1.
“Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade
de mim, pecador”.
Estas são as palavras que constituem a prece que a Igreja ortodoxa
chama de “prece de Jesus” ou “prece do coração”. Inúmeros livros muito
edificantes nos permitem descobrir essa prece, quanto às suas origens, seu
desenvolvimento, seu método; aqui desejamos simplesmente fazer um resumo para
nossos amigos leitores que já a praticam, e apresentá-la um o pouco àqueles que
ainda não a conhecem.
Digamos inicialmente que a Prece de Jesus é um caminho no seio da
prece hesiquiasta, esse “método” de meditação ou de oração que busca, no
silêncio e na paz do coração, encontrar o Deus vivo na vida trinitária. O
hesiquiasta é aquele faz um “retorno sobre si mesmo”, que procura se calar para
que Deus possa lhe falar, sabendo que tal perspectiva não pode ser adquirida
mediante um único ensinamento. Trata-se de uma experiência espiritual, de um
encontro.
“A hesíquia consiste em permanecer diante de Deus numa oração
constante. Deixe que a lembrança de Jesus se uma à sua respiração, e você
conhecerá o valor da hesíquia[1]”.
Se trabalhar na hesíquia significa se aproximar de Deus, como
conhecê-lo se ele não se manifesta a nós, se ele não se deixa conhecer por nós
nem no seu Nome? Pois do contrário esse Deus não seria o Deus vivo. É nessa
aproximação de Deus, nessa sede de sua manifestação, que nasceu, no monaquismo
oriental, a Prece de Jesus: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de
mim, pecador”.
Não se trata de uma prece dita por Jesus, nem de uma prece a Jesus,
embora ela se dirija ao Senhor Jesus Cristo, mas de uma invocação que conduz a
uma experiência. Cada palavra pronunciada constitui uma experiência e não pode
ser vivida senão for no Espírito Santo, pois “ninguém pode dizer que Jesus é o
Senhor se não for no Espírito Santo[2]”.
A prece de Jesus contém poucas palavras, mas essas palavras contêm
tudo: o céu e a terra, o criado e o incriado, Deus e o homem. É uma prece
divino-humana.
Nas palavras de Teófano o Recluso, “ela une a alma ao Senhor Jesus
Cristo e é a única porta para a comunhão com Deus, que é o objetivo de todo
encontro”.
A prece de Jesus não se aprende, ela tem que ser experimentada.
Façamos, portanto, como Moisés diante da sarça ardente e “tiremos nossas
sandálias”, ou seja, façamos calar nossas ideias, nossos conceitos, para nos
aproximarmos daquele a quem diremos:
SENHOR!
Senhor! Repetimo-lo... não estamos pronunciando uma palavra, estamos
formulando uma invocação. Antes de ir mais longe, detenhamo-nos um pouco,
fechemos os olhos e deixemos que se expresse a experiência que essa palavra
suscita em nós:
SENHOR!
No pensamento egípcio e semítico, o termo “senhor” significa Mestre – Adonai em hebraico, Kyrios em grego. Trata-se daquele de quem dependemos inteiramente,
de quem somos escravos, que possui um direito de vida e de morte sobre aqueles
que lhe estão submetidos. Nascido dentro dessa mentalidade, o povo hebreu
chamava seu Deus de “Adonai”, porque
ele era seu Criador, e porque suas criaturas a ele pertencem:
“Filhos de Deus, rendam ao Senhor, rendam ao Senhor glória e honra”.
No designativo de Senhor, Deus também era reconhecido como Rei por
seus servidores. Este é o título rela de YHWH, cujo nome expresso pelo
Tetragrama sagrado foi traduzido como Adonai,
meu Senhor:
“Cantem a Deus, cantem, cante ao nosso Rei, cantem, pois Deus é o Rei
de toda a terra”.
Os discípulos de Jesus eram judeus, e eles experimentaram a Soberania
de Deus, de modo que, vivendo com Jesus, eles refizeram essa mesma experiência.
É por isso que inicialmente eles o chamavam de “Rabbi” ou “Rabboni”, que
quer dizer “Mestre”, pois eles atribuíam a Jesus o poder soberano do “Senhor”, Mara em aramaico:
“Vocês me chamam de Mestre e Senhor, e eu lhe digo que de fato o sou[3]”.
Ainda antes do nascimento de Jesus, Isabel, grávida de João Batista,
reconheceu Jesus como Senhor nas entranhas de Maria grávida, e João Batista
estremeceu de alegria:
“Como me foi concedido que a Mãe de meu Senhor venha até mim?[4]”.
“Senhor” contém a um tempo a realeza de Jesus e sua divindade. O
próprio Jesus, diante dos Fariseus, se apoiou no Salmo 110 para dizer que o
Messias é “Senhor”, portanto superior Davi, de quem é filho:
“O Senhor disse ao meu Senhor: dente-se à minha direita, até que eu
faça de seus inimigos escabelo para seus pés[5]”.
Os apóstolos se apoiavam nas mesmas palavras para afirmar a soberania
absoluta de Jesus atualizada por sua Ressurreição[6].
E a Igreja nascente se dirige em prece ao Senhor Jesus dizendo: “Marana tha, Nosso Senhor, vem![7]”,
apelo que ecoou até o Apocalipse[8].
Se de minha parte eu chamo Jesus de “Senhor”, que transformação acontece em
minha vida, a que regresso sou chamado! Assim, eu desejo depender inteiramente
do Senhor Jesus, desejo renunciar aos meus múltiplos senhores, que me possuem e
aos quais me prostituo, para me prosternar aos seus pés e beijá-los como fez
Maria Madalena. É com esse espírito de humildade e adoração que penetramos na
prece de Jesus.
SENHOR JESUS!
Quem é Jesus em minha vida?
“Yeshouah”, assim o chamava
sua Mãe. Jesus significa “Deus salva”, aquele que traz a salvação: “ele veio
para salvar aqueles que estavam perdidos[9]”.
Jesus é o nosso Senhor, ele resgatou a humanidade da morte, destruiu as trancas
do inferno. Jesus é também meu Salvador, pois a cada dia, a cada instante, ele
me liberta, me livra e me cura se eu invocar seu Nome. Na potência salvadora de
seu Nome, Jesus assume a profecia do profeta Joel: “Quem quer que invocar o
Nome do Senhor será salvo[10]”.
O que significa invocar o Nome? O que representa o Nome para um
semita? Isso nos interessa porque é na fé do povo hebreu que estão as raízes de
nossa própria fé. Na mentalidade do povo hebreu, conhecer o nome de alguém,
chamar a pessoa pelo seu nome, equivale a conhecê-la intimamente e, ao mesmo
tempo, significa saber como chamá-la para se aproximar dela, para se comunicar
com ela doravante, para obter seu auxílio. De certa forma, implica algum tipo
de poder sobre a pessoa. O mesmo acontece em relação a Deus, e isso poderia
descambar para a magia a serviço de nossos próprios interesses, se nosso Deus
não fosse o Deus de Abrahão, de Isaac e de Jacó, o Deus de nossos pais, o Deus
revelado em Jesus Cristo que recebeu de seu Pai o Nome “que está acima de todo
nome[11]”.
