quarta-feira, 9 de março de 2016

Leonid Ouspensky - O sentido e o conteúdo do Ícone - Parte 2

A transfiguração de Cristo aconteceu diante de apenas três testemunhas, três apóstolos “capazes de receber” essa revelação, e mesmo eles não viram essa “aurora da luz divina” senão na medida em que podiam (ou seja, na medida de sua participação interior nessa revelação). Conhecemos algumas coisas análogas nas vidas dos santos. Assim, quando são Serafim de Sarov se transfigurou diante de Motovilov, ele lhe explicou que ele só podia ver essa transfiguração porque participava dela numa certa medida; ele não teria conseguido ver a luz da graça se já não estivesse iluminado por ela. Isso explica porque a Tradição afirma que o evangelista são Lucas pintou os ícones da Virgem depois do Pentecostes. Sem essa “luz do conhecimento” de que fala são Simeão o Novo Teólogo, sem uma participação direta à santificação e um testemunho concreto, nenhuma ciência, nenhuma perfeição técnica, nenhum talento bastarão. Os próprios apóstolos (que, entretanto, viam a Cristo todo o tempo e criam Nele) não haviam tido, antes da descida do Espírito Santo sobre eles, a experiência direta da santificação por meio Dele e consequentemente não podiam traduzi-la, nem pela palavra, nem pela imagem. É por isso que tanto a santa Escritura quanto a imagem sagrada só poderiam surgir depois do Pentecostes. Na criação de um ícone, nada pode substituir a experiência pessoal e concreta da graça. Quando não possuímos essa experiência pessoal, só podemos pintar os ícones transmitindo a experiência daqueles que a tiveram. Eis porque, pela voz de seus Concílios e de seus hierarcas, a Igreja prescreveu que os ícones fossem pintados os pintavam outrora os santos iconógrafos: “Representada pelas cores conforme a Tradição, diz são Simeão de Tessalônica, assim é a pintura verdadeira, como a Escritura nos livros, e a graça divina repousa sobre ela porque o que está ali representado é santo[1]”. “Representada conforme e Tradição”, porque na Tradição participamos da experiência dos santos iconógrafos, a experiência viva da Igreja.

Essas palavras, assim como as do Sétimo Concílio Ecumênico, sublinham a participação da imagem na santidade e na glória de seu protótipo: “A graça de Deus repousa” sobre a imagem porque “os santos, no decurso de suas vidas, estavam cheios do Espírito Santo. Da mesma forma, depois de sua morte, diz são João Damasceno, a graça do Espírito Santo repousa em suas almas inesgotavelmente, e também nos seus corpos que estão nas sepulturas, nos seus traços e nas suas santas imagens, e isso não devido à sua natureza, mas como resultado da graça e da ação divina[2]”. É a graça do Espírito Santo que permanece na imagem, que “santifica os olhos dos fiéis”, segundo a expressão do sinodykon do Triunfo da Ortodoxia, e que cura as enfermidades espirituais e corporais. “Veneramos Tua santa imagem, por meio da qual nos salvaste da servidão do inimigo”; ou ainda: “Por intermédio da representação, curaste nosso mal[3]”.

Os meios empregados pelo ícone para transmitir essa qualidade espiritual correspondem perfeitamente ao estado que eles devem comunicar e que é verbalmente descrito pelos santos Padres ascetas. É evidente que a graça divina não é exprimível por nenhum meio humano. Na vida, se nos acontece encontrarmos um santo, não somos capazes de ver sua santidade. “O mundo não vê os santos, do mesmo modo como um cego não vê a luz[4]”. Essa santidade que não vemos, também não somos capazes de a representar; ela não pode ser colocada em palavras, nem em imagens, nem por meio algum que seja humano. No ícone ela pode apenas ser representada com o auxílio de formas, cores e linhas simbólicas, por meio de uma linguagem pictórica instituída pela Igreja e suportada pelo estrito realismo histórico. É por isso que o ícone não é apenas uma imagem representativa de um dado tema religioso, pois esse mesmo tema poderia ser representado de diferentes maneiras. O caráter específico do ícone consiste mais precisamente em como é feita essa representação, ou seja, nos meios com os quais se indica o estado santificado da pessoa representada.

A liturgia nos diz que no caso do ícone da Santa Face nós nos prosternamos diante do rosto do Salvador que “resplandece mais do que o sol”, e que pedimos para ser “iluminados” pela imagem de Cristo (ver as stíchias de 16 de agosto). Nesse caso, é preciso levar em conta que, quando a santa Escritura ou a liturgia, para nos instruir no domínio espiritual, empregam comparações com o mundo sensível, isso não passa de imagens, e não de descrições adequadas. Assim, falando do relato da Transfiguração de Cristo pelos evangelistas, são João Damasceno justifica a comparação – inevitavelmente insuficiente – da luz divina com a luz do sol, sublinhando que é impossível representar aquilo que é incriado pelos meios da criatura[5]. Dito de outra forma, a luz material do sol não pode ser senão uma imagem da luz divina, incriada, uma imagem e nada além.

