observou que, na maioria dos casos, a orientação tomada por um monge quando de sua entrada no mosteiro permanece determinante por toda a sua vida. “Somente aqueles que possuem uma atividade interior e que vigiam sua alma, afirma Serafim, recebem os dons da graça[123]”. “Os que realmente decidiram servir a Deus devem se exercitar na lembrança de Deus e na prece incessante do Senhor Jesus Cristo, dizendo em espírito: ‘Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador’. Com a condição de que a pessoa se proteja das tentações e que guarde a paz da alma, essa prática permite se aproximar de Deus e se unir a Ele. Segundo as palavras de Santo Isaac o Sírio, não podemos nos aproximar de Deus se não for pela prece incessante[124]”.

Mesmo durante os ofícios

Para escapar mais facilmente das distrações e permanecer atento, Serafim aconselha aos monges e noviços que desejam praticar a Prece de Jesus, que se mantenham em pé na igreja durante os ofícios, com os olhos fechados, não os abrindo senão ao se sentirem oprimidos pela sonolência. Nesse caso, ele aconselha dirigir o olhar aos santos ícones, o que protege ainda das distrações e incita à oração[125]”.

O iniciante deve se habituar de maneira cômoda à Prece de Jesus durante os longos ofícios monásticos. Quando os assistimos, que vantagem temos em deixar os pensamentos errar por aí, coisa que é estéril e prejudicial à alma? Isso é difícil de evitar, se o espírito não estiver ligado a alguma coisa. Aplique-se, então,  à Prece de Jesus: ela reterá seu espírito e o impedirá de vagar; você se tornará mais recolhido, mais profundo; estará mais atento às leituras e aos cânticos litúrgicos e, ao mesmo tempo, sem sequer se dar conta, e progressivamente, você aprenderá a oração mental.

Ver sem ver

Aos que desejam levar uma vida atenta, Serafim recomenda que não prestem atenção aos ruídos referentes aos diversos fatos que enchem a cabeça de pensamentos e de lembranças vãs e inúteis: ele recomenda que não nos ocupemos dos negócios dos outros, que não pensemos neles, não os julguemos nem falemos deles; ele recomenda fugir das conversas, conduzir-se como estrangeiros, honrar os padres e os irmãos ao encontrá-los, com uma silenciosa inclinação, mas evitando olhá-los com insistência[126], pois um olhar assim deixa inevitavelmente na alma uma impressão que provocará nela distrações que irão captar sua atenção e a desviarão da prece. De modo geral, quem quer levar uma vida atenta não deve olhar fixamente nem escutar com especial cuidado, mas deve ver como quem não vê e escutar o mínimo e de passagem, para que a memória e a força da atenção estejam sempre livres, estranhas às impressões do mundo, aptas e disponíveis para receber as impressões divinas.


VII
A ATENÇÃO, FUNDAMENTO DA PRECE


Vimos que os métodos preconizados pelo hieromonge Doroteu e pelo staretz Serafim de Sarov são idênticos àqueles recomendados por São João Clímaco. Esse último expôs seu método com uma clareza e precisão particulares. Esse Padre está dentre os mais antigos e mais ilustres mestres do monaquismo, e é reconhecido como tal por toda a Igreja; os santos escritores que vieram depois se referem a ele como um mestre cheio de autoridade, como um receptáculo vivo do Espírito Santo.

A atenção durante a prece

Isso nos autoriza a recomendar com plena segurança o uso geral desse método aos nossos padres e irmãos bem-amados, não apenas aos que vivem nos mosteiros, como também àqueles que vivem no mundo e que possuem o real desejo de orar sinceramente, com proveito e de um modo que agrade a Deus. Não podemos evitar esse método: se o dissociarmos da prece, isso equivaleria a eliminar dela a atenção; ora, sem a atenção, a prece sequer é prece: ela é morta! Ela não passa de um palavrório inútil e nocivo à alma, e que ofende a Deus. Quem ora com atenção, ora necessariamente mais ou menos segundo esse método. Se a atenção aumenta e é reforçada, o modo de prece recomendado pelo divino João aparecerá sem falta. “Peça com lágrimas, diz ele, peça por meio da obediência, bata com paciência: com efeito, quem pede recebe, que procura encontra, e a quem bate, será aberto[127]”.