A invocação do santo Nome sem o fundamento da fé e do impulso do
coração permanece estéril e pode até nos prejudicar. “Não basta dizer ‘Senhor,
Senhor’ para entrar no Reino dos céus; é preciso fazer a vontade de meu Pai que
está nos céus...[12]”.
Foi assim que, em sua mentalidade semítica, Moisés se dirigiu a Deus, que o
enviara ao Egito: “Eu irei aos filhos de Israel e lhes direi: ‘O Deus de seus
Pais me enviou a vocês’. Mas se eles me perguntarem seu nome, o que lhes
responderei?”. Deus disse a Moisés: “Eu sou aquele que é”, e acrescentou: “É
assim que você responderá aos filhos de Israel: ‘Eu sou’ me enviou a vocês”.
Deus disse ainda a Moisés: “Você dirá ainda aos filhos de Israel: O Senhor Deus
de seus pais, Deus de Abrahão, Deus de Isaac, Deus de Jacó, me enviou a vocês.
Esse é meu Nome eternamente, é assim que vocês me invocarão, de geração em
geração[13]”.
O próprio Deus se designou a Moisés, não em sua Essência, mas como “Eu
sou”, ou seja, como aquele que prometeu estar conosco. O Nome foi dado ao povo
de Israel para que este pudesse nomear seu Deus e testemunhar a todos os homens
do universo o poder do santo Nome, pois se, por um lado, Israel conhece o Nome divino, por outro, ele
não é proprietário deste Nome, mas seu testemunho. Rabbi Simeão ben Eleazar disse
por volta do ano 200: “Quando os israelitas fazem a vontade de Deus seu Nome é
exaltado no mundo, mas quando eles não fazem sua vontade, seu Nome é profanado
no mundo vivo”. Toda a fé de Israel repousa sobre o Nome e sobre a relação que
ele pode ter com o Nome, pois Deus revelou seus costumes ao seu povo revelando
a ele seu Nome.
“Moisés cortou duas tábuas de pedra, como as primeiras, levantou-se de
madrugada e subiu até a montanha do Sinai, como o Senhor tinha ordenado, e
levou nas mãos as duas tábuas de pedra. O Senhor desceu na nuvem e ficou junto
com Moisés, que invocou o nome do Senhor. E o Senhor passou diante de Moisés,
proclamando: «O Senhor, o Senhor Deus misericordioso e compassivo, lento para a
cólera e cheio de fidelidade e de verdade, que permanece fiel por milhares de
gerações, tolerando a falta, a transgressão e o pecado, mas não deixa ninguém
impune...[14]”.
Pelo fato de que Deus se nomeou para Israel em seu Ser para ele,
Israel pôde saber por que e como invocar seu santo Nome. Toda oração do povo
hebreu é invocação: a bênção, a ação de graças, a adoração, a súplica, os
chamados. As intercessões de alegria, de lágrimas, de angústia, são sempre
apelos ao Nome.
“Laços de morte me cercavam, e eu caí na angústia e aflição. Então eu
invoquei o nome do Senhor: Senhor, salva minha alma![15]”.
Os mandamentos de Deus para os homens foram experimentados por Israel
por meio de ações concretas; e hoje o Senhor Jesus encarna as promessas e os
atos de seu Pai até nos menores detalhes de nosso cotidiano. Assim diante de
nossas trevas, ele diz: “Eu sou a Luz[16]”;
face à nossa prisão: “Eu sou a Porta[17]”;
frente à nossa desorientação: “Eu sou o Caminho[18]”;
diante de nossa fome: “Eu sou o Pão de Vida[19]”;
perante nossas mentiras: “Eu sou a Verdade[20]”;
frente à Morte e aos nossos mortos: “Eu sou a Ressurreição e a Vida[21]”.
E tantos outros “Eu sou”, diante de nossas faltas! Até sobre a Cruz
Jesus revelou que ele é o Amor num ser de Amor que culminou na Ressurreição,
pois esse amor é mais forte do que a morte. é do Senhor Jesus Cristo que jorram
toda ternura, esse amor, essa misericórdia que seu Pai tem por nós, e que ele
revelou a Moisés. Esse amor, é missão de Cristo no-lo manifestar. Nessa missão,
ele é Messias, o Cristo, isto é, o Ungido do Senhor.
SENHOR JESUS CRISTO.
A unção era elemento essencial da investidura dos reis, considerados
em Israel e em todo o Oriente antigo como salvadores dos povos. O Rei era
escolhido por Deus, era o servidor do Senhor. A fim de que o rei pudesse
cumprir sua missão, em fidelidade à vontade do Senhor, ele era ungido com um
óleo perfumado, e assim participava do Espírito de Deus. É o que aconteceu com
Davi. O rei Saulo havia sido infiel à sua missão, e assim o Senhor, respondendo
ao pranto de Samuel, enviou-o a Belém para ungir de sua parte àquele que ele
lhe indicasse. E este foi Davi o pastor. “Então o Senhor disse a Samuel:
‘Levante-se para ungi-lo, pois é ele’. Samuel tomou o chifre com óleo e o ungiu
no meio de seus irmãos. [22]O
Espírito do Senhor tomou Dai e partir deste diz e daí por diante”.
Vemos nestas linhas esboçar-se o rosto de Jesus, o Cristo. Na sinagoga
de Nazaré, no dia do Shabbat, Jesus fez a leitura do profeta Isaías: “O
Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar a boa nova
aos pobres; ele me enviou para curar aqueles que têm o coração quebrantado,
para proclamar aos cativos a liberdade e aos cegos o retorno à visão, para
tornar livres os oprimidos, para proclamar um ano de graça para o Senhor (...)
Hoje se cumpriu estas palavras que vocês ouviram[23]”.
É pelo fato de que Jesus foi ungido por seu Pai, ou seja, que ele se
encheu do Espírito Santo, que suas palavras e toda a sua vida podem testemunhar
que ele é o Messias, o filho de Davi prometido pelos profetas e tão esperado
por Israel: “Eis o servidor que eu escolhi, meu Bem-Amado em quem minha alma
encontra prazer. Eu coloquei sobre ele o meu Espírito. Ele anunciará a justiça
às nações. Ele não contestará nem elevará a voz[24]”.
É até a paixão, até a cruz, até mesmo a Ressurreição, que Jesus assumiu
seu messianismo, obedecendo à vontade de seu Pai. Em Jesus de Nazaré, os
discípulos e depois a própria Igreja nascente, reconheceram o Messias, o
Cristo. Eis porque toda a fé da Igreja primitiva se exprime nessas palavras que
cantamos através dos séculos até os nossos dias: “Cristo ressuscitou dos
mortos, venceu a morte com a morte, e aos que estavam nos túmulos ele deu a
vida[25]”.
SENHOR JESUS CRISTO!
Muitos de nós fomos batizados e crismados, o que significa que fomos
ungidos com óleo santo e que trazemos em nós o selo do dom do Espírito Santo –
mas será que, hoje, Jesus é o Cristo para nós? Se, hoje, minha vida encontra
sentido nele, se eu participo a todo instante, pela minha fé, à unção divina de
Jesus, sem cessar, então eu posso tomar dessa unção que é alegria, felicidade,
força, posso embeber-me dessa unção que é a plenitude dos dons do Espírito, e
que me traz os “segredos de Deus”.