Por outro lado, entretanto, o ícone devem corresponder aos textos sagrados que são absolutamente explícitos: não se trata de uma imagem poética, nem de uma alegoria, mas de uma realidade concreta. Essa realidade deve ser traduzida. Mas como traduzir pictoricamente essa iluminação, essa luz “que resplandece mais do que o sol”, e que, por conseguinte, ultrapassa todos os nossos meios de representação? Por meio de cores? Mas elas não são suficientes sequer para mostrar a luz natural do sol. Então, como poderiam elas traduzir a luz que ultrapassa a luz do sol?

Tanto nos escritos dos Padres quanto nas vidas dos santos nós encontramos muitos testemunhos de uma certa luz que faz resplandecer desde o interior o rosto dos santos no momento de sua glorificação suprema, assim como resplandecia o rosto de Moisés quando ele desceu da montanha, a tal ponto que era preciso cobri-lo com um véu, pois o povo não podia suportar seu brilho[6]. O ícone traduz esse fenômeno de luz por meio da auréola, atributo exterior que pe uma indicação exata de um fato bem definido do mundo espiritual. A luz com a qual resplandecem os rostos dos santos, e que envolve suas cabeças – na medida em que essa representam a parte superior do corpo – tem naturalmente uma forma esférica. “Imaginem, diz Motovilov ao falar da transfiguração de são Serafim de Sarov, no meio do sol, no brilho mais intenso de seus raios do meio dia, o rosto de um homem que lhes fala[7]”. Como é evidentemente impossível representar essa luz como tal, o único meio de traduzi-la numa pintura consiste em figurar um disco, como se fosse um corte, por assim dizer, dessa esfera luminosa. Não se trata de colocar uma coroa sobre a cabeça de um santo, como nas imagens romanas nas quais essa coroa permanece de certo modo exterior; trata-se de indicar a irradiação do rosto. A auréola não é uma alegoria, mas a representação simbólica de uma realidade autêntica e concreta. É um atributo indispensável do ícone; indispensável, mas não suficiente. Com efeito, ela também serve para expressar coisas diferentes da santidade cristã. Os pagão também representavam seus deuses com auréolas, assim como seus imperadores, sem dúvida para sublinhar a origem divina destes[8]. Portanto, não é apenas a auréola que distingue o ícone das outras imagens: ela não passa de um atributo iconográfico, uma expressão exterior da santidade, um testemunho da luz[9]. Mas, mesmo que aconteça de que a auréola esteja apagada, ou que não a vejamos em absoluto, o ícone continua sendo o ícone e se distingue claramente de quaisquer outras imagens: por todas as suas formas, por todas as suas cores, ele nos mostra, de modo simbólico naturalmente, o estado interior do homem cujo rosto “resplandece mais do que o sol”. Esse estado de perfeição interior é inexprimível, a tal ponto que os Padres e os autores ascéticos o caracterizavam simplesmente por meio de um silêncio absoluto. Porém, a ação dessa iluminação sobre a natureza humana e, em particular, sobre o corpo, pode, em certa medida, ser descrita e representada indiretamente. São Simeão o Novo Teólogo recorreu à imagem do fogo que se une ao ferro. Outros ascetas nos deixaram descrições mais concretas. “Quando a prece é santificada pela graça divina (...) toda a alma é atraída para Deus por uma força desconhecida, que arrasta com ela o corpo (...). No homem nascido para a vida nova, não é apenas a alma, nem somente o coração, mas a própria carne também que se enche de uma consolação e de uma felicidade espirituais: a alegria do Deus vivo[10]”. Ou ainda: “A prece incessante e o ensinamento pela Escritura divina abrem os olhos espirituais do coração que veem o Rei dos exércitos e daí surge uma grande alegria e o desejo por Deus se inflama com força na alma; então, mesmo a carne é transportada pela ação do Espírito e o homem inteiro se torna espiritual[11]”.

Dito de outra maneira, quando o estado habitual de dispersão, caracterizados pelos “pensamentos e as sensações provenientes da natureza decaída”, é substituído no homem por uma prece concentrada, e o homem se vê iluminado pela graça do Espírito Santo, o ser humano inteiro como que se funde num impulso único em direção a Deus. Toda a natureza humana se eleva espiritualmente e então, segundo a expressão de são Denis o Areopagita, “tudo aquilo que nele era desordem se organiza e se ordena; o que era informe, ganha forma, e sua vida (...) se irradia cheia de luz[12]”. É então que “a paz de Deus que ultrapassa toda inteligência[13]” se estabelece no homem, essa paz que caracteriza a própria presença do Senhor. “No tempo de Moisés e Elias, diz são Macário o Grande, quando Deus lhes aparecia, uma multidão de trombetas e de exércitos o precediam e serviam à majestade do Senhor; mas a própria vinda do Senhor se distinguia e se manifestava (...) pela paz, o silêncio e a calma. Pois está dito: ‘Eis uma leve brisa, e é aí que está o Senhor’. Isso mostra que a presença do Senhor consiste na paz e na harmonia[14]”. Continuando na sua condição de criatura, o home se torna deus segundo a graça. O corpo do homem, assim como sua alma, participa assim da vida divina. Essa participação não o altera fisicamente: “Aquilo que vemos não se altera, diz são Gregório de Nisse; um velho não se torna um adolescente, as rugas não se apagam. O que se renova, é o ser interior manchado pelo pecado e envelhecido pelos maus hábitos. Este ser retorna à inocência infantil[15]”. Dito de outro modo, o corpo mantém sua estrutura e suas propriedades biológicas, bem como os traços do aspecto exterior de todo homem. Nada se perde, mas tudo se transforma, e o corpo inteiramente unido à graça é iluminado por sua união com Deus. “O Espírito (Santo), ao se unir ao intelecto, diz santo Antônio o Grande (...) o ensina a manter o corpo em ordem, todo o corpo, da cabeça aos pés: os olhos, para que vejam com pureza; os ouvidos, para que escutem em paz (...); a língua a fim de que ela só diga o bem; as mãos, para que elas só se movam para se erguem em prece e para cumprir as obras da caridade (...); o ventre para que ele se guarde nos limites do uso de alimentos e bebidas (...); os pés, para que eles caminhem direitos na vontade de Deus (...). Desse modo todo o corpo se habitua ao bem e se transforma, submetendo-se ao poder do espírito Santo, de tal sorte que ele acaba por participar em certa medida das propriedades do corpo espiritual que ele deverá receber quando da ressurreição dos justos[16]”.

