Tradução para o
francês do Hieromonge Simeão
Mosteiro São João
Batista, Tolleshunt Knights, Essex
I
A PRECE DE JESUS NA TRADIÇÃO DA
IGREJA
Propondo-me a falar da Prece de Jesus, eu me volto agora para Ele para
que, em sua bondade e onipotência, Ele socorra a fraqueza de meu espírito. E
nesse momento eu me lembro das palavras do Justo Simeão a respeito do Senhor: “Eis
que este menino vai ser causa de queda e elevação de muitos em Israel. Ele será
um sinal de contradição[1]”.
Assim como o Senhor foi, e segue sendo em nossos dias, um verdadeiro sinal –
sinal de contradição e objeto de desacordo e de discórdia entre os que O
conhecem e os que não O conhecem – também a invocação de Seu Nome, que é, na
acepção plena do termo, um sinal grande e maravilhoso, se tornou depois de
algum tempo um objeto de desacordo e de discórdia entre aqueles que a praticam
e aqueles que não a praticam. Um Padre notou, com muita justeza, que esse modo
de oração só é rejeitado pelos que não o conhecem e que o criticam com base em
preconceitos e em concepções errôneas[2].
Sem prestar atenção aos clamores levantados pelos preconceitos e pela
ignorância, e colocando nossa esperança na misericórdia e no socorro de Deus,
apresentamos aos nossos pais e irmãos bem-amados nosso modesto tratado sobre a
Prece de Jesus, fundamentando-nos na santa Escritura, sobre a Tradição da
Igreja e sobre os escritos patrísticos nos quais se encontra exposto o
ensinamento relativo a essa santa e poderosa oração. “Que se calem, os lábios
ímpios, que falam com audácia contra o Justo[3]”
e contra seu Nome maravilhoso, “com arrogância” e uma profunda ignorância
acompanhada de desdém em relação ao milagre de Deus.
Quando consideramos a grandeza do Nome de Jesus e o poder de salvação
contido em sua invocação, exclamamos com alegria e maravilhamento espirituais:
“Senhor, quão grande é a Tua bondade, que Tu reservas para aqueles que Te
temem, que confias àqueles que buscam em Ti seu refúgio diante dos filhos dos
homens[4]”.
“alguns confiam em seus carros, outros em seus cavalos[5]”
– sobre as vãs especulações da sabedoria carnal – mas nós, com a simplicidade e
a fé das crianças, “invocamos no Nome do Senhor, nosso Deus”.
A fórmula
A Prece de Jesus se diz assim: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus,
tem piedade de mim, pecador”. Originalmente, ela era dita sem a palavra
“pecador”; só depois ela foi acrescentada às demais palavras da prece. Essa
palavra, que exprime a consciência e a confissão da queda, se aplica bem a
todos nós, lembra São Nilo de Sora, e agrada a Deus, que nos ordenou
dirigir-Lhe preces com a consciência e a confissão de nosso estado de pecado[6].
Levando em consideração a fraqueza dos iniciantes, os Padres os
autorizaram a dividir a prece em duas partes, e a dizer tanto “Senhor Jesus
Cristo, tem piedade de mim, pecador”, como “Filho de Deus, tem piedade de mim,
pecador”. Isso não passa de uma permissão, uma concessão, não sendo
absolutamente uma ordem ou uma prescrição que deva ser seguida à risca. É
melhor utilizar sempre a mesma fórmula inteira, sem se preocupar em alterá-la,
coisa que distrai o espírito. Mesmo aquele que, devido à sua fraqueza, sente a
necessidade de alternar as fórmulas, não deve se permitir fazê-lo com frequência.
Podemos, por exemplo, utilizar uma metade da prece até a hora do almoço, e
outra à tarde. São Gregório o Sinaíta desaconselha as mudanças frequentes ao
dizer: “As árvores que são mudadas com frequência não formam raízes[7]”.
A prece, instituída por Cristo
Orar por meio do Nome de Jesus é uma instituição divina. Ela foi
introduzida não por intermédio de algum Profeta, de um Apóstolo ou de um Anjo,
mas pelo próprio Filho de Deus. Depois da Ceia mística, o Senhor Jesus Cristo
deu aos seus discípulos mandamentos e preceitos sublimes e definitivos; e,
dentre esses, encontra-se a prece de Seu Nome. Ele apresentou esse modo de
oração como um dom novo e extraordinário, de valor inestimável. Os Apóstolos já
conheciam em parte o poder do Nome de Jesus: por meio dele eles curavam os
doentes incuráveis, por meio dele submetiam os demônios, dominavam-nos,
acorrentavam-nos e expulsavam-nos. Foi esse Nome poderoso e maravilhoso que o
Senhor ordenou utilizar nas orações, prometendo que ele agiria de maneira
especialmente eficaz. “Tudo o que pedirdes ao Pai em Meu Nome”, disse Ele aos
seus Apóstolos, “vos será concedido, a fim de que o Pai seja glorificado no
Filho. Se pedirdes qualquer coisa em Meu Nome, Eu o concederei[8].
Em verdade, em verdade, Eu vos digo, que aquilo que pedirdes ao Pai em Meu
Nome, Ele vo-lo dará. Até agora não pedistes nada em Meu Nome. Pedi e
recebereis, a fim de que vossa alegria seja completa[9]”.
O Nome divino
Que dom maravilhoso! Ele é a garantia dos bens eternos e infinitos.
Ele provém dos lábios de Deus, que, transcendendo toda limitação, revestiram-se
de uma humanidade limitada e tomou um nome humano: “Salvador[10]”.
Quanto à sua forma exterior, esse Nome é limitado, mas, por representar um
objeto ilimitado – Deus – ele recebe Dele um valor ilimitado e divino, ou seja,
as propriedades e o poder do próprio Deus. “Generoso doador de um dom precioso
e incorruptível! Como podemos nós, pecadores miseráveis que somos, receber esse
dom? Nem nossas mãos, nem nosso intelecto, nem nosso coração, são capazes disso.
Ensina-nos Tu mesmo, na medida das nossas possibilidades, a grandeza desse dom,
seu significado e a maneira de recebê-lo e utilizá-lo, para que não nos
aproximemos dele de modo indigno e sofrermos assim um castigo por causa de
nossa louca temeridade, mas para que, graças à sua compreensão e à sua
utilização corretas, recebamos de Ti os outros dons que prometestes e que só Tu
conheces”.
A prática dos Apóstolos
Nos Evangelhos, nos Atos e nas Epístolas, vemos a confiança sem limites
dos santos Apóstolos no Nome do Senhor Jesus, sua veneração infinita por ele.
Foi por meio dele que eles realizaram os sinais mais extraordinários. É verdade
que não encontramos nenhum exemplo que nos ensine sobre a maneira como eles
oravam utilizando o Nome do Senhor, mas é certo que o faziam. Como poderiam
eles agir de outra forma, se esse mandamento lhes havia sido dado e confirmado
em duas ocasiões? Se a Escritura silencia a esse respeito é apenas porque essa
prece era de uso comum; não haveria nenhuma necessidade de mencioná-la
especialmente, pois ela era bem conhecida e sua prática era generalizada.
Uma regra antiga
Que a prece de Jesus era largamente conhecida e praticada, isso se
deduz claramente a partir de uma prescrição da Igreja que recomendava aos
iletrados de substituir todas as orações escritas pela Prece de Jesus[11].
A antiguidade dessa prescrição não deixa nenhuma dúvida. Em seguida, ela foi
complementada para levar em conta o aparecimento na Igreja de outras preces
escritas. São Basílio o Grande teria redigido essa regra de prece voltado para
seu rebanho; pelo menos, muitos atribuem a ele sua paternidade. No entanto,
certamente ela não foi criada nem instituída por ele; ele se limitou a colocar
por escrito a tradição oral, exatamente como o fez com as orações da Liturgia.
Essas orações, que existiam desde os tempos apostólicos, não estavam escritas,
mas se transmitiam de boca a ouvido, com o objetivo de proteger esse ato
litúrgico contra os sacrilégios dos pagãos.
Os primeiros monges
A regra de oração do monge consiste essencialmente na dedicação à
Prece de Jesus. É sob essa forma que essa regra foi dada de maneira geral a
todos os monges da Igreja Ortodoxa; é sob essa forma que ela foi transmitida
por um anjo a São Pacômio o Grande para seus monges cenobitas[12].
Esse santo viveu no século IV. Nessa regra, ele mencionava a Prece de Jesus da
mesma maneira que a prece dominical, o Salmo 50 e o Símbolo da Fé, ou seja,
como coisas conhecidas universalmente e aceitas por todos. Quando Santo Antônio
o Grande, que viveu entre os séculos II e IV, exortou os discípulos a se
exercitar com maior zelo à Prece de Jesus, ele falou dela como de algo que não
requeria maiores esclarecimentos. As explicações relativas a essa prece
aparecem mais tarde, na medida em que foi perdendo seu conhecimento vivo. Assim
é que um ensinamento detalhado sobre a Prece de Jesus foi dado pelos Padres dos
séculos XIV e XV, quando sua prática começou a desaparecer entre os monges.
Testemunhos indiretos
Nos documentos provenientes dos primeiros séculos do Cristianismo que
chegaram até nós, a Prece do Nome de Jesus não é tratada isoladamente, mas
somente quando em conexão com outros assuntos.
Na Vida de Santo Inácio o Teóforo, bispo de Antioquia, que recebeu em
Rima a coroa do martírio sob o imperador Trajano, lemos o seguinte: “Enquanto
ele era conduzido para ser entregue às feras, ele tinha sem cessar o Nome de
Jesus Cristo nos lábios; então os pagãos lhe perguntaram por que razão ele
mencionava continuamente aquele Nome. O santo respondeu que ele tinha o Nome de
Jesus Cristo inscrito em seu coração, e que confessava com sua boca Aquele a
quem trazia sempre no coração. Em seguida, depois que ele fosse devorado pelas
feras, quis a vontade de Deus que seu coração permanecesse intacto no meio de
seus despojos. Os infiéis que o encontraram se lembraram de sua resposta; eles
então cortaram seu coração em dois para verificar a exatidão das palavras do
santo. E, no interior, eles encontraram, nas duas metades, uma inscrição em
letras de ouro: “Jesus Cristo”. É assim que o santo mártir Inácio foi, tanto
por seu nome como por sua vida, um “Teóforo[13]”,
pois ele trazia sempre em seu coração o Cristo Deus impresso pela meditação
contínua de seu espírito, como pela pena de um escriba[14]”.
Inácio foi discípulo do santo apóstolo e evangelista João o Teólogo e
teve, em sua infância, o privilégio de ver o Senhor Jesus Cristo. É ele a
criança mencionada no Evangelho. O Senhor o colocou no meio dos Apóstolos que
disputavam sobre qual deles seria o maior; depois de tê-lo abraçado, Ele lhes
disse: “Em verdade, eu vos declaro, se não mudardes e não vos tornares como as
crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Aquele que se tornar humilde como
essa criança será o maior no Reino dos Céus[15]”.
A Igreja primitiva conhecia a Prece de Jesus
Ninguém duvida de que o Evangelista tenha ensinado a Prece de Jesus a
Santo Inácio, e que esse a praticava nessa época florescente do Cristianismo,
bem como todos os outros Cristãos. Nessa época, todos os Cristãos aprendiam a
praticar a Prece de Jesus, primeiro pela grande importância dessa prece, e
depois pela raridade e o alto custo dos livros sacros copiados à mão, e também
em razão do pequeno número daqueles que sabiam ler e escrever (grande parte dos
Apóstolos era iletrado), e enfim porque essa prece é de uso cômodo, ao mesmo
tempo em que possui um poder e efeitos realmente formidáveis.
O Pastor de Hermas
“O Nome do Filho de Deus”, disse um Anjo a Santo Hermas, discípulo
direto dos Apóstolos, “é grande infinito; ele sustenta o mundo inteiro”. Ao
ouvir essas palavras, Hermas perguntou ao Anjo: “Se toda a criação é sustentada
pelo Filho de Deus, que dizer daqueles que, chamados por Ele, trazem seu Nome e
caminham sob seus mandamentos?”. O Anjo respondeu: “Ele sustenta aqueles que de
todo coração trazem Seu Nome. Ele próprio serve a eles de fundamento e os
sustenta com Seu Amor, porque eles não se envergonham de trazer Seu Nome[16]”.
São Calístrato
Na história da Igreja, encontramos o seguinte relato: “Um soldado de
nome Neócoros, originário de Cartago, encontrava-se na guarnição romana que
guardava Jerusalém na época em que Nosso Senhor Jesus Cristo suportou
voluntariamente seus sofrimentos e sua morte pela redenção do gênero humano. Em
vista dos milagres que aconteceram aquando da morte e ressurreição do Senhor,
Neócoros acreditou no Senhor e foi batizado pelos Apóstolos. Ao final de seu
período de serviço, Neócoros retornou a Cartago e comunicou o tesouro da fé a
toda sua família. Dentre os que aceitaram o Cristianismo achava-se Calístrato,
neto de Neócoros. Ao atingir a idade necessária, Calístrato entrou para o
exército. A tropa à qual ele foi incorporado era constituída por idólatras.
Eles começaram a vigiar Calístrato, pois observaram que ele não venerava os
ídolos e que, durante as noites, ele cumpria longos períodos de prece em locais
solitários. Num dia em que eles afinaram os ouvidos para escutar o que ele
dizia, ouviram-no repetir sem cessar o Nome do Senhor Jesus Cristo e o
denunciaram ao seu comandante. São Calístrato, que confessava Jesus na solidão
e na escuridão da noite, confessou-O em pleno dia, publicamente, e selou essa
confissão derramando seu sangue[17]”.
Declínio progressivo
Um escritor do século V, Santo Hesíquio de Jerusalém, já lamentava que
a prática dessa prece havia declinado muito entre os monges[18].
Com o tempo, esse declínio se acentuou ainda mais; também os santos Padres se
esforçavam por encorajar essa prática por meio de seus escritos. O último,
cronologicamente, a escrever sobre essa prece foi o bem-aventurado Staretz Serafim
de Sarov. O Staretz não escreveu pessoalmente as Instruções que foram
publicadas com seu nome, mas elas foram escritas a partir de seu ensinamento
oral por um dos monges que estavam sob sua direção: elas traziam manifestamente
a marca da inspiração divina[19].
Em nossos dias[20],
a prática da Prece de Jesus foi quase abandonada pelos que levam a vida
monástica. Santo Hesíquio menciona a negligência como a causa desse abandono;
devemos reconhecer que essa acusação é plenamente justificada.