Orar com lentidão

A experiência não tardará a mostrar que, quando utilizamos esse método, em particular no começo, devemos pronunciar as palavras com extrema lentidão para que o intelecto tenha tempo de penetrar, tanto nas palavras, como nas formas; e não é possível fazer isso depois de uma rápida leitura. O método de São João é também frutífero quando se pratica a Prece de Jesus, assim como quando lemos as orações na cela e mesmo quando da leitura da Escritura e dos textos patrísticos. Devemos nos habituar como se lêssemos destacando as sílabas, com a mesma lentidão. Quem se acostuma com essa maneira de fazer, de fato, acaba por adquirir a prece vocal, mental e do coração, acessível a todos os homens que levam uma vida ativa.

Em todas as circunstâncias

Eis o modo como Calixto, o santo Patriarca de Constantinopla, fala da prece: “A prece incessante consiste em invocar continuamente o Nome divino. Quer falemos, quer estejamos sentados, ou que caminhemos, ou que estejamos ocupados com qualquer outra atividade, devemos, em todo tempo e lugar, invocar o Nome divino, conforme manda a Escritura: “Orai sem cessar[128]”. Assim são desmontados os complôs que o Inimigo trama contra nós. É preciso orar com o coração; e é preciso orar também com os lábios, quando estamos a sós. Mas quando nos encontramos no mercado, ou em companhia de outras pessoas, não devemos orar com os lábios, mas somente em pensamento. É preciso vigiar nossos olhos e mantê-los baixos para nos protegermos das distrações e das malhas do Inimigo. A prece atinge sua perfeição quando é dirigida a Deus sem desvios do intelecto e sem distrações, quando todos os pensamentos e todos os sentimentos do homem se reúnem e se unem na prece. A prece e a salmodia não devem ser cumpridas apenas com o intelecto, mas também com os lábios, como disse o profeta Davi: “Senhor, abre os meus lábios, e a minha boca anunciará o teu louvor[129]”. Também o Apóstolo mostra que os lábios participam da prece, quando diz: ‘Ofereçamos a Deus um sacrifício de louvor, ou seja, o fruto dos lábios que confessam Seu Nome’[130]”.

Um pouco de uma, um pouco de outra

A um monge que lhe perguntava como deveria orar, São Barsanulfo o Grande deu a seguinte resposta: “É preciso se exercitar um pouco na salmodia, orar um pouco vocalmente; e também precisamos de tempo para examinar e supervisionar nossos pensamentos. Aquele cuja refeição é composta de pratos variados come com grande apetite, enquanto que quem come todo dia a mesma coisa, não somente come sem prazer, como acabará sentindo uma aversão pela comida. O mesmo acontece no nosso caso. Não se limite à salmodia e à prece vocal, mas faça-o segundo a força que o Senhor lhe der. Não abandone a leitura e a prece interior. Um pouco de uma, um pouco de outra, e assim você passará seu dia de um modo que agrade a Deus. Nossos Padres perfeitos não tinham uma regra definida, mas faziam sua regra ao longo de toda a jornada; eles se exercitavam um pouco na salmodia, liam algumas preces em voz alta, examinavam um pouco seus pensamentos, e também se ocupavam – pouco, é verdade – de sua alimentação. Mas a tudo isso, eles faziam com temor a Deus[131]”.

A prece vocal

É assim que esse santo Padre, muito avançado no caminho da prece, se expressou ao instruir seu irmão. A experiência mostrará a todo homem que se exercita na oração, que o fato de dizer a Prece de Jesus e, em geral, todas as orações com uma certa participação da voz, é de grande auxílio para que o intelecto não seja pego pelas distrações. No caso de um ataque violento do Inimigo, quando sentimos um enfraquecimento da vontade e um obscurecimento do intelecto, é indispensável recorrer à prece vocal. Uma prece vocal atenta é ao mesmo tempo uma Prece do intelecto e do coração.