“É por isso que eu dobro os joelhos diante do Pai, de quem recebe o
nome toda família, no céu e na terra. Que ele se digne, segundo a riqueza da
sua glória, fortalecer a todos vocês com o poder do seu Espírito, para que o
homem interior de cada um se fortifique. Que ele faça Cristo habitar no coração
de vocês pela fé. Enraizados e alicerçados no amor, vocês terão forças para compreender, com todos os santos, qual é a
largura e o comprimento, a altura e a profundidade, de conhecer o amor de
Cristo, que supera qualquer conhecimento, para que vocês fiquem repletos de
toda plenitude de Deus[26]”.
Se nesse instante Cristo aparecesse para mim e me perguntasse: “Quem
sou eu para você?”, poderia eu confessar: “Sim, Senhor, eu creio que você é o
Cristo, o Filho de Deus que veio ao mundo[27]”?
Esta é a confissão do discípulo, e é desse impulso de fé que brota a prece de
Jesus.
SENHOR JESUS CRISTO, FILHO DE DEUS!
Muda alguma coisa na minha vida, afirmar que Jesus é Filho de Deus, e
mais do que isso, Filho Único de Deus? A confissão da filiação divina de Jesus
ilumina meu próprio destino. Conhecer o porvir é uma questão angustiante que pinça
as entranhas de muitos seres humanos, é e a causa de muitas visitas a videntes
e astrólogos. Cristo, Filho de Deus, nos revela nosso destino. Somente o homem,
por seus próprios meios, pode encontrar a Deus, e é por isso que Deus veio até
o homem, que ele veio pelo amor, e se fez como sua criatura. Nossa vida cristã
não sairá de uma dimensão humana – por nobre que esta possa ser – se não nos
voltarmos para Jesus em sua humanidade. Deus Pai, em seu louco amor pelo homem,
ofereceu seu Filho Único à humanidade, O Filho de Davi segundo a carne é o
Filho de Deus. Por meio dele, Cristo, a unção divina – o Espírito Santo – é
oferecida a todos os homens. Todos, sem exceção, podem se tornar filhos no
Filho e pelo Espírito Santo a fim de conhecer o amor do Pai e entrar assim na
experiência da Vida trinitária.
Orar a Jesus, Filho de Deus, significa nos voltarmos com Jesus para o
Pai e dizer com ele: “Abba, Pai que está nos céus”. Jesus é Filho de Deus e
Filho do homem, e só ele pode nos revelar nosso rosto de homem que é uma
conquista, um caminho, o caminho da “divinização”, ou seja, da participação na
vida divina, sem a qual nossa vida não passa de morte e desolação. O caminho de
nossa divinização foi aberto pela morte de Cristo, que, por amor, partiu desde
o interior e assumiu nossa humanidade ferida. A Ressurreição é uma partilha de
sua Vida, que ele continua a nos comunicar no amor do Espírito Santo que se
derrama sobre o mundo e em nossos corações e nos transforma em filhos no Filho.
O “Caminho” está traçado, a “Porta” está aberta, e, de nosso lado,
onde se situa nossa responsabilidade, nossa participação?
Em primeiro lugar, no seio de nossa liberdade, de nosso acolhimento do
Espírito Santo e da Palavra de Cristo, como nessas palavras que devem se
encarnar em nossa vida a cada dia: “Eu fui crucificado com Cristo; já não sou
em quem vive, mas Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, eu a
vivo na fé no Filho de Deus que me amou e que se entregou por mim![28]”.
Assim é que o caminho da filiação passa por minha própria morte e
ressurreição. É por este caminho que a prece de Jesus irá me conduzir.
SENHOR JESUS CRISTO, FILHO DE DEUS,
TEM PIEDADE DE MIM, PECADOR.
Tentamos nos voltar para aquele a quem desejamos endereçar nossa
oração, o Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, e também nos deixarmos penetrar
pela experiência que em nós suscita cada palavra pronunciada, e de tomarmos
consciência da transformação radical que essa confissão pode trazer para nossas
vidas; assim é que já pressentimos que tal transformação está desde sempre
contida nesse grito: “tem piedade de mim, pecador”!
No próximo capítulo tentaremos nos abrir à experiência da segunda
frase da oração, e à sua prática. Enquanto aguardamos, podemos nos deixar
habitar por essa confissão de fé, “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus”, trazer
em nós cada uma dessas palavras conforme sua energia, sua realidade, sua
expressão na minha vida e no mundo, na adoração, na confiança, na alegria, na
bênção, e a acolhermos, atentos àquilo que essa invocação poderá despertar em
nós. Entretanto, sejamos prudentes, e não custa repetir que a invocação do Nome
não tem nada de mágico, mas demanda a adesão de nossa fé cristã e o desejo de
perdoar àqueles que nos ofenderam. A invocação do Nome sagrado é poderosa, ela abraça
os corações sinceros, mas queima a quem a pronuncia indignamente.
Para onde nos conduzirá a Prece de Jesus? Santo Isaac o Sírio nos
revela: “O Amor é o reino que o Senhor misticamente prometeu aos seus
discípulos quando lhes disse que eles comeriam em seu Reino: ‘Vocês comerão e
beberão à minha mesa em meu reino[29]’.
E o que comerão eles, o que beberão, senão o Amor? Quando houvermos alcançado o
Amor, quando houver alcançado a Deus, nossa viagem estará terminada. Teremos
chegado à ilha que está para além do mundo, onde estão o Pai, o Filho e o
Espírito Santo, a quem sejam dadas toda a glória e todo o poder”.
2.
Um Deus de ternura
A prece de Jesus contem dois movimentos que se tornam a expressão de
nossa fé e que ativam toda a nossa vida, se tomarmos esse caminho. Dois
movimentos: a elevação, ou seja, a adoração, contida em “Senhor Jesus Cristo,
Filho de Deus”; e o rebaixamento, na medida em que tomo consciência de minha
impotência natural em me constituir como mestre de minha própria vida: “tem
piedade de mim, pecador”.
Nosso tempo atual recusa essa maneira de pensar e de ser. Para muitos,
o fato de implorar a piedade de Deus e, sobretudo, de se reconhecer pecador
leva a comportamentos cheios de culpabilidade e rebaixa e humilha aqueles que
se colocam em tais práticas. As Igrejas já foram bastante acusadas de manipular
os cristãos e de mantê-los assim numa dependência que os impediria de se
tornarem adultos e de construir sua identidade.
Que homem, que tipo de vida poderá forjar a Prece de Jesus? Por que
dizemos essas palavras: “tem piedade de mim, pecador”? Vamos nos deter por
alguns instantes e fechemos nossos olhos para dizer lentamente: “Senhor Jesus
Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim pecador”. Que eco essas palavras
produzem em mim? Quais são as minhas reações?
Deixemos por ora aquilo que aprece pode provocar em nós em termos de
revolta e cólera, sem por isso pisotear nossos sentimentos; tentemos calar por
um momento nossas ideias preconcebidas e nossas conotações morais, a fim de
oferecer a nós mesmos a chance de penetrar na experiência de cada palavra,
assim como já tentamos em relação ao primeiro movimento da oração. Para fazer
isso, vamos repetir com Davi as palavras do Salmo 51, e então poderemos entrar
plenamente no espírito da Prece de Jesus: “Tem piedade de mim, ó Deus, em tua
bondade, segundo tua grande misericórdia apaga as minhas transgressões, lava-me
completamente de minha iniquidade e purifica-me de meu pecado”.