O poder do Nome
A força espiritual da Prece de Jesus reside no Nome do Deus Homem,
nosso Senhor Jesus Cristo. Embora numerosas passagens da santa Escritura
proclamem a grandeza do Nome divino, seu significado foi explicado com grande
clareza pelo apóstolo Pedro diante do Sinédrio judeu que o interrogava para
saber “por meio de que poder e de que nome” ele havia curado um homem
paralítico desde o nascimento. “Chefes do povo e anciãos! Hoje estamos sendo
interrogados em julgamento porque fizemos o bem a um enfermo e pelo modo com
que ele foi curado. Pois fiquem sabendo todos vocês, e também todo o povo de
Israel: é pelo nome de Jesus Cristo, de Nazaré – aquele que vocês crucificaram
e que Deus ressuscitou dos mortos – , é pelo seu nome, e por nenhum outro, que
este homem está curado diante de vocês. Jesus é a pedra que vocês,
construtores, rejeitaram, que se tornou a pedra angular. Não existe salvação em
nenhum outro, pois debaixo do céu não existe outro nome dado aos homens, pelo
qual possamos ser salvos[21]”.
Esse testemunho é do Espírito Santo: os lábios, a língua, a voz do Apóstolo não
eram mais do que os instrumentos do Espírito.
Outro órgão do Espírito Santo, o Apóstolo dos Gentios, fez uma
declaração similar. “Porque todo aquele que invoca o nome do Senhor, será salvo[22]”.
E: “Jesus Cristo humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e
morte de cruz! Por isso, Deus o exaltou grandemente, e lhe deu o Nome que está
acima de qualquer outro nome; para que, ao nome de Jesus, se dobre todo joelho
no céu, na terra e sob a terra[23]”.
II
A ESCOLA DOS SALMOS
Percebendo previamente o futuro distante, Davi, o ancestral de Jesus
segundo a carne, cantou a grandeza de Seu Nome. Ele descreveu com talento a
ação desse Nome, sua utilização na luta contra os poderes do pecado, sua força
para libertar do cativeiro das paixões e dos demônios aqueles que oram por meio
dele, o triunfo dos que obtêm a vitória por meio dele. Escutemos com atenção a
Davi, o profeta inspirado de Deus.
O Nome por toda parte
Descrevendo com incrível precisão o advento do reino espiritual de
Cristo sobre a terra, que viria a se realizar mil anos mais tarde, o Rei
Profeta disse que o domínio do Deus Homem se estenderia “de mar a mar, desde o
grande rio até as extremidades da terra [...] Todos os reis da terra o
adorarão, todas as nações o servirão [...] seu Nome será honrado diante deles
[...] que por Ele orem continuamente, e o bendigam todos os dias [...] Que Seu
Nome seja bendito eternamente; que Seu Nome dure tanto quanto o sol. Todas as
raças da terra serão nele benditas, todas as nações o proclamaram
bem-aventurado [...] E bendito seja Seu Nome de glória, eternamente, e pelos
séculos dos séculos. E que toda a terra esteja cheia de Sua glória[24]”.
O grande benefício da prece, que conduz os homens a uma união íntima
com Deus, foi difundido amplamente por toda a terra desde a época da
reconciliação com Deus realizada pela mediação do Deus Homem. Esse benefício
abarca o mundo todo. Ele penetra nas cidades e nas vilas; ele floresce nos
desertos selvagens e até então inabitados; ele brilha nas cavernas sombrias,
nos abismos, nos precipícios, sobre o cume das montanhas e até o fundo das mais
impenetráveis florestas.
O Nome, vitorioso sobre os demônios
O Nome do Deus Homem recebeu no ofício da oração um lugar muito
importante, pois ele é o Nome do Salvador dos homens, do Criador dos homens e
dos Anjos, o Nome do Deus que se fez Homem, do Vencedor dos servidores
revoltados, dos demônios.
“Diante Dele” – de nosso Senhor e nosso Redentor – “se prosternarão as
hostes do deserto” – os demônios – “e seus inimigos” – os espíritos decaídos –
“beijarão o pó[25]”.
“Senhor, nosso Deus, quão maravilhoso é Teu Nome, de um lado a outro da terra!
Tua majestade se eleva acima dos céus. Da boca das crianças, dos
recém-nascidos, tu fazes subir um louvor perfeito que desafia Teus adversários,
reduzindo a nada o inimigo e o homem vingativo[26]”.
Isso é exato. A grandeza do Nome de Jesus escapa ao entendimento das criaturas
racionais da terra e do céu, mas ela é misteriosamente captada pela
simplicidade e a fé das criancinhas. É com a mesma disposição desinteressada
que devemos nos aproximar da invocação do Nome de Jesus e nos mantermos nele
firmemente. A perseverança e a aplicação colocadas nessa invocação devem ser
semelhantes ao impulso incessantemente renovado do bebê para o seio da mãe; a
invocação do Nome de Jesus poderá então ser coroada de um completo sucesso, e
os inimigos invisíveis serão pisoteados, “o inimigo e o homem vingativo” serão
definitivamente derrotados. O inimigo é chamado de vingativo porque ele tenta,
todo o tempo e em certos momentos em especial, roubar dos homens aquilo que
eles obtiveram durante sua prece, assim que essa termina[27].
Para uma vitória decisiva, é preciso orar sem cessar e vigiar a si próprio
incessantemente.
Todos estão chamados à oração
Pelo fato de ser a invocação do Nome de Jesus tão importante, Davi
convida a todos os Cristãos a essa forma de oração. “Filhos do Senhor, louvai,
louvai o Nome do Senhor! Bendito seja o Nome do Senhor, agora e por toda a
eternidade. Da alvorada ao por do sol, louvado seja o Nome do Senhor![28]”.
“Dedicai ao Senhor a glória de Seu Nome, adorai ao Senhor no esplendor sagrado[29]”.
Orem de tal maneira que, em suas preces, se manifeste a grandeza do Nome de
Jesus, e que, por Seu poder, vocês possam entrar no templo “não feito por mão
humana” dos seus corações e aí adorá-Lo em espírito e verdade. Orem com
aplicação e perseverança: orem com temor e com tremor diante da grandeza do
Nome de Jesus, “e que confie em Ti”, ó Jesus todo-poderoso e rico em bondade,
“aquele que conhece Teu Nome” por meio de uma benfazeja experiência pessoal,
“pois Tu não abandonas jamais aqueles que buscam o Senhor[30]”.
Somente o pobre no espírito, constantemente ligado ao Senhor pela
oração e com uma aguda consciência de sua pobreza, é capaz de descobrir em si a
grandeza do Nome de Jesus. “Que o humilde e o ofendido não sejam recusados” à
oração, mas que possam oferecê-la a Deus, intacta e não perturbada pelas
distrações: “o pobre e o indigente louvarão Teu Nome[31]”.
“Bendito o homem cuja esperança está no Nome do Senhor, pois ele não se volta
para as vaidades, para aquilo que perde e engana[32]”:
ele não prestará atenção, durante sua prece, ao apelo das vãs preocupações e
dos laços passionais que a tentam perturbar e destruir.
Orar à noite
A noite é particularmente
propícia à prática da Prece de Jesus, graças ao silêncio e à escuridão que
reinam por toda parte. Era durante a noite que o grande asceta da prece, Davi,
se dedicava à lembrança de Deus: “À noite eu me recordo de Teu Nome, Senhor”,
dizia ele; “à noite eu dei à minha alma um estado de espírito divino” e,
tendo-o encontrado, “guardei Tua Lei[33]”
durante minhas atividades do dia seguinte. “À noite”, aconselha São Gregório o
Sinaíta citando São João Clímaco, “consagre muito tempo à oração e pouco tempo
à salmodia[34]”.
O “flagelo dos inimigos”
No furioso combate contra os inimigos invisíveis de nossa salvação a
Prece de Jesus é nossa arma suprema. “Todos as nações” – os demônios tagarelas
e astuciosos são chamados de nações – “me cercaram, mas em Nome do Senhor eu as
repeli, elas me cercaram e tolheram, mas em Nome do Senhor eu as repeli. Elas
me cercaram como abelhas, e queimavam como o fogo nos espinheiros, mas em Nome
do Senhor eu as repeli[35]”.
“Fustigue seus adversários com o Nome de Jesus, pois não existe arma mais
poderosa nos céus e na terra[36]”.
“Contigo agredimos nossos opressores, por Teu nome calcamos nossos agressores.
Não era no meu arco que eu confiava, nem era a minha espada que me trazia a
vitória. Eras Tu que nos salvavas de nossos opressores, e envergonhavas aqueles
que nos odiavam. Em Deus nos orgulhávamos o dia todo, celebrando o Teu nome
para sempre[37]”.
Tendo vencido e dispersado os inimigos pelo Nome de Jesus, o intelecto
do homem é admitido no número dos espíritos celestes e aí penetra, para prestar
um culto verdadeiro a Deus, no templo de seu coração que até então se
encontrava fechado, cantando um canto novo e espiritual, cantando em segredo:
“Senhor, eu Te confesso de todo meu coração: Tu ouviste as palavras de minha
boca. Eu Te cantarei diante dos Anjos! Em Teu santo templo eu me prosterno: por
Tua misericórdia e por Tua verdade eu confesso Teu Nome. Tu elevaste Tua
Palavra acima de todo Nome. Nesse dia eu Te chamo, escuta-me! Tu me fizeste ousado:
Tua força está em minha alma[38]”.
As virtudes do Nome
São Davi enumera os maravilhosos efeitos do “Nome santo e temível[39]”
de Jesus. Ele age como um remédio cujo modo de ação é desconhecido e
incompreensível para o enfermo, mas cuja eficácia se torna manifesta pela cura
que ele produz. Graças ao Nome de Jesus, invocado por aquele que ora, a ajuda
de Deus desce sobre ele, que recebe a remissão de seus pecados. É por isso que,
quando São Davi apresenta diante dos olhos de Deus a devastação e o lamentável
estado que se produzem na alma do homem por causa de uma vida de pecados, ele
implora pela misericórdia divina em nome de todos os homens, dizendo:
“Ajuda-nos, Deus de nossa salvação, pela honra de Teu Nome. Liberta-nos, perdoa
nossos pecados, por causa do Teu Nome[40]”.
É graças ao Nome do Senhor que nossa prece é ouvida e que a salvação
nos é concedida. Por estar firmemente convencido disso, Davi ora mais uma vez:
“Meu Deus, em Teu Nome salva-me, por Teu poder, julga-me! Meu Deus, escuta
minha prece, dá ouvidos às palavras de minha boca![41]”.
A renovação da natureza
Pelo poder do Nome de Jesus, o intelecto se liberta das hesitações e
incertezas, e a vontade é fortalecida; a justiça é concedida ao zelo e às
demais faculdades da alma. Só os pensamentos e sentimentos agradáveis, que
pertencem à natureza humana não corrompida, podem então permanecer na alma; não
existe aí mais lugar para os pensamentos e sentimentos estranhos, “pois o
Senhor salvará Sião, construirá cidades em Judá; é lá que habitaremos, lá possuiremos
tudo! A linhagem de seus servidores as herdará e nelas habitarão aqueles que
amam Teu Nome[42]”.
Em Nome do Senhor Jesus, a alma, morta pelo pecado, retorna à vida. O Senhor
Jesus Cristo é a Vida[43];
Seu Nome é vivo: ele vivifica aqueles que o invocam e clamam pela fonte da
Vida, o Senhor Jesus Cristo. “Por Teu Nome, Senhor, dar-me-ás a vida[44];
não Te abandonaremos mais; faze-nos reviver para que invoquemos Teu Nome[45]”.
Fonte dos dons espirituais
Quando, graças ao poder e à ação do Nome de Jesus, a prece é ouvida,
quando a ajuda divina desce sobre o homem, quando seus inimigos são derrotados
e se afastam dele, quando lhe é concedido o perdão, quando ele se vê curado e
restabelecido no estado da natureza não corrompida, quando seu espírito
reencontra seu poder, então chegam a ele em Nome do Senhor a generosa
distribuição dos dons da graça, dos bens e dos tesouros espirituais, e das
primícias da bem-aventurada eternidade, “pois Tu, meu Deus, atendeste meu
apelo: Tu me concedeste a herança prometida àqueles que temem Teu Nome.
Acrescenta ao rei dias e dias, e anos de geração em geração. Que ele reine
diante de Deus por toda a eternidade[46]”.
Então o homem se torna capaz de “cantar ao Senhor um canto novo”: ele escapa ao
número dos homens carnais e dos homens psíquicos, e se vê admitido nas fileiras
dos homens espirituais, e assim celebra o louvor ao Senhor “na Igreja dos
santos[47]”.
Apelo à alegria
O Espírito Santo, que até então convidava unicamente ao pranto e ao
arrependimento, agora convida o homem à alegria: “Que Israel se regozije
Naquele que o criou, que exultem os filhos de Sião em seu Rei, que celebrem Seu
Nome com danças, que a Ele cantem com a cítara e o tamborim[48]”.
Depois da renovação da alma, suas potências, conduzidas a um acordo e a uma
harmonia notáveis, se tornam capazes, sob os impulsos da graça divina, de
produzir sons e melodias espirituais que sobem até o céu diante do trono de
Deus e O alegram. “Que meu coração se alegre no temor de Teu Nome. Que meu
coração Te confesse, meu Senhor e meu Deus. Que ele glorifique Teu Nome
eternamente. Tu aumentaste Tua misericórdia por mim: tiraste minha alma do
fundo dos infernos[49]”.
Diante da Face de Deus
“Os justos confessarão Teu Nome; os homens direitos habitarão com Tua
Face[50]”.
Com efeito, após a expulsão dos inimigos que produzem as distrações, que
enfraquecem e poluem a mente, o intelecto penetra nas trevas onde ele nada vê e
se coloca diante da Face de Deus sem nenhum intermediário. Essa treva imaterial
é o véu, a cortina que cobre a Face de Deus. Esse véu é a incognoscibilidade de
Deus para todas as inteligências criadas. O humilde enternecimento do coração
se torna então tão forte que ele é chamado de “confissão”.
Eis como Davi descreve o efeito da Prece de Jesus num Cristão que fez
progressos: “Bendiz ao Senhor, ó minha alma, e que tudo o que existe em mim
bendiga o Seu santo Nome[51]”.
Isso é exato: quando nos dedicamos intensamente à Prece de Jesus, todas as
potências da alma e do corpo dela participam.
A Prece para todas as idades espirituais
São Davi – ou, mais especificamente, o Espírito Santo por intermédio
de sua boca – recomenda a prática da
Prece de Jesus a todos os Cristãos, sem exceção: “Reis da terra e todos os
povos, príncipes e todos os juízes da terra, homens jovens e mulheres jovens, velhos
e crianças, celebrem o Nome do Senhor, pois Seu Nome é o único sublime[52]”.