As passagens patrísticas citadas são como ícones verbais, até mesmo nos detalhes do ensinamento que santo Antônio nos dá a conhecer. Por isso elas têm uma importância capital para o nosso tema. A ação da graça divina sobre o corpo humano, em especial sobre os órgãos dos sentidos, tal como santo Antônio descreve com palavras, nos é mostrada pelo ícone. A analogia entre a descrição verbal e a imagem é a tal ponto evidente que nos conduz a uma clara conclusão: estamos aqui diante da unidade ontológica da experiência ascética entre a ortodoxia e o ícone ortodoxo. É precisamente essa experiência e seu resultado, descritos pelos ascetas ortodoxos, que nos são mostrados nos ícones e nos são transmitidos por eles. Com a ajuda de cores, formas e linhas, com o auxílio do realismo simbólico, linguagem pictórica única em seu gênero, nos é revelado o mundo espiritual do homem que se tornou templo de Deus. A ordem e a paz espiritual de que dão testemunho os santos Padres são transmitidos pelo ícone através da paz e da harmonia exteriores: todo o corpo do santo, todos os seus detalhes, mesmo os cabelos e as rugas, mesmo a veste e tudo o que o cerca, tudo está unificado, conduzido a uma harmonia suprema. Trata-se aí de uma manifestação visível da vitória sobre a divisão e o caos presentes na humanidade e no mundo.

Esses detalhes de aspecto inabitual, em particular os órgãos dos sentidos que vemos no ícone, seus olhos sem brilho, as orelhas de formas às vezes bizarras, tudo isso não é representado de maneira naturalista, e isso não porque o iconógrafo não tenha conseguido representá-los tais como os vemos na natureza, mas porque tais como os vemos na natureza eles não fariam aqui nenhum sentido e não corresponderiam a nada. Seu papel no ícone não é o de nos aproximar daquilo que vemos na natureza, mas o de nos mostrar que estamos em face de um corpo que capta o que escapa à percepção habitual do homem: acima da percepção do mundo físico, a do mundo espiritual. Isso é bem ilustrado pelas questões colocadas com insistência por são Serafim de Sarov a Motovilov ao se transfigurar diante dele: “O que você vê?”, “O que você sente?”, etc. Ora, a luz que Motovilov via, o perfume que ele respirava, o calor que sentia, não eram de ordem física. Seus sentidos percebiam naquele momento a ação da graça sobre o mundo físico que o rodeava. Esse modo não naturalista de representar nos ícones os órgãos dos sentidos traduz a surdez e a ausência de reação diante das manifestações do mundo, a impassibilidade, o desligamento de toda excitação e, por outro lado, a receptividade ao mundo espiritual, que são coisas alcançadas com a santidade. O ícone ortodoxo é a expressão por meio de uma imagem desse canto do Sábado Santo: “Que toda carne humana faça silêncio (...) e que se afaste todo pensamento terrestre...”. Tudo isso está submetido à harmonia geral que exprime, repetimos, a paz e a ordem, a harmonia exterior. Pois não existe desordem no Reino de Deus. “Deus é o Deus da paz e da ordem”, diz, parafraseando são Paulo, uma catequese atribuída a são Simeão o Novo Teólogo.

Assim é que o ícone nos mostra o estado glorificado do santo, seu rosto transfigurado, eterno. Mas ele é feito para nós: ele deve então ser evidente para nós, conforme o que foi dito, que na sua linguagem cifrada o ícone se dirige a todos, assim como as passagens citadas dos santos Padres não dizem respeito unicamente à prática ascética dos monges, mas a todos os fiéis, pois a aquisição da graça do Espírito Santo é a tarefa assinalada a todo membro da Igreja. Enquanto manifestação pictórica da experiência ascética da ortodoxia, o ícone tem uma importância educativa capital e é nisso que reside o objetivo essencial da arte sacra. Sua função construtiva não consiste somente no ensinamento das verdades da fé cristã, mas na formação do homem como um todo.