Condenar a si mesmo

 Nosso modesto propósito não visa absolutamente impedir nossos padres e irmãos bem-amados de progredir até os modos superiores da prece; ao contrário, é o que desejamos de todo coração. Possam todos os monges ser semelhantes aos Anjos e aos Arcanjos, a quem o amor de Deus mantém acordados noite e dia e que não deixam de fazer subir até Ele incessantes louvores. É justamente para que eles recebam no momento certo o inestimável tesouro da prece que os colocamos em guarda contra uma prática prematura, errônea e temerária. Não é permitido aspirar a descobrir em si a prece do coração a partir de um impulso inconsiderado; esse impulso é proibido porque sua causa reside na ignorância ou num conhecimento insuficiente, e no fato de a pessoa se considerar orgulhosamente como sendo capaz dessa prece, que é dada pela graça, e como sendo digno dela; esse impulso é proibido porque é impossível descobrir em si mesmo e por seus próprios esforços, a prece dada pela graça; esse impulso que busca com frenesi forçar as portas do templo de Deus é proibido para que ele não impeça que um dia que a bondade de Deus nos mostre sua piedade, que, indignos que somos, nos considere dignos, e que nos conceda esse dom, esse dom que condena aos tormentos eternos das prisões infernais aqueles que não sabem esperar.

As folhas vêm primeiro

Esse dom é concedido àquele que se humilhou e se rebaixou diante da grandeza de tal favor; esse dom é concedido a quem renunciou à sua própria vontade e se entregou à vontade de Deus; esse dom é concedido àquele que domou e mortificou em si a carne e o sangue, que domou e mortificou em si a sabedoria carnal, por meio dos mandamentos do Evangelho. A vida resplandece proporcionalmente ao grau de mortificação. Vinda de improviso, unicamente pela benevolência, a vida se desenvolve e completa a mortificação iniciada voluntariamente. Aqueles que buscam com imprudência os estados elevados da prece, sobretudo se forem obstinados e guiados por um espírito de presunção e de orgulhosa autossuficiência, são sempre marcados pelo selo da exclusão, de acordo com as disposições da lei espiritual[132]. É muito difícil, e na maior parte dos casos é impossível, retirar esse selo. Por qual motivo? Porque o orgulho e a presunção que conduzem à cegueira espiritual e que fazem com que entremos em relação com os demônios, submetendo-nos a eles, impede que possamos discernir a falsidade de nossa situação, não permitindo que vejamos nem nossas deploráveis relações com os demônios, nem nossa terrível servidão em relação a eles. “Primeiro dê folhas, e então, quando Deus ordenar, dê frutos”, dizem os Padres[133]. Adquira, para começar, a prece atenta; àquele que primeiramente se purificou e se preparou por meio da prece atenta, àquele que se formou e se fortaleceu pelos mandamentos do Evangelho, e que se assentou sobre eles, Deus, o Deus misericordioso, dará no momento certo a prece movida pela graça.

O verdadeiro mestre

O verdadeiro mestre da prece é Deus; a verdadeira prece é um dom de Deus[134]. É o próprio Deus que faz progredir pouco a pouco na prece aquele que ora com o espírito quebrantado, constantemente, com temor a Deus e atenção. Da prece atenta e humilde nascem uma atividade espiritual e um fervor espiritual que fazem com que o coração reviva. Votando à vida, o coração atrai o Espírito e se torna o templo da prece movida pela graça[135], e o receptáculo dos dons espirituais que essa prece tem a propriedade de conceder.

O fogo espiritual

“Esforce-se, dizem os grandes ascetas e mestres da prece, com um coração dolorido, para ganhar o fervor e a prece, e Deus lhe concederá obtê-los para sempre. O esquecimento os põe em fuga; e o esquecimento provém da negligência[136]”. “Se você quiser se desembaraçar do esquecimento e do cativeiro, você não poderá fazê-lo se não possuir em si o fogo espiritual; somente o calor pode fazer desaparecer o esquecimento e o cativeiro. Obtemos esse fogo pelo desejo de Deus. Irmão, se seu coração não procura pelo Senhor dia e noite com dor, você não poderá progredir. Mas se você abandonar tudo e só se ocupar disso, você chegará onde quer, como diz a Escritura: ‘Rendei-vos e vede’[137]”.