Uma interpretação literal dos estados de vida enumerados aqui não seria falsa,
mas sua interpretação real é essencialmente espiritual. Sob o nome de “povos”,
devemos entender todos os cristãos; sob o de “reis”, os cristãos que foram
considerados dignos de alcançar a perfeição; sob o de “príncipes”, os que
realizaram progressos notáveis; são chamados de “juízes” aqueles que ainda não
obtiveram o poder sobre si mesmos, mas que, por seu conhecimento da Lei de
Deus, são capazes de discernir o bem do mal e, em conformidade com as
indicações e as exigências da Lei divina, conseguem perseverar no bem e
rejeitar o mal. Por “jovens”, homens e mulheres, devemos entender o coração
livre de laços passionais, que se torna particularmente apto para a oração. Os
“velhos” e as “crianças” representam os diversos graus de progresso realizados
pelos esforços do homem; esse progresso é muito diferente daquele realizado
pela graça, embora tenha também um valor considerável. Aquele que atingiu a
perfeição da ação espiritual é chamado de “velho”; mas o que foi elevado até a
perfeição dada pela graça é chamado de “rei”.
III
A ARMA DO COMBATE ESPIRITUAL
Dentre as misteriosas e surpreendentes propriedades do Nome de Jesus,
está a de expulsar os demônios. Essa propriedade foi anunciada pelo próprio
Senhor. Ele disse, a respeito daqueles que creram Nele: “Em Meu Nome eles
expulsarão os demônios[53]”.
É preciso que nos detenhamos com atenção sobre esse aspecto do Nome de Jesus,
pois ele é de uma importância extrema para aqueles que praticam a Prece de
Jesus.
Duas formas da presença demoníaca
Devemos, antes de tudo, dizer algumas palavras a respeito da presença
dos demônios no homem. Essa presença se reveste de duas formas: uma pode ser
chamada de “sensível”, e a outra de “moral”.
Satanás está sensivelmente
presente quando ele se estabelece fisicamente em um homem e o tortura no corpo
e na alma. Um ou mais demônios podem viver assim dentro de um homem. Diz-se
então que o homem está possuído. No Evangelho, vemos que o Senhor curava os
possessos; da mesma forma, os discípulos do Senhor os curavam expulsando deles
os demônios pelo Nome do Senhor.
Satanás está moralmente
presente num homem quando esse se torna agente da execução da vontade do Diabo.
Assim é que “Satanás entrou[54]”
em Judas Escariotes, ou seja, que ele se apoderou de sua razão e de sua
vontade, que ele se uniu ao seu espírito. É nesse estado que se encontravam e
se encontram todos aqueles que não creem em Cristo, como disse o santo Apóstolo
Paulo aos Cristãos que haviam se convertido do paganismo ao Cristianismo: “E
vós que estáveis mortos por causa de vossas faltas e dos pecados em que
estivestes envolvidos, quando seguíeis o deus desse mundo, o príncipe que reina
entre o céu e a terra, o espírito que age agora entre os rebeldes. Estávamos
nós entre esses, nós também, que então nos abandonávamos aos desejos de nossa
carne; fazíamos suas vontades, seguíamos seus impulsos, e estávamos, por
natureza, como todos os demais, consagrados ao ódio[55]”.
Nesse estado se acham, em maior ou menor grau, segundo a gravidade de suas
faltas, aqueles que foram batizados em Cristo, mas que Dele se separaram por
causa de seus pecados. É assim que os santos Padres entendem as palavras de
Cristo a respeito do retorno do Diabo com mais outros sete espíritos mais
cruéis ao templo da alma que se afastou do Espírito Santo[56].
O Nome de Jesus expulsa os demônios
Os espíritos que penetraram desse modo podem ser novamente expulsos pela
Prece de Jesus, com a condição de que se passe a viver num constante e profundo
arrependimento. Devemos empreender essa ascese salutar. Vigiemos com grande
cuidado a fim de expulsarmos pela Prece de Jesus os espíritos que penetraram em
nós aproveitando-se de nossa negligência[57].
Essa prece tem a propriedade de dar a vida aos que estão mortos pelo pecado, e
de expulsar os demônios. Disse o Senhor, “Eu sou a Ressurreição e a Vida:
aquele que crê em Mim, ainda que morto, viverá[58]”.
E: “Eis os sinais que acompanharão aqueles que creram: em Meu Nome eles
expulsarão os demônios[59]”.
A Prece de Jesus revela a presença dos demônios no homem, e os
expulsa. Acontece então algo semelhante ao que houve com o jovem possesso na
Transfiguração do Senhor. Quando o menino viu o Senhor se aproximar, “o
espírito se pôs a agitar a criança com convulsões; essa, caindo por terra,
começou a rolar e a espumar[60]”.
Quando o Senhor ordenou-lhe que deixasse a criança, o espírito, num acesso de
malícia e crueldade, saiu lançando gritos e sacudiu tão violenta e
demoradamente o menino, que esse caiu como se estivesse morto[61].
O Nome divino revela as paixões
Enquanto o home permanece no turbilhão da vida, o poder de Satanás
passa desapercebido e permanece ignorado, mas quando ele escuta o Nome do
Senhor Jesus invocado por aquele que ora, ele é tomado de perturbação. Então
ele convulsiona no homem todas as paixões; por seu intermédio, ele o mergulha
inteiramente numa terrível agitação e produz em seu corpo toda espécie de
estranhas enfermidades.
Testemunho dos Padres: João o Profeta
É dentro dessa perspectiva que
João o Profeta disse: “A nós que somos fracos, não nos resta senão recorrer ao
Nome de Jesus: pois as paixões são, como foi dito, demônios, e a invocação
desse Nome os faz sair[62]”.
Eis o que isso significa: as ações das paixões e dos demônios são combinadas,
pois os demônios agem por intermédio das paixões. Quando, na prática da Prece
de Jesus, constatamos em nós uma agitação inabitual e uma ferveção das paixões,
não nos deixemos, por causa disso, vencer pela acídia e pela perplexidade. Ao
contrário, retomemos a coragem e preparemo-nos para um esforço espiritual, para
a invocação mais atenta do Nome do Senhor Jesus, pois na realidade o que
recebemos foi o sinal evidente de que a Prece de Jesus começou a produzir seus
efeitos.
João Crisóstomo
São João Crisóstomo disse: “A menção do Nome de nosso Senhor Jesus
Cristo excita o inimigo ao combate. Pois a alma que se esforça na Prece de
Jesus pode receber tudo dela, seja o bem, seja o mal. No início ela pode
descobrir o mal nas profundezas de seu coração, mas depois vem o bem. Essa
prece pode colocar a serpente em movimento, mas também pode derrotá-la. Essa
prece pode desmascarar o pecado que vive em nós, e pode também exterminá-lo.
Essa prece pode colocar em movimento no coração toda a força do inimigo, mas
também pode vencê-lo e extirpá-lo pouco a pouco. Ao descer nas profundezas do
coração, o Nome de Jesus Cristo submete a serpente que controla suas pastagens,
e ele salva a alma, devolvendo-lhe a vida. Permaneça sem cessar no Nome do Senhor
Jesus, e que seu coração absorva o Senhor, e o Senhor absorva seu coração, e
que esses dois se tornem um. Mas essa obra não se realiza em um ou dois dias,
mas necessita de longos anos: é preciso muito tempo e esforço para expulsar o
inimigo, e para que Cristo aí se instale[63]”.
Macário o Grande
É evidente que temos aqui a descrição da obra ascética (com uma
referência explícita ao instrumento adequado a essa obra), da qual fala e para
a qual convida São Macário o Grande em seu primeiro Discurso: “Quem quer que você seja, abra para si uma passagem
através dos pensamentos que se levantam constantemente dentro de você, vá até
sua alma prisioneira e escrava dos pecados, e examine suas ideias até as
raízes, analise as profundezas de onde surgem seus pensamentos: você descobrirá
então nas dobras profundas de sua alma uma serpente que rasteja e se esconde; é
ela que o matou, envenenando as diversas regiões da sua alma. Se você matar
essa serpente, glorifique-se diante de Deus por sua pureza; se não, humilhe-se como
sendo um homem fraco e pecador, e ore a Deus para que o liberte de seus pecados
secretos”[64].
O mesmo grande servidor de Deus escreveu: “O reino das trevas, em outros termos
o príncipe dos espíritos maus, tendo de início capturado o homem, envolveu sua alma
dentro do poder das trevas. Esse mau mestre revestiu de pecado a alma e toda a
sua substância; ele a manchou completamente e a conduziu inteiramente cativa ao
seu reino. Ele não deixou livres nem os pensamentos, nem a razão, nem a carne
e, por fim, nenhum dos elementos da alma; ele a envolveu por completo numa capa
de trevas. Esse inimigo encarniçado sujou e deformou o homem por inteiro, corpo
e alma. Ele o revestiu com o “homem velho”, um homem maculado, impuro,
revoltado contra Deus, insubmisso à Lei de Deus; dito de outro modo, ele
revestiu o homem de pecado para que esse já não o veja como antes, mas através
do prisma deformado das paixões, para que ele tenha os pés ágeis para as más
ações, as mãos prontas para realizar a iniquidade, e um coração inclinado aos
maus pensamentos. Mas nós, oremos a Deus para que Ele nos despoje do homem
velho, pois somente Ele pode retirar de nós o pecado; com efeito, aqueles que
nos fizeram prisioneiros e que nos mantêm em seu poder são mais fortes do que
nós, mas Deus prometei nos libertar dessa escravidão[65]”.
Calixto e Inácio Xanthopoulos
Baseando-se em concepções semelhantes, os santos Padres dão àqueles
que praticam a Prece de Jesus as seguintes instruções: “A menos que sofra
consideravelmente com as perseguições importunas do pecado, a alma não é capaz
de apreciar com justeza o bem da justiça. O homem que deseja purificar seu
coração deve inflamá-lo sem cessar com a invocação do Senhor Jesus, fazendo
dessa menção uma meditação e uma atividade ininterruptas. Os que pretendem
evitar seu “desgaste” não devem tanto orar como não orar, mas devem perseverar
sem cessar na prece, por meio da vigilância do espírito, mesmo quando se
encontrem fora de seus locais de oração. Se quem trabalha para purificar o ouro
deixar, ainda que por um breve instante, o fogo se extinguir no cadinho,
provocará um endurecimento da matéria que está tentando refinar. Da mesma
forma, o homem que tanto se lembra de Deus como se esquece dele, destrói com
sua inação aquilo que imagina adquirir com sua prece. É próprio do homem que
ama a virtude combater constantemente o peso terrestre de seu coração pela
lembrança de Deus para que, dessa maneira, o mal seja pouco a pouco consumido
pelo fogo da lembrança do bem, e que sua alma esteja perfeitamente entregue ao
seu brilho natural com grande glória. Assim, mantendo-se no coração, o
intelecto se dedica à prece pura e sem ilusão, como disse Santo Diádoco: “A
prece é verdadeira e sem ilusão quando o intelecto em estado de oração está
unido ao coração[66]”.
Nós que praticamos a Prece de Jesus, não nos deixemos amedrontar nem
pelos ventos, nem pelas vagas! Eu chamo de “ventos” os pensamentos e as imagens
demoníacos; por “vagas” eu entendo a revolta das paixões revoltadas pelos
pensamentos e as imagens. Do meio da tempestade que ruge, oremos com
perseverança, com coragem e com lágrimas ao Senhor Jesus Cristo, e ele dominará
os ventos e as vagas; e nós, tendo conhecido por experiência própria a
onipotência de Jesus, Rendamos a Ele a adoração que Lhe é devida, dizendo: “Em
verdade, Tu és o Filho de Deus[67]”.
Simeão o Novo Teólogo
Nós lutamos pela nossa salvação. Nosso destino eterno depende de nossa
vitória ou de nossa derrota. Diz São Simeão o Novo Teólogo: “Então (ou seja,
durante a prática da Prece de Jesus) um grande combate se desenrola. Os
demônios começam a guerra com um grande tumulto, produzindo por meio das
paixões uma agitação e uma tempestade no coração, mas eles são consumidos e
destruídos pelo Nome do Senhor Jesus Cristo, como a cera pelo fogo. Mais uma
vez: quando eles são repelidos e se retiram do coração, eles não abandonam a
luta, mas perturbam o intelecto desde o exterior por meio dos sentidos
corporais. Por essa razão, o intelecto não começa a sentir imediatamente em si
o silêncio e a quietude; é que os demônios, quando não têm força suficiente
para perturbar o intelecto na sua profundidade, o perturbam desde o exterior
com imagens. É por isso que não se pode estar completamente liberto da luta e não
ser atacado pelos maus espíritos. Isso só é possível aos perfeitos e àqueles
que estão completamente afastados de tudo e cuja atenção permanece
continuamente fixada no coração[68]”.
Não se desencorajar
No começo, essa prática parece extraordinariamente árida, sem promessa
de algum dia produzir frutos. O intelecto que se esforça por se unir ao coração
encontra desde logo trevas impenetráveis, a dureza e a insensibilidade do
coração que não entra senão lentamente em “simpatia” com ele[69].
Essa observação não deve nos lançar na acídia e no desencorajamento, ela está
feita apenas para que estejamos cientes e para nos colocarmos desde já em
guarda. Quem ora com perseverança e paciência será sem falta recompensado e
consolado; ele será cumulado com tal profusão de frutos espirituais, que ele
não tem ideia enquanto permanece ainda no estado carnal e psíquico.
Quando a prece começa a agir
A Prece de Jesus age por graus sucessivos: de início sua ação se dá
apenas sobre o intelecto, conduzindo-o a um estado de silêncio e de atenção;
depois ela começa a ganhar o coração, despertando-o de seu sono de morte; seu
retorno à vida se manifesta pela aparição nele de sentimentos de humilde
enternecimento e de aflição espiritual. Mergulhando mais profundamente, a prece
começa a atuar sobre todos os membros da alma e do corpo, a expulsar o pecado
de todas as partes e a destruir a tirania, a influência e o veneno dos
demônios. Por essa razão, desde que a Prece de Jesus começa a agir, “produz-se
uma inefável contrição e uma indizível dor da alma”, diz São Gregório o Sinaíta.
A alma sofre como uma mulher enferma em trabalho de parto, como diz a Escritura[70].
“Viva é, com efeito, a Palavra de Deus”, ou seja, Jesus, “eficaz e mais
incisiva do que qualquer espada de dois gumes, ela penetra até o ponto de
divisão da alma e do espírito, das articulações e do tutano dos ossos, ela pode
julgar os sentimentos e os pensamentos do coração[71]”,
ela penetra, extirpando o pecado de todas as partes da alma e do corpo[72].
O poder de dominar os demônios
Quando os setenta Apóstolos enviados a pregar pelo Senhor Quando os
setenta Apóstolos enviados a pregar pelo Senhor retornaram a Ele, tendo
cumprido a missão que lhes havia sido confiada, eles Lhe anunciaram com
alegria: “Senhor, mesmo os demônios se nos submeteram em Teu Nome[73]”.
