CINCO
PALAVRAS FUNDAMENTAIS
Antes de iniciarmos esse estudo, é preciso absorver alguns termos
gregos cuja tradução nunca revela exatamente o sentido original. O primeiro
desses termos é NOUS, palavra que se refere ao “olho do coração”, e que costuma
ser traduzido como mente ou intelecto, e que dá origem ao adjetivo “noético”.
Outras duas palavras, PRAXIS (ação) e THEORIA (visão) geralmente se referem nos
escritos patrísticos, respectivamente, à prática ascética e à visão de Deus.
NEPSIS indica a um tempo a sobriedade e a vigilância, características da vida
dos santos Padres, e costuma ser traduzida apenas como “vigilância”, o que a
faz perder seu segundo, mas não menos importante sentido, referente à “sobriedade”.
Finalmente HESÍQUIA significa repouso, paz, a Paz de Cristo que não é a paz do mundo,
a paz na presença de Deus.
PRÓLOGO DO AUTOR
O homem contemporâneo, cansado e desencorajado pelo vários problemas
que o atormentam, busca por descanso e alívio. Basicamente, ele está procurando
pela cura de sua alma, pois é principalmente aí que ele sente o problema. Ele
está entrando em “depressão mental”. Por esta razão as explicações
psiquiátricas têm circulado amplamente em nossos tempos. Em particular, a
psicoterapia é muito difundida. Enquanto que essas coisas eram quase
desconhecidas antigamente, elas estão horrivelmente prevalecendo agora, e
muitas pessoas correm para psicoterapias para encontrar paz e conforto. Por
isso eu repito, o homem contemporâneo sente que ele necessita curar-se.
Além de observar essa necessidade fundamental, eu noto que a cada dia
o Cristianismo, e especialmente a Ortodoxia, que preserva a essência do
Cristianismo, tem feito uso de uma certa “psicoterapia”, ou melhor, que a
Ortodoxia é principalmente uma ciência terapêutica. Todos os meios que ela
emprega, e mesmo seu objetivo fundamental, objetivam curar o homem e guiá-lo
para Deus. Pois para alcançar a comunhão com Deus e adquirir o abençoado estado
de divinização, devemos antes ser curados. Assim, para além de quaisquer outras
interpretações, a Ortodoxia consiste basicamente numa ciência terapêutica e num
tratamento. Ela difere claramente de outros métodos psiquiátricos por não ser
antropocêntrica e porque não faz seu trabalho utilizando-se de meios humanos,
mas com a ajuda e a energia da graça divina, essencialmente por intermédio da
sinergia entre as vontades divina e humana.
Eu procurei enfatizar algumas verdades neste livro. Eu gostaria de
apontar a essência do Cristianismo e também o método que ele emprega para obter
a cura. Meu objetivo básico é o de ajudar o homem contemporâneo a encontrar sua
cura no seio da Igreja Ortodoxa, do mesmo modo como estamos nós tentando
obtê-la. Eu acredito que estamos todos doentes e buscando por um Médico. Todos
buscamos a cura. A Igreja Ortodoxa é o hospital onde todos os enfermos e
agoniados podem ser curados.
Se este livro se tornar ocasião para que algumas pessoas se voltem
para buscar a cura na Igreja e em seus ensinamentos, eu agradecerei a Deus, que
me deu a inspiração e a força para levar adiante esse difícil empreendimento, e
pedirei a Ele que tenha misericórdia de mim pelas minhas inúmeras fraquezas.
Edessa, 30 de Setembro de 1987
INTRODUÇÃO
Creio que tenho a obrigação de fornecer algumas explicações básicas
para o estudo e entendimento dos capítulos a seguir.
Eu dei o título de “Psicoterapia Ortodoxa” para este livro como um
todo, porque ele representa o ensinamento dos Padres na cura da alma. Eu sei
que o termo “psicoterapia” é bastante moderno e que ele é usado por muitos
psiquiatras para indicar o método que eles seguem na cura de neuróticos. Mas
uma vez que a maior parte dos psiquiatras desconhece os ensinamentos da Igreja,
ou não desejam aplicá-los, e dado que sua antropologia é bastante diferente da
antropologia e da Soteriologia dos Padres, ao usar o termo “psicoterapia” eu
não estou aplicando seus pontos de vista. Teria sido muito simples em certos
aspectos usar suas perspectivas, algumas das quais concordantes com os
ensinamentos dos Padres, outras conflitantes, e apenas fazer os comentários
correspondentes e necessários, mas eu não quis fazer isso. Eu pensei ser melhor
seguir o ensinamento da Igreja através dos Padres, sem misturá-los com outras
coisas. Por isso eu coloquei o termo “Ortodoxa” junto do termo “Psicoterapia”
(cura da alma), para formar o título “Psicoterapia Ortodoxa”. Na verdade, o
título também poderia ser “Tratamento terapêutico Ortodoxo”.
Muitos ensinamentos dos Padres estão citados com suas referências para
sustentar o texto na medida de seu desenvolvimento. Estou ciente de que textos
contendo muitas referências são difíceis de ler. Entretanto, eu preferi esse
método a tornar simplesmente este estudo de fácil leitura[1].
Infelizmente, hoje em dia livros costumam ser escritos num estilo sentimental,
e eu não quero que esse tema, tão crucial na atualidade, seja apresentado dessa
maneira.
Consultamos muitos Padres no desenvolvimento de nosso tema, muitos dos
quais Padres népticos, mas sem desdenhar dos assim chamados Padres “sociais”.
Eu digo “assim chamados” porque não acredito que tal distinção exista
essencialmente. Na teologia Ortodoxa aqueles que são chamados de népticos são
eminentemente sociais e os sociais são essencialmente népticos. Os Três
Hierarcas[2],
por exemplo, levaram uma vida de vigilância ascética, purificaram suas mentes e
apascentaram o povo de Deus. Eu acredito firmemente que a qualidade social dos
santos é uma dimensão do ascetismo.
Existe uma porção considerável de ensinamento néptico nos trabalhos
dos Três Hierarcas. Mas eu utilizei mais os Padres da Filocalia, por haver aí
um material mais abundante e porque a Filocalia é uma coleção de textos
místicos teológicos, e como tal “constitui uma efulgência altamente inspirada
da consagrada experiência ascética das divinas figuras patrísticas, nas quais
brilhou a sagrada luz vivificante do espírito[3]”.
De acordo com os editores da edição Grega da Filocalia, depois do final dos
conflitos hesiquiastas do século XIV surgiu a necessidade de coletar as
principais obras dos Padres, relativas à vida hesiquiasta e à prece noética.
Eles escreveram: “Existem fortes indicações de que a coleção tenha sido feita
por monges altamente espirituais do Monte Athos a partir da biblioteca da
Montanha Santa, e que tenha sido iniciada na segunda metade do século XIV, a
partir de 1350. Esse período coincide com a cessação da famosa controvérsia
hesiquiasta. Concretamente, esta termina com a triunfante justificação Sinódica
dos Padres Athonitas. Por essa época ficou claro que era preciso o
estabelecimento de uma nova visão dos Padres do Oriente Ortodoxo em relação ao
ascetismo hesiquiasta e à prece noética. Esses dois pontos foram o principal
alvo do racionalismo e do ativismo social do Catolicismo Romano com o
protagonismo do pérfido monge Barlaam o Calabrês, que em seguida se tornaria
bispo da Igreja Católica Romana[4]”.
A elaboração final dos textos da Filocalia foi feita por São Macário,
primeiro bispo de Corinto, e São Nicodemos o Hagiorita, de modo que “de certo
modo a Filocalia adquire a dimensão de uma apresentação Sinodal da Teologia
Mística da Igreja Ortodoxa do Oriente”. Por essa razão foram utilizados os
textos da Filocalia, com a finalidade de descrever e apresentar os ensinamentos
da Igreja sobre a cura da alma, do nous,
do coração e dos pensamentos. Por outro lado, onde houve necessidade, eu não
hesitei em consultar os textos de outros grandes Padres, como São Gregório o
Teólogo, São Gregório Palamas (especialmente suas “Tríades”), São João
Crisóstomo, São Basílio o Grande, São Simeão o Novo Teólogo, etc.
É verdade que não existe um capítulo especial dedicado aos sacramentos
do Santo Batismo e da Sagrada Comunhão. Em muitos lugares o grande valor da
vida sacramental da Igreja é enfatizado. De qualquer modo, não existe uma
palavra específica sobre o Batismo porque eu sei que estou falando com pessoas
que já foram batizadas e assim é presumível que não haja necessidade disso. Por
ouro lado, o sacramento da Divina Eucaristia é o centro da vida espiritual e
sacramental da Igreja. A Sagrada Comunhão é o que diferencia o ascetismo da
Igreja Ortodoxa de todos os demais “ascetismos”. Eu a considero como muito
necessária para a vida espiritual do homem e para sua salvação. Mas é
necessária uma preparação para estar convenientemente preparado para receber a
comunhão do Corpo e Sangue de Cristo. Isto porque a Sagrada Comunhão, de acordo
com as preces litúrgicas, é uma luz que ilumina para aqueles que estão preparados,
e, para os que não estão, é um fogo devorador. O Apóstolo Paulo diz: “Quem
comer o pão e beber do cálice do Senhor de maneira indigna será culpado de
profanar o corpo e o sangue do senhor. O homem deve examinar a si mesmo, e
então comer do pão e beber do cálice. Pois aquele que come e bebe sem discernir
o Corpo, come e bebe seu próprio julgamento. É por essa razão que muitos de
vocês estão fracos e doentes, e que alguns morreram[5]”.