Os frutos da vigilância

“Irmão, suplique pela bondade Daquele que quer ‘que todos os homens sejam salvos e alcancem o conhecimento da verdade[138]’, a fim de que Ele lhe dê a vigilância espiritual que abrasa o fogo espiritual. O Senhor, Mestre do céu e da terra, veio à terra para fazer descer sobre ela esse fogo[139]. E eu oro, eu também, com você, segundo as minhas forças, para que Deus lhe dê essa vigilância, Ele que concede a graças a todos os que Lhe pedem com esforço e perseverança. E quando ela vier, ela o colocará por inteiro no caminho da verdade. Ela iluminará seus olhos, endireitará seu intelecto, expulsará o sonho da gula e da negligência, dará brilho à arma que se cobre de ferrugem sob a terra da preguiça, dará novo lustro às vestes manchadas pelo cativeiro entre os bárbaros, fará com que você deteste a repugnante carniça que é seu alimento, inspirará em você o desejo de se saciar da grande vítima oferecida em sacrifício por nosso Grande Sacerdote. A respeito dessa vítima, foi revelado ao Profeta que ela apaga os pecados e retira as nossas iniquidades[140]. Ela perdoa os que choram, concede Sua graça aos humildes[141], aparece naqueles que são dignos, e por meio dela eles herdam a vida eterna, em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo[142]”.

A vigilância espiritual[143]

“A vigilância espiritual ou sobriedade é uma arte espiritual que, com a ajuda de Deus, liberta por completo o homem das ações pecadoras, dos pensamentos e palavras passionais, quando exercida por um tempo prolongado e com grande zelo. Ela é o silêncio do coração; é a guarda do intelecto; é a atenção sobre si mesmo que, livre de todo pensamento, invoca sempre, sem interrupções e sem cessar, a Cristo Jesus, Filho de Deus e Deus, que respira por Ele, que com Ele parte corajosamente para a guerra contra os inimigos, e que se confessa a Ele”. Essa é a definição da vigilância espiritual dada por Santo Hesíquio de Jerusalém[144]. Todos os outros Padres estão de acordo com ele[145].

Quando desce o fogo sobre o coração, ele dá nova vida à prece; quando essa ressuscita, ela sobe ao céu; então se produz a descida do fogo na câmara alta da alma[146]”. Essas palavras foram ditas pela chama do Sinai, João Clímaco. É evidente que o Santo fala de sua própria experiência.

A prece dada pela graça

Algo de semelhante aconteceu também a São Máximo o Capsocalivita. “Desde minha juventude, contou ele a São Gregório o Sinaíta, eu tinha uma grande fé em nossa Senhora, a Mãe de Deus, e orava para ela com lágrimas, para que me concedesse a graça da oração mental. Um dia, eu fui como de costume à sua igreja e orava a ela com fervor para isso. Eu me aproximei de seu ícone e comecei a beijá-lo com veneração quando, subitamente, senti um calor invadir meu peito e meu coração; esse calor não queimava, mas, ao contrário, enchia-me de delícias como um orvalho e levava minha alma a um humilde enternecimento. A partir desse momento, meu coração permaneceu em oração e meu intelecto se deleitou com a lembrança de meu Jesus e da Mãe de Deus, e eu então tive sem cessar o Senhor Jesus dentro de mim. Desde esse dia, a prece jamais se interrompeu no meu coração[147]”.

A prece movida pela graça aparece subitamente, de maneira inesperada, como um dom vindo de Deus; a alma do Santo havia sido preparada para a recepção desse dom por uma prece fervorosa, atenta, humilde e constante. A prece movida pela graça não habitou no Santo sem produzir nele seus frutos habituais, que são totalmente desconhecidos e estranhos ao estado carnal e psíquico do homem.

Primeiro vem o arrependimento

Georges, recluso de Zadonsk, descreveu a partir de sua própria experiência a grande aparição do fogo espiritual no coração[148], o fogo do amor de Deus. Mas antes ele havia recebido o dom divino do arrependimento, que purificou seu coração previamente; esse dom, agindo como um fogo, havia consumido tudo o que manchava o palácio do Senhor santo e poderoso[149], e havia mergulhado seu corpo na extinção.