Oh! Quão justificada era essa alegria, quão fundamentada! Durante mais de cinco
mil anos o Diabo reinara entre os homens, tendo-os sujeitado e assimilado por
meio do pecado, e agora ele escutava o Nome de Jesus! Ele se submeteu aos homens
que até então lhe eram submissos, foi por eles amarrado, por eles a quem antes
acorrentara, e pisado aos pés daqueles que pisoteara. Em reposta aos discípulos
que se regozijavam de haver destruído o poder dos demônios sobre os homens, e
de haver obtido um poder sobre os demônios, o Senhor disse: “Eis que Eu vos dei
o poder de pisar as serpentes e escorpiões, e todo poder do Inimigo, e nada vos
poderá prejudicar[74]”.
O poder nos foi dado, mas somos livres para pisar as serpentes e escorpiões,
ou, ao contrário, de negligenciar esse dom e nos submetermos voluntariamente a
eles. Pelo termo “serpentes” os santos Padres entendiam as empresas
manifestamente pecaminosas, e por “escorpiões” aquelas que se dissimulam sob a
máscara inocente do próprio bem.
O poder dado pelo Senhor aos setenta discípulos é concedido a todos os
Cristãos[75].
Utilize-o, Cristão! Pelo Nome de Jesus, corte as cabeças, ou seja, as primeiras
aparições do pecado nos pensamentos, nas imagens mentais e nos sentimentos.
Destrua em si o domínio do Diabo; destrua toda influência sua sobre você;
adquira a liberdade espiritual. O fundamento de seu combate espiritual é a
graça do Batismo, e sua arma, a invocação do Nome de Jesus.
Qual é a vitória?
Depois de haver concedido aos seus discípulos o poder de pisotear as
serpentes e os escorpiões, o Senhor acrescentou: “No entanto, não vos
regozijeis de que os espíritos vos sejam submissos, mas de que vossos nomes
estejam inscritos nos céus[76]”.
“Não se regozijem, diz o bem-aventurado Teofilacto, de que os demônios sejam
submetidos a vocês, mas que seus nomes sejam inscritos no céu, não com tinta,
mas com a graça divina e na lembrança de Deus[77]”,
pela Prece de Jesus. Essa prece tem a particularidade de transportar da terra
ao céu o homem que a pratica, e de colocá-lo no número dos habitantes celestes.
Permanecer pelo intelecto e o coração no céu e em Deus, esse é o principal
fruto, o objetivo dessa prece; a recusa e o despedaçamento dos inimigos que nos
impedem de alcançar esse objetivo não passam de um aspecto secundário; ele não
deve tomar toda a nossa atenção, para que a consciência e a contemplação de
nossa vitória não abram uma grande porta à soberba e à presunção, e que, em
razão mesma de nossa vitória, não soframos uma terrível derrota.
Quem pode vencer?
Mais adiante, o Evangelho relata: “Naquele instante, Jesus exultou sob
a ação do Espírito Santo e disse: ‘Eu Te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra,
porque escondestes essas coisas dos sábios e dos inteligentes e as revelastes
aos pequeninos. Sim, Pai, é assim que dispusestes em Tua benevolência’[78]”.
E dirigindo-se aos seus discípulos: “Tudo me foi dado por Meu Pai, e ninguém
conhece quem é o Filho, senão o Pai[79]”.
O Senhor transborda de inconcebível alegria divina ao constatar o sucesso
daqueles homens. Ele anuncia que os mistérios da fé Cristã são revelados, não
aos sábios e aos grandes desse mundo, mas aos pequeninos, às crianças – aos
olhos da sociedade – que eram seus discípulos, homens sem instrução,
ilustrados, escolhidos entre o povinho. Para se tornar discípulo de Cristo é
preciso ser como uma criança, e receber seu ensinamento com a simplicidade e o
amor de uma criança. Dirigindo-se então àqueles que já eram seus discípulos, o
Senhor lhes expôs uma doutrina muito misteriosa: Ele revelou que o Filho, apesar
do fato de ter assumido a natureza humana, permaneceu não obstante além da
compreensão de todas as criaturas racionais. Seu Nome ultrapassa, igualmente,
todo entendimento. Recebamos então com a simplicidade e a confiança de crianças
o ensinamento que nos mostra como orar pelo Nome de Jesus; com a mesma
simplicidade e confiança, ponhamo-nos a praticar essa prece: Deus, o único que
conhece plenamente o mistério no-la dará na medida em que nos seja acessível.
Regozijemo-nos por nosso trabalho e nosso progresso no ofício que Ele nos
confiou e ordenou.
IV
CARÁTER UNIVERSAL DA PRECE DE JESUS
Como dissemos acima, a Prece de Jesus era de uso generalizado dentre
os Cristãos dos primeiros séculos. E nem poderia ser de outro modo. Foi pelo
Nome do Senhor Jesus Cristo que se realizaram os sinais mais impressionantes
sob os olhos de toda a comunidade Cristã, o que inspirava aos fiéis uma grande
fé em seu poder ilimitado. Os que haviam progredido entendiam essa força graças
ao seu próprio progresso. Eis como São Barsanulfo o Grande se expressa a
respeito dessa força que se desenvolve abundantemente nos santos: “Eu conheço
um servidor de Deus que é de nossa raça e que vive em nossa época nesse lugar
bendito; esse homem é capaz mesmo de ressuscitar os mortos em Nome de nosso
Mestre Jesus Cristo, e expulsar os demônios, curar as doenças incuráveis e
realizar outros milagres não menos do que os Apóstolos, como testemunha Aquele
que lhe concedeu esse dom ou, mais exatamente, esses dons. Sim, e o que é isso
em comparação com o que pode fazer o Nome de Jesus?[80]”.
A Prece, desde a época primitiva
Tendo sob seus olhos os milagres do Senhor, em sua lembrança seus
preceitos e em seu coração um amor ardente por Ele, os fiéis da Igreja
primitiva praticavam a invocação do Nome de Jesus com o zelo inflamado dos
Querubins e dos Serafins. Essa é a propriedade do amor! Ele se lembra sem
cessar do amado; ele se regozija sem cessar com seu nome; ele o guarda no
coração e o tem no espírito e nos lábios. O Nome do Senhor está acima de todo
nome; ele é a fonte das delícias, a fonte da alegria, a fonte da vida. Ele é
Espírito: ele vivifica, ele muda, ele recria, ele deifica. Para os iletrados,
ele substitui de modo plenamente satisfatório a leitura das orações escritas e
a salmodia; os que sabem ler e que progrediram na Prece de Jesus abandonam a
salmodia por causa de sua grande diversidade e se põem a praticar de
preferência a Prece de Jesus, pois nela encontram a força e o alimento em
abundância. Tudo isso resulta claramente dos escritos e das regras dos santos
Padres.
A Prece dos iletrados
A santa Igreja Ortodoxa do Oriente propõe aos iletrados que substituam
todas as preces escritas pela Prece de Jesus[81];
ela o faz não como uma inovação, mas como uma prática bem testada. Essa regra,
assim como outras tradições da Igreja do Oriente, passou da Grécia para a
Rússia, e muitas pessoas simples, pouco ou nada instruídas, foram nutridas pela
força da Prece de Jesus para sua salvação e para a vida eterna; e muitos
realizaram grandes progressos espirituais.
João Crisóstomo
Quando São João Crisóstomo recomenda a prática assídua da Prece de
Jesus, em especial para os monges, ele fala dela como de uma coisa bem
conhecida por todos. “Também nós, diz ele, temos exorcismos espirituais: o Nome
de nosso Senhor Jesus Cristo e o poder da Cruz. Esse exorcismo não apenas
expulsa o dragão de seu covil e o atira ao fogo, como ainda cura as feridas
feitas por ele. E, se muitos pronunciaram esse exorcismo, mas não foram
curados, isso se deve à sua falta de fé e não à ineficácia da prece. Numerosos
homens seguiram infatigavelmente a Cristo e se mantiveram próximos a ele,
pressionando-o, mas não retiraram daí nenhum benefício, enquanto que a mulher
hemorroísa que tocara, nem mesmo seu corpo, mas apenas a franja de sua túnica,
viu o fluxo de sangue que corria há anos se deter imediatamente[82].
O Nome de Jesus Cristo é terrível para os demônios, para as paixões e as
enfermidades da alma. Para nós, ela é beleza e proteção. Foi por meio dela que
o apóstolo Paulo se tornou grande, embora fosse da mesma natureza que nós[83]”.
São Pacômio
Um Anjo de Deus deu uma regra de oração a São Pacômio o Grande, em
intenção dos muitos monges que dependiam dele. Os monges submetidos à sua
direção espiritual deveriam cumpri-la a cada hora. Os que haviam atingido a
perfeição e a prece ininterrupta estavam dispensados dessa regra. A regra
transmitida pelo Anjo comportava o Trisságio, a prece dominical, o Salmo 50, o
Símbolo da Fé e cem Preces de Jesus[84].
Na regra, fala-se da Prece de Jesus exatamente como da prece dominical, ou
seja, como uma prece conhecida por todos e de uso geral.
São Barsanulfo o Grande relata que a prece era a principal ocupação
dos monges de Sceta. Observamos a mesma coisa na Vida de São Pambo, monge e abade da montanha da Nìtria, situada não
longe de Sceta, onde os monges, como os de Sceta, levavam a vida hesiquiasta[85].
Os testemunhos escritos
Dentre os servidores de Deus mencionados nesse estudo, e que
praticavam a Prece de Jesus, ou que escreveram a esse respeito, encontramos
Santo Inácio o Teóforo, que viveu em Antioquia e morreu em Roma; o santo mártir
Calístrato, que nasceu e viveu em Cartago; São Pacômio o Grande, que viveu no
Alto Egito; os monges de Sceta e de Nítria, assim como Santo Isaías, que
viveram no Baixo Egito; São João Crisóstomo, que viveu em Antioquia e em
Constantinopla; São Basílio o Grande, na parte oriental da Ásia Menor, na
Capadócia; São Barsanulfo o Grande, nas cercanias de Jerusalém; São João
Clímaco, no Monte Sinai e durante algum tempo no Baixo Egito, perto de
Alexandria. Isso nos mostra que a invocação do Nome de Jesus estava espalhada
por toda parte e era de uso generalizado em todas as regiões atingidas pela
Igreja.
A Filocalia e os autores Russos
Além dos Padres mencionados acima, outros autores também escreveram a
respeito da Prece de Jesus. Assim é que Santo Hesíquio, discípulo de São
Gregório o Teólogo, padre em Jerusalém no século V, já então se queixava de que
os monges abandonavam a prática da Prece de Jesus e a da vigilância. Encontramos
ainda São Filoteu o Sinaíta, São Simeão o Novo Teólogo, São Gregório o Sinaíta,
São Teolepto de Filadélfia, São Gregório Palamas, os Santos Calixto e Inácio
Xanthopoulos e muitos outros. Seus escritos se encontram principalmente na
Filocalia, vasta coleção de autores ascéticos. Dentre os Padres russos que
escreveram sobre a prece, encontramos Nilo de Sora, o hieromonge Doroteu, o
arquimandrita Païssy Velitchkovsky, o monge de “grande hábito” Basílio de
Polianomeroul e o hieromonge Serafim de Sarov.
Ordem das leituras
Todos os escritos dos Padres que mencionamos merecem uma profunda
estima, em razão da graça e do conhecimento espiritual que vivem neles e que
depreende deles; no entanto, as obras dos autores Russos nos são mais
acessíveis do que as dos luminares Gregos, em razão da clareza e da
simplicidade de suas exposições, e também porque eles se encontram mais
próximos de nós no tempo[86].
Em particular, podemos e devemos considerar os escritos do Staretz Basílio como
sendo os primeiros para os quais deve se voltar aquele que, em nossa época,
deseja praticar a Prece de Jesus com sucesso. Essa foi bem a sua intenção. O
Staretz chamou seus escritos de “Introdução”, ou seja, como textos que preparam
para a leitura dos Padres Gregos. O livro de São Nilo de Sora é notável. Sua
leitura deve também preceder a dos autores Gregos; como ele os cita e comenta
abundantemente, ele facilita a leitura e a compreensão desses mestres profundos
e santos que, com frequência, eram também oradores, filósofos e poetas.
Quando os verdadeiros mestres se tornam raros
De uma maneira geral, todos os escritos dos santos Padres relativos à
vida monástica, e em especial à Prece de Jesus, constituem para nós, monges dos
últimos tempos, um tesouro insubstituível. Na época de São Nilo de Sora – já lá
se vão três séculos - os receptáculos
vivos da graça divina eram extremamente raros: “eles diminuíram ao extremo”,
segundo sua própria expressão; e hoje eles são tão raros que podemos dizer, sem
grande risco de errar, que já não existem mais. É certamente um favor divino
excepcional conseguir encontrar de improviso, em algum lugar num canto perdido,
já no fim de seus dias, um tal receptáculo, um homem que não é nada aos olhos
dos outros homens, mas que é magnificado e exaltado por Deus. Foi assim que, no
deserto desabitado da Transjordânia, Zózimo encontrou, além de qualquer
esperança, uma grande santa, Maria Egipcíaca[87].
A fonte única
Em razão da extrema raridade dos mestres pneumatóforos, os escritos
patrísticos constituem a única fonte para a qual pode se voltar a alma
torturada pela fome e a sede de encontrar os conhecimentos absolutamente
necessários para o combate espiritual. Esses livros são uma herança preciosa
deixada pelos santos Padres à sua descendência monástica, a nós, desprovidos
que somos. Esses livros são as migalhas caídas para nós da mesa espiritual dos
Padres, e que constituem a nossa parte. Constatamos que a época em que foram
redigidos a maior parte dos livros sobre a oração mental coincide com aquela em
que essa atividade estava particularmente diminuída entre os monges. Quando São
Gregório o Sinaíta, que viveu no século XIV, chegou ao Monte Athos, dentre os
milhares de monges que aí viviam ele encontrou não mais do que três que tinham
uma certa compreensão da atividade espiritual. A maior parte dos escritos sobre
a Prece de Jesus data justamente dos séculos XIV e XV.
“Movidos por uma secreta inspiração divina, diz Païssy Velitchkovsky,
numerosos Padres puseram por escrito o santo ensinamento, inteiramente
penetrado pela sabedoria do Espírito Santo, relativo a essa oração mental,
baseando-se nas santas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos. Isso foi
devido à providência de Deus, a fim de que essa obra divina não caísse num
esquecimento definitivo. Com a permissão de Deus, muitos desses livros foram
destruídos, por causa de nossos pecados, pelos muçulmanos que conquistaram o
Império Bizantino; alguns, no entanto, foram conservados, graças a uma economia
divina, até nossa época[88]”.