O conteúdo do ícone constitui assim uma verdadeira direção espiritual da vida cristã e em particular da prece: o ícone nos mostra a atitude que devemos ter em nossa oração, de um lado em relação a Deus e, de outro, perante o mundo que nos cerca. A prece é uma conversa com Deus; é por isso que ela demanda a ausência de paixões, a surdez e a não aceitação das excitações exteriores do mundo. “Assim, irmãos, diz são Gregório o Teólogo, não façamos de modo impuro aquilo que pé santo, de modo vil o que é sublime, de modo desonroso o que honorável, e, em resumo, de modo terrestre o que é espiritual (...). Entre nós, tudo é espiritual: a ação, o movimento, o desejo, as palavras, mesmo o caminhar e as vestes, mesmo o gesto, porque o intelecto (nous) se estende a tudo e em tudo forma o homem segundo Deus; e é assim que mesmo nossa alegria também espiritual e solene[17]”. É precisamente isso que nos mostra o ícone. Uma direção racional de nossos sentidos é indispensável, pois é através deles que os escândalos penetram na alma humana: “A pureza do coração do homem se turva em razão do movimento desordenado das imagens que entram e saem pelos sentidos: a vista, a audição, o tato, o paladar, o olfato, e também pela palavra”, diz santo Antônio o Grande[18]. Os Padres consideram os cinco sentidos como as portas da alma, por assim dizer: “Feche todas as portas de sua alma, ou seja, os sentidos, ensinou santo Isaías, e vigie-as com cuidado, a fim de que a alma não venha a devanear pelo exterior, ou que os negócios e as palavras do mundo não inundem a alma”. Ao orar diante de um ícone, ou simplesmente ao olhar para ele, temos diante dos olhos uma lembrança constante do que disse santo Isaías: “Aquele que crê que seu corpo ressuscitará no dia do Juízo, deve mantê-lo sem mácula e puro de toda mancha e de todo vício[19]”. Isso para que, pelo menos em nossa oração, fechemos as portas de nossa alma e nos esforcemos para ensinar ao nosso corpo (como o santo no ícone ensinou ao seu) a se manter em ordem na e pela graça do Espírito Santo; que nossos olhos “vejam com pureza”, que nossos ouvidos “escutem em paz”, etc., e que nosso coração “não alimente pensamentos malignos”. Assim, por intermédio da imagem, a Igreja se esforça por nos ajudar a recriar nossa natureza viciada pelo pecado.

No domínio ascético, o da prece, os Padres caracterizam a experiência espiritual ortodoxa pela imagem da “porta estreita que conduz à vida[20]”. É como se o homem se detivesse à entrada de uma via que, ao invés de se perder no espaço, se abrisse sobre um infinito de plenitude. Uma porta que dá para a vida divina se abre assim diante do cristão. São Macário o Grande, como muitos outros autores ascéticos, fala assim da progressão espiritual: “Portas se abrem, diz ele (...), e o homem penetra no interior de muitas moradas; na medida em que ele entra, outras portas se abrem diante dele (...) e ele se enriquece; e na medida em que ele se enriquece,  novas maravilhas lhe são mostradas[21]”. Uma vez engajado na via à qual leva a porta estreita, o homem vê abrirem-se diante de si possibilidades e perspectivas sem fim, e seu caminho, longe de se estreitar, se torna cada vez mais amplo. Mas de início ele é um simples ponto no nosso coração, esse ponto a partir do qual toda nossa perspectiva deve se inverter. Esse é o sentido do termo metanoia.

O ícone é assim ao mesmo tempo um caminho a ser seguido e um meio; ele próprio é a prece. Ele nos revela direta e visivelmente essa liberdade em relação às paixões de que nos falam os Padres; ele nos ensina a “jejuar com os olhos”, segundo a expressão de são Doroteu[22]. E, com efeito, é impossível “jejuar com os olhos” diante de qualquer outra imagem, seja temática ou não figurativa. Somente o ícone pode indicar o que significa “jejuar com os olhos”, e o que nos permite alcançar essa condição.

O objetivo do ícone não é o de provocar ou exaltar em nós um sentimento humano natural. Ele não é “tocante”, sentimental. Seu objetivo é orientar para a transfiguração todos os nossos sentimentos, assim como nosso intelecto e todos os demais aspectos de nossa natureza, despojando-os de toda exaltação que não poderia ser senão malsã e nociva. Assim como a deificação que ele traduz, ele nada suprime daquilo que é humano: nem o elemento psicológico, nem as diversas características do homem no mundo. Assim, o ícone do santo não deixa de indicar sua atividade terrestre, da qual ele soube fazer uma ação espiritual, quer tenha esta sido uma atividade eclesial, como a de um bispo ou de um monge, ou uma atividade mundana, como a de um príncipe, um soldado ou um médico. Mas, como no Evangelho, toda essa carga de ações, pensamentos, conhecimentos e de sentimentos humanos é representada em seu contato com o mundo divino, e esse contato purifica tudo e consome o que não pode ser purificado. Cada manifestação da natureza humana, cada fenômeno de nossa vida se ilumina, se aclara, adquire seu verdadeiro sentido e seu lugar.