Vivemos num tempo em que muito se tem dito sobre eclesiologia,
eucaristologia e escatologia. Não temos objeção a isso. Acreditamos que estes
são elementos essenciais da vida espiritual. Mas a Igreja, a santa Eucaristia e
a escatologia estão estreitamente conectadas com a vida ascética. Eu acredito
firmemente que deve ser dada prioridade ao tema da vida ascética, que é parte
da preparação para a Sagrada Comunhão. E como esse aspecto vem sendo desdenhado,
se torna necessária uma ênfase especial a respeito. A Sagrada Comunhão ajuda na
cura, desde que sejam seguidos todos os demais tratamentos religiosos que são a
base do ascetismo Ortodoxo.
Muito se tem falado sobre problemas psicológicos. Eu acredito que
esses supostos problemas psicológicos são em grande parte problemas dos
pensamentos, de uma mente obscurecida e de um coração impuro. O coração impuro,
conforme é descrito pelos Padres, a mente escura e sombria, e os pensamentos
impuros são a fonte desses chamados problemas psicológicos. Quando um homem
está interiormente curado, quando ele descobre o lugar de seu coração, quando
ele purifica a parte noética de sua alma e liberta seu intelecto, ele supera os
problemas psicológicos. Ele passa a viver na abençoada e imperturbável paz de
Cristo. Dizemos essas coisas com a reserva de que o corpo, naturalmente, pode
ficar doente por fadiga, exaustão, fraqueza ou declínio.
O primeiro capítulo, intitulado “A Ortodoxia como uma ciência
terapêutica”, pode ser caracterizado como um sumário de todo o livro. De fato,
ele inclui muitos pontos dos demais capítulos. Eu confesso que o terceiro
capítulo, intitulado “Psicoterapia Ortodoxa”, é difícil em algumas passagens.
Eu não pude impedi-lo, porque eu tive que analisar os termos alma, nous, coração e intelecto e considerar
suas inter-relações e diferenças.
Um sétimo capítulo, intitulado “A prece noética como método de cura”,
talvez pudesse ter sido escrito. Mas como em todos os demais capítulos existem
trechos nos quais o valor e a necessidade da prece foram enfatizados,
especialmente no capítulo sobre a hesíquia e o método da terapia, e dado que
existem livros excelentes que descrevem os métodos e o valor da prece noética,
preferi não incluir esse capítulo, apesar de minha intenção original. Recomendo
a leitura de outros livros já em circulação.
Eu gostaria de pedir que esse livro fosse não apenas lido, mas
estudado. Talvez ele deva ser estudado uma segunda e uma terceira vez, com o
propósito específico de ser aplicado. Possa os santos Padres cujos ensinamentos
estão apresentados iluminar tanto a mim quanto aos leitores para que possamos
criar um caminho de cura e salvação para nossas almas.
Peço sinceramente a Deus que os erros que eu tenha cometido possam ser
corrigidos e que eles não prejudiquem a alma dos leitores, pois esses capítulos
foram escritos para ajudar, e não para prejudicar. Da mesma forma, peço aos
leitores que encontrarem quaisquer erros que me avisem, para que eu os possa
corrigir.
Concluindo, eu gostaria de agradecer a todos que me ajudaram com esta
publicação. O benefício que essa obra puder causar deve ser dedicado também a
essas pessoas. “Possa Deus conceder a eles os desejos de seus corações”.
1.
A Ortodoxia como uma ciência terapêutica
Muitas interpretações do Cristianismo foram formuladas e muitas
respostas foram dadas às questões: o que é o Cristianismo e qual sua missão no
mundo? Muitas das respostas não são verdadeiras. A seguir, vamos tentar
demonstrar que o Cristianismo, em especial a Ortodoxia, consiste numa terapia.
Tentaremos descrever essa terapia, e o modo como ela deve ser adquirida.
1.1. O que é o Cristianismo
Muitas pessoas que interpretam
o caráter do Cristianismo o veem como uma das numerosas filosofias e religiões
conhecidas desde a antiguidade. Certamente, o Cristianismo não é uma filosofia,
no sentido que prevalece hoje. A filosofia estabelecer um sistema de pensamento
que, na maior parte das vezes, não traz em si relação alguma com a vida. A
principal diferença entre o Cristianismo e a filosofia é que esta última
consiste num pensamento humano, enquanto que o Cristianismo é uma revelação de
Deus. Ele não foi uma descoberta do homem, mas uma revelação do próprio Deus ao
homem. Teria sido impossível à lógica humana encontrar as verdades do
Cristianismo. Na medida em que a palavra humana se revelou impotente, surgiu o
Verbo divino-humano, Cristo o Deus-Homem, o Verbo de Deus. Essa revelação
divina foi formulada nos termos filosóficos de seu tempo, mas, repetimos, é
preciso enfatizar que não se trata de uma filosofia. Apenas a roupagem do Verbo
divino-humano foi tomada da filosofia de seu tempo.
São João Crisóstomo, interpretando Isaías 3: 1 (“Vejam o Senhor, o
Senhor dos Exércitos, tirou a sustentação de Jerusalém e de Judá (...) o homem
forte e o soldado, o juiz e o profeta, o adivinho...”), observa: “Ele parece
chamar aqui de adivinho uma pessoa que é capaz de conjecturar o futuro através
de uma profunda inteligência e experiência das coisas. Adivinhação e profecia
são de fato coisas diferentes: o profeta colocando-se à parte, fala sob
inspiração divina; por sua vez, o adivinho parte daquilo que já aconteceu,
coloca sua própria inteligência a trabalhar e prevê muitos eventos futuros,
como o faria uma pessoa inteligente. Mas a diferença entre eles é grande: é a
distância que separa a inteligência humana da graça divina”.
Portanto, a especulação (ou filosofia) é uma coisa, e a profecia, ou a
palavra do profeta que teologiza, é outra. A primeira consiste numa atividade
humana enquanto que esta última é a revelação do Espírito Santo.
Nos escritos patrísticos, e especialmente nos ensinamentos de São
Máximo, a filosofia é apontada como se situando no início da vida espiritual.
Porém, ele usava o termo “filosofia prática” para significar a limpeza do
coração de suas paixões, que é de fato o primeiro estágio para a jornada da
alma em direção a Deus.
O Cristianismo também não pode ser visto como uma religião, pelo menos
não como a religião de apresenta hoje em dia. Deus normalmente é visto como
habitando nos céus e dirigindo a história humana desde lá: Ele seria
extremamente detalhista, buscando a satisfação do homem, que teria caído na
terra por sua fraqueza e enfermidade. Existe, assim, um muro separando Deus do
homem. Esse muro tem que ser suplantado pelo homem, e a religião proveria um
auxílio efetivo nessa tarefa. Vários ritos religiosos seriam assim empregados
com este propósito.
De acordo com outro ponto de vista, o homem se sente impotente perante
o universo e necessita de um Deus poderoso para ajudá-lo em sua fraqueza. Desta
perspectiva, Deus não criou o homem, mas o homem criou seu Deus. Mais uma vez,
a religião é concebida como um relacionamento do homem com um Deus Absoluto, como um
relacionamento do tipo “eu e o Outro Absoluto”. Novamente, muitos veem a
religião como um meio através do qual as pessoas se iludem transferindo suas
esperanças para a vida futura. Dessa maneira forças poderosas pressionariam o
povo por intermédio da religião.
Mas o Cristianismo é algo muito além dessas interpretações e teorias;
ele não pode ser contido dentro das concepções usuais e da definição de
religião fornecidas pelas religiões “naturais”. Deus não é o Outro Absoluto,
mas uma Pessoa viva, que está numa comunicação orgânica com o homem. Mais do
que isso, o Cristianismo não transfere simplesmente o problema para o futuro,
nem espera as delícias do reino celeste para depois da história e no final dos
tempos. No Cristianismo o futuro é vivido no presente e o reino de Deus começa
nesta vida. De acordo com a interpretação Patrística, o reino de Deus é a graça
do Deus Triuno, é a visão da Luz incriada.
Nós, Ortodoxos, não estamos esperando pelo final da história ou pelo
final dos tempos, mas, através de nossa vida em Cristo estamos nos dirigindo
para encontrar o fim da história e deste modo viver a vida que se espera para
depois da Segunda Vinda. São Simeão o Novo Teólogo diz que aquele que viu a luz
incriada e se uniu a Deus não está mais esperando pela Segunda Vinda do Senhor,
mas a está vivendo. Assim é que o eterno nos abraça e envolve a cada moimento
do tempo. Dessa forma, o passado, o presente e o futuro são vividos
essencialmente numa unidade inquebrantável. É o que se chama de “tempo
condensado”.
Portanto, a Ortodoxia não pode ser caracterizada como “ópio do povo”,
precisamente porque ela não adia o problema. Ela oferece a vida, transforma a
vida biológica, santifica e transforma as sociedades. Onde a Ortodoxia é vivida
do modo correto e no Espírito Santo, existe a comunhão entre Deus e o homem, do
celeste com o terrestre, do vivo com o morto. Nessa comunhão todos os problemas
que se apresentam em nossa vida são verdadeiramente resolvidos.
É claro que, uma vez que a comunidade da Igreja inclui pessoas doentes
e iniciantes na vida espiritual, podemos esperar que algumas dessas pessoas
entendam o Cristianismo como uma religião nos sentidos a que nos referimos
acima. Acima de tudo, a vida espiritual é uma viagem dinâmica. Ela começa com o
batismo, com a purificação da “imagem”, e continua através da vida ascética que
objetiva alcançar a “semelhança”, que consiste na comunhão com Deus. De
qualquer modo, deve ficar esclarecido que mesmo quando falamos do Cristianismo
como uma religião, devemos fazê-lo apenas a partir de alguns pressupostos.