A tarefa do mestre
A atividade espiritual suprema é extraordinariamente simples. Para
adotá-la, devemos ter uma simplicidade e uma fé de criança; mas nós somos tão
complicados, que precisamente essa simplicidade se tornou inacessível e
incompreensível para nós. Mas nós queremos ser inteligentes, queremos inchar o
nosso eu, não queremos renunciar a nós mesmos nem nos deixar guiar pela fé. Por
essa razão, temos necessidade de um mestre que nos faça sair de nossa
complexidade, de nossa astuciosa habilidade, de nossos artifícios, de nossa
vanglória e de nossa presunção, e que nos faça entrar na largura e na
simplicidade da fé. Por essa razão, pode acontecer que, no domínio da atividade
espiritual, uma criança realize notáveis progressos, enquanto que um sábio
perde seu caminho e cai nos sombrios abismos da ilusão.
Porque eles escreveram
“Nos tempos antigos, escreveu Païssy Velitchkovsky, a prática da
oração mental brilhava nos inúmeros lugares onde estavam os santos Padres.
Havia então numerosos mestres para essa ascese espiritual; assim, quando os
santos Padres dessa época escreviam a esse respeito, eles não explicavam senão
as benesses espirituais extraordinárias que dela resultavam, sem sentir a
necessidade de tocar – na minha opinião – na parte da obra relativa aos
iniciantes. Eles também escreveram em parte sobre coisas que eram claras para
aqueles que tinham a experiência da ascese, mas que, para os que não tinham,
permaneciam incompreensíveis. Quando alguns Padres viram que os verdadeiros
mestres, aqueles em quem podiam ter confiança, começavam a se tornar
extremamente raros, eles foram levados pelo Espírito divino a escrever, a fim
de que não desaparecesse o ensinamento autêntico referente às primeiras etapas
da oração mental. Eles então expuseram por escrito os rudimentos da obra e os
procedimentos que permitiam aos noviços aprender e entrar, por meio do
intelecto, no lugar do coração, para aí realizar uma prece verdadeira e isenta
de ilusão[89]”.
V
OS GRAUS DA PRECE
Encorajamentos
Dissemos que o profeta Davi chama todo o povo de Deus, sem exceção, à
invocação do Nome Divino, e que, por suas prescrições, a Igreja estabelece a
todos os iletrados e aos que não conhecem a santa Escritura de cor a substituir
as orações escritas e a salmodia pela Prece de Jesus. São Simeão, bispo de
Tessalônica, recomendava aos hierarcas, aos padres e a todos os monges e leigos
dizer essa prece em todo tempo e todo lugar, e de fazer dela, por assim dizer,
seu sopro de vida[90].
No momento da profissão monástica, quando o postulante recebe o capuz, o
celebrante lhe diz: “Recebe, irmão, a espada do Espírito, que é a palavra de
Deus; traga-a em sua boca, em seu espírito e no seu coração, e diga sem cessar:
Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim[91]”.
Defesas
Por sua vez, São Nilo de Sora ensina que “a lembrança de Deus, ou
seja, a oração mental, é superior a qualquer outra atividade; ela é, como o
amor de Deus, a primeira das virtudes. Quem pretende, com impudência e
temeridade, ir a Deus para conversar com Ele com pureza, quem se esforça para
possuí-Lo em si mesmo, será facilmente morto pelos demônios – se isso lhes
fosse permitido – pois está buscando com presunção orgulhosa alcançar algo que
o ultrapassa[92]”.
À primeira vista, a defesa de São Nilo de Sora pode parecer em
contradição com as prescrições da santa Escritura, dos santos Padres e da
tradição da Igreja. Na realidade, não existe contradição, mas se trata da Prece
de Jesus na sua forma mais elevada.
Dois graus da prece
Todos os cristãos podem e devem praticar a Prece de Jesus com o
objetivo de se arrepender e de pedir a ajuda do Senhor; eles devem praticá-la
com fé e temor a Deus, com uma grande atenção sobre os sentidos e às palavras
da prece, e com o espírito contrito; mas não é todos que é permitido avançar
para a prece realizada pelo intelecto na cela do coração. Não apenas os monges
que vivem em mosteiros e que se veem ocupados com as obediências, mas também os
leigos que vivem no mundo podem e devem praticar a Prece de Jesus tal como a
descrevemos em primeiro lugar. Essa forma de prece, dita com atenção, pode
também ser chamada de “oração mental” e de “prece do coração”, pois ela costuma
ser realizada somente pelo intelecto, e, entre aqueles que oram com zelo, ela é
sempre feita com a participação do coração, coisa que se manifesta por um sentimento
de aflição e por lágrimas provocadas por um enternecimento humilde do coração.
Começar pelo começo
A hierurgia da prece realizada pelo intelecto no coração exige que se
tenha primeiramente praticado o primeiro modo de orar, e que nele se tenha realizado
algum progresso. É a graça divina que, em sua benevolência, e no momento certo
que só ela conhece, fará o asceta passar da primeira maneira de orar para a
segunda. Se agradar a Deus que o asceta permaneça na prece do arrependimento,
que ele se mantenha aí e não busque um estágio superior; que ele não tente ir
além, convencendo-se firmemente de que isso não se obtém por esforços humanos,
mas que se trata de um dom de Deus. Permanecer no arrependimento é uma garantia
de salvação. Contentemo-nos, portanto, com esse estágio, sem buscarmos algo
superior. Essa busca é um sinal patente de orgulho e de presunção; ela não
conduz ao sucesso, mas às quedas e à ruína.
Não antecipar
Fundamentado nos ensinamentos de todos os santos Padres, São Nilo
proíbe de se esforçar prematuramente para fazer descer o intelecto no coração,
em buscar a hesíquia exterior e interior, e tentar sentir a doçura da prece e
outros estados espirituais elevados; eles se revelarão quando a prece de
arrependimento foi aceita por Deus, e quando os inimigos tiverem se retirado da
alma. Disse o salmista: “Afastai-vos de mim, ó vós que fazeis o mal; o Senhor
escutou a voz das minhas lágrimas. O Senhor escutou a minha súplica, ele
recebeu minha prece[93]”.
O consolo, a alegria, as delícias, a distribuição dos dons, essas são as
consequências da reconciliação; buscá-las antecipadamente é uma empresa
alucinada.
Qual é a preparação para a prece do coração?
Para adquirir a prece profunda do coração, é necessária uma preparação
considerável. Essa consiste num conhecimento e numa experiência suficientes da
vida monástica, e em aprender a agir em conformidade com os mandamentos do
Evangelho. A verdadeira prece é, com efeito, fundada sobre a disposição da alma
que resulta de uma vida levada em conformidade com os mandamentos; a prece
repousa sobre essa disposição interior e não pode permanecer na alma quando
essa disposição lhe falta. A preparação deve também consistir num conhecimento
sólido do Novo Testamento e dos escritos patrísticos referentes à Prece de
Jesus. Essa última preparação é tanto mais necessária na medida em que, na
ausência de guias pneumatóforos os escritos patrísticos e nossos clamores
diante de Deus durante a prece devem ser nossos únicos guias.
O discernimento é essencial
A prece do coração é ardentemente buscada, assim como a hesíquia do
coração. É igualmente desejável viver como hesiquiastas em sua cela como num
deserto retirado, pois isso favorece muito a prece do coração e a hesíquia
interior. “Entretanto, mesmo sendo essas obras excelentes e boas em si, diz São
Nilo de Sora, é preciso abordá-las com discernimento, no tempo conveniente e
depois de haver suficientemente progredido. Como disse Basílio o Grande, ‘o
discernimento deve preceder toda ação’. Sem discernimento, mesmo uma boa ação
pode se tornar má, não sendo realizada no momento oportuno e na medida
adequada. Mas quando o momento e a medida do bem são determinados com
discernimento, o benefício resultante será admirável. Expressando-se com as
palavras da Escritura, João Clímaco diz: ‘Existe um tempo para todas as coisas
que estão sob o céu[94];
dentre todas essas coisas, também em nossa vida santa existe um tempo para cada
ocupação’. E ele prossegue: ‘Existe um tempo para o silêncio, e um tempo para
uma palavra agradável; existe um tempo para a prece incessante, e um tempo para
o serviço sincero’. Não nos deixemos seduzir por um zelo intempestivo e
orgulhoso, e não busquemos prematuramente aquilo que deve acontecer a seu
tempo. Caso contrário, nada receberemos, nem mesmo no momento azado. Existe um
tempo para semear os esforços, e um tempo para colher os frutos maduros da
graça[95]”.
Em particular, São Nilo proíbe de aspirar sem discernimento à vida eremítica
(coisa que acontece com frequência entre pessoas que sequer compreendem a vida
monástica), porque é nesse modo de vida que os tropeços e a cegueira espiritual
são mais graves.
A exceção não faz a regra
Se não é permitido aos monges se lançarem inoportunamente à prece
oferecida pelo intelecto no santuário do coração, com mais forte razão isso é
proibido às pessoas que vivem no mundo. Santo André, o louco de Cristo, e
alguns outros leigos pouquíssimo numerosos chegaram a conhecer a prece do coração
mais profunda; mas trata-se de uma exceção e uma grande raridade, que não podem
absolutamente servir de norma para todos. Considerar-se como entre essas
pessoas excepcionais não passa de cegueira provocada pela presunção, trata-se
de uma ilusão latente antes de se tornar manifesta.
As reservas de Païssy Velitchkovsky
Em sua Carta ao Staretz Teodósio,
Païssy Velitchkovsky escreve: “Os textos patrísticos, em especial os que
ensinam a verdadeira obediência, a vigilância do intelecto e a hesíquia, a atenção
e a oração mental (ou seja, aquela que se realiza pelo intelecto no coração)
convêm exclusivamente à ordem monástica e não a todos os cristãos ortodoxos em
geral. Quando os Padres Teóforos expõem o ensinamento referente a essa prece,
eles sublinham que a verdadeira obediência é seu princípio e seu fundamento
indestrutível, e que ela nasce da verdadeira humildade; essa humildade protege
aquele que se dedica à prece contra todas as ilusões que fazem com que se
percam os que pensam ser seus próprios mestres. É absolutamente impossível às
pessoas do mundo adquirir a verdadeira obediência monástica e a perfeita
renúncia à sua própria vontade e à sua razão, em todas as coisas. Como seria
possível para quem vive no mundo, para quem vive sem obediência, se obrigar,
por sua própria iniciativa – coisa que abre a porta para a ilusão – a uma
atividade tão terrível e temível, vale dizer, a essa prece, sem o benefício de
nenhuma instrução? Como poderá escapar
das numerosas e diferentes ilusões que o Inimigo atira com extrema habilidade
sobre essa prece e sobre os que a praticam? Essa coisa – a prece não simplesmente
interior (mental), realizada “sem arte” apenas pelo intelecto, mas a prece
realizada “com arte” pelo intelecto no coração – é tão temível, que mesmo os verdadeiros
discípulos, aqueles que não apenas afastaram, mas que destruíram sua vontade própria
e sua razão perante seus pais espirituais – autênticos mestres dotados de
grande experiência e competentes para guiá-los na prática dessa prece – se veem
constantemente com temor e tremor, com medo de sofrer alguma ilusão no
exercício da prece, embora Deus os guarde sempre, por causa de sua verdadeira
humildade, obtida pela graça divina em resposta à sua verdadeira obediência.
Com mais forte razão, as pessoas do mundo e que vivem sem a obediência, se
tentarem praticar essa prece apenas depois de ler alguns livros a respeito,
estarão expostas a cair em qualquer ilusão, coisa que acontece aos que tentam
por si sós obter a ascese dessa prece”.
“Os Santos chamaram a essa prece de “arte das artes”; como seria
possível aprendê-la sem um artista, sem um mestre experiente? Essa prece é uma
espada espiritual dada por Deus, para abater o Inimigo de nossas almas. Essa
prece brilhou como o sol unicamente entre os monges, em especial no Egito, na
região de Jerusalém, no Monte Sinai e nos desertos da Nítria, em vários lugares
na Palestina e além, por toda parte, como se extrai da I de São Gregório o
Sinaíta. Ele percorreu toda a Montanha Santa (Athos) buscando cuidadosamente
monges que praticassem a prece; mas não encontrou nenhum que fosse além de uma
vaga noção do que fosse ela[96].
Se São Gregório não encontrou nenhum monge que praticasse a prece num lugar tão
santo como o Monte Athos, podemos concluir que a prática dessa prece devia ser
igualmente desconhecida entre os monges dos outros lugares. Mas onde os monges a
conheciam, onde ela brilhava como um sol entre eles, ela era guardada em
segredo como um grande mistério do qual não se fala, conhecido somente por Deus
e pelos que oravam. A prática dessa prece era completamente desconhecida das
pessoas do mundo. Mas agora, que os escritos patrísticos foram publicados, não
apenas os monges, como todos os cristãos têm conhecimento dela. Por causa
disso, eu temo e tremo de pensar que, pelas razões indicadas acima (ou seja,
pelo perigo de empreender por si próprio a ascese dessa prece sem possuir um
guia espiritual), esses autodidatas caiam na ilusão. Possa Cristo, nosso
Salvador, libertar por sua graça todos aqueles que desejam ser salvos[97]”.
VI
UM MÉTODO QUE CONVÉM A TODOS
Consideramos nosso dever expor aqui, na medida de nossos modestos
conhecimentos e de nossa limitada experiência, o ensinamento dos Santos Padres
sobre o modo de cultivar “com arte” a Prece de Jesus. Indicaremos claramente
qual a maneira de praticar a prece e qual a forma da prece mental e do coração
conveniente a todos os cristãos sem exceção, incluindo aí os monges e os
iniciantes, e qual forma é, ao contrário, reservada àqueles que, com a
benevolência e a graça de Deus, progrediram nesse caminho.
Método de São João Clímaco
Sem dúvida, dentre todos os métodos, o primeiro posto cabe àquele
recomendado por São João Clímaco. Com efeito, esse método é especialmente
cômodo, sem nenhum perigo, necessário e mesmo indispensável para a eficácia da
prece; ele convém a todos os Cristãos que vivem com piedade e que buscam a
salvação, tanto monges como leigos. Esse grande guia dos monges fala desse
método em duas passagens de sua Escada
Santa que conduz da terra ao céu: no degrau sobre a obediência e no degrau
sobre a prece. O próprio fato de que ele expõe seu método no capítulo dedicado
à doutrina da obediência dos monges cenobitas mostra claramente que ele foi
concebido especialmente para os monges iniciantes. A exposição desse método é
retomada ao longo do capítulo consagrado à prece, depois de instruções referentes
aos hesiquiastas, e, por conseguinte, dirigida aos monges avançados. Isso
indica claramente que o método é plenamente válido também para os hesiquiastas
e para os monges avançados. Seu grande mérito consiste em que ele é totalmente
satisfatório, sem apresentar perigo algum.