Na Bíblia, implorar pela piedade de Deus equivale a implorar o próprio
Ser de Deus, esse Ser que o Pai Celeste revelou a Moisés para seu povo, e que o
Senhor Jesus Cristo encarna por intermédio de sua própria vida e de seu
ensinamento. Israel pôde implorar a piedade de Deus, pois ele a experimentou de
geração em geração: “Tu és um Deus pronto para perdoar; compassivo e
misericordioso, lento para a cólera e rico em bondade, e não os abandonastes
mesmo quando fizeram para si um bezerro fundido (...) Em tua imensa
misericórdia, tu não os abandonastes no deserto (...) Tu lhes destes teu boom
Espírito para os tornar sábios, tu não recusastes o maná para suas boca e lhes
destes água para sua sede[30]”.
Deus não tem pelo homem nenhuma piedade condescendente. Ele está em
relação com cada um de nós em particular, inclinando-se para cada qual com a
mesma solicitude. Ele salva o homem, liberta-o de qualquer sofrimento em que
ele se encontre. Israel colocou toda a sua fé nessa certeza que lhe permitiu
jamais entenebrecer-se em desespero: “Volta para nós, Senhor, não tarde! Tem
piedade de teus servidores. Cumula-nos com tua misericórdia, desde a manhã, e
durante todo o dia estaremos alegres e felizes[31]”.
A misericórdia divina une o céu à terra, ela é o fermento da aliança
entre Deus e o homem, aliança que Deus selou eternamente nas entranhas de Maria,
a santíssima Mãe de Deus: e a misericórdia se estende pelos séculos dos séculos
sobre aqueles que o temem[32].
Jesus, “Deus salva”, é a revelação em plenitude do carinho misericordioso do
Pai para com os filhos que somos.
O próprio Senhor Jesus Cristo experimentou a piedade divina, o amor
compassivo para com aquele que imploram: “Eis que dois cegos estavam sentados à
beira do caminho e, ouvindo Jesus que passava, gritaram: ‘Tem piedade de nós
Senhor, Filho de Davi!’. Jesus os interrogou e disse: ‘O que querem que eu lhes
faça?’. Eles lhe disseram: ‘Senhor, que nossos olhos se abram’. Movido pela
compaixão, Jesus tocos seus olhos e imediatamente eles recuperaram a visão e o
seguiram[33]”.
Eles o seguiram... em Cristo, a piedade divina nos coloca numa tensão
de esperança que jamais duvida da presença amorosa de Deus em nossa vida, nem
do próprio sentido de nossa vida, que é o próprio Cristo, conforme testemunhou
São Paulo.
Existem outros episódios no Evangelho nos quais descobrimos Jesus
emocionado, tomado de piedade, curar os doentes, os enfermos, expulsar os
demônios, ressuscitar os mortos. Basta reler essas passagens, que nossos
corações se abrirão ao espírito de compaixão: Marcos 1: 41; 9: 22; Lucas 7:
13-14. A piedade divina é amor ativo, criador, que faz passar da morte à vida.
Mas essa passagem não pode se realizar senão no perdão divino que dá todo o
sentido à misericórdia divina.
No Antigo Testamento encontramos essas palavras divinas que fazem
estremecer nossas entranhas: “Por um curto instante eu a abandonei, mas com
imensa piedade vou unir-te a mim (...) com amor eterno, terei compaixão por ti
(...) quando as montanhas se afastarem, quando as colinas vacilarem, meu amor
não se afastará de ti (...) diz o Senhor que tem compaixão por ti[34]”.
Israel peca sem cessar, traindo seu Deus, e sem cessar Deus oferece
seu perdão por causa de seu Nome; por causa daquilo que ele é para o homem, o
Deus louco de amor renuncia à aliança rompida e permite assim a seu povo uma
nova etapa, uma nova subida, num retorno para ele, que é a Vida. Jesus Cristo é
a revelação do perdão que nasce do coração de Deus. Por intermédio das curas
que realiza, Jesus, Deus feito homem, nos permite compreender que ele não pode
suportar que morramos paralisados na morsa de nossos pecados. Nossos
sofrimentos, nossas enfermidades decorrem de nossa natureza pecadora e nos
conduzem à morte, e isso é insuportável ao amor divino. É por isso que o Filho
do homem veio buscar e salvar o que estava perdido[35],
recebendo de seu Pai o poder sobre a terra de perdoar os pecados[36].
Somente Jesus Cristo pode perdoar os pecados, ou seja, nos devolver a
vida, porque ele partilhou conosco nossa vida pecadora fazendo-se solidário com
nossa humanidade pecadora, ele que não cometeu pecado algum. Ele penetrou na
morte, consequência do pecado do homem, e sua Cruz é a garantia de seu perdão:
“Pai, perdoai-os, pois eles não sabem o que fazem[37]”.
Nesse contexto, a Prece de Jesus deve despertar em nós a um tempo a
lembrança de Deus, Senhor de vida que perdoa, e a lembrança da morte engendrada
pelo pecado humano. Então nossa vida poderá encontrar seu sentido luminoso,
pois no reconhecimento de meu pecado, que me mergulha nas trevas e que
contribui para as trevas do mundo, eu vejo a Páscoa oferecida pelo perdão de Cristo
crucificado, que me faz entrar na vida nova e ao mesmo tempo conduz para o amor
por meus irmãos. É isso que chamamos metanóia, o retorno. Minha vida não se
esgota girando em torno de mim mesmo, mas ela desabrocha, orientada para o Deus
misericordioso e compassivo, e encontra sua responsabilidade no mundo. Assim,
segundo Olivier Clément, “a memória da morte se inverte em memória de Deus, que
se deixou capturar pela morte para consumi-la e nos oferecer sua ressurreição”.
Aquele que se aventura sobre o caminho da Prece de Jesus sabe estar
enfermo, dividido, fora de si, ele vê seu pecado sem culpabilizar-se, mas
também sem ocultá-lo. Não basta dizer “tem piedade de mim, pecador” para obter
a cura, pois a fórmula não é mágica, mas é preciso tomar consciência daquilo
que, em meus pensamentos, meus olhares, minhas palavras, meus atos, me afasta
de Deus, ou seja, me torna doente. Não são as pessoas saudáveis que precisam do
médico, mas os enfermos[38].
Mas o que isso significa para mim: estar enfermo, portanto, pecador?
Não vamos aqui dar a definição do termo “pecador”, mas vamos tentar nos
aproximar da realidade que podemos experimentar. Se pudéssemos simplesmente
descrever o pecador da Bíblia, o pecador que sou eu, diríamos que é aquele que
se engana de caminho, aquele que se separa do caminho da aliança traçado para
ele por Deus, e que, por espírito de independência, se aventura a sós por
outros caminhos, para um destino que só conduz à morte. Daí provém esses apelos
desesperados, esses gritos de desânimo do povo hebreu, e ao mesmo tempo esses
pedidos de perdão, todos cheios de esperanças de libertação.
“Ó meu Deus, tu conheces minha loucura e minhas faltas não te são
desconhecidas (...) Mas eu, Senhor, te dirijo essa prece (...) Responde-me,
Senhor, pois tua misericórdia se estende em tua imensa compaixão, volta para
mim teu rosto (...) Aproxima-te de mim e resgata-me[39]”.