O primeiro deles é que o Cristianismo é principalmente uma Igreja.
“Igreja” significa “Corpo de Cristo”. Existem muitos lugares no Novo testamento
em que o Cristianismo é chamado de Igreja. Vamos citar apenas as palavras de
Cristo a respeito: “Você é Pedro, e sobre essa pedra eu erguerei minha igreja[6]”,
e as palavras do Apóstolo Paulo aos Colossenses: “Ele é a cabeça do corpo, a
igreja[7]”,
e ao seu discípulo Timóteo: “...desse modo você entenderá como deve se conduzir
na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, o pilar e o terreno da verdade[8]”.
Isso significa que Cristo não mora simplesmente nos céus, dirigindo desde lá a
história e as vidas dos homens, mas que ele está unido a nós. Ele assumiu a
natureza humana e a deificou; assim sendo, em Cristo a natureza deificada do homem
encontra-se à direita do Pai. Assim é que Cristo é nossa vida e nós somos os
“membros de Cristo”.
O segundo pressuposto é que o objetivo do Cristianismo é o de alcançar
o abençoado estado de deificação. A deificação é idêntica à “semelhança”, ou
seja, consiste em ser como Deus. É claro que, para atingir a semelhança, para
alcançar a visão de Deus, e para que esta visão não se transforme num fogo
devorador, mas numa luz vivificante, é preciso que primeiro seja feita uma
purificação. Esta purificação e cura é o trabalho da Igreja. Quando o cristão
participa do culto ser ter experimentado essa purificação vivificadora –
principalmente dos atos de adoração que objetivam a purificação do homem –
então ele não está, realmente, vivendo no seio da Igreja. O Cristianismo sem
purificação é uma utopia. Assim, só podemos falar em religião na medida em que
estamos sendo purificados, quando estamos buscando nossa cura. E isso concorda
com as palavras do irmão do Senhor, Tiago: “Se alguém dentre vocês pensa ser
religiosos, mas não refreia sua língua e ao contrário, ilude seu coração, sua
religião é inútil. Uma religião pura e incorruptível diante de Deus e do Pai é
essa: visitar os órfãos e as viúvas desamparados, e se manter imaculado perante
o mundo[9]”.
Essa abstinência nos permite afirmar que o Cristianismo não é nem uma
filosofia, nem uma religião “natural”, mas, principalmente, uma cura. É a cura
das paixões da pessoa, de modo a que ela possa alcançar a comunhão e a união
com Deus.
Na parábola do Bom Samaritano o Senhor nos mostrou muitas verdades.
Assim que o Samaritano viu o home quem caíra nas mãos dos bandidos que o
feriram e o deixaram à morte, ele “sentiu compaixão por ele, dirigiu-se a ele e
pensou seus ferimentos, derramando sobre eles azeite e vinho; depois colocou-o
sobre sua própria montaria, levou-o a uma hospedaria e cuidou para que ele
fosse tratado[10]”.
Cristo tratou do homem ferido e levou-o até a hospedaria, até o Hospital que é
a Igreja. Aqui Cristo é apresentado como o médico que cura a enfermidade do
homem, e a Igreja é mostrada como um Hospital.
É bem característico que ao analisar essa parábola, São João
Crisóstomo tenha apresentado as verdades que acabamos de enfatizar. O homem
proveio “de um estado celestial para o estado de ilusão demoníaca, e ele se
sente no meio de ladrões, ou seja, em meio ao diabo e seus poderes hostis”. As
feridas que ele apresenta são seus inúmeros pecados. Como disse Davi, “minhas
feridas estão sujas e infectadas devido à minha loucura[11]”.
Pois “todo pecado causa ferimentos e hematomas”. O Samaritano é o próprio
Cristo, que desceu dos céus à terra para salvar os homens feridos. Ele emprega
vinho e azeite nas feridas. Isso equivale a dizer que “misturando o Espírito
Santo ao seu sangue, ele trouxe a vida ao homem”. De acordo com outra
interpretação, “o azeite traz a palavra de conforto, o vinho traz a loção
adstringente, a instrução que traz concentração à mente dispersa”. Ele colocou
o homem sobre sua montaria: “Carregando a carne sobre seus ombros divinos, ele
a ergueu até o Pai nos Céus”. Assim sendo, o bom Samaritano, Cristo, conduziu o
homem “até a maravilhosa e espaçosa hospedaria, a Igreja universal”. Ele o
entregou ao hospedeiro, que é o Apóstolo Paulo e “através de Paulo, aos altos
sacerdotes, professores e ministros de cada igreja”, dizendo: “Cuide do povo
dos Gentios que eu lhe entreguei na Igreja. Quando os homens estiverem doentes,
feridos pelo pecado, cure-os, colocando sobre suas feridas um emplastro, ou
seja, as palavras proféticas e os ensinamentos evangélicos, devolvendo-os
incólumes por meio das admoestações e das exortações do Velho e do Novo
Testamentos”. Assim, de acordo com São João Crisóstomo, Paulo é aquele que
sustenta as igrejas de Deus “e cura os homens por meio das admoestações
espirituais, distribuindo o pão da oferenda para cada qual”.
Na interpretação de São João Crisóstomo da parábola fica claramente
evidente que a Igreja é o Hospital que cura aqueles que estão enfermos pelo
pecado, sendo que os bispos e padres, tal como o Apóstolo Paulo, são os que
curam o povo de Deus.
Essas verdades também aparecem em muitos outros lugares do Novo
Testamento. O Senhor disse: “Os que têm saúde não precisam de médico, mas sim
os que estão doentes[12]”.
Assim é que Cristo, como um médico de corpos e almas, “curava todo tipo de
enfermidades e todos os tipos de moléstias entre o povo (...) eles lhe levavam
as pessoas doentes que eram afligidas por diferentes enfermidades e tormentos,
e também as que estavam possuídas por demônios, e os epiléticos e paralíticos;
e a todas ele curava[13]”.
O Apóstolo Paulo também sabia que a consciência dos homens, especialmente dos
mais simples, é fraca: “Quando você peca contra os irmãos e fere sua frágil
consciência, você peca contra Cristo[14]”.
O Livro do Apocalipse diz que João o Evangelista viu um rio de água da vida que
procedia do trono de Deus e do Cordeiro. “De cada lado do rio havia uma árvore
da vida (...) e as folhas da árvore eram para a cura das nações[15]”.
Portanto, o trabalho da Igreja é terapêutico. Ela procura curar as
enfermidades do homem, em especial das da alma, que muito o atormentam. Este é
o ensinamento fundamental do Novo Testamento e dos Padres da Igreja. Na
sequência deste capítulo, e nos próximos, muitas passagens dos Padres trarão
novamente essa verdade.
Mais uma vez, eu quero enfatizar que a Igreja é indispensável. Eu
agradeço ao padre e professor Jean Romanides por dissertar sobre isso em seus
escritos. Estou convicto de que ele é muito versado nos Padres népticos – em
particular nos escritos contidos na Filocalia – e que ele realmente alcançou o
sentido real do Cristianismo. Acredito ser esta sua maior contribuição. Pois
nessa era, em que o Cristianismo vem sendo apresentado como uma filosofia ou
como uma teologia cultural, ou ainda como uma cultura e tradição popular – usos
e costumes – ele apresentou seu ensinamento a respeito da disciplina
terapêutica e do tratamento.
Concretamente, ele diz: “Proclamar a fé em Cristo sem se submeter à
cura em Cristo é como não ter fé absolutamente. É a mesma contradição que encontramos
numa pessoa doente que tem uma grande confiança no seu médico, mas que não
segue o tratamento que ele recomenda. Se o Judaísmo e seu sucessor, o
Cristianismo, tivessem aparecido no século XX pela primeira vez, eles teriam
sido caracterizados não como religiões, mas como ciências médicas relacionadas
com a psiquiatria. Eles teriam uma larga influência sobre a sociedade devido ao
seu sucesso em curar as doenças de uma personalidade que funciona apenas em
parte. O Judaísmo e o Cristianismo não podem de maneira alguma ser colocados
como religiões, que usam diversos métodos mágicos e crenças no sentido de
prometer um escape de um mundo supostamente material, mau e cheio de
hipocrisia, para um também suposto mundo de segurança e sucesso”.
Em um outro trabalho o mesmo professor diz: “A tradição patrística não
é nem uma filosofia social nem um sistema ético, e menos ainda um dogmatismo
religioso: ela é um tratamento terapêutico. A esse respeito ela lembra de perto
a medicina, em especial a psiquiatria. A energia espiritual da alma que ora
incessantemente no coração é um instrumento fisiológico que todos possuem e que
requer ser curado. Nem a psicologia, nem nenhuma das ciências positivas ou
sociais conhecidas são capazes de curar esse instrumento. Isso só pode ser
feito através dos ensinamentos népticos e ascéticos dos Padres. Por essa razão,
aqueles que nunca foram curados sequer suspeitam da existência desse
instrumento”.
Assim sendo, na Igreja nos dividimos entre aqueles que estão doentes,
os que estão sob tratamento terapêutico e aqueles – santos – que já foram
curados. “Os Padres não categorizam as pessoas em morais ou imorais, em boas ou
más, com base nas leis morais. Essa divisão é superficial. No fundo a
humanidade se diferencia entre os enfermos na alma, os que estão sendo curados
e os curados. Todos os que não possuem um estado de iluminação estão doentes na
alma. E não basta apenas a boa vontade, uma boa resolução, uma prática moral e
uma devoção à Tradição Ortodoxa para fazer um Ortodoxo, mas ainda a
purificação, a iluminação e a deificação. Esses estágios de cura são o
propósito da vida mística da Igreja, da qual os textos litúrgicos dão
testemunho”.