“Encerra teu pensamento nas palavras”
No degrau sobre a prece, São João Clímaco diz: “Esforce-se para
conduzir, ou melhor, para encerrar seu pensamento nas palavras da prece. Se, em
razão de seu estado de infância, o pensamento enfraquece e se dispersa,
conduza-o de volta. A instabilidade é própria do intelecto. Mas Aquele que que
ordena todas as coisas pode detê-lo. Se você perseverar nessa atividade e se a
guardar constantemente, Aquele que estabeleceu em você limites ao seu mar, virá,
e dirá durante sua prece: ‘Você chegou até aqui e não irá mais longe[98]’.
Não é possível amarrar o espírito; mas ali, onde se encontra o Criador desse
espírito, tudo se submete a Ele[99]”.
“O começo da prece consiste em afastar os pensamentos por meio da prece desde
que eles surgem; o meio, é quando o intelecto permanece exclusivamente nas
palavras pronunciadas, seja vocal ou mentalmente; o coroamento consiste no
arrebatamento do intelecto para Deus[100]”.
No degrau sobre a obediência, São João Clímaco diz: “Lute constantemente contra
seus pensamentos, fazendo-os retornar para você a cada vez que se dispersarem;
Deus não exige cos noviços uma prece totalmente isenta de distrações. Não se
aflija se você se dispersar, mas mantenha-se firme e faça constantemente com
que seus pensamentos retornem a você[101]”.
Orar com atenção
O método aqui exposto consiste em orar com atenção, seja vocal ou
mentalmente. Quando oramos com atenção, o coração não pode deixar de participar
da prece, como disse São Marcos: “O intelecto que ora sem distrações aquebranta
o coração[102]”.
Portanto, aquele que ora segundo o método proposto por São João Clímaco deverá
orar com seus lábios, com seu intelecto e com seu coração; quem progredir nesse
modo de orar possuirá a prece do intelecto e do coração, e atrairá sobre si a
graça divina, como vemos pelas palavras citadas do grande mestre dos monges. O
que mais podemos desejar? Nada, certamente.
Quando praticamos a Prece de Jesus dessa maneira, a qual ilusão
poderemos sucumbir? Só corremos um risco: o de nos deixarmos levar pelas
distrações. Mas esse erro aparece claramente: ele é inevitável entre os
iniciantes e pode ser imediatamente corrigido pelo retorno do pensamento às
palavras da prece. Finalmente, ele pode ser inteiramente eliminado graças à misericórdia
e à ajuda de Deus, e ao preço de um constante esforço ascético.
Como João Clímaco fala da prece do coração
Algumas pessoas poderão se perguntar se um Padre tão ilustre, e que
viveu numa época na qual florescia a oração mental, não teria dito nada da
prece realizada pelo intelecto no coração. Mas ele fala disso, porém de um modo
tão velado que somente os que conhecem essa prece por experiência podem
compreender do que se trata. O santo agiu assim guiado pela sabedoria
espiritual com a qual seu livro foi escrito. Depois de expor o ensinamento
dobre a prece, da forma mais segura e capaz de conduzir o praticante a um
estado de graça, Clímaco se expressou da seguinte maneira alegórica sobre o que
acontece quando a graça chega para coroar o labor da prece: “Uma coisa é
voltar-se frequentemente para o coração, diz ele, e outra, colocar-se no
coração sob a supervisão do intelecto, esse príncipe e grande sacerdote que
oferece os sacrifícios espirituais a Cristo[103]”.
Uma coisa é orar com atenção, com a participação do coração; e outra, é descer
pelo intelecto ao templo do coração e aí oferecer uma prece mística cheia de
força e da graça de Deus. A segunda procede da primeira. A atenção do intelecto
durante a prece atrai a participação do coração. Quando a atenção aumenta, a
participação do coração no intelecto se transforma em união entre o coração e o
intelecto. Finalmente, quando se opera a fusão da atenção com a prece, o
intelecto desce ao coração para nele realizar o profundo ofício sagrado da
oração. Tudo isso se realiza sob a direção da graça de Deus, segundo Lhe agrade
e de acordo com Seu Juízo. Buscar o segundo estado sem ter realizado o primeiro
não apenas é inútil, como ainda poderá causar muitos prejuízos. Para evitar
esse risco, o mistério da prece é protegido contra a curiosidade e a leviandade
do espírito nesse livro destinado ao uso comum dos monges. Nesse tempo
abençoado em que viveram tantos receptáculos da graça, era possível recorrer
aos seus conselhos em todas as circunstâncias em que fosse necessário.
Linguagem simbólica dos Padres
Dentre os monges de Raithou para os quais o bem-aventurado João
escreveu sua Escada, a oração mental
florescia sob a direção de guias espirituais experientes. O santo escritor fez
novas alusões à prece, de maneira velada, em sua Carta ao Pastor. Eis como ele se exprimiu: “Antes de tudo,
venerável Pai, precisamos de forças espirituais para podermos tomar pela mão
como criancinhas e libertar da multidão de pensamentos aqueles que queremos
conduzir aos Santo dos Santos, e aos quais esperamos mostrar a Cristo
repousando sobre seu altar místico e secreto, e isso na medida em que eles se
encontrem na antecâmara desse lugar e que notemos que a multidão os pressiona
com o objetivo de impedi-los de fazer a entrada almejada. E, se essas crianças
são tão fracas e nuas, devemos colocá-las sobre as nossas espáduas e levá-las
até que elas tenham franqueado a porta de entrada. Eu sei perfeitamente que aí
existem turbas enfurecidas e agitações de toda espécie. É por isso que alguém
já disse a respeito: ‘Esse labor está diante de mim, até que eu entre no
santuário de Deus[104]’.
Mas o labor dura somente até a entrada[105]”.
Isaac o Sírio
“Quem desejar ver o Senhor em si mesmo deve se esforçar para purificar
seu coração pela lembrança incessante de Deus. A pátria spiritual de um homem
cuja alma é pura, se encontra dentro dele. O sol que aí brilha é a luz da
Santíssima Trindade. O ar que respiram seus habitantes é o Espírito Santo. A
vida, a alegria e a felicidade desse país é Cristo, Luz da Luz que é o Pai. Lá
está essa Jerusalém, ou esse Reino de Deus oculto em nós, conforme a palavra do
Senhor[106].
Nesse país, que é a nuvem de glória de Deus, somente os que são puros de
coração poderão entrar para ver a Face de seu Mestre e para que seus intelectos
sejam iluminados pelos raios de Sua luz[107]”.
“Esforcem-se por entrar na cela que existe em você, e aí você verá a cela
celeste. Uma e outra são a mesma: pela mesma entrada você penetrará em ambas. A
escada que conduz ao reino dos céus está em você, misteriosamente instalada em
sua alma. Mergulhe em si mesmo ao abrigo do pecado, e aí você encontrará os
degraus pelos quais você chegará até o céu[108]”.
São Barsanulfo
São Barsanulfo foi um monge que atingiu os mais altos cumes da vida
espiritual; ele introduziu seus discípulos no santuário da prece do coração,
movido pela graça, e nos estados aos quais ela conduz. Dentre suas instruções,
lemos aquela que ele deu a um hesiquiasta que se achava sob sua direção: “Que
Deus, o único sem pecado, e que salva os que Nele esperam, fortaleça o amor com
o qual você O serve na santidade e na justiça por todos os dias de sua vida, no
santuário e sobre o altar do homem interior, onde você oferece a Deus os
sacrifícios espirituais, o ouro, o incenso e a mirra, onde é sacrificado o
bezerro gordo, onde é derramado o sangue precioso do Cordeiro sem mácula, e
onde ressoam os hinos harmoniosos dos santos Anjos. “Então serão oferecidos
novilhos sobre o Teu altar[109]”.
Então... quando? Quando vier nosso Senhor, esse Grande Sacerdote que oferece e
recebe o sacrifício incruento; quando, em Seu Nome, o paralítico sentado à Bela
Porta for considerado digno de escutar a alegre notícia: “Levanta-te e caminha[110]”.
Então ele entrará no santuário, caminhando, saltando e louvando a Deus. Então
chegará ao fim o sono da negligência e da ignorância; então se retirará das
pálpebras a sonolência da acídia e da preguiça; então as cindo Virgens
acenderão suas lâmpadas[111]
e exultarão com o Esposo na santa câmara nupcial, cantando a uma só voz e sem
perturbação: “Provai e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que Nele
coloca sua esperança[112]”.
Então chegarão ao fim as lutas, as profanações e os movimentos; então reinará a
paz da Santa Trindade; o tesouro será selado e permanecerá em segurança. Ore
para que você possa compreender e realizar essas coisas, e se regozijar em
Cristo, nosso Senhor[113]”.
Orar à porta do santuário
O modo grandioso como os Padres descrevem a hierurgia da prece do
coração inspira por ela a maior reverência. Essa reverência e a própria
prudência exigem de nós que renunciemos a todo esforço prematuro, arbitrário,
presunçoso e irrefletido, de entrar no santuário secreto; elas nos ensinam a
perseverar na prece atenta, na prece do arrependimento, à porta do templo. A
atenção e a contrição de espírito, essa é a cela oferecida como refúgio aos
pecadores arrependidos. Ela é a antecâmara do santuário. Aí nos abrigaremos e
nos encerraremos, longe do pecado. Que nessa Betesda se assentem todos os que
sofrem de paralisia espiritual, todos os leprosos, todos os cegos e todos os
surdos, numa palavra, todos os que estão enfermos pelo pecado e que aguardam a
agitação das águas[114],
a ação da misericórdia e da graça de Deus. O próprio Senhor, e somente Ele, num
tempo que somente Ele conhece, concederá, segundo sua insondável benevolência a
cura e a entrada no santuário. “Eu conheço aqueles a quem escolhi”, disse o
Senhor. “Não foram vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi, disse Ele
aos eleitos, e que vos instituí para que ides e produzis frutos, e que vosso
fruto permaneça: de tal maneira que tudo o que pedirdes ao Pai em Meu Nome, ele
vos concederá[115].
Como começar
O hieromonge Doroteu, asceta e autor espiritual russo, propôs um
método excelente para aprender a Prece de Jesus. “Aquele que ora com os lábios,
escreveu esse autor, mas que negligencia sua alma e não guarda seu coração, faz
com que suas preces subam aos ares, mas não até Deus, e pena em vão, pois Deus
está atento ao espírito e ao zelo, e não à multiplicação das palavras. É
preciso orar com grande fervor: com toda a sua alma, com todo o seu espírito e
com todo o seu coração, com temor a Deus e com todas as suas forças. A oração
mental não permite que penetrem na cela interior, nem os delírios, nem os maus
pensamentos. Você deseja aprender a prece do intelecto e do coração? Eu o
ensinarei. Esteja atento, meu amigo, e obedeça-me. Para começar, você deve
dizer a prece vocalmente, ou seja, com os lábios, a língua e a voz, com firmeza
e força bastantes para que possa se ouvir. Quando os lábios, a língua e os
sentidos estiverem saciados da prece dita vocalmente, a prece vocal cessará e
você começará a dizê-la num murmúrio. Depois disso você deverá aprender a fixar
constantemente sua atenção sobre a região da frente do pescoço. Então, a um
sinal[116],
a prece do intelecto e do coração começará a brotar espontaneamente e sem
detenção; ela se apresentará por si só e agirá todo o tempo, durante toda
atividade e em todo lugar[117]”.
O ensinamento de Serafim de Sarov
O bem-aventurado staretz e hieromonge Serafim de Sarov prescreve ao
iniciante, conforme um costume já estabelecido no “deserto” de Sarov, que diga
sem cessar a oração: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim,
pecador”. “Durante a prece, ensina o staretz, esteja atento a si mesmo, ou
seja, reúna o seu pensamento e una-o à sua alma. No começo, por um ou dois dias
ou mais, faça essa prece apenas com o intelecto, destacando cada palavra e
fixando sua atenção sobre cada uma em particular. Quando o Senhor aquecer seu
coração com o calor de Sua graça, e unificar todo o seu ser num só espírito,
essa prece começará a jorrar em você sem detença, ela estará sempre em você,
trazendo-lhe alegria e alimento[118]”.
Esse é exatamente o sentido das palavras pronunciadas pelo profeta Isaías: “Teu
orvalho é a cura para todos eles[119]”.
Mas quando você possuir em si esse alimento da alma – falo do diálogo com o
Senhor – que vantagem haverá de ir de cela em cela encontrar os irmãos, mesmo
tendo sido convidado? Eu direi francamente: a falação também é uma forma de
indolência. Se você não entende por si só, poderá você estabelecer um juízo
sobre seja lá o que for, e ensiná-lo aos demais? Cale-se, guarde constantemente
o silêncio, lembre-se sempre da presença de Deus e de Seu Nome. Não entre em
conversas com ninguém; e ao mesmo tempo evite criticar os conversadores e os
que riem. Nesse caso, fique surdo e cego. Seja o que for que digam de você, não
preste atenção. Você pode tomar como exemplo Estevão o Novo, cuja prece era
incessante, o caráter doce, os lábios silenciosos, o coração humilde, o
espírito contrito, o corpo e a alma puros, a virgindade imaculada, a
despossessão real e a pobreza, a de um eremita; ele obedecia sem murmurar, era
paciente em seu ofício e consciencioso no trabalho. Quando você estiver sentado
à mesa, não olhe nem critique a quantidade que os outros comem, mas fique
atento a si mesmo e alimente sua alma com a oração[120]”.
A vida ativa precede a vida contemplativa
Depois de ter dado essa instrução ao monge iniciante que leva a vida
ativa nos trabalhos monásticos e de ter ensinado a prática da prece que lhe convém,
o ancião proíbe-o de se lançar de maneira prematura e irrefletida na vida
contemplativa e na forma de prece que lhe corresponde. “Todo homem, diz ele, que
deseja levar uma vida espiritual deve começar pela vida ativa e só depois
entrar na vida contemplativa, pois é impossível chegar à segunda sem ter antes passado
pela primeira. A vida ativa nos purifica de nossas paixões pecadoras, faz com
que nos elevemos até a perfeição ativa e, por isso mesmo, nos franqueia o
caminho que conduz à vida contemplativa. Dela só podem se aproximar os que se
purificaram de suas paixões e que receberam uma formação completa na vida
ativa, como podemos ver pelas palavras da Escritura: “Felizes os puros de coração,
porque verão a Deus[121]”,
e pelas de São Gregório o Teólogo: “Só podem se aproximar da contemplação
aqueles que adquiriram uma experiência perfeita na vida ativa”. É preciso se
aproximar da vida contemplativa com temor e tremor, com um coração contrito e humilhado,
depois de perscrutar longamente as Santas Escrituras e estando sob a direção de
um guia experiente – se for possível encontrar um – e não com temeridade e por
sua própria conta. No dizer de Gregório o Sinaíta, o homem temerário e
presunçoso busca um estado espiritual que o ultrapassa e se esforça com orgulho
para atingi-lo prematuramente. E mais: se, inspirado por um desejo satânico e
não verdadeiro, alguém sonha em sua imaginação alcançar um estado elevado, o
diabo o apanhará em sua rede e fará dele um escravo[122]”.