Só se peca contra Deus! Mas sejamos claros: nossos pecados não ofendem
a Deus do mesmo modo como nossas faltas ofendem nossos irmãos; não, em
princípio o pecado não é uma atitude que nega a moral, mas ele toca no próprio
sentido sagrado da vida que Deus nos insuflou. Depois da queda, depois que Adão
se recusou a obedecer a Deus, ou seja, depois que ele deixou de inclinar seu
ouvido para a vontade divina a fim de se aconselhar com Deus, desde então não
existe homem que não tenha pecado, o que fez com que São João Evangelista
dissesse: “Se dissermos que não temos pecado, estamos enganando a nós mesmos, e
a Verdade não está em nós[40]”.
Herdeiros de Adão por nossa hominidade, nascemos pecadores, mas Deus,
que é a própria Liberdade, nos criou livres à sua imagem, de modo que não somos
obrigados a pecar. Nossas relações com podem ser vividas dentro de um princípio
de liberdade. Quando nos apoiamos sobre essa liberdade para pecar nós recusamos
a Deus, nós o rejeitamos. Esse é o aspecto mortífero de nossa liberdade; mas
essa mesma liberdade é o trampolim de nosso retorno para Deus. Nossa liberdade
é um presente de amor de nosso Criador. Como dizem nossos Padres, “Deus pode
tudo, menos obrigar o homem a amá-lo; tornar-se à sua semelhança só é possível
àqueles que, por um grande amor, ligaram sua liberdade a Deus”.
Nosso caminho de retorno a Deus, nossa metanóia, só pode se realizar
no amor, e é por isso que a Prece de Jesus é também chamada de “prece do
coração”. Voltaremos a isso no capítulo seguinte. Nada há de mais luminoso do
que a parábola do filho pródigo[41],
para nos esclarecer sobre o futuro deste filho que sou eu, e que clama por seu
Pai: “tem piedade de mim, pecador”.
Vamos reler essa parábola, e tentemos entrar na pele do filho que
deixa seu pai, a fim de descobrirmos com o filho pródigo os meios e as
condições de nosso retorno. Eu sou o filho que esgota sua herança “num país
distante”, ou seja, longe do meu coração. Eu dissipei a vida que recebi de
Deus. Animado por minha vontade própria, eu esqueci Deus e coloquei minhas
esperanças nos homens, contando apenas com meu alimento terrestre para viver.
Tornei-me avaro e ingrato, considerando a mim mesmo como proprietário dos dons
e das riquezas que Deus me prodigalizou. Ora, a mais bela planta seca se não
for regada: cortado de meu Deus, eu me torno uma terra ressequida e em água.
Mas no fundo de mim, o melhor de mim geme e se recorda: “às margens dos rios da
Babilônia, nós nos sentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião...[42]”.
Assim como o filho pródigo, trazemos em nós a lembrança da paternidade
divina, as palavras que o Pai celeste pronunciou e das quais seus filhos de
lembraram de geração em geração. No meio da minha desordem e da miséria para a
qual me levaram minha partida, o Espírito Santo suspira: “Volte, volte!”.
Eu dou meu primeiro passo sobre o caminho a partir do momento em que,
movido pelo Espírito Santo, eu declaro meus desvios, minhas exigências, minhas
traições. Depois, eu posso aceitar de mim mesmo: “eu sou pecador, Senhor, tem
piedade de mim”.
“Enquanto eles estiverem no país de seus inimigos, eu não os
rejeitarei[43]”.
Eu sei que, sem temor, poderei retornar ao Pai, eu sei que ele me vê de longe,
vale dizer, aonde estou, e tal como sou. Eu me lembro de que suas entranhas
maternais se emocionam: “Não terá a mulher piedade do fruto de suas entranhas?[44]”.
Então ele me tomará em seus braços, como ensina a parábola, sem
reprimendas, sem me punir, e ordenará um dia de festas para anunciar minha
ressurreição. Sim, meu coração poderá experimentar a alegria desse retorno à
vida sem ilusões nem dúvidas, pois se alguém pecou, lembre-se que terá por
advogado junto ao Pai a Jesus Cristo, o Justo. É ele quem se fez vítima da
propiciação por nossos pecados, e não apenas pelos nossos, mas pelos pecados do
mundo inteiro[45].
“Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador!”.
Em nosso retorno a nós mesmos, não ocultemos também o filho mais velho
da parábola, que se recusa a participar da festa organizada por seu pai para
seu irmão ressuscitado, e a quem o pai diz: tudo o que me pertence, a você
pertence. Nós fomos batizados, revestidos com a luz de Cristo, mas
frequentemente nossas vidas não são o reflexo de sua luz. E no entanto vamos à
Liturgia, casamo-nos na Igreja, fazemos batizar nossos filhos, até estudamos a
teologia, realizamos obras de caridade... Mas o sofrimento de nossos irmãos não
nos comove, seus combates pela vida, suas vitórias não nos interessam. Nossos
corações se ressecam, em algum ponto nos tornamos como os fariseus ciosos de
suas tradições, de seus ritos, de sua herança. Nós nos consideramos com os
únicos justos a quem são devidas as graças divinas, e esquecemos quanta
importância tem a ovelha perdida para Cristo. Há mais alegria no céu por um
único pecador que se arrepende do que por oitenta e nove justos que não têm do
que se arrepender[46]...
Para meu egocentrismo, minha vaidade, minha ingratidão: “Senhor Jesus
Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador!”.
Pressentimos o impacto que a Prece de Jesus pode ter sobre nossa vida a
partir do momento em que nos decidimos a tomar o caminho. Ela vai chacoalhar
nossa vida interior e exterior, nos conduzindo a uma nova visão sobre nós
mesmos, sobre o mundo de nossos irmãos, sobre a própria Igreja.
Nas palavras do Arquimandrita Sofrônio, “ela é mais eficaz do que
qualquer espada de dois gumes, ela penetra até o ponto de divisão da virilha
com o espírito; desde o tutano e as articulações, ela pode julgar os
sentimentos e os pensamentos do coração. Da mesma forma, nada há nas
profundezas de nosso espírito que permaneça invisível diante dela, mas diante
de sua luz tudo se torna nu e descoberto”.
A Prece de Jesus é também uma arte. No próximo capítulo, descobriremos
um método no seio de nossa tradição, que poderá nos auxiliar a entrar na prática
da prece. E assim, “o homem descerá até as profundezas de seu coração, onde
Deus lhe mostrará sua glória[47]”.
3.
Provem e vejam: a prática da Prece de Jesus
Nos últimos dois capítulos, tentamos nos aproximar da prece de Jesus
como de uma pessoa viva, do próprio Vivo, “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus”,
com as lágrimas de arrependimento e de alegria do filho pródigo: “tem piedade
de mim pecador”. Vamos agora descobrir a prática da Prece de Jesus, um tesouro
da Igreja ortodoxa. Não entraremos na história de sua transmissão através dos
séculos, coisa que muitos bons livros nos ensinam, mas, como crianças,
avançaremos lentamente pelo caminho orando ao Espírito Santo para que nos
ajude.