1.2. A
Teologia como uma ciência terapêutica
Daquilo que foi dito fica evidente que o Cristianismo é principalmente
uma ciência que cura, vale dizer, um método psicoterapêutico e um
tratamento. O mesmo pode ser dito da
teologia. Ela não é uma filosofia, mas em primeiro lugar um tratamento
terapêutico. A teologia ortodoxa mostra claramente que, de um lado, ela é fruto
de uma terapia e, de outro, ela mostra o caminho da terapia. Em outras
palavras, apenas aqueles que foram curados e que alcançaram a comunhão com Deus
são teólogos, e somente estes podem mostrar aos Cristãos o verdadeiro caminho
para atingir o “lugar” da cura. Assim, a teologia é a um tempo o fruto e o
método da terapia.
Aqui precisamos nos estender sobre o que foi dito para ver essas
verdades com mais clareza. Citaremos alguns ensinamentos dos Santos Padres
relativos à teologia e aos teólogos.
Creio que podemos começar com São Gregório de Nazianze, pois não foi
ao acaso que a Igreja lhe atribuiu o título de Teólogo. No começo de seus
famosos textos teológicos ele escreve que teologizar não é para qualquer um,
que nem todos podem falar a respeito de Deus, porque esse assunto não é simples
e fácil. Não se trata de uma tarefa para todos os homens, “mas para aqueles que
foram examinados e que se tornaram mestres na visão de Deus, e que previamente
purificaram suas almas e corpos, ou que, no mínimo, estão sendo purificados”.
Apenas estes, que passaram da praxis
para a theoria, da purificação para a
iluminação, podem falar a respeito de Deus. E quando isso acontece? “É quando
nos libertamos de toda contaminação e de toda perturbação, e quando aquele que
nos regra não se encontra mais confuso com vexações e imagens errantes e
desordenadas”. Então, adverte o santo: “Pois é preciso estar verdadeiramente
desembaraçado para conhecer a Deus”.
Nilo o Asceta liga a teologia à prece, principalmente à prece noética.
Sabemos bem, a partir dos ensinamentos dos Santos Padres, que qualquer um que
tenha obtido a graça da prece do coração penetrou, por isso mesmo, nos
primeiros estágios da visão de Deus, porque esse tipo de oração é uma forma de theoria. Por isso, todos os que oram com
o nous estão em comunhão com Deus, e
essa comunhão constitui o conhecimento espiritual de Deus para o homem. Assim é
que São Nilo afirma: “Se você for teólogo, você irá orar verdadeiramente. E se
você orar verdadeiramente, você é teólogo”.
São João Clímaco introduz a verdadeira teologia em muitos lugares de
seu tesouro espiritual “A escada”. “A pureza total é o fundamento da teologia”.
“Quando os sentidos do homem estão perfeitamente unidos com Deus, então as
coisas que Deus fala são, de algum modo, misteriosamente esclarecidas. Mas onde
não existe esse tipo de união, é extremamente difícil falar a respeito de
Deus”. Ao contrário, o homem que de fato não conhece a Deus fala sobre ele
apenas “em possibilidades”. De fato, conforme o ensinamento patrístico, é muito
ruim falar sobre Deus conjecturalmente, porque isso leva a pessoa a se iludir.
O santo sabe como a “teologia dos demônios” se desenvolve em nós. Num coração
cheio de vanglória que não tenha sido previamente purificado pela operação do
Espírito Santo, os demônios impuros “nos dão lições de interpretação das
Escrituras”. Desse modo, a pessoa que é escrava das paixões não deve “babar
teologia”.
Os santos receberam “as coisas divinas sem pensamentos” e, de acordo
com os Padres, eles não teologizaram segundo uma forma de pensamento
aristotélica, mas “à maneira dos Apóstolos”, ou seja, através de uma operação
do Espírito Santo. Se uma pessoa não foi lavada de suas paixões, em particular
da fantasia, previamente, ela não está capacitada para conversar com Deus ou
para falar a respeito de Deus, uma vez que o nous “que constrói noções é incapaz de teologia”. Os santos vivem
uma teologia “escrita pelo Espírito”.
Encontramos o mesmo ensinamento nos trabalhos de São Máximo o
Confessor. Quando uma pessoa vive pela filosofia prática, com o arrependimento
e a limpeza das paixões, “ela avança no entendimento moral”. Quando ela
experimenta a theoria, “ela avança no
conhecimento espiritual”. No primeiro caso ela pode discriminar entre as
virtudes e os vícios; o segundo, a theoria,
“conduz o participante às qualidades interiores das coisas incorpóreas e
corpóreas”. São Máximo segue afirmando que o homem “é agraciado com a graça da
teologia quando, levado pelas asas do amor” na theoria, e “com a ajuda do Espírito Santo, ele discerne – tanto
quanto é possível ao nous humano – as
qualidade de Deus”. A teologia, o conhecimento de Deus, se abre para a pessoa
que alcançou a theoria. Em outra
parte, o mesmo Padre diz que uma pessoa que sempre “se concentrou na vida
interior” não apenas se torna moderada, resiliente, gentil e humilde, como “se
torna capaz de contemplar, teologizar e orar”. Também aqui a teologia está
estreitamente conectada com a theoria
e a prece.
Devemos enfatizar que uma teologia que não é resultado da purificação,
ou seja, da praxis, é demoníaca. De
acordo com São Máximo, “conhecimento sem praxis
é a teologia do demônio”.
São Thalassius, que partilhava do mesmo ponto de vista, escreveu que
quando o nous do homem começa com uma
simples fé, “eventualmente ele atingirá a teologia que transcende o nous e que se caracteriza por uma fé
irredutível do mais alto grau e pela visão do invisível”. A teologia está além
da lógica, ela é uma revelação de Deus ao homem, e os Padres a definem como theoria. Também aqui a teologia é
sobretudo a visão de Deus. Em outra parte o mesmo santo escreve que o genuíno
amor faz nascer o conhecimento espiritual, e que “este é sucedido pelo desejo
dos desejos: a graça da teologia”.
Nos ensinamentos de São Diádoco de Foticéia a teologia é apresentada
como o maior dos dons oferecidos ao homem pelo Espírito Santo. Todos os dons da
graça de Deus são “perfeitos”, “mas o dom que inflama nosso coração e o coloca
em movimento para o amor de Sua bondade, mais do que todos os demais, é a
teologia”. Porque a teologia, “como as primícias da graça de Deus”, “concede à
alma o maior de todos os dons”.
De acordo com o Apóstolo Paulo, o Espírito Santo concede o
conhecimento espiritual a uma pessoa e a sabedoria a outra[16].
Interpretando essa colocação, São Diádoco diz que o conhecimento espiritual une
o homem a Deus, mas não o move para expressar exteriormente aquilo que ele
sabe. Existem monges que amam a hesíquia e que são iluminados pela graça de
Deus “ainda que não falem sobre Deus”. A sabedoria é um dos dons mais raros, um
dom que Deus concede a quem possui tanto a expressão quanto a capacidade
intelectual. Assim sendo, o conhecimento de Deus “chega por intermédio da
oração, de uma profunda calma e de um completo desprendimento, enquanto que a
sabedoria provém de uma humilde meditação sobre as Sagradas Escrituras e, acima
de tudo, por intermédio da graça concedida por Deus”. O dom da Teologia é um trabalho do Espírito
Santo em cooperação com o homem, uma vez que o Espírito Santo atualiza no home
o conhecimento espiritual dos mistérios “independente desta faculdade que há
nele e que busca naturalmente por tal conhecimento”.
Nos ensinamentos de São Gregório Palamas os teólogos propriamente
ditos são aquele que veem a Deus, e a teologia é a theoria: “Pois existe um conhecimento sobre Deus e suas doutrinas,
uma theoria a que chamamos de
teologia”. Qualquer um que, sem conhecimento e experiência a respeito dos
assuntos da fé, oferece ensinamentos sobre essas coisas “de acordo com seu
próprio raciocínio, tentando, por meio de palavras, mostrar a Deus, que
transcende todas as palavras, este simplesmente perdeu completamente a noção
das coisas”. Sobretudo, existem casos em que pessoas que não realizaram obras,
ou seja, que não se submeteram à purificação, mas encontraram e escutaram
homens santos e “tentaram formar suas próprias concepções”, terminando por
rejeitar os homens santos e inflar a si próprios de orgulho.
Todas essas coisas demonstram que a teologia é propriamente o fruto da
cura do homem e não uma disciplina racional. Somente uma pessoa que tenha sido
purificada, ou que, no mínimo, esteja em processo de purificação, pode ser
iniciada nos mistérios inefáveis e nas grandes verdades, pode receber
revelações e posteriormente levar essas coisas ao povo. Por essa razão, na
tradição patrística Ortodoxa a teologia é ligada e identificada com o pai
espiritual, e o pai espiritual é o teólogo por excelência – vale dizer, aquele
que experimentou as coisas de Deus e que assim pode conduzir seu filho
espiritual sem volteios.