O fogo queima e ilumina

“O fogo santo e celeste, diz São João Clímaco, queima alguns homens por não estarem ainda suficientemente puros; outros, ao contrário, ele os ilumina na medida de sua perfeição. O mesmo fogo se chama fogo que consome e luz que ilumina. É por isso que alguns saem de sua prece como de um banho muito quente, sentindo um certo alívio de sua sujeira e materialidade, enquanto outros saem resplendentes de luz e revestidos da dupla vestimenta da humildade e da alegria. Quanto àqueles que, após a prece, não sentem nenhum desses dois efeitos, é porque oram corporalmente, e não espiritualmente[150]”.  Por prece espiritual, devemos entender aqui a prece movida pela graça divina; quanto à prece corporal, é aquela que o homem realiza por seus próprios esforços sem o concurso manifesto da graça. O segundo modo de prece é indispensável, conforme sublinha João Clímaco, para que nos seja dada, a seu tempo, a prece que procede da graça[151]. Mas por que meios a prece movida pela graça anuncia sua chegada? Ela o faz por lágrimas sobrenaturais, e então o homem franqueia as portas do santuário de Deus – seu próprio coração – com gemidos inefáveis[152].



[1] Lucas 2: 34.
[2] Monge de “grande hábito” Basílio de Polianomeroul; seus escritos foram publicados juntamente com os do Staretz Païssy Vélitchkovsky pelo Mosteiro de Optima Poustyne, Moscou, 1847.
[3] Salmo 40: 19.
[4] Salmo 30: 20.
[5] Salmo 19: 8.
[6] CF. Regra Monástica, 2.
[7] Da hesíquia e das duas maneiras de orar, 2, in Filocalia, tomo IV.
[8] João 14: 13-14.
[9] João 16: 23-24.
[10] Em hebraico, Jesus significa “Salvador”. CF. Mateus 1: 21.
[11] Cf. o Grande Saltério Litúrgico.
[12] CF. Ibidem.
[13] “Aquele que porta Deus em si”.
[14] Tendo notícias da grande coragem de Santo Inácio, Trajano refletiu e suspendeu a perseguição aos Cristãos. (Menologion, 20 de Dezembro)
[15] Mateus 18: 3-4. Cf. Marcos 9: 36, e Menologion, 20 de Dezembro.
[16] Pastor de Hermas, Parábola 9, capítulo 14. O Livro de São Hermas era especialmente apreciado na Igreja primitiva; às vezes ele era ligado ao Novo testamento e era lido durante os ofícios litúrgicos.
[17] Menologion, 27 de Setembro.
[18] Cf. Hesíquio, Discursos sobre a vigilância e a virtude, 1, in Filocalia, tomo I; a crítica moderna atribui esses escritos a Hesíquio de Batos, provavelmente Higoumeno do Mosteiro do Sinai nos séculos VII e VIII.
[19] Cf. Instruções, Moscou, 1844.
[20] Inácio de Briantchaninov escrevia em meados do século XIX.
[21] Atos 4: 8-12.
[22] Romanos 10: 13.
[23] Filipenses 2: 8-10.
[24] Salmo 71: 8, 11, 14, 15, 17, 19.
[25] Salmo 71: 9.
[26] Salmo 8: 2-3.
[27] São Nilo de Sora, Regra Monástica, 9.
[28] Salmo 112: 1-3.
[29] Salmo 28: 2.
[30] Salmo 9: 11.
[31] Salmo 73: 21.
[32] Salmo 39: 5.
[33] Salmo 118: 55.
[34] Capítulos muito úteis, Sobre a maneira de cantar, in Filocalia, tomo IV.
[35] Salmo 117: 10-12.
[36] A Escada Santa, XX, 7.
[37] Salmo 43: 6-9.
[38] Salmo 137: 1-3.
[39] Salmo 110: 9.
[40] Salmo 78: 9.
[41] Salmo 53: 3-4.
[42] Salmo 68: 36-37.
[43] Cf. João 11: 25.
[44] Salmo 142: 11.
[45] Salmo 79: 19.