3.1. A Prece no dia-a-dia
Estabelecidos os fundamentos de nossa fé cristã, todos podemos dizer a
Prece de Jesus, onde quer que estejamos, seja o que for que estivermos fazendo,
e em todas as circunstâncias. Claro, não se trata de acumular invocações, mas
de colocar em cada palavra nossa atenção e nosso coração. Cristo é a Luz verdadeira,
de modo que nossos gestos mais banais, nossos momentos vazios, nossas dores,
nossas angústias, serão aureoladas com sua luz e, pouco a pouco, permaneceremos
com a lembrança de Deus ao longo de toda a jornada do dia: com as mãos no
trabalho e o intelecto no coração, poderemos orar sem cessar[48].
Para alguns dentre nós, a prece toma a forma de um “lembrete”: em
determinadas horas, por exemplo, ou em momentos precisos, decidimos dizer a
fórmula, uma ou mais vezes. É bom manter-se fiel ao número de invocações e às
horas estabelecidas; não se trata absolutamente de uma observância exterior,
mas de uma fidelidade a si que nos esvazia o interior e que permite à Prece
enraizar-se profundamente, como foi o caso do Peregrino russo.
Quando dedicamos um tempo para nos determos para orar, ou durante as
viagens, um terço será de grande ajuda, simplesmente para nos concentrar mais
facilmente e graduar o número de orações.
As prosternações, por causa de seu movimento, nos colocam na condição
do filho pródigo que se reconhece pecador e se prosterna aos pés do Pai que o
perdoa e o cumula de alegria. Assim, ajoelhados, invocamos o santo Nome:
“Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus”, e prosternando-nos com o rosto contra o
solo imploramos a misericórdia divina: “tem piedade de mim, pecador”.
A Prece pode também iluminar nossas noites insones: ela terá o efeito
de um bálsamo para nossas feridas e nossas dores. Podemos também optar por nos
levantarmos por algum tempo em vigília. Esse tempo sem sono não nos fará falta,
bem ao contrário, pois a Prece iluminará nossas trevas interiores. “Em plena
noite eu me levanto para te celebrar, por causa de tuas justas decisões[49]”.
No mosteiro fundado por São Sofrônio na Inglaterra, a Prece é recitada
em comunidade. Todos os que tiveram a mesma experiência nos grupos de oração
podem testemunhar de sua eficácia para fortalecer as relações fraternais. Assim
como ela aquece os corações, ela aumenta o ardor na prece, ao mesmo tempo em
que mantém os que oram em sobriedade e simplicidade.
A sós ou em grupos, quando dizemos a Prece em voz alta, deixamo-la
escoar ao ritmo da frase sem lhe impor os movimentos de nossa sensibilidade ou
de nossa vontade própria. Quando a prece é dita em comunidade, as palavras “tem
piedade de mim, pecador”, que dizem respeito à nossa própria conversão, se
tornam “tem piedade de nós”; assim nos reconhecemos como pecadores no seio de
uma humanidade pecadora e ao mesmo tempo reconhecemos a Cristo Salvador em cada
um de nossos irmãos. À custa de permanecermos fiéis na Prece, ela acabará por
se estabelecer em nós e se repetirá sozinha. “Haverá em vocês um murmúrio como
de um regato”, diz o Estaroste Panthene de Kiev.
Sabemos agora que a Prece de Jesus pode preencher todos os instantes
de nossa vida; no próprio seio de nosso cotidiano, podemos experimentar o Reino
dos Céus. São Teófano o Recluso diz: “A primeira coisa a fazer é criar o hábito
de repetir sem cessar a Prece de Jesus. Comecem, repitam uma vez e outra vez,
sempre e sempre, mas mantenham sempre os olhos do pensamento em nosso Senhor.
Tudo está nisso. Quando vocês se estabelecerem no homem interior pela lembrança
de Deus, Cristo Senhor virá e fará em vocês sua morada”.
Mas “não basta dizer: Senhor, Senhor...[50]”.
É importante viver um tempo vigoroso ao longo de nossas jornadas, a fim de que
todo o nosso ser aprenda a orar: corpo, alma, espírito. Somente então nossa
prece se tornará prece do coração. Não votaremos aqui aos conselhos dados sobre
os preparativos, nem sobre as diferentes posturas; lembraremos apenas que a
Prece de Jesus se dirige ao Deus que se fez homem. É por isso que nosso corpo
não pode ser um obstáculo à prece: graças aos nossos cinco sentidos, nosso
corpo conhece seu Criador e o Cristo em nós nos mostra que também nosso corpo é
chamado à Ressurreição e à Vida. De quanto corpos Cristo cuidou durante sua
permanência na terra! Ele chegou a ressuscitar os mortos para dar ao corpo seu
justo lugar, e, quando ele próprio ressuscitou dentre os mortos, ele não
abandonou seu corpo no túmulo. A postura corporal influencia nossa atenção, tão
necessária à prece, e permite ainda ao corpo inteiro se impregnar com a graça
da oração. A propósito deste homem envolto na oração, o Bispo Briantchaninoff
diz: “Suas próprias mãos, seus pés, seus dedos participam de maneira inefável,
mas evidente e perceptivelmente, da prece”.
Também nossa respiração deve permitir que a oração se aposse de nosso
ser. É preciso irmos além da concepção racional da respiração, e considerá-la
enquanto sopro. Se existimos, é porque somos animados pelo sopro que Deus que
sopra em nosso sopro a cada inspiração. Na maior parte do tempo estamos
inconscientes da dimensão sagrada de nossa respiração, esquecemos que nossa
vida está ligada à graça insuflada por Deus em nós a cada inspiração, como um
verdadeiro influxo de vida. Na inspiração recebemos o pneuma, o espírito, da
mesma forma como participamos do Espírito de Deus.
Teófilo de Antioquia afirma: “Deus deu à terra o sopro que a alimenta.
É seu hálito que dá vida a todas as criaturas. Se ele retivesse seu sopro, tudo
desapareceria. Esse sopro vibra com o seu sopro na sua voz. É o sopro de Deus
que você respira e você não sabe disso”.
Nossa respiração influencia todo o tempo nosso comportamento
superficial, ela nos arrasta a uma vida vegetativa psicológica que nos
enfraquece e faz de nós semimortos. Inversamente, se nossa respiração se torna
sopro, e, portanto, acolhe o sopro divino, entramos numa comportamento vivo
criado a cada instante pelo sopro de Deus, um comportamento inspirado por Deus,
em sinergia com a vontade divina para conduzir a história humana rumo ao seu
cumprimento. Dessa forma se estabelece um verdadeiro diálogo entre o homem e
Deus no seio da respiração consciente em nosso sopro que recebe o Sopro divino.
Mas esse diálogo pode descambar para a ilusão ou a confusão, enquanto que a
Prece de Jesus colada ao sopro impede a criatura de confundir a si mesma com o
Criador. “Que a lembrança de Jesus esteja unida à sua respiração, diz São João
Clímaco (...) A Prece de Jesus deve ser continuamente respirada, pois ela
purifica e aprofunda o homem interior”.
Na prática, dizemos a cada inspiração “Senhor Jesus Cristo, Filho de
Deus”, e assim acolhemos o Senhor que se torna nosso mestre interior; quando expiramos,
reconhecemo-nos como pecadores e dizemos: “tem piedade de mim, pecador”, para
abandonar nossos pensamentos passionais que nos dividem e nos afastam de Deus. Temos
muito pouca consciência do impacto destruidor dos nossos pensamentos, que nos
impedem de viver no instante presente à escuta da vontade divina, e que
permitem ao Maligno de nos dispersar e nos por a perder. A respiração
consciente nos ancora no instante presente, e é no aqui e agora em que
encontramos a Deus que bebemos do Sopro divino que é a fonte da vida. “Se
alguém tiver sede, que venha até mim e beba[52]”.