O Padre Jean Romanides escreve: “O verdadeiro teólogo Ortodoxo é
aquele que possui um conhecimento direto de algumas das energias de Deus
através da iluminação, ou que as conhece mais ainda pela visão. Ora, ele as
conhece indiretamente por intermédio dos profetas, apóstolos e santos ou pelas
Escrituras, os escritos dos Padres e as decisões e atos de seus Concílios
locais e ecumênicos. O teólogo é aquele que, através desse conhecimento
espiritual direto ou intermediado, e da visão, sabe claramente como distinguir
entre as ações de Deus e as das criaturas, em especial as obras do diabo e dos
demônios. Sem o dom do discernimento dos espírito não é possível testar os
espíritos para ver até que ponto alguma coisa é resultado da ação do Espírito
Santo ou do diabo e dos demônios”.
“Assim sendo, o teólogo e o pai espiritual são a mesma coisa. Uma
pessoa que pensa e fala na busca de um entendimento conceitual das doutrinas da
fé a partir de um padrão Franco-Latino não é um pai espiritual, nem pode ser
chamado de teólogo no sentido próprio do termo. A teologia não é um
conhecimento abstrato ou prático, como a lógica, as matemáticas, a astronomia
ou a química, mas ao contrário, ela possui um caráter polêmico como a logística
e a medicina. A primeira está relacionada a matérias de defesa e ataque por
meio de um treinamento corporal e a estratégias para o desenvolvimento de
armas, fortificações e esquemas ofensivos e defensivos, enquanto a segunda luta
contra doenças físicas e mentais na busca da saúde e dos meios para restaurar a
saúde”.
“Um teólogo que não está familiarizado com os métodos do inimigo ou
com a perfeição em Cristo é não apenas incapaz de lutar contra o inimigo para
seu próprio aperfeiçoamento, como também não está em posição de guiar e curar a
outros. É como ser chamado de general – ou mesmo ser um – sem ter jamais
recebido treinamento ou lutado, sem ter estudado a arte da guerra, tendo apenas
prestado atenção à bela e gloriosa aparência do exército em seus esplêndidos e
brilhantes uniformes nas recepções e desfiles. É como um açougueiro posando de
cirurgião, ou como sustentar uma posição de médico sem conhecer as causas das
doenças ou os métodos para curá-las, ou mesmo até qual estado de saúde o
paciente pode vir a ser recuperado”.
1.3. O
que é a Terapia
Uma vez que dissemos que o Cristianismo e a teologia são
fundamentalmente uma ciência terapêutica, devemos agora delinear brevemente no
que consiste uma terapia. O que faz com que a Ortodoxia, com sua teologia e seu
culto de adoração, nos cure?
A terapia da alma significa essencialmente terapia e libertação do nous. A natureza humana se torna
“doente” por causa de sua queda para longe de Deus. Essa enfermidade consiste
principalmente no cativeiro e na queda do nous.
O pecado ancestral é o afastamento do homem em relação a Deus, a perda da graça
divina, que resulta em cegueira, escuridão e morte do nous. Podemos dizer com mais exatidão que “a queda do homem ou a
situação de haver herdado o pecado consiste em: a) a incapacidade de seu poder
noético em funcionar completamente, ou mesmo a perda total dessa função; b) a
confusão desse poder com as funções do cérebro e do corpo em geral; e c) a
consequente sujeição à angústia mental e às condições circunstantes. Toda
pessoa experimenta a queda de sua própria faculdade noética em graus variados,
na medida em que é exposta a um meio no qual essa faculdade não funciona ou
está abaixo de sua potencialidade. O mau funcionamento do poder noético resulta
em más relações entre o homem e Deus e entre as pessoas. Também resulta numa
utilização individual de Deus e do homem decaído para fortalecer uma sensação
pessoal de segurança e felicidade”.
Essa perda da graça de Deus obscureceu o nous do homem: toda a sua natureza adoeceu, e ele legou essa enfermidade
aos seus descendentes. No ensinamento Ortodoxo é assim que entendemos a herança
do pecado. Os Padres interpretam as palavras de São Paulo, “por causa da
desobediência de um homem muitos se tornaram pecadores[17]”,
não em termos legais, mas “medicamente”. Ou seja, a natureza humana se tornou
doente. São Cirilo de Alexandria interpreta desse modo a situação: “Depois que
Adão caiu em pecado e afundou na corrupção, primeiro os prazeres impuros o
devastaram, e a lei da selva se alastrou pelos seus membros. Dessa maneira a
natureza se tornou enferma por intermédio da desobediência de um único, Adão.
Então muitos se tornaram pecadores, não como companheiros transgressores de
Adão, porque ainda não existiam, mas por ser da mesma natureza que havia
tombado sob a lei do pecado (...) A natureza humana em Adão se tornou enferma
por intermédio da corrupção da desobediência, e desde então as paixões
penetraram nela”. Em outro lugar o mesmo Padre usa a imagem da raiz. A morte
atingiu toda a raça humana por meio de Adão, “do mesmo modo como a raiz de uma
planta é prejudicada, e todos os brotos que nascem dela embranquecem”.
São Gregório Palamas diz: “O nous
que se rebelou contra Deus se tornou tanto bestial como demoníaco, depois de
ter se rebelado contra as leis da natureza, cobiçando aquilo que pertencia a
outros”.
Através do “rito do nascimento em Deus”, o santo batismo, o nous humano se ilumina, se liberta da
escravidão do pecado e do diabo, e se une a Deus. É por isso que o batismo é
chamado de iluminação. Mas depois disso, por causa do pecado, novamente o nous é obscurecido e entorpecido. Os
escritos patrísticos deixam claro que cada pecado e cada paixão contribuem para
entorpecer o nous.
São João Clímaco escreve que os demônios malignos se esforçam “para
obscurecer nosso espírito”. Em especial, o demônio da luxúria, “obscurecendo
nossa mente, que nos guia”, empurra as pessoas “para fazer coisas que somente
os loucos pensariam em fazer”.
Num próximo capítulo daremos mais atenção à natureza do nous humano. Neste momento, estamos mais
interessados no tema do obscurecimento. São Máximo ensina: “Assim como o mundo
do corpo consiste de coisas, o mundo do nous
consiste em imagens conceituais. Então, se o corpo fornica com o corpo de uma
mulher, o nous, formando uma imagem
de seu próprio corpo, fornica com a imagem conceitual da mulher”. Nisto
consiste o obscurecimento e a queda do nous.
Em outra comunicação o mesmo santo Padre ensina que “assim como o
corpo peca por intermédio de coisas materiais, mas possui as virtudes corporais
para ensinar-se a se dominar, também o nous
peca através de imagens conceituais passionais, mas possui as virtudes da
alma para instruí-lo”. Essa verdade mostra que a queda do nous cria uma confusão em todo o organismo espiritual. Ela cria
angústia e agitação e de modo geral faz com que a pessoa viva a queda em toda
sua dramaticidade. Assim, muitos problemas que nos assolam provêm dessa
moléstia interior. É por isso que os psicoterapeutas não podem ajudar muito,
porque somente Cristo pode restaurar o nous
entorpecido pelas paixões.
Mais uma vez São Máximo, tentando definir mais claramente no que
consiste a impureza do nous e,
consequentemente, sua queda, escreve que ela contempla quatro itens: “em
primeiro lugar, um falso conhecimento; depois, a ignorância sobre os universais
(...); em terceiro lugar, possuir pensamentos passionais; em quarto, aceder ao
pecado”.
Assim é que o nous precisa
de terapia, de uma terapia que os Padres chamam de “estimular e purificar o nous”.
Muitas coisas estão ditas sobre a pureza da mente e do coração nos
ensinamentos do Senhor e dos Apóstolos. O Senhor, referindo-se aos fariseus de
seu tempo, zelosos de uma extrema pureza externa, mas negligentes com a pureza
interna, disse: “Fariseu cego, primeiro limpe o lado de dentro do cálice e do
prato, e o lado de fora ficará limpo também[18]”.
No encontro dos Apóstolos em Jerusalém, Pedro, confrontando o problema de se os
Cristãos gentios deveriam ser circuncidados e manter a lei do Antigo
Testamento, disse: “Deus, que conhece os corações, os reconhece, pois deu a
eles o Espírito Santo tanto quanto deu a nós, e não fez distinção entre nós e
eles, purificando seus corações pela fé[19]”.
O Apóstolo Paulo recomendou aos Cristãos de Corinto: “Devemos nos limpar de
toda imundície da carne e do espírito, aperfeiçoando a santidade com temor a
Deus[20]”.
O sangue de Cristo deve “purgar nossa consciência das obras mortas[21]”.
Do mesmo modo, escrevendo ao seu discípulo Timóteo, ele afirma que só podemos
captar o mistério da fé “com uma consciência pura[22]”.
E o Apóstolo Pedro também está consciente de que o amor pelo próximo constitui
o fruto de um coração puro, dizendo: “Amem uns aos outros fervorosamente com um
coração puro[23]”.
Dessa forma, a purificação do nous
e do coração é essencial. Escrevemos a respeito do nous e do coração, ainda que saibamos que na teologia patrística
esses dois termos são colocados juntos. Voltaremos a essa questão em outro
capítulo.
São Máximo divide a vida espiritual em três estágios, que são: a
filosofia prática, a theoria natural
e a teologia mística. De acordo com os estudos sobre Máximo, “seus ensinamentos
sobre a perspectiva pessoal da salvação se dividem em três partes: 1) a
‘filosofia prática’, ou praxis; 2) a
‘theoria natural’, ou simplesmente theoria; e 3) a ‘teologia mística’ ou
simplesmente teologia. A primeira purifica a pessoa das paixões e a adorna de
virtudes; a segunda ilumina seu nous
com o conhecimento verdadeiro; e a terceira a coroa com a mais alta experiência
mística, que São Máximo chama de ‘êxtase’. Essas três partes constituem os
estágios fundamentais no caminho da salvação pessoal do homem”.