[46] Salmo 60: 6-8.
[47] Salmo 149: 1.
[48] Salmo 149: 2-3.
[49] Salmo 85: 11-13.
[50] Salmo 139: 14.
[51] Salmo 102: 1.
[52] Salmo 148: 11-13.
[53] Marcos 16: 17;
[54] João 13: 27
[55] Efésios 2: 1-3.
[56] Cf. Mateus 12: 43-45. Ver Teofilacto da Bulgária (séc. XI), Comentários.
[57] Cf. São Gregório o Sinaíta, Da Hesíquia, 3, Sobre a respiração, in Filocalia, Tomo IV.
[58] João 11: 25.
[59] Marcos 16: 17.
[60] Marcos 9: 20.
[61] Cf. Marcos 9: 17-27. Barsanulfo e João de Gaza, Correpondência, Resposta 202.
[62] Ibid. Resposta 304.
[63] João Crisóstomo, citado por Calixto e Inácio Xanthopoulos, Centúria 49, in Filocalia, tomo IV.
[64] Discursos, I, 1.
[65] Homilias Espirituais, II, 1-2.
[66] Calixto e Inácio Xanthopoulos, op. cit., 56.
[67] Mateus 14: 33.
[68] Simeão o Novo Teólogo, Método para a santa prece e a atenção: A Terceira Prece, in Filocalia, tomo V.
[69] Cf. Ibid.
[70] Cf. Eclesiástico 48: 21.
[71] Hebreus 4: 12.
[72] Cf. Gregório o Sinaíta, Da Hesíquia, 4, Como encontrar a energia, in Filocalia, tomo IV.
[73] Lucas 10: 17.
[74] Lucas 10: 9.
[75] Cf. Marcos 16: 17.
[76] Lucas 10: 20.
[77] Comentários sobre os Evangelhos.
[78] Lucas 10: 21.
[79] Lucas 10: 22.
[80] Correspondência, Resposta 90.
[81] Cf. Grande Saltério Litúrgico.
[82] Cf. Mateus 9: 20-22.
[83] Homilias sobre a Epístola aos Romanos, 8.
[84] Cf. Livro de Preces, ed. de la Laure des Grottes de Kiev.
[85] Cf. Correspondência, Resposta 143; cf. São Gregório o Sinaíta, Da Hesíquia, 4, in Filocalia, tomo IV.
[86] Lembramos que Inácio Briantchaninov era russo, tendo vivido no século XIX.
[87] Cf. Menologion, 1 de Abril.
[88] Da Oração Mental, 1, Optina Poustyne, 1847.
[89] Ibid., 4.
[90] Cf. Staretz Basílio, Introdução aos escritos de São Gregório o Sinaíta.
[91] Cf. Staretz Basílio, Introdução aos escritos do bem-aventurado Filoteu o Sinaíta.
[92] Regra Monástica, 11.
[93] Salmo 6: 9-10.
[94] Eclesiastes 3: 1.
[95] Regra Monástica, 11; Escada Santa, XXVI, 70.
[96] São Gregório o Sinaíta visitou Athos no século XIV. Nessa época, na Palestina e no Egito sobretudo, o monaquismo estava quase que inteiramente destruído pelos muçulmanos, que haviam estendido seu domínio sobre esses territórios desde o começo do século VIII. Na época de São Gregório o Sinaíta o ensino sobre a oração mental era extremamente raro. Podemos considera-lo como o restaurador desse ensino, conforme está na sua curta biografia que consta da Filocalia. Entretanto, mesmo na época de São Gregório o Sinaíta, existiam monges que atingiram o mais alto grau da prece, como, por exemplo, Máximo o Capsocalivita, que vivia no Monte Athos; Gregório beneficiou-se particularmente dos ensinamentos de Máximo, a quem ele chamava de “Anjo terrestre” (Cf. Filocalia, Tomo V). São Gregório foi iniciado na prece hesiquiasta por um monge da ilha de Chipre; antes de tomar conhecimento dela por meio dele, ele só praticava a salmodia; segundo outras fontes, esse encontro aconteceu em Creta.
[97] Vida e escritos do Starez Moldavo Païssy Velitchkovsky, Optina Poustyne, 1847.
[98] Jó 38: 11.
[99] Escada Santa XXVIII, 17.
[100] Ibid., XXVIII, 19.