Se quisermos orar ao Pai em espírito e verdade como nos ordena Cristo,
devemos nos apoiar sobre o verbo e o sopro que estão em nós, à imagem de Cristo
e do Espírito Santo. Se deixarmos que Cristo e o Espírito ajam em nós
conjuntamente, então passaremos da exterioridade das coisas para nossa própria
interioridade, e nos encaminharemos lentamente para o coração, nossa
interioridade mais profunda, que é ao mesmo tempo o lugar de Deus, a câmara
nupcial.
3.3. Meu
coração está preparado, ó Deus, meu coração está preparado
O coração possui uma importância especial na espiritualidade ortodoxa:
ele é uma realidade ao mesmo tempo física, psíquica e espiritual. Como na
Bíblia, ele expressa o homem interior que se dirige para encontrar com seu
Senhor.
Diz São Teófano o Recluso: “Concentrem-se em si próprios e procurem
não deixar o coração, pois o Senhor se encontra aí. Tentem chegar até o
coração, e trabalhem nele”. Mas, como fazer para permanecermos no coração?
Peçamos ao próprio Teófano que nos esclareça: “Você deve descer desde sua
cabeça até seu coração. Por enquanto, seus pensamentos estão dentro de sua
cabeça, e Deus parece estar fora de você. Enquanto você estiver dentro de sua
cabeça, você não conseguirá dominar seus pensamentos, que continuarão a
turbilhonar como a neve ao vento de inverno, ou como os mosquitos no calor do
verão...”.
A Prece de Jesus favorece a concentração do intelecto sobre um único
ponto, um único Ser, sobre o Único, e a respiração consciente nos permite não
nos afastarmos daí. Quando ritmamos a Prece de Jesus com nosso sopro, este se
adapta lentamente às palavras da Prece. Então, durante a inspiração, nós nos
abrimos, corpo, alma, espírito, e nos tornamos como um cálice que recebe o
Senhor Jesus Cristo; e na expiração nós nos abandonamos, deixamos nossas
tensões que nos endurecem e nos fecham. Assim, podemos concentrar nosso
intelecto sobre a Prece que, levada pelo sopro, abre lentamente um caminho para
o coração, a morada de Deus.
Segundo nossos Padres, o intelecto significa nosso espírito, nossa
inteligência. É preciso ultrapassar o sentido racional da inteligência que é o
domínio da alma, para entrar na compreensão daquilo que Vladimir Lossky chama
de “sua faculdade contemplativa, por meio da qual o homem se dirige a Deus, a
parte mais pessoal do homem, princípio de sua consciência e de sua liberdade”.
Por que essa insistência de nossos Padres para que o intelecto desça
até o coração? Pelo intelecto podemos apenas saber coisas a respeito de Deus,
mas não podemos ter a experiência de Deus; da mesma forma, nosso coração,
privado da luz da inteligência, permanece como um lugar de sombras invadido
pelos vícios e as paixões. Somente aquele que ama conhece a Deus[53],
e esse amor não pode surgir senão do coração que, em união com a inteligência,
encontra a Deus numa consciência iluminada. A partir desse momento o coração se
torna um coração –espírito. É perigoso colocar suas esperanças apenas nas
técnicas, a fim de unir o intelecto ao coração. As técnicas não passam de
muletas, meios que nos permitem nos colocarmos humildemente no caminho. Então
venceremos lentamente cada etapa que os Padres nos descreveram.
3.4. Evolução
espiritual da Prece
Nos primeiros tempos, a Prece de Jesus é vocal como toda prece, ou
seja, formulada em voz alta ou baixa. Nossos lábios e nossa língua participam
do esforço de nossa vontade. Essa primeira etapa é árdua e fatigante.
Frequentemente somos tentados a renunciar a nossos esforços, e nossas penas
parecem não trazer nenhum fruto. “Eu não sinto nada”, ou: “Tenho a impressão de
ser um moinho de palavras”. Quem se enche de paciência e de desapego penetra
então na segunda etapa.
A Prece se interioriza, se torna mental. O intelecto se deixa capturar
e a repete sem precisar do movimento dos lábios; a atenção se torna mais fácil,
mais espontânea, e às vezes a prece surge sem que nos tenhamos decidido a
fazê-la. Então nós nos detemos e gozamos dessas momentos de paz e alegria.
Essas são as primícias da terceira etapa: pesado com o santo Nome, o
intelecto busca se unir ao coração, no qual fizemos um trabalho de
desencobrimento e de purificação, a fim de acolher o santo Nome. Essa é a etapa
que os Padres denominam “descida do intelecto para o coração”: “Quando essa ordem
se estabelece em nós, diz São Teófano o Recluso, ela se faz acompanhar de uma
sensação de calor no coração, e ela expulsa rodos os pensamentos ordinários,
inofensivos, bem como os passionais. Quando a chama do desejo [por Deus] começa
a queimar sem interrupção no coração, experimentamos um sentimento de paz
interior na alma, na medida em que o intelecto se aproxima de Deus com
humildade e contrição”.
Um dia, talvez, sob a ação do Espírito Santo, a Prece se tornará
perpétua, e fluirá por si mesma, espontaneamente, no interior de nosso coração.
Já não será a “minha” prece, mas a prece de Cristo em mim, e então caminharemos
sem cessar na presença de Deus: “Os justos confessarão teu Nome, e os corações
puros habitarão diante de tua Face[54]”.
3.5. Aprender
a amar
Qual é o impacto da Prece de Jesus sobre aqueles que oram? Passo a
passo, caminhos para a restauração de nosso ser interior e, portanto, de nossa
cura. Se o Nome que invocamos é vivo, então ele nos vivifica, e nascemos para a
Vida, pois Cristo se encarnou e ressuscitou para que possamos renascer para a
mesma Vida de Deus. Esse renascimento que nos transforma é para hoje mesmo,
nesse mesmo instante em que nosso coração invoca o santo Nome. Dessa forma o
Cristo vivo em nós está também ativo em nós. Ele vivifica nossos pensamentos,
nossos atos e nossas decisões. Na sua presença, nos tornamos seres livres,
portadores da paz, pois ele nos deixou a sua Paz[55].
O Nome acende em nós também o fogo do amor, esse fogo que aqueceu o coração dos
discípulos sobre o caminho para Emaús[56].
“Eu vim trazer fogo à terra, e como gostaria que ele já estivesse aceso![57]”.
Quando nosso coração queima de amor por Deus sob o efeito da Prece,
ele se volta com Cristo para o próximo, o mais próximo e o mais distante. Nas
palavras do Arquimandrita Spiridon, “o discípulo de Cristo deve viver
unicamente por Cristo. Quando ele chegar a amar a Cristo a este ponto,
forçosamente ele amará também a todas as criaturas de Deus”.
3.6. O
que é amar?
Oferecer sentimentos? Presentes? Fazer boas obras? Realizar atos heroicos?