Deve-se notar inclusive que muitos Padres distinguem esses três
estágios na vida espiritual: a filosofia prática ou purificação do coração, a theoria natural ou iluminação do nous e a teologia mística ou a comunhão
com Deus através da theoria.
De acordo com outra divisão que aparece nos escritos patrísticos, a
vida espiritual é dividida em praxis e
theoria. A praxis sempre precede a theoria,
a visão de Deus. “A praxis é a
padroeira da theoria”. De uma forma
mais analítica, “a praxis, naquilo que se refere ao corpo, consiste no jejum e
na vigília, assim como a boca está para a salmodia. Mas orar é melhor do que
salmodiar, e o silêncio é mais valioso do que a fala. No caso das mãos, a praxis é o que elas fazem sem reclamar”.
Quanto à theoria, “ela é a visão do nous; para se admirar e compreender o
que foi e o que será”.
Certamente, de acordo com o ensinamento de São Máximo, a theoria não é independente da praxis. “A praxis não é segura sem a theoria,
nem esta é verdadeira sem aquela. Pois a praxis deve ser inteligente, e a
theoria deve ser eficaz”. Máximo enfatiza que “no caso dos mais instruídos, a theoria precede a praxis, enquanto que para os mais simples a praxis vem em primeiro lugar”. Nos dois casos, porém, o resultado é
bom, ambas conduzem ao mesmo resultado, que é a purificação e a salvação do
homem.
De fato, quando falamos em purificação da alma, queremos dizer
principalmente liberá-la de suas paixões, ou antes, transformar essas paixões.
Mais do que isso, a purificação implica também um “desenvolvimento uniforme” do
ser humano, que conduz à iluminação do nous.
Portanto, a purificação não é apenas negativa, mas também positiva. As
qualidades da alma pura são “a inteligência desprovida de inveja, a ambição
livre de malícia e um incessante amor pelo Senhor de glória”. Em outras
palavras, se estivermos motivados pela inveja, ou se nossa ambição contiver
malícia, e se nosso amor por Deus for intermitente, isso significa que nosso
coração ainda não foi purificado.
O nous é aquilo que foi
feito à imagem de Deus. Nós desfiguramos essa imagem com o pecado e agora ela
deve ser restaurada. É assim que Abba Dorotheos ordena: “Tornemos nossa imagem
tão pura quanto a recebemos”. Devemos sofrer trabalhos e uma intolerável
amargura até que purifiquemos o nous,
“este vira-latas que fareja em torno do açougue no mercado e que se alegra na
balbúrdia”. Se um homem luta para não cometer pecados e se bate contra os
pensamentos passionais, ele é humilhado e se despedaça durante a luta, “mas os
sofrimentos do combate o purificam pouco a pouco e o trazem de volta para o seu
estado natural”.
Apesar do esforço do homem, se o Espírito Santo não descer sobre ele,
o nous morto não poderá ser
purificado e trazido à vida, porque “somente o Espírito Santo é pode purificar
o nous”.
Em qualquer caso, quando, por meio de um trabalho conjunto da graça
divina e da vontade do homem, o nous
é purificado, então ele se ilumina, uma vez que “onde há purificação, há
iluminação”. Depois de purificado, se a pessoa guardar o nous de ser desfigurado pelo pecado, seu nous será iluminado e iluminará. É por isso que a guarda do nous pode ser chamada de “produtora de
luz e de iluminação, iluminante e portadora do fogo”.
Em poucas palavras, podemos afirmar que a cura do home é de fato a
purificação do nous, do coração, da imagem, a restauração do nous ao seu estado de beleza primordial
e original, e algo mais: sua comunhão com Deus. Quando ele se torna um templo
do Espírito Santo, podemos dizer que a cura teve sucesso. Os que se curam são
os santos de Deus.
1.4. O
método da terapia: o tratamento terapêutico
Tendo visto no que consiste o Cristianismo, qual o caráter da teologia
Ortodoxa, o que é uma terapia, devemos agora nos voltar para o método de
tratamento terapêutico, que é o método da fé Ortodoxa. Se demoramos tanto para
colocar o problema, devemos agora nos esforçar para fazer um inventário dos
métodos para a aquisição da pureza do coração, ou seja, para a cura. Pois não
existe mérito em listar os estados mais elevados a menos que possamos trazê-los
à nossa consciência e aplicá-los.
1.4.1.
Como se dá a cura da alma?
Primeiro, devemos enfatizar a fé correta. Nós, Ortodoxos, damos grande
importância em preservar a fé, porque sabemos que quando a fé é distorcida,
também a cura é distorcida, automaticamente. Já enfatizamos que a teologia deve
ser interpretada como uma medicina. A ciência médica tem em vista a pessoa
saudável, quando tenta guiar a pessoa enferma para a saúde mediante os vários
métodos terapêuticos. O mesmo podemos dizer a respeito da teologia. A teologia
é o ensinamento da Igreja sobre a saúde espiritual, mas também versa sobre o
caminho que nós, os doentes, devemos seguir para sermos curados. É por isso que
os Ortodoxos damos tanto peso em manter a doutrina intacta, não apenas porque
tememos o enfraquecimento do ensino e da transmissão, mas porque podemos perder
a possibilidade de cura e, portanto, da salvação. Ademais, “o conflito entre
Palamas e Barlaam não foi tanto sobre o tipo da doutrina, mas sobre sua
fundamentação metodológica. Barlaam estava baseado num metafísica e numa
epistemologia metafísica e lógica, enquanto Palamas tinha seu fundamento numa
verificação empírica e na confirmação de resultados demonstráveis”.
Agora, para sermos curados é essencial que nos sintamos doentes.
Quando uma pessoa enferma não tem consciência de sua moléstia, ela não irá
procurar um médico. O autoconhecimento é, assim, um dos primeiros passos para a
cura. São Máximo ensina: “A pessoa que chegou a entender a fraqueza da natureza
humana, adquire por isso mesmo uma experiência do poder divino”, e assim se
torna ávida para adquirir novas coisas além das que adquiriu por intermédio
desse poder divino. Pedro de Damasco, descrevendo o grande valor da oração à
noite, diz: “A prática das virtudes morais é efetuada pela meditação sobre
aquilo que aconteceu durante o dia”, quando meditamos a respeito dos deslizes
ocorridos “na confusão do dia”, “de modo que no repouso da noite podemos nos
tornar conscientes dos pecados cometidos e podemos nos afligir por causa
deles”. Somente quando conhecemos nosso estado podemos nos afligir por ele.
É indiscutível que muitos Cristãos hoje em dia não estão conscientes
de sua condição espiritual. Nós estamos mortos pelo pecado, mas não apenas não
percebemos isso como ainda cremos estar cheios de dons do Espírito Santo,
adornados de virtudes. Desafortunadamente, essa autossatisfação, quando estamos
cheios de chagas, está destruindo o trabalho da salvação. Como pode Cristo
falar a alguém que se autojustifica?
Somos como o Fariseu do tempo do Senhor, que não sentia a necessidade de
médico. Como pode o grande dom do arrependimento e do enlutamento habitar num
coração que não sente sua desolação, quando sua vida interior é incapaz de se
desenvolver?
Em conexão com a sensação de estar doente deve existir também uma
“autocondenação”, ou seja, o grande dom da autocrítica. Isso mostra que existe
humildade na alma, pois “a autocrítica está sempre associada com a humildade”.
Essa autocrítica é uma responsabilidade espiritual que, quando colocada na
alma, “esmaga, pressiona e espreme o vinho que regozija o coração do homem,
vale dizer, do homem interior. A compunção é esse vinho”. A autocrítica,
juntamente com o enlutamento que a caracteriza, também esmaga as paixões e
enche o coração com a mais ditosa felicidade. “Devemos sempre condenar e
criticar a nós mesmos de modo a que, por meio de uma humilhação deliberadamente
escolhida, possamos nos proteger do pecado da presunção”.
Mas a sensação de estar doente não é suficiente em si. Em qualquer
caso, o terapeuta será necessário. Esse terapeuta é o padre ou o pai
espiritual. Ele já foi curado de suas aflições, ou, no mínimo, luta por se
curar, e assim é capaz de curar seus filhos espirituais. Já dissemos que o pai
espiritual deve ser um teólogo, e vice-versa. Mas neste caso se aplica o dito:
“Médico, cura a ti mesmo[24]”.
Alguém que conseguiu passar pelas armadilhas do diabo pode com segurança guiar
seu filho espiritual. Alguém que sabe do valor do imenso tesouro chamado saúde espiritual
pode ajudar os outros a se curarem. Alguém que encontrou seu próprio nous pode ajudar outros a encontrá-lo.
“O nous, aquele que é como um verdadeiro
médico, é aquele que primeiro curou a si mesmo e que então passou a curar em
outros as doenças das quais ele próprio se curou”.
Muitos Cristãos contemporâneos veem padres e ministros do Altíssimo
como oficiais de igreja que são úteis em diversos assuntos burocráticos, que
celebram os diferentes sacramentos quando são chamados, ou que celebram a
Divina Liturgia, e desse modo satisfazem as necessidades de suas almas ou
cumprem um dever tradicional. Eles são vistos como mágicos que operam magia!