Vigilância e prece incessante
Mesmo nos colocando em guarda contra uma busca orgulhosa dos estados
superiores da prece, o staretz insiste na necessidade, para todos os monges,
incluindo os noviços e os mais jovens, de uma vida atenta e uma prece
incessante. Ele observou que, na maioria dos casos, a orientação tomada por um
monge quando de sua entrada no mosteiro permanece determinante por toda a sua
vida. “Somente aqueles que possuem uma atividade interior e que vigiam sua alma,
afirma Serafim, recebem os dons da graça[123]”.
“Os que realmente decidiram servir a Deus devem se exercitar na lembrança de
Deus e na prece incessante do Senhor Jesus Cristo, dizendo em espírito: ‘Senhor
Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador’. Com a condição de
que a pessoa se proteja das tentações e que guarde a paz da alma, essa prática
permite se aproximar de Deus e se unir a Ele. Segundo as palavras de Santo
Isaac o Sírio, não podemos nos aproximar de Deus se não for pela prece
incessante[124]”.
Mesmo durante os ofícios
Para escapar mais facilmente das distrações e permanecer atento,
Serafim aconselha aos monges e noviços que desejam praticar a Prece de Jesus,
que se mantenham em pé na igreja durante os ofícios, com os olhos fechados, não
os abrindo senão ao se sentirem oprimidos pela sonolência. Nesse caso, ele
aconselha dirigir o olhar aos santos ícones, o que protege ainda das distrações
e incita à oração[125]”.
O iniciante deve se habituar de maneira cômoda à Prece de Jesus
durante os longos ofícios monásticos. Quando os assistimos, que vantagem temos
em deixar os pensamentos errar por aí, coisa que é estéril e prejudicial à
alma? Isso é difícil de evitar, se o espírito não estiver ligado a alguma
coisa. Aplique-se, então, à Prece de
Jesus: ela reterá seu espírito e o impedirá de vagar; você se tornará mais
recolhido, mais profundo; estará mais atento às leituras e aos cânticos
litúrgicos e, ao mesmo tempo, sem sequer se dar conta, e progressivamente, você
aprenderá a oração mental.
Ver sem ver
Aos que desejam levar uma vida atenta, Serafim recomenda que não
prestem atenção aos ruídos referentes aos diversos fatos que enchem a cabeça de
pensamentos e de lembranças vãs e inúteis: ele recomenda que não nos ocupemos
dos negócios dos outros, que não pensemos neles, não os julguemos nem falemos
deles; ele recomenda fugir das conversas, conduzir-se como estrangeiros, honrar
os padres e os irmãos ao encontrá-los, com uma silenciosa inclinação, mas
evitando olhá-los com insistência[126],
pois um olhar assim deixa inevitavelmente na alma uma impressão que provocará
nela distrações que irão captar sua atenção e a desviarão da prece. De modo
geral, quem quer levar uma vida atenta não deve olhar fixamente nem escutar com
especial cuidado, mas deve ver como quem não vê e escutar o mínimo e de
passagem, para que a memória e a força da atenção estejam sempre livres,
estranhas às impressões do mundo, aptas e disponíveis para receber as
impressões divinas.
VII
A ATENÇÃO, FUNDAMENTO DA PRECE
Vimos que os métodos preconizados pelo hieromonge Doroteu e pelo
staretz Serafim de Sarov são idênticos àqueles recomendados por São João
Clímaco. Esse último expôs seu método com uma clareza e precisão particulares. Esse
Padre está dentre os mais antigos e mais ilustres mestres do monaquismo, e é reconhecido
como tal por toda a Igreja; os santos escritores que vieram depois se referem a
ele como um mestre cheio de autoridade, como um receptáculo vivo do Espírito
Santo.
A atenção durante a prece
Isso nos autoriza a recomendar com plena segurança o uso geral desse
método aos nossos padres e irmãos bem-amados, não apenas aos que vivem nos
mosteiros, como também àqueles que vivem no mundo e que possuem o real desejo
de orar sinceramente, com proveito e de um modo que agrade a Deus. Não podemos
evitar esse método: se o dissociarmos da prece, isso equivaleria a eliminar
dela a atenção; ora, sem a atenção, a prece sequer é prece: ela é morta! Ela não
passa de um palavrório inútil e nocivo à alma, e que ofende a Deus. Quem ora
com atenção, ora necessariamente mais ou menos segundo esse método. Se a
atenção aumenta e é reforçada, o modo de prece recomendado pelo divino João
aparecerá sem falta. “Peça com lágrimas, diz ele, peça por meio da obediência,
bata com paciência: com efeito, quem pede recebe, que procura encontra, e a
quem bate, será aberto[127]”.
Orar com lentidão
A experiência não tardará a mostrar que, quando utilizamos esse
método, em particular no começo, devemos pronunciar as palavras com extrema
lentidão para que o intelecto tenha tempo de penetrar, tanto nas palavras, como
nas formas; e não é possível fazer isso depois de uma rápida leitura. O método
de São João é também frutífero quando se pratica a Prece de Jesus, assim como
quando lemos as orações na cela e mesmo quando da leitura da Escritura e dos
textos patrísticos. Devemos nos habituar como se lêssemos destacando as
sílabas, com a mesma lentidão. Quem se acostuma com essa maneira de fazer, de
fato, acaba por adquirir a prece vocal, mental e do coração, acessível a todos os
homens que levam uma vida ativa.
Em todas as circunstâncias
Eis o modo como Calixto, o santo Patriarca de Constantinopla, fala da
prece: “A prece incessante consiste em invocar continuamente o Nome divino.
Quer falemos, quer estejamos sentados, ou que caminhemos, ou que estejamos
ocupados com qualquer outra atividade, devemos, em todo tempo e lugar, invocar
o Nome divino, conforme manda a Escritura: “Orai sem cessar[128]”.
Assim são desmontados os complôs que o Inimigo trama contra nós. É preciso orar
com o coração; e é preciso orar também com os lábios, quando estamos a sós. Mas
quando nos encontramos no mercado, ou em companhia de outras pessoas, não
devemos orar com os lábios, mas somente em pensamento. É preciso vigiar nossos
olhos e mantê-los baixos para nos protegermos das distrações e das malhas do
Inimigo. A prece atinge sua perfeição quando é dirigida a Deus sem desvios do
intelecto e sem distrações, quando todos os pensamentos e todos os sentimentos
do homem se reúnem e se unem na prece. A prece e a salmodia não devem ser
cumpridas apenas com o intelecto, mas também com os lábios, como disse o
profeta Davi: “Senhor, abre os meus lábios, e a minha boca anunciará o teu
louvor[129]”.
Também o Apóstolo mostra que os lábios participam da prece, quando diz: ‘Ofereçamos
a Deus um sacrifício de louvor, ou seja, o fruto dos lábios que confessam Seu
Nome’[130]”.
Um pouco de uma, um pouco de outra
A um monge que lhe perguntava como deveria orar, São Barsanulfo o
Grande deu a seguinte resposta: “É preciso se exercitar um pouco na salmodia,
orar um pouco vocalmente; e também precisamos de tempo para examinar e
supervisionar nossos pensamentos. Aquele cuja refeição é composta de pratos
variados come com grande apetite, enquanto que quem come todo dia a mesma
coisa, não somente come sem prazer, como acabará sentindo uma aversão pela
comida. O mesmo acontece no nosso caso. Não se limite à salmodia e à prece
vocal, mas faça-o segundo a força que o Senhor lhe der. Não abandone a leitura
e a prece interior. Um pouco de uma, um pouco de outra, e assim você passará
seu dia de um modo que agrade a Deus. Nossos Padres perfeitos não tinham uma
regra definida, mas faziam sua regra ao longo de toda a jornada; eles se
exercitavam um pouco na salmodia, liam algumas preces em voz alta, examinavam
um pouco seus pensamentos, e também se ocupavam – pouco, é verdade – de sua
alimentação. Mas a tudo isso, eles faziam com temor a Deus[131]”.
A prece vocal
É assim que esse santo Padre, muito avançado no caminho da prece, se
expressou ao instruir seu irmão. A experiência mostrará a todo homem que se
exercita na oração, que o fato de dizer a Prece de Jesus e, em geral, todas as
orações com uma certa participação da voz, é de grande auxílio para que o
intelecto não seja pego pelas distrações. No caso de um ataque violento do
Inimigo, quando sentimos um enfraquecimento da vontade e um obscurecimento do
intelecto, é indispensável recorrer à prece vocal. Uma prece vocal atenta é ao
mesmo tempo uma Prece do intelecto e do coração.
Condenar a si mesmo
Nosso modesto propósito não
visa absolutamente impedir nossos padres e irmãos bem-amados de progredir até os
modos superiores da prece; ao contrário, é o que desejamos de todo coração. Possam
todos os monges ser semelhantes aos Anjos e aos Arcanjos, a quem o amor de Deus
mantém acordados noite e dia e que não deixam de fazer subir até Ele
incessantes louvores. É justamente para que eles recebam no momento certo o
inestimável tesouro da prece que os colocamos em guarda contra uma prática
prematura, errônea e temerária. Não é permitido aspirar a descobrir em si a
prece do coração a partir de um impulso inconsiderado; esse impulso é proibido
porque sua causa reside na ignorância ou num conhecimento insuficiente, e no
fato de a pessoa se considerar orgulhosamente como sendo capaz dessa prece, que
é dada pela graça, e como sendo digno dela; esse impulso é proibido porque é
impossível descobrir em si mesmo e por seus próprios esforços, a prece dada
pela graça; esse impulso que busca com frenesi forçar as portas do templo de
Deus é proibido para que ele não impeça que um dia que a bondade de Deus nos
mostre sua piedade, que, indignos que somos, nos considere dignos, e que nos
conceda esse dom, esse dom que condena aos tormentos eternos das prisões infernais
aqueles que não sabem esperar.
As folhas vêm primeiro
Esse dom é concedido àquele que se humilhou e se rebaixou diante da
grandeza de tal favor; esse dom é concedido a quem renunciou à sua própria
vontade e se entregou à vontade de Deus; esse dom é concedido àquele que domou
e mortificou em si a carne e o sangue, que domou e mortificou em si a sabedoria
carnal, por meio dos mandamentos do Evangelho. A vida resplandece
proporcionalmente ao grau de mortificação. Vinda de improviso, unicamente pela
benevolência, a vida se desenvolve e completa a mortificação iniciada
voluntariamente. Aqueles que buscam com imprudência os estados elevados da
prece, sobretudo se forem obstinados e guiados por um espírito de presunção e
de orgulhosa autossuficiência, são sempre marcados pelo selo da exclusão, de
acordo com as disposições da lei espiritual[132].
É muito difícil, e na maior parte dos casos é impossível, retirar esse selo. Por
qual motivo? Porque o orgulho e a presunção que conduzem à cegueira espiritual
e que fazem com que entremos em relação com os demônios, submetendo-nos a eles,
impede que possamos discernir a falsidade de nossa situação, não permitindo que
vejamos nem nossas deploráveis relações com os demônios, nem nossa terrível
servidão em relação a eles. “Primeiro dê folhas, e então, quando Deus ordenar,
dê frutos”, dizem os Padres[133].
Adquira, para começar, a prece atenta; àquele que primeiramente se purificou e
se preparou por meio da prece atenta, àquele que se formou e se fortaleceu
pelos mandamentos do Evangelho, e que se assentou sobre eles, Deus, o Deus
misericordioso, dará no momento certo a prece movida pela graça.
O verdadeiro mestre
O verdadeiro mestre da prece é Deus; a verdadeira prece é um dom de Deus[134].
É o próprio Deus que faz progredir pouco a pouco na prece aquele que ora com o
espírito quebrantado, constantemente, com temor a Deus e atenção. Da prece
atenta e humilde nascem uma atividade espiritual e um fervor espiritual que
fazem com que o coração reviva. Votando à vida, o coração atrai o Espírito e se
torna o templo da prece movida pela graça[135],
e o receptáculo dos dons espirituais que essa prece tem a propriedade de
conceder.
O fogo espiritual
“Esforce-se, dizem os grandes ascetas e mestres da prece, com um coração
dolorido, para ganhar o fervor e a prece, e Deus lhe concederá obtê-los para
sempre. O esquecimento os põe em fuga; e o esquecimento provém da negligência[136]”.
“Se você quiser se desembaraçar do esquecimento e do cativeiro, você não poderá
fazê-lo se não possuir em si o fogo espiritual; somente o calor pode fazer
desaparecer o esquecimento e o cativeiro. Obtemos esse fogo pelo desejo de
Deus. Irmão, se seu coração não procura pelo Senhor dia e noite com dor, você não
poderá progredir. Mas se você abandonar tudo e só se ocupar disso, você chegará
onde quer, como diz a Escritura: ‘Rendei-vos e vede’[137]”.
Os frutos da vigilância
“Irmão, suplique pela bondade Daquele que quer ‘que todos os homens
sejam salvos e alcancem o conhecimento da verdade[138]’,
a fim de que Ele lhe dê a vigilância espiritual que abrasa o fogo espiritual. O
Senhor, Mestre do céu e da terra, veio à terra para fazer descer sobre ela esse
fogo[139].
E eu oro, eu também, com você, segundo as minhas forças, para que Deus lhe dê
essa vigilância, Ele que concede a graças a todos os que Lhe pedem com esforço
e perseverança. E quando ela vier, ela o colocará por inteiro no caminho da
verdade. Ela iluminará seus olhos, endireitará seu intelecto, expulsará o sonho
da gula e da negligência, dará brilho à arma que se cobre de ferrugem sob a
terra da preguiça, dará novo lustro às vestes manchadas pelo cativeiro entre os
bárbaros, fará com que você deteste a repugnante carniça que é seu alimento,
inspirará em você o desejo de se saciar da grande vítima oferecida em
sacrifício por nosso Grande Sacerdote. A respeito dessa vítima, foi revelado ao
Profeta que ela apaga os pecados e retira as nossas iniquidades[140].
Ela perdoa os que choram, concede Sua graça aos humildes[141],
aparece naqueles que são dignos, e por meio dela eles herdam a vida eterna, em
Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo[142]”.
A vigilância espiritual[143]
“A vigilância espiritual ou sobriedade é uma arte espiritual que, com
a ajuda de Deus, liberta por completo o homem das ações pecadoras, dos
pensamentos e palavras passionais, quando exercida por um tempo prolongado e
com grande zelo. Ela é o silêncio do coração; é a guarda do intelecto; é a atenção
sobre si mesmo que, livre de todo pensamento, invoca sempre, sem interrupções e
sem cessar, a Cristo Jesus, Filho de Deus e Deus, que respira por Ele, que com
Ele parte corajosamente para a guerra contra os inimigos, e que se confessa a
Ele”. Essa é a definição da vigilância espiritual dada por Santo Hesíquio de
Jerusalém[144].