Da mesma forma como representamos o Deus Homem semelhante em tudo, salvo no pecado, também representamos o santo como uma pessoa liberta do pecado. Segundo são Máximo o Confessor, “como a carne de Cristo, também nossa carne se liberta da corrupção do pecado. Pois, assim como Cristo era sem pecado por Sua carne e por Sua alma enquanto Homem, também nós, que cremos Nele e que nos revestimos Dele pelo Espírito, podemos, por nossa vontade, estar Nele sem pecado[23]”. É justamente o corpo de um homem santo, “conforme o corpo glorioso de Cristo[24]”, que nos mostra o ícone, um corpo liberto da corrupção do pecado e que “participa em certa medida das propriedades do corpo espiritual que ele receberá na ressurreição dos justos”.

A arte sacra ortodoxa é uma expressão visível do dogma da transfiguração. A transfiguração do homem é compreendida e transmitida aqui como uma realidade objetiva bem definida, em acordo com o ensinamento ortodoxo; o que nos é mostrado não é uma interpretação individual, nem uma concepção abstrata ou mais ou menos deteriorada, mas uma verdade ensinada pela Igreja.

As cores do ícone traduzem a cor do corpo humano, mas não a carnação natural da carne, que, como vimos, simplesmente não corresponderia ao sentido do ícone ortodoxo. Trata-se, aqui também, de muito mais do que apenas mostrar a beleza física do corpo humano. A beleza aqui é a pureza espiritual, a beleza interior, segundo as palavras de são Pedro: “A vestimenta interior e oculta no coração, a pureza incorruptível de um espírito doce e pacífico que vale um grande preço diante do Senhor[25]”. É a beleza do da comunhão entre o terrestre e o celeste. É essa beleza-santidade cuja fonte é o Espírito Santo, a semelhança divina adquirida pelo homem, é isso que o ícone mostra. Em sua linguagem própria ele traduz o trabalho da  graça que, segundo a expressão de são Gregório Palamas, “pinta por assim dizer em nós, sobre o que é a imagem de Deus, aquilo que é a semelhança divina, de sorte que (...) nós nos transformamos na Sua semelhança[26]”.

A razão de ser do ícone e seu valor não residem, portanto, na sua beleza enquanto objeto, mas naquilo que ele representa: uma imagem da beleza-semelhança divina.

Compreende-se assim também que a luz do ícone que nos ilumina não é a claridade natural dos rostos obtida com as cores; é a graça divina, a luz da carne purificada e sem pecado. Essa luz da carne santificada deve ser entendida não somente como um fenômeno espiritual, nem como um fenômeno unicamente físico, mas como os dois juntos, como uma revelação da carne por vir[27].

As vestes, ao mesmo tempo em que mantêm suas particularidades e envolvem o corpo de uma maneira perfeitamente lógica, são representadas de modo a não dissimular o estado glorificado do santo; elas sublinham a obra do homem e se tornam, de certa forma, a imagem de sua vestimenta de glória, da “veste de incorruptibilidade”. A experiência ascética, ou melhor, seu resultado, encontra aí sua expressão exterior na severidade das formas quase geométricas, nas luzes e nas linhas das dobras. Elas deixam de ser desordenadas, mudam de aspecto, adquirem um ritmo e uma ordem submetida à harmonia geral da imagem. Sabemos que o fato de tocar as vestes de Cristo, da Virgem, dos apóstolos e dos santos trazia a cura aos crentes. Basta lembrar a história evangélica da mulher que sangrava, ou ainda as curas operadas pelas vestes de são Paulo[28].

A ordem interior do homem representada sobre o ícone se reflete naturalmente na sua atitude e em seus movimentos: os santos não gesticulam: eles se mantêm diante da face de Deus em prece, e cada um de seus movimentos e a própria atitude de seus corpos se revestem de um caráter sacramental, hierático. Geralmente eles têm seu rosto votado para o espectador, ou de três quartos. Esse traço caracteriza a arte cristã desde seu nascimento. O santo está presente aí, diante de nós, e não em qualquer lugar no espaço: ao lhe dirigirmos nossa prece estamos vendo-o face a face. Essa é sem dúvida a razão pela qual quase nunca se representam os santos de perfil, salvo raríssimamente, em composições complicadas em que eles estão voltados para o centro. O perfil de certo modo interrompe o contato direto: é como o começo de uma ausência. Só são representadas de perfil as pessoas que não adquiriram a santidade, como, por exemplo, os magos e os pastores no ícone da Natividade.