Sabemos, é claro, que a graça de Deus não é transmitida magicamente ou
mecanicamente, mas sacramentalmente. É verdade que até o mais indigno dos
sacerdotes pode celebrar os sacramentos – mas ele não pode curar. Pois a
remissão dos pecados é uma coisa e a cura é outra. Muitos Cristãos ficam
satisfeitos com uma confissão formal ou um acompanhamento formal da Liturgia,
ou mesmo com uma Comunhão formal e nada mais. Eles não se preocupam com a cura
de suas almas. Mas os padres, os pais espirituais, não apenas celebram a
Comunhão como também curam as pessoas. Eles possuem um sólido conhecimento a
respeito do caminho da cura das paixões e o transmitem aos seus filhos
espirituais. Eles lhes mostram como se livrar do cativeiro, de que modo seu nous pode se ver livre da escravidão.
Eis como os santos Padres encaravam a paternidade espiritual. O pastor
é também um médico. “O médico é alguém cujo corpo está perfeito, não
necessitando de curativos”. São João Clímaco é bastante específico em relação
ao que o padre deve fazer para curar:
“Ó homem maravilhoso, adquira emplastros, poções, navalhas, colírios,
esponjas, instrumentos para sangria e cauterização, unguentos, poções para
dormir, facas, bandagens, algo contra a náusea (repulsa ao fedor das feridas).
Se não colocarmos essas coisas em uso, como poderemos praticar nossa ciência? É
impossível, porque um médico não recebe seu pagamento por suas palavras, mas
pelos seus feitos”.
“Um emplastro é uma cura para paixões exteriores, ou seja, paixões
corporais. Uma poção é uma cura para paixões interiores, para drenar para fora
impurezas invisíveis. Uma navalha é a humilhação que morde, mas que purifica a
putrefação da empáfia. O colírio serve como um castigo cáustico que traz uma
cura rápida. A sangria é uma drenagem para purulências ocultas. Ela também é um
instrumento que constitui eminentemente um remédio intenso e breve para a
salvação dos doentes. Uma esponja é usada após a sangria para aliviar e
refrescar o paciente com as palavras gentis, delicadas e ternas do médico. A
cauterização é uma regra de penitência dada com amor ao pecador por um período
definido de arrependimento. Um unguento é um tranquilizante oferecido ao
paciente como algumas palavras ou uma breve consolação após a cauterização”.
“Uma poção para dormir é o que usamos para aliviar o peso de uma
pessoa, e, por meio da obediência, dar a ela descanso, o sono da vigília e uma
sagrada cegueira em relação às suas próprias virtudes. As bandagens servem para
atar e fortalecer aqueles que estão nervosos e debilitados pela vanglória. O
último instrumento é a faca, que é uma sentença ou um decreto para cortar fora
o membro pútrido e um corpo morto na alma para que não espalhe seu contágio por
todo o resto”.
“Abençoado e louvável é a resistência à náusea dos médicos, como é a
imparcialidade entre os pastores. Os primeiros, evitando a náusea,
incansavelmente se esforçam para dissipar o fedor. Os últimos serão capazes de
restaurar a vida a toda alma fenecida”.
O Padre João escreve ainda: “Assume-se que acima de todos os outros
terapeutas, quem guia os enfermos para esses estágios de terapia são os bispos
e os sacerdotes, sendo que os primeiros de modo geral são egressos do
monaquismo. Hoje, porém, depois de um século de uma catastrófica propaganda
neo-helenística contra o Hesiquiasmo, esse tipo de clérigo é raro. Existem
poucos monges hesiquiastas. O sacerdócio, tal como descrito por Dionísio o
Areopagita, praticamente desapareceu”.
O sacerdote terapeuta também recomenda ao seu filho espiritual um
caminho ortodoxo, que é o caminho da devoção ortodoxa. Assim sendo, veremos a
seguir o método por meio do qual a pessoa doente poderá obter sua cura
espiritual, sob a orientação do seu pai espiritual.
Queremos focar em especial o ascetismo. “A poderosa prática do
autocontrole e do amor, da paciência e da perseverança, destruirá as paixões
ocultas em nós”. Nicetas Sthethatos, discípulo de São Simeão o Novo Teólogo,
descreve essa prática ascética. O homem possui cinco sentidos, de maneira que
as práticas ascéticas são também em número de cinco: a vigília, o estudo, a
prece, o autocontrole e a hesíquia. O asceta deve combinar seus cinco sentidos
com essas cinco práticas: a visão com a vigília, a audição com o estudo, o
olfato com a prece, o paladar com o autocontrole e o tato com a hesíquia.
Quando ele tiver sucesso com essas cinco ligações, “ele rapidamente purificará
o nous de sua alma e, por esse
refinamento, a tornará desapaixonada e lúcida”.
Em poucas palavras, podemos dizer que a prática do ascetismo consiste
em aplicar as leis de Deus, em aplicar seus mandamentos. O esforço que fazemos
para subordinar a vontade do homem à vontade de Deus, e para transformar aquela
por meio desta, se chama ascese. Estamos cientes, a partir dos ensinamentos de
nossos santos Padres, que todo o Evangelho consiste em “preceitos de salvação”.
Tudo o que está contido nas Escrituras são mandamentos de Deus, que devem ser
observados por aqueles que buscam sua salvação. Isso está bastante claro nas
Beatitudes[25].
“Bem-aventurados os pobres em espírito”, é o mandamento do Senhor que
devemos observar para nossa pobreza espiritual, ou seja, para que possamos
experimentar nossa miserabilidade. “Bem-aventurados os que choram”, é o
mandamento do Senhor para que choremos sobre as paixões que existem em nós,
para que choremos sobre nossa desolação. “Bem-aventurados os que têm fome e
sede de justiça”, é o mandamento do Senhor sobre a fome e a sede que precedem a
comunhão com Deus. “Bem-aventurados os puros de coração”, é o mandamento de
Cristo para que purifiquemos nossos corações. Quando ele nos diz “bem-aventurados”,
é como se dissesse: “Tornem-se pobres, chorem, sejam sedentos por justiça”, e
assim por diante.
Portanto, os mandamentos de Cristo consistem numa prece incessante,
numa celebração da Divina Liturgia, numa vigilante atenção sobre o nous, na pureza do coração, etc. “A lei
é santa e o mandamento é santo, justo e bom[26]”.
João Evangelista, o discípulo do amor, enfatiza aos Cristãos: “Agora é desse
modo que sabemos que o conhecemos, se guardarmos seus mandamentos. Aquele que
diz “eu o conheço”, mas não guarda seus mandamentos, é um mentiroso e a verdade
não está nele. Mas quem mantém Sua palavra, verdadeiramente o amor de Deus
neste é perfeito. Por essas coisas sabemos que estamos nele[27]”.
O mesmo Evangelista enfatiza com toda autoridade: “Pois este é o amor de Deus,
que sigamos Seus mandamentos”.
De acordo com Dionísio o Areopagita, “o objetivo de nossa hierarquia é
nos tornarmos o tanto quanto possível semelhantes a Deus e unidos a Ele. Mas a
Escritura nos ensina que nosso desejo só terá sucesso através da amorosa
observância dos mandamentos e da realização dos serviços divinos”. São Gregório
Palamas nos ensina que o conhecimento das coisas criadas vem por meio das ações
virtuosas. E quando perguntado a respeito da finalidade dessas ações, ele
escreve: “A união com Deus e a semelhança para com Ele”. Realizar ações
virtuosas está ligado à observância dos mandamentos. O santo hesiquiasta
observa ademais que o amor por Deus “só vem por intermédio da sagrada
realização dos mandamentos divinos”.
A seguir eu gostaria de mencionar alguns preceitos dos Padres a
respeito do valor dos mandamentos. “O propósito dos mandamentos do Salvador é o
de libertar o nous do ódio e da
dissipação[28]”.
Os mandamentos de Deus “excedem todos os tesouros do mundo. O homem que recebeu
sua posse interior encontra neles o Senhor[29]”.
“Manter os mandamentos de Deus gera a impassibilidade. A impassibilidade da
alma preserva o conhecimento espiritual[30]”.
A obediência aos mandamentos de Deus “é a ressurreição dos mortos[31]”.
São Gregório o Sinaíta, descrevendo os dois modos de operação do
Espírito Santo, que recebemos secretamente no Santo Batismo, considera a
observância dos mandamentos como sendo um deles: “Quanto mais conservamos os
mandamentos, mais se manifesta a brilhante luz do Espírito Santo em nós[32]”.
Todas essas coisas mostram o quão essencial é a vida ascética para a
cura e a restauração da alma. Como dissemos, essa vida ascética consiste
basicamente na observância dos mandamentos de Cristo, nosso Salvador.
Os mandamentos básicos que afetam nossa cura espiritual – conforme
estão nos Tropários que cantamos na Igreja – são “jejuns, vigílias e preces”.
Se a esmola cura o poder insensível da alma e a prece purifica o nous, o jejum enfraquece o desejo
sensual, de modo que toda a alma se oferece curada a Deus. O jejum também torna
o corpo mais humilde: “A provação de comida mortifica o corpo do monge”. Mas o
jejum em excesso não apenas enfraquece o corpo, como ainda “faz com que a
faculdade contemplativa da alma se desanime e tenha dificuldades de
concentração”.
São João Clímaco fala a respeito do jejum: “Jejuar é fazer violência
contra a natureza. Ele deve ser dirigido contra tudo o que agrada ao paladar. O
jejum acaba com a luxúria, desenraiza os maus pensamentos, liberta dos sonhos
diabólicos. O jejum permite a pureza na oração, uma alma iluminada, uma mente
alerta, a libertação da cegueira. O jejum é a porta da compunção, dos suspiros
de humildade, da contrição alegre, e acaba com a tagarelice, fazendo-se uma
ocasião para o repouso da mente, para a custódia da obediência, para a
iluminação do sono, a saúde do corpo, sendo ainda um agente da impassibilidade
e da remissão dos pecados: uma porta para as delícias do Paraíso”.