Todos os outros Padres estão de acordo com ele[145].
Quando desce o fogo sobre o coração, ele dá nova vida à prece; quando
essa ressuscita, ela sobe ao céu; então se produz a descida do fogo na câmara
alta da alma[146]”.
Essas palavras foram ditas pela chama do Sinai, João Clímaco. É evidente que o
Santo fala de sua própria experiência.
A prece dada pela graça
Algo de semelhante aconteceu também a São Máximo o Capsocalivita. “Desde
minha juventude, contou ele a São Gregório o Sinaíta, eu tinha uma grande fé em
nossa Senhora, a Mãe de Deus, e orava para ela com lágrimas, para que me concedesse
a graça da oração mental. Um dia, eu fui como de costume à sua igreja e orava a
ela com fervor para isso. Eu me aproximei de seu ícone e comecei a beijá-lo com
veneração quando, subitamente, senti um calor invadir meu peito e meu coração;
esse calor não queimava, mas, ao contrário, enchia-me de delícias como um
orvalho e levava minha alma a um humilde enternecimento. A partir desse
momento, meu coração permaneceu em oração e meu intelecto se deleitou com a
lembrança de meu Jesus e da Mãe de Deus, e eu então tive sem cessar o Senhor Jesus
dentro de mim. Desde esse dia, a prece jamais se interrompeu no meu coração[147]”.
A prece movida pela graça aparece subitamente, de maneira inesperada,
como um dom vindo de Deus; a alma do Santo havia sido preparada para a recepção
desse dom por uma prece fervorosa, atenta, humilde e constante. A prece movida
pela graça não habitou no Santo sem produzir nele seus frutos habituais, que são
totalmente desconhecidos e estranhos ao estado carnal e psíquico do homem.
Primeiro vem o arrependimento
Georges, recluso de Zadonsk, descreveu a partir de sua própria
experiência a grande aparição do fogo espiritual no coração[148],
o fogo do amor de Deus. Mas antes ele havia recebido o dom divino do
arrependimento, que purificou seu coração previamente; esse dom, agindo como um
fogo, havia consumido tudo o que manchava o palácio do Senhor santo e poderoso[149],
e havia mergulhado seu corpo na extinção.
O fogo queima e ilumina
“O fogo santo e celeste, diz São João Clímaco, queima alguns homens por
não estarem ainda suficientemente puros; outros, ao contrário, ele os ilumina
na medida de sua perfeição. O mesmo fogo se chama fogo que consome e luz que ilumina.
É por isso que alguns saem de sua prece como de um banho muito quente, sentindo
um certo alívio de sua sujeira e materialidade, enquanto outros saem
resplendentes de luz e revestidos da dupla vestimenta da humildade e da
alegria. Quanto àqueles que, após a prece, não sentem nenhum desses dois
efeitos, é porque oram corporalmente, e não espiritualmente[150]”.
Por prece espiritual, devemos entender
aqui a prece movida pela graça divina; quanto à prece corporal, é aquela que o
homem realiza por seus próprios esforços sem o concurso manifesto da graça. O segundo
modo de prece é indispensável, conforme sublinha João Clímaco, para que nos
seja dada, a seu tempo, a prece que procede da graça[151].
Mas por que meios a prece movida pela graça anuncia sua chegada? Ela o faz por
lágrimas sobrenaturais, e então o homem franqueia as portas do santuário de
Deus – seu próprio coração – com gemidos inefáveis[152].
[1]
Lucas 2: 34.
[2]
Monge de “grande hábito” Basílio de Polianomeroul; seus escritos foram publicados
juntamente com os do Staretz Païssy Vélitchkovsky pelo Mosteiro de Optima
Poustyne, Moscou, 1847.
[3]
Salmo 40: 19.
[4]
Salmo 30: 20.
[5]
Salmo 19: 8.
[6]
CF. Regra Monástica, 2.
[7] Da hesíquia e das duas maneiras de orar,
2, in Filocalia, tomo IV.
[8]
João 14: 13-14.
[9]
João 16: 23-24.
[10]
Em hebraico, Jesus significa “Salvador”. CF. Mateus 1: 21.
[11]
Cf. o Grande Saltério Litúrgico.
[12]
CF. Ibidem.
[13]
“Aquele que porta Deus em si”.
[14]
Tendo notícias da grande coragem de Santo Inácio, Trajano refletiu e suspendeu
a perseguição aos Cristãos. (Menologion,
20 de Dezembro)
[15]
Mateus 18: 3-4. Cf. Marcos 9: 36, e Menologion,
20 de Dezembro.
[16]
Pastor de Hermas, Parábola 9,
capítulo 14. O Livro de São Hermas era especialmente apreciado na Igreja
primitiva; às vezes ele era ligado ao Novo testamento e era lido durante os
ofícios litúrgicos.
[17] Menologion, 27 de Setembro.
[18]
Cf. Hesíquio, Discursos sobre a
vigilância e a virtude, 1, in Filocalia, tomo I; a crítica moderna atribui
esses escritos a Hesíquio de Batos, provavelmente Higoumeno do Mosteiro do
Sinai nos séculos VII e VIII.
[19]
Cf. Instruções, Moscou, 1844.
[20]
Inácio de Briantchaninov escrevia em meados do século XIX.
[21]
Atos 4: 8-12.
[22]
Romanos 10: 13.
[23]
Filipenses 2: 8-10.
[24]
Salmo 71: 8, 11, 14, 15, 17, 19.
[25]
Salmo 71: 9.
[26] Salmo
8: 2-3.
[27]
São Nilo de Sora, Regra Monástica, 9.
[28]
Salmo 112: 1-3.
[29]
Salmo 28: 2.
[30]
Salmo 9: 11.
[31]
Salmo 73: 21.
[32]
Salmo 39: 5.
[33]
Salmo 118: 55.
[34] Capítulos muito úteis, Sobre a maneira
de cantar, in Filocalia, tomo IV.
[35]
Salmo 117: 10-12.
[36] A Escada Santa, XX, 7.
[37]
Salmo 43: 6-9.
[38]
Salmo 137: 1-3.
[39]
Salmo 110: 9.
[40]
Salmo 78: 9.
[41]
Salmo 53: 3-4.
[42]
Salmo 68: 36-37.
[43]
Cf. João 11: 25.
[44]
Salmo 142: 11.
[45]
Salmo 79: 19.
[46]
Salmo 60: 6-8.
[47]
Salmo 149: 1.
[48]
Salmo 149: 2-3.
[49]
Salmo 85: 11-13.
[50]
Salmo 139: 14.
[51]
Salmo 102: 1.
[52]
Salmo 148: 11-13.
[53]
Marcos 16: 17;
[54]
João 13: 27
[55]
Efésios 2: 1-3.
[56]
Cf. Mateus 12: 43-45. Ver Teofilacto da Bulgária (séc. XI), Comentários.
[57]
Cf. São Gregório o Sinaíta, Da Hesíquia,
3, Sobre a respiração, in Filocalia,
Tomo IV.
[58]
João 11: 25.
[59]
Marcos 16: 17.
[60]
Marcos 9: 20.
[61]
Cf. Marcos 9: 17-27. Barsanulfo e João de Gaza, Correpondência, Resposta 202.
[62] Ibid. Resposta 304.
[63]
João Crisóstomo, citado por Calixto e Inácio Xanthopoulos, Centúria 49, in Filocalia,
tomo IV.
[64] Discursos, I, 1.
[65] Homilias Espirituais, II, 1-2.
[66]
Calixto e Inácio Xanthopoulos, op. cit.,
56.
[67]
Mateus 14: 33.
[68]
Simeão o Novo Teólogo, Método para a
santa prece e a atenção: A Terceira
Prece, in Filocalia, tomo V.
[69]
Cf. Ibid.
[70]
Cf. Eclesiástico 48: 21.
[71]
Hebreus 4: 12.
[72]
Cf. Gregório o Sinaíta, Da Hesíquia,
4, Como encontrar a energia, in Filocalia, tomo IV.
[73]
Lucas 10: 17.
[74]
Lucas 10: 9.
[75]
Cf. Marcos 16: 17.
[76]
Lucas 10: 20.
[77] Comentários sobre os Evangelhos.
[78]
Lucas 10: 21.
[79]
Lucas 10: 22.
[80] Correspondência, Resposta 90.
[81]
Cf. Grande Saltério Litúrgico.
[82]
Cf. Mateus 9: 20-22.
[83] Homilias sobre a Epístola aos Romanos,
8.
[84]
Cf. Livro de Preces, ed. de la Laure
des Grottes de Kiev.
[85]
Cf. Correspondência, Resposta 143;
cf. São Gregório o Sinaíta, Da Hesíquia,
4, in Filocalia, tomo IV.
[86]
Lembramos que Inácio Briantchaninov era russo, tendo vivido no século XIX.
[87]
Cf. Menologion, 1 de Abril.
[88] Da Oração Mental, 1, Optina Poustyne,
1847.
[89] Ibid., 4.
[90]
Cf. Staretz Basílio, Introdução aos
escritos de São Gregório o Sinaíta.
[91]
Cf. Staretz Basílio, Introdução aos
escritos do bem-aventurado Filoteu o Sinaíta.
[92] Regra Monástica, 11.
[93]
Salmo 6: 9-10.
[94]
Eclesiastes 3: 1.
[95] Regra Monástica, 11; Escada Santa, XXVI, 70.
[96]
São Gregório o Sinaíta visitou Athos no século XIV. Nessa época, na Palestina e
no Egito sobretudo, o monaquismo estava quase que inteiramente destruído pelos
muçulmanos, que haviam estendido seu domínio sobre esses territórios desde o
começo do século VIII. Na época de São Gregório o Sinaíta o ensino sobre a
oração mental era extremamente raro. Podemos considera-lo como o restaurador
desse ensino, conforme está na sua curta biografia que consta da Filocalia. Entretanto, mesmo na época de
São Gregório o Sinaíta, existiam monges que atingiram o mais alto grau da
prece, como, por exemplo, Máximo o Capsocalivita, que vivia no Monte Athos;
Gregório beneficiou-se particularmente dos ensinamentos de Máximo, a quem ele
chamava de “Anjo terrestre” (Cf. Filocalia,
Tomo V). São Gregório foi iniciado na prece hesiquiasta por um monge da ilha de
Chipre; antes de tomar conhecimento dela por meio dele, ele só praticava a salmodia;
segundo outras fontes, esse encontro aconteceu em Creta.
[97] Vida e escritos do Starez Moldavo Païssy
Velitchkovsky, Optina Poustyne, 1847.
[98]
Jó 38: 11.
[99] Escada Santa XXVIII, 17.
[100]
Ibid., XXVIII, 19.
[101]
Ibid., IV, 101.
[102]
Dos que imaginam que a justificação vem
pelas obras, cap. 3, Filocalia Tomo
I.
[103]
Op. cit., XXVIII, 54.
[104]
Salmo 72: 16-17.
[105]
Escada Santa, “Carta ao Pastor”, 93.
[106]
Lucas 17: 21.
[107]
Santo Isaac o Sírio, Discursos Ascéticos,
8.
[108]
Ibid., 2.
[109]
Salmo 50, 21.
[110]
Atos 3: 6.
[111]
Cf. Mateus 25: 3.
[112]
Salmo 33: 9.
[113]
Correspondência, Carta 9.
[114]
Cf. João 5: 3.
[115]
João 15: 16.
[116]
Ou seja, sob o efeito da graça de Deus.
[117]
Antologia, Meditação 32.
[118]
São raros os que recebem a união do intelecto e do coração em tão pouco tempo após
iniciar a ascese da prece; normalmente são precisos muitos anos a partir do início
desse esforço ascético até a união, produzida pela graça, entre o intelecto e o
coração: devemos provar a sinceridade de nossa determinação por meio de nossa
constância e de nossa paciência.
[119]
Isaías 26: 19.
[120]
Instruções, 32.
[121]
Mateus 5: 8.
[122]
Ibid., 29.
[123]
Ibid., 4.
[124]
Ibid., 11.
[125]
Ibid., 11.
[126]
Ibid., 6.
[127]
Escada Santa, XXVIII, 59; cf. Mateus
7: 8.
[128]
II Tessalonicenses 5: 17.
[129]
Salmo 50: 17.
[130]
Capítulos sobre a Prece, in Filocalia, Tomo IV; Hebreus 13: 15.
[131]
Correspondência, Resposta 85.
[132]
“Quando o rei entrou para ver os convidados, observou aí alguém que não estava
usando o traje de festa. E lhe perguntou: ‘Amigo, como foi que você entrou aqui
sem o traje de festa?’ Mas o homem nada respondeu. Então o rei disse aos que
serviam: ‘Amarrem os pés e as mãos desse homem, e o joguem fora na escuridão.
Aí haverá choro e ranger de dentes.’” (Mateus 22: 11-13).
[133]
Barsanulfo e João de Gaza, op. cit.,
Resposta 238.
[134]
Cf. A Escada Santa, XXVIII, 64.
[135]
Cf. Teófano o Monge, Escada dos Dons
Divinos, in Filocalia, Tomo II;
Calixto e Inácio Xanthopoulos, op. cit.,
54, in Filocalia, Tomo IV; Serafim de
Sarov, Instruções, 11.
[136]
Cf. Barsanulfo e João de Gaza, op. cit.,
Respostas 267 e 277. As respostas relatadas aqui foram dadas ao abade Doroteu
que se dedicava, com a bênção desses Padres, à incessante lembrança de Deus, a
Prece de Jesus praticada mentalmente. Os Padres haviam recomendado ao abade de
jamais fraquejar nessa ascese, mas de “semear na esperança”, cf. Resposta 266.
[137]
Ibid., 277.
[138]
I Timóteo 2: 4.
[139]
Cf. Lucas 12: 29.
[140]
Cf. Isaías 6: 7.
[141]
Provérbios 3: 34.
[142]
Ibid., Resposta 197.
[143]
A “nepsis” dos Padres, composta pela
sobriedade e a vigilância.
[144]
Capítulos sobre a Vigilância e a Virtude,
1, 3 e 5, in Filocalia, Tomo I.
[145]
Cf. Nicéforo, Tratado da Vigilância e da
Guarda do Coração, in Filocalia,
Tomo IV. Cf. Simeão o Novo Teólogo, Método
para a Santa Prece e a Atenção, in Filocalia,
Tomo V.
[146]
Escada Santa, XXVIII, 48; cf. Atos 1:
13; 2: 3-4.
[147]
Filocalia, Tomo V.
[148]
Inácio Briantchaninov, Experiências
Ascéticas, Tomo II, “Do temor a Deus e do amor a Deus”.
[149]
Cf. Isaac o Sírio, Discursos ascéticos,
68.
[150]
A Escada Santa, XXVIII, 54.
[151]
Cf. ibid., XXVIII, 16, 21 e 26.
[152]
Cf. Romanos 8: 26.
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