É típico da santidade santificar tudo o que a cerca; a deificação do homem se comunica ao seu ambiente. São as primícias da transfiguração do mundo. É no homem e pelo homem que se realiza e se manifesta a participação da criatura na vida divina eterna. Do mesmo modo como a criatura caiu com a queda do homem, é pela deificação do homem que ela é salva, pois “a criação está submetida à vaidade não por sua vontade, mas por causa daquele que a submeteu – com a esperança de que também será liberta da servidão da corrupção por tomar parte da liberdade da glória dos filhos de Deus[29]”. Temos uma indicação que marca o início do restabelecimento da unidade na criatura decaída; é na estada de Jesus no deserto: “Ele estava com os animais selvagens, e os anjos o serviam[30]”. No Deus Homem Jesus Cristo se reúnem as criaturas celestes e as criaturas terrestres destinadas a se tornarem a nova criação. Esse pensamento de unificação na paz da criação inteira atravessa, bem aparente, toda a iconografia ortodoxa[31]. A união em Deus de todas as criaturas, começando pelos anjos e chegando até as criaturas inferiores, é nisso que consiste o universo renovado futuro, que, no ícone se opõe à discórdia geral, ao reinado do príncipe deste mundo. A harmonia e a paz restabelecidas, a Igreja abraçando o mundo inteiro – este é o pensamento da arte sacra ortodoxa, pensamento que domina tanto a arquitetura como a pintura[32]. Eis porque vemos no ícone que tudo o que cerca um santo muda de aspecto. O mundo que rodeia o homem – portador e anunciador da revelação divina – se torna assim uma imagem do mundo futuro, transfigurado, renovado: tudo perde seu aspecto habitual de desordem e adquire uma ordem harmoniosa: os homens, a paisagem, os animais, a arquitetura. Tudo o que envolve o santo se dobra com ele a uma ordem rítmica, tudo reflete a presença divina, aproximando-se – e nos aproximando – de Deus. A terra, o mundo vegetal, o mundo animal, são representados no ícone não para nos aproximar daquilo que vemos todos os dias ao nosso redor, ou seja, o mundo decaído em seu estado corruptível, mas para nos mostrar a participação deste mundo na deificação do homem. A ação da santidade sobre a totalidade do mundo criado, em especial sobre os animais selvagens, é um traço que frequentemente caracteriza a vida dos santos[33]. Epifânio, discípulo e biógrafo de são Sérgio de Radonege, comenta da seguinte maneira a atitude dos animais ferozes para com o santo: “Que ninguém se admire, sabendo que quando Deus habita num homem e o Espírito Santo repousa nele, que tudo se submeta a ele como a Adão antes de sua queda, quando Adão vivia só no deserto”. O relato da vida de santo Isaac o Sírio nos diz que os animais que vinham a ele sentiam o odor que exalava Adão antes da queda. É por isso que, quando são representados no ícone, os animais adquirem um aspecto inabitual: mesmo mantendo os traços característicos de cada espécie, eles perdem seu aspecto costumeiro. Isso poderia parecer bizarro ou deslocado, a menos que compreendamos a linguagem dos iconógrafos que fazem assim alusão ao mistério paradisíaco, inacessível agora para nós.

Quanto à arquitetura representada no ícone, ao mesmo tempo em que ela se submete à harmonia geral, ela desempenha um papel à parte. Tal como a paisagem, ela especifica o local onde se desenrola o evento: uma igreja, uma casa, uma cidade. Mas o edifício (bem como a gruta da Natividade ou a da Ressurreição) jamais encerra a cena: ele serve apenas de fundo, de modo a que esta não se passa dentro do edifício, mas diante dele. É que o próprio sentido dos eventos mostrados nos ícones não se limita ao seu lugar histórico, da mesma forma como, manifestados no tempo, eles ultrapassam o momento em que aconteceram. Somente depois do século XVII os iconógrafos, sob a influência da arte ocidental, começaram a representar cenas que se passavam no interior de um edifício. A arquitetura se lega às figuras humanas pelo sentido geral da imagem e pela composição, mas a ligação lógica fica faltando. Se compararmos o modo de representar o corpo humano no ícone com o modo de representar a arquitetura, veremos uma grande diferença: o corpo humano, ainda que figurado de um modo não naturalista, é, com raras exceções, lógico: tudo está no lugar. O mesmo acontece com as vestimentas: o modo como são tratadas, o caimento das dobras, tudo é perfeitamente lógico. Mas a arquitetura, no mais das vezes, desafia toda lógica humana, tanto nas suas formas como nos seus detalhes. Se, de um lado, o ponto de partida são as formas arquitetônicas reais, por outro as proporções são absolutamente negligenciadas; as portas e janelas não estão nos seus lugares e, aliás, são perfeitamente inúteis por causa de suas dimensões em relação aos personagens, etc. A opinião corrente vê na arquitetura do ícone uma mistura de formas bizantinas e antigas, devido a um apego cego dos iconógrafos a essas formas que são agora incompreensíveis. Mas o verdadeiro sentido desse fenômeno é que a ação representada transcende a lógica racional dos homens, as leis da vida terrestre. A arquitetura, seja ela antiga, bizantina ou russa, é o elemento do ícone que permite melhor ilustrar isso. Ela é decorada com uma certa “loucura em Cristo” pictórica, em contradição total com o “espírito de pesandez”. Essa fantasia arquitetônica desconcerta sistematicamente a razão, remetendo-a ao seu lugar e sublinhando o caráter metalógico da fé[34].