[101] Ibid., IV, 101.
[102] Dos que imaginam que a justificação vem pelas obras, cap. 3, Filocalia Tomo I.
[103] Op. cit., XXVIII, 54.
[104] Salmo 72: 16-17.
[105] Escada Santa, “Carta ao Pastor”, 93.
[106] Lucas 17: 21.
[107] Santo Isaac o Sírio, Discursos Ascéticos, 8.
[108] Ibid., 2.
[109] Salmo 50, 21.
[110] Atos 3: 6.
[111] Cf. Mateus 25: 3.
[112] Salmo 33: 9.
[113] Correspondência, Carta 9.
[114] Cf. João 5: 3.
[115] João 15: 16.
[116] Ou seja, sob o efeito da graça de Deus.
[117] Antologia, Meditação 32.
[118] São raros os que recebem a união do intelecto e do coração em tão pouco tempo após iniciar a ascese da prece; normalmente são precisos muitos anos a partir do início desse esforço ascético até a união, produzida pela graça, entre o intelecto e o coração: devemos provar a sinceridade de nossa determinação por meio de nossa constância e de nossa paciência.
[119] Isaías 26: 19.
[120] Instruções, 32.
[121] Mateus 5: 8.
[122] Ibid., 29.
[123] Ibid., 4.
[124] Ibid., 11.
[125] Ibid., 11.
[126] Ibid., 6.
[127] Escada Santa, XXVIII, 59; cf. Mateus 7: 8.
[128] II Tessalonicenses 5: 17.
[129] Salmo 50: 17.
[130] Capítulos sobre a Prece, in Filocalia, Tomo IV; Hebreus 13: 15.
[131] Correspondência, Resposta 85.
[132] “Quando o rei entrou para ver os convidados, observou aí alguém que não estava usando o traje de festa. E lhe perguntou: ‘Amigo, como foi que você entrou aqui sem o traje de festa?’ Mas o homem nada respondeu. Então o rei disse aos que serviam: ‘Amarrem os pés e as mãos desse homem, e o joguem fora na escuridão. Aí haverá choro e ranger de dentes.’” (Mateus 22: 11-13).
[133] Barsanulfo e João de Gaza, op. cit., Resposta 238.
[134] Cf. A Escada Santa, XXVIII, 64.
[135] Cf. Teófano o Monge, Escada dos Dons Divinos, in Filocalia, Tomo II; Calixto e Inácio Xanthopoulos, op. cit., 54, in Filocalia, Tomo IV; Serafim de Sarov, Instruções, 11.
[136] Cf. Barsanulfo e João de Gaza, op. cit., Respostas 267 e 277. As respostas relatadas aqui foram dadas ao abade Doroteu que se dedicava, com a bênção desses Padres, à incessante lembrança de Deus, a Prece de Jesus praticada mentalmente. Os Padres haviam recomendado ao abade de jamais fraquejar nessa ascese, mas de “semear na esperança”, cf. Resposta 266.
[137] Ibid., 277.
[138] I Timóteo 2: 4.
[139] Cf. Lucas 12: 29.
[140] Cf. Isaías 6: 7.
[141] Provérbios 3: 34.
[142] Ibid., Resposta 197.
[143] A “nepsis” dos Padres, composta pela sobriedade e a vigilância.
[144] Capítulos sobre a Vigilância e a Virtude, 1, 3 e 5, in Filocalia, Tomo I.
[145] Cf. Nicéforo, Tratado da Vigilância e da Guarda do Coração, in Filocalia, Tomo IV. Cf. Simeão o Novo Teólogo, Método para a Santa Prece e a Atenção, in Filocalia, Tomo V.
[146] Escada Santa, XXVIII, 48; cf. Atos 1: 13; 2: 3-4.
[147] Filocalia, Tomo V.
[148] Inácio Briantchaninov, Experiências Ascéticas, Tomo II, “Do temor a Deus e do amor a Deus”.
[149] Cf. Isaac o Sírio, Discursos ascéticos, 68.
[150] A Escada Santa, XXVIII, 54.
[151] Cf. ibid., XXVIII, 16, 21 e 26.
[152] Cf. Romanos 8: 26.

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