Frequentemente recebemos por transmissão uma imagem do amor, um ideal de amor que
passa pelo fazer e pelo esforço, e com isso podemos nos desvirtuar, nos
gastarmos em obras de amor e descobrir um dia que na realidade não amamos, mas
que nos entregamos para sermos amados. Sem a prece que nos une a Deus, não
temos como conhecer o amor, nem como colocá-lo em prática: amar é, em primeiro
lugar, deixar-se amar por Deus. O amor divino que eu imploro: “tem piedade de
mim, pecador”, de mim que não sei amar, se derrama em meu coração, e só então
eu posso partilhá-lo com meu próximo, este amor que é misericórdia e perdão e
que culmina no meu perdão aos meus inimigos.
“Deixe-se ser perseguido, mas não persiga, dizia Santo Isaac o Sírio.
Deixe-se ofender, mas não ofenda. Alegre-se com aqueles que se alegram, chore
com os que choram – este é o sinal da pureza. Sofra com os que sofrem, derrame
lágrimas pelos pecadores. Fique feliz com os que se arrependem, e seja amigo de
todos; mas em seu coração, permaneça só”.
Permaneça só, e somente para Jesus, a fim de que a Prece possa
despertar em seu coração a ternura de Deus.
3.7. Os
embustes pelo caminho
Se a Prece de Jesus é simples em sua formulação, se seus efeitos nos
fazem penetrar no caminho de nossa transformação e de nossa divinização,
lembremo-nos também de que ela pode ser muito perigosa para aqueles que tentam
se servir dela para fins de poder. Os Padres hesiquiastas são unânimes em
afirmar, com São João Crisóstomo, que “a menção do Nome de Jesus excita o
inimigo ao combate”. Nosso coração não é apenas a morada de Deus, também os
espíritos malignos ali se escondem e se ocultam. O Nome de Jesus traz nossas
paixões e nossos vícios à luz para expulsá-los, mas o Nome não possui um poder
mágico, ele apenas nos revestirá e nos fará participar do combate. Assim poderemos
atravessar momentos penosos, pois o Maligno tem horror em nos ouvir invocar o
Senhor Jesus. Ele tentará nos perturbar ao máximo, mergulhando-nos na angústia
e no medo, empurrando-nos para a cólera e mesmo para o ódio. Ele pode também
atacar nosso corpo, travando a coluna vertebral, congestionando o fígado ou o
pâncreas... Ele tentará nos desencorajar e nos inquietar. Ele é maligno e conhece
nossas falhas melhor do que nós as conhecemos ou aceitamos. Se não formos
prudentes, deixaremos de dizer a Prece, e aí será pior do que antes, pois ele
terá se tornado o mestre de nosso coração.
Eis porque não devemos nos aventurar a sós pelo caminho; é ilusório
pensar que um livro bastará para nos servir de guia. Na Prece de Jesus se
expressa a confissão de nossa fé, ela nos torna participantes da comunidade
eclesial e monástica da qual ela mesma saiu. Através dos séculos, a Prece
permaneceu sendo uma transmissão aos batizados que se nutriam da vida
sacramental. Pois os sacramentos nos fazem participar da natureza divino-humana
do Senhor Jesus, a quem invocamos na Prece. Quanto às técnicas psicossomáticas,
é impensável praticá-las sem se colocar junto a alguém que já tenha uma longa
experiência nelas.
Hoje em dia muitas pessoas descobrem a Prece, sem pertencerem à
Igreja. Muitas vezes elas foram seduzidas pelos Relatos do Peregrino ou por
outros livros sobre a Prece de Jesus. Em outras pessoas, a Prece se impõe
espontaneamente, e cada vez mais encontramos gente assim. Se seu caminho é
sincero, se sua sede é a de encontrar a Cristo, então o Espírito Santo as
guiará e iluminará. Oremos por uns e outros, totalmente confiantes na Divina
Providência.
É certo que não dissemos tudo neste capítulo a respeito do “método” e
das etapas da Prece. Permanecemos discretos propositadamente, erguendo
pudicamente um véu sobre esta experiência, que é uma imagem da Sarça Ardente.
Mas voltamos a frisar que é o homem total, inclusive em seus ritmos corporais,
que é chamado por Deus para se unir a ele numa sinergia amorosa na qual o
esforço humano encontra a graça divina, o amor gratuito de Deus, e esse
encontro culmina num dia no silêncio, o silêncio da Presença. Sobre esse
caminho que nos conduz à Prece, coloquemos nossos passos sobre as pegadas de
Maria, a primeira da fila. A Santíssima Mãe de Deus carregou o Nome em seu
coração e em suas entranhas, e nela a Prece foi inteiramente realizada. Maria é
de nossa raça. Ela conheceu todos os embustes do caminho, e superou a todos. Se
rogarmos a ela, ela nos acompanhará, nos protegerá e o Nome que invocamos no
Espírito Santo virá habitar em nós, como o fez nas entranhas de Maria.
Assim, encerramos essas palavras nos inclinando diante de Maria, com o
arcanjo Gabriel: “Salve, cheia de graça, o Senhor está contigo e tu és bendita
dentre todas as mulheres, e Jesus, fruto de tuas entranhas, é bendito”. Para
todo o sempre. Amém.
Artigo da revista Le Chemin,
no. 21, 1993.
[1]
Santo Isaac o Sírio, século VI.
[2] I
Coríntios 12: 3.
[3]
João 13: 13.
[4]
Lucas 1: 43.
[5]
Salmo 110.
[6]
Atos 2: 34.
[7] I
Coríntios 16: 22.
[8]
Apocalipse 20: 22.
[9]
Lucas 19: 20.
[10]
Joel 2: 32.
[11]
Filipenses 2: 9.
[12]
Mateus 7: 21-23.
[13]
Êxodo 3: 13-15.
[14]
Êxodo 34: 4-7.
[15]
Salmo 115: 3-4.
[16]
Marcos 4: 31.
[17]
Mateus 7: 13.
[18]
João 14: 6.
[19]
João 6: 34.
[20]
João 14: 6.
[21]
João 11: 24.
[22] I
Samuel 16: 12-13.
[23]
Lucas 4: 16-20, 21.
[24]
Isaías 42: 12.
[25]
Tropário da Páscoa.
[26]
Efésios 3: 14-19.
[27]
João 11: 27.
[28]
Gálatas 2: 20.
[29]
Lucas 33: 30.
[30]
Neemias 9: 17-25.
[31]
Salmo 90: 13-14.
[32]
Lucas 1: 50.
[33]
Mateus 20: 30-34.
[34]
Isaías 54: 7-10.
[35]
Lucas 19: 10.
[36]
Marcos 2: 10.
[37]
Lucas 23: 34.
[38]
Marcos 2: 17.
[39]
Salmo 69.
[40] I
João 1: 8.
[41]
Lucas 15? 11-52.
[42]
Salmo 137: 1.
[43]
Levítico 26: 44.
[44]
Isaías 49: 15.
[45] I
João 2: 1-2.
[46]
Cf. Lucas 15: 7.
[47]
Salmo 64: 8.
[48] I
Tessalonicenses 5: 17.
[49]
Salmo 119: 62.
[50]
Cf. Mateus 7: 21-27.
[51]
Jó 33: 4.
[52]
João 7: 37.
[53] I
João 37.
[54]
Salmo 139: 14.
[55]
João 14: 27.
[56]
Lucas 24: 32.
[57]
Lucas 12: 19.
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