O caráter estranho e inabitual do ícone é o mesmo do Evangelho. Pois o Evangelho é uma verdadeira provocação perante toda orde3m, toda sabedoria do mundo. “Eu destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos inteligentes”, diz o Senhor pela boca de Seus profetas citados por são Paulo[35]. O Evangelho nos chama para a vida em Cristo, e o ícone a representa. É por isso que ele utiliza às vezes formas anormais e chocantes, assim como a santidade exige por vezes formas extremas que parecem loucura aos olhos do mundo, como a santidade dos louco de Cristo. “Dizem que sou louco, dizia um destes, mas sem a loucura não se entra no Reino de Deus (...). Para viver segundo o Evangelho é preciso ser louco. Enquanto os homens forem racionais e razoáveis, o Reino de Deus não descerá à terra[36]”.  A loucura em Cristo e as formas às vezes provocantes dos ícones exprimem a mesma realidade evangélica. Essa perspectiva evangélica inverte a perspectiva do mundo. E o universo que o ícone nos mostra é aquele onde reinam, não as categorias racionais, não a moral humana, mas a graça divina. Daí o hieratismo do ícone, sua simplicidade, sua majestade, sua calma; daí o ritmo de suas linhas, a alegria de suas cores. Ele reflete o esforço da ascese e a alegria da vitória. A pena se transforma em “alegria do Deus vivo”. É a ordem nova na nova criação.

O mundo que vemos no ícone não se assemelha à banalidade da vida cotidiana. A luz divina penetra tudo, e é por isso que os personagens e os objetos não são iluminados por este ou aquele lado por um foco de luz; eles não projetam sombras – estas não existem no Reino de Deus, onde tudo está banhado em luz. Na linguagem técnica da iconografia o próprio fundo do ícone é denominado “luz”.

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Tentamos mostrar em nossa exposição que, assim como o simbolismo dos primeiros séculos cristãos era uma linguagem comum a toda a Igreja, também o ícone constitui uma linguagem comum ao conjunto da Igreja, porque ele expressa o ensinamento ortodoxo comum, a experiência ascética ortodoxa comum e a liturgia ortodoxa comum. A imagem sagrada sempre expressou a revelação da Igreja, trazendo-a numa forma visível ao povo fiel; colocando-a diante de seus olhos como uma resposta às suas questões, um ensinamento e uma direção, como uma tarefa a cumprir, como uma prefiguração e como as primícias do Reino de Deus. A revelação divina e sua aceitação pelo homem são uma mesma ação em dois sentidos, por assim dizer. O apocalipse e a gnose – a via da revelação e a do conhecimento - correspondem
Uma à outra: Deus Se abaixa e Se revela ao homem; o homem responde a Deus, elevando-se e conformando sua vida à revelação recebida. Na imagem ele recebe a revelação e pela imagem ele responde a essa revelação na medida em que dela participa. Dito de outra forma, o ícone é o testemunho visível, tanto do abaixamento de Deus para o homem, quanto do impulso do homem em direção a Deus. Se as palavras e os cantos da Igreja santificam nossa alma por meio do ouvido, a imagem a santifica por meio da vista, primeira dentre os sentidos, segundo os Padres. “O olho é a lâmpada do corpo, diz nosso Senhor; se seu olho estiver em bom estado, todo seu corpo será iluminado[37]”. Pela palavra e pela imagem a liturgia santifica os sentidos. Expressão da imagem e da semelhança divina restabelecidas no homem, o ícone é um elemento dinâmico e construtivo do culto, longe de ser simplesmente conservador e de desempenhar um papel passivo, como pensam alguns observadores do exterior. É por isso que a Igreja, por decisão do Sétimo Concílio Ecumênico, ordenou colocar os ícones “no nível das imagens da preciosa cruz, fonte de vida, em todas as igrejas de Deus, sobre os vasos e as vestes sagradas, sobre as paredes, sobre os quadros, nas casas e nas vias públicas”. É porque a Igreja viu no ícone um dos meios que podem e devem nos permitir realizar nossa vocação, ou seja, adquirir a semelhança com nosso Protótipo divino, cumprir em nossa vida aquilo que nos foi revelado e transmitido pelo Deus Homem. Os santos são pouco numerosos, mas a santidade é uma tarefa assinalada a todos os homens, e os ícones estão colocados por toda parte como um modelo dessa santidade, como uma revelação da santidade do mundo por vir, um plano e um projeto da transfiguração cósmica. Por outro lado, como a graça adquirida pelos santos no curso de suas vidas permanece inesgotável em suas imagens[38], essas imagens são colocadas por todo lugar, para santificar o mundo com a graça que lhes é própria. Os ícones são como marcos sobre nosso caminho em direção à nova criação, a fim de que, segundo a expressão de são Paulo, contemplando a glória do Senhor, nós nos transformemos na mesma imagem[39].

Os homens que conheceram por experiência a santificação criaram as imagens que lhe correspondem e que constituem realmente uma “revelação e uma demonstração do que está oculto”, segundo as palavras de são João Damasceno, assim como outrora o tabernáculo construído segundo as indicações de Moisés revelou aquilo que lhe foi mostrado sobre a montanha. Não apenas essas imagens revelam ao homem um universo transfigurado, como elas permitem a ele participar desse universo. Podemos dizer que o ícone é pintado segundo a natureza, mas com a auxílio de símbolos, pois a natureza que ele representa não pode ser representada diretamente. É o mundo que não será plenamente revelado senão quando da segunda vinda do Senhor.

Assim expressamos aqui o conteúdo do ícone, como expressão do dogma e como fruto da experiência espiritual ortodoxa durante o período cristológico na história da Igreja, conteúdo que foi trazido à luz pelos Padres e os Concílios, e, em particular, pelo dogma da veneração dos ícones.



[1] Diálogo contra as heresias, capítulo XXIII, PG 155, 113D.
[2] 1º Tratado em Defesa dos Santos Ícones, 19, PG 94, I, 1249CD.
[3] Festa da Santa Face, glorificação e ode 7 do cânon.
[4] Philarete, metropolita de Moscou, Sermões, III, 57, Moscou 1874.
[5] Sermão da Transfiguração, PG 94, III, 545-546.
[6] Êxodo 34: 30; II Coríntios 3: 7-8.
[7] I. Gorainoff, Serafim de Sarov.
[8] Não podemos dizer de que ordem seria essa luz entre os pagãos. De uma parte a Igreja reconhece uma revelação parcial fora dela, e podemos concluir que o mistério da luz incriada poderia ter sido, numa certa medida, revelado aos pagãos. Em todo caso, eles sabiam que a Divindade estava ligada à luz. De outro lado, os escritos dos Padres nos revelam que o fenômeno da luz poderia ter também uma origem demoníaca, pois o próprio demônio é capaz de se travestir em anjo de luz.
[9] O caso é outro quando vemos em certas imagens um tipo de auréola quadrada. É assim que outrora se indicava que a pessoa havia sido retratada quando ainda estava viva.
[10] Bispo Inácio Brianchaninov, Ensaio Ascético, Tomo I.
[11] Relato muito útil sobre o Abade Filemon, 3, Filocalia, Tomo III, Moscou 1888.
[12] A Hierarquia Eclesiástica, cap. II, III, Paris, 1943.
[13] Filipenses 4: 7.
[14] Filocalia, tomo I, Moscou, 1877.
[15] Cf. G. Florovsky, Os Padres dos séculos IV e V, Westmead, 1972.
[16] Filocalia, tomo I, Moscou, 1877.
[17] Or. X endereçada a São Gregório de Nisse, PG 35, 840A.
[18] Filocalia, Tomo I.
[19] Abbas Isaías, 15ª catequese, Filocalia, Tomo I, versão russa.
[20] Mateus 5: 14.
[21] Filocalia, Tomo I, versão russa.
[22] Ensinamentos e mensagens úteis à alma, Optina Poustyn, 1895, versão russa.
[23] Capítulos ativos e contemplativos, cap. LXVII, Filocalia, Tomo III.
[24] Filipenses 3: 21.
[25] I Pedro 3: 4.
[26] Filocalia, tomo V – Carta à monja Xenia sobre as virtudes e as paixões”, Moscou, 1889.
[27] É assim que o problema da representação do corpo humano jamais se colocou na ortodoxia do modo como ele é colocado no catolicismo romano desde a decisão do Concílio de Trento em 1546 (25ª sessão): “O santo Concílio determina que se evite toda impureza, que não se dê às imagens traços provocantes...”. Essa “impureza” que se deve evitar era o corpo humano. A primeira coisa que fizeram as autoridades eclesiásticas romanas foi proibir a representação do corpo humano nu na arte religiosa. Começou uma verdadeira caça à nudez. Por ordem do papa Paulo IV, os personagens do Juízo final de Miguel Ângelo receberam véus. O papa Clemente VIII, abandonando meias medidas, quis apagar todo o afresco e só foi detido por súplica da Academia de São Lucas. Carlos Borromeu, em quem se encarnou o espírito do Concílio de Trento, fez desaparecer os nus onde quer que os encontrasse; foram destruídos quadros e estátuas que pareciam pouco pudicos. Alguns pintores queimaram suas próprias obras. Na Igreja ortodoxa, o próprio caráter de sua arte exclui semelhante situação.
[28] Atos 19: 12.
[29] Romanos 8: 20-23.
[30] Marcos 1: 13.
[31] Ela se vê particularmente sublinhada em certos ícones que revelam o sentido cósmico da imagem sagrada, como, por exemplo, “Que todo sopro louve o Senhor...”, ou ainda “Ó cheia de graça, em Ti se regozija toda a criação...”, e outros ainda.
[32] E. Troubetskoy, o Sentido da Vida, Berlim, 1922.
[33] Por exemplo, as vidas de santo Isaac o Sírio, de santa Maria Egipcíaca, de são Sabas o Consagrado, de são Sérgio de Radonege, de são Serafim de Sarov, de são Paulo de Obnorsk e de muitos outros.
[34] O caráter alógico da arquitetura persistiu até a decadência (fim do século XVI e início do século XVII) quando a compreensão da linguagem iconográfica começou a ser perder. A partir desse momento, a arquitetura se tornou lógica e proporcional. E, o que é curioso, é nesse momento que encontramos misturas realmente fantásticas de formas arquitetônicas.
[35] I Colossenses 1: 19.
[36] Arquimandrita Spiridon, Minhas Missões na Sibéria, Paris, 1950.
[37] Mateus 6: 22.
[38] São João Damasceno, Primeiro Tratado em Defesa dos Ícones, cap. XIX, PG 94, I, 1249 CD.
[39] II Coríntios 3: 18.

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