Todas essas coisas que mencionamos, por um lado mostram o âmbito do
jejum, e por outro indicam os frutos que obtemos para a alma que se esforça. É
por isso que todos os santos amavam o jejum. É importante mencionar que quando
uma pessoa começa a se arrepender, ela também começa a jejuar por si mesma, o
que mostra que o jejum acompanha a oração e o arrependimento.
É claro que o jejum é um meio e não um fim, “é uma ferramenta para
treinar os que desejam o autocontrole”; porém, sem essa ferramenta, é quase
impossível dominar as paixões e alcançar a impassibilidade. São João Clímaco é
claro a esse respeito. Assim como os Hebreus se libertaram do Faraó e
celebraram a Páscoa depois de comer ervas amargas e pão sem fermento, também
nós devemos nos libertar de nosso Faraó interior através do jejum e da
humildade: “Vocês não devem se enganar. Vocês não irão escapar do Faraó, nem
verão a Páscoa celeste a menos que comem constantemente ervas amargas e pão sem
fermento: as amargas ervas do trabalho árduo e o pão sem fermento da mente que
se humilha”.
É essencial manter os jejuns fixados pela Igreja, e tentar sempre não
satisfazer por inteiro os desejos da carne.
Além do jejum, outro meio de cura é a vigília. Mantendo a vigília, que
é também um método ascético de terapia, a pessoa é purificada e curada das
paixões. O Senhor nos disse que orássemos à noite, e ele próprio passava noites
inteiras na montanha. “E depois de ter despedido as multidões, ele se dirigiu
sozinho à montanha para rezar. E quando chegou a manhã, ele ainda estava lá[33]”.
Os santos Padres experimentaram em suas vidas o efeito benéfico das
vigílias. Santo Isaac diz em seus escritos ascéticos: “O monge que persevera na
vigília com um nous atento, não será
visto como coberto de carne, porque esse é um trabalho do estado angélico”. Uma
alma que trabalha e se excede na prática das vigílias “terá os olhos do
Querubim, e poderá sempre olhar e contemplar as visões celestiais”.
São João Clímaco, com sua delicadeza característica apresenta o modelo
do monge desperto e os benefícios da vigília: “Uma atitude alerta mantém a
mente limpa. A sonolência amarra a alma. O monge alerta luta contra a
fornicação, enquanto que o sonolento se deixa levar por ela. O alerta extingue
a luxúria, liberta das fantasias, mantém os olhos em lágrimas, suaviza o
coração e o torna gentil, domina os pensamentos, digere os alimentos, domestica
as paixões, submete os espíritos, controla a língua, afasta as imaginações
ociosas. O monge vigilante é um pescador de pensamentos, e na calada da noite
ele pode observá-los e capturá-los”.
A prece acompanha a vigília. Esse é o método por excelência que cura
as moléstias da alma. Pois muitas graças alcançam a alma do homem por
intermédio da prece. Mais adiante veremos a prece noética como método de
libertar o nous e ver a Deus, no
capítulo denominado “A hesíquia como método de terapia”. Nós consideramos este
como o mais importante meio para a salvação do homem. Existem ainda outros
meios terapêuticos de cura para todas as paixões da alma. Mas vamos tratar
deles mais adiante, no capítulo “Patologia Ortodoxa”.
Talvez o leitor esteja pensando que todos esses métodos terapêuticos,
que são bálsamos para o olho do coração[34],
só podem ser praticados por monges. Isso não é verdade. Qualquer um, mesmo os
que vivem no mundo, pode viver pelos mandamentos de Cristo. Prece,
arrependimento, lamentações, compunção, jejum, vigília e tudo o mais, são
mandamentos de Cristo, o que significa que todos podem viver segundo eles.
Cristo nunca disse coisas que fossem impossíveis para o homem. São Gregório
Palamas, falando sobre a pureza do coração, enfatiza que “é possível, mesmo
para aqueles que são casados, buscar essa pureza, embora com bem mais
dificuldade”. Todo mundo pode desenvolver uma vida de acordo com o Evangelho,
fazendo para si o correspondente ajuste.
Acima de tudo, se existir um bispo e a divina Liturgia, isso significa
que a salvação é possível. Afinal, por que a Igreja existe e funciona? E mais,
existe uma aplicação apropriada dos mandamentos de Cristo para cada pessoa. Na
literatura patrística encontramos muitos desses casos. Os Padres, eles próprios
tendo sido curados, adquiriram a graça do discernimento e aconselharam a cada
pessoa sobre como encontrar seu caminho, que é essencialmente o caminho da
tradição Ortodoxa.
São João Clímaco é característico a esse respeito. Ele conta ter visto
um médico estúpido ter desonrado e levado ao desespero um homem doente que se
apresentara contrito e com o espírito humilde. Ao mesmo tempo, ele viu outro
médico espiritual “inteligente” operar um “coração arrogante” com a faca da
desonra e assim drenar deste todo fedor pecaminoso. Ele também disse ter visto
o mesmo homem enfermo tratar suas impurezas com os remédios da obediência, e às
vezes curar “o olho doente de sua alma” com repouso e silêncio. Fica assim
claro que o mesmo homem enfermo precisava de obediência num dado momento, e de
repouso e silêncio em outro. O remédio apropriado deve ser ministrado no tempo
apropriado.
Confessor criterioso, o mesmo santo disse: “O remédio de um homem pode
ser o veneno de outro”. E mais, o mesmo preparado para a mesma pessoa doente
pode num momento ser um remédio e noutro um veneno. Quando ministrado no
momento oportuno, serve como remédio, mas no tempo errado se torna um veneno.
Assim é que enfatizamos uma vez mais que um terapeuta Ortodoxo
criterioso (médico-confessor) é essencial para ajustar a medicação e fornecer a
orientação terapêutica adequada.
A seguir eu gostaria de apresentar alguns ditos de padres do deserto
nos quais fica claro que existe uma variedade de práticas ascéticas, com
grandes possibilidades de ajustes.
Alguém perguntou a Santo Antônio: ”Quais boas obras poderei ei
realizar?”. Ele respondeu: “Não são todas as boas obras iguais entre si? A
Escritura diz que Abrahão era hospitaleiro, e que Deus estava com ele. Davi era
humilde, e Deus estava com ele. Elias amava a paz interior, e Deus estava com
ele. Assim faça o que sua alma desejar, de acordo com Deus, e guarde o seu
coração”.
João de Tebas disse: “Três obras ganham aprovação aos olhos do Senhor:
a primeira, quando um homem está doente e as tentações caem sobre ele, se ele
as recebe com gratidão; a segunda, quando alguém realiza suas obras apenas na
presença de Deus, sem buscar nada humano; e a terceira, quando alguém é
submisso ao seu pai espiritual em completa renúncia de sua própria vontade. Esta
última receberá ainda uma eminente coroa”. E ele acentua: “Quanto a mim, eu
escolhi a doença”.
Do mesmo modo o Abade Poêmio disse: “Se três homens estiverem no mesmo
lugar e um deles preservar sua paz interior, o segundo agradecer a Deus por sua
enfermidade e o terceiro O servir com uma mente pura, os três terão realizado a
mesma obra”.
A partir desses exemplos podemos ver que a luta do homem é comum a
todos, mas que existem diferentes modos de lutar. Todos devem guardar as
palavras de Deus, os mandamentos de Deus, todos devem guardar a pureza de seus
corações enquanto estiverem trabalhando. Não obstante, existe uma variedade de
aplicações que o pai espiritual pode fazer.
Pode ser considerada uma falta não termos listado a Santa Comunhão
como um tratamento terapêutico. Mas devemos sublinhar e enfatizar o fato de que
vemos a Eucaristia, a comunhão do Corpo e Sangue de Cristo, como indispensável ao
homem. O Senhor enfatizou: “A menos que vocês comam a carne do Filho do homem
me bebam seu sangue, vocês não terão vida em si[35]”.
Mas é sabido que a santa Comunhão é precedida pela purificação e a preparação. Se
a terapia sobre a qual falamos não vier antes, então a recepção do Corpo e Sangue
de Cristo acarretará “juízo e condenação”. A eclesiologia e a escatologia não
podem ser compreendidas sem a prática terapêutica. Assim, não estamos
subestimando a Santa Eucaristia, mas, enfatizando o valor da prática ascética e
da terapia, exaltamos o grande dom da Eucaristia. Por outro lado, o objetivo
daquilo que escrevemos é principalmente o de esclarecer o caminho preciso que
termina do altar, de modo que a Santa Comunhão se torne a luz da vida.
Espero que essas poucas palavras tenham mostrado com clareza que o
Cristianismo é uma ciência terapêutica. Ele cura as pessoas doentes. Essa doença
se manifesta no nous. A Igreja, com
seus ensinamentos, seu culto, sua ascese e sacramentos liberta o nous e o torna Templo do Espírito Santo.
Esse caminho terapêutico foi aplicado e confirmado por todos os santos. É o
único caminho que conduz a Deus. Eu acredito que a perda da tradição deve ser
vista como o principal motivo da perda do método terapêutico e dos terapeutas
atuais. O retorno ao caminho da Tradição Ortodoxa é essencialmente o caminho de
volta para esses dois fundamentos.
[1] A
edição que serviu de base para esta tradução não contém as referências
mencionadas. (https://pt.scribd.com/doc/204181139/Orthodox-Psychotherapy-Metropolitan-Hierotheos-Vlachos).
[2]
Basílio o Grande, Gregório o Teólogo e João Crisóstomo.
[3]
Prólogo dos editores, Filocalia Grega, pg. 9.
[4]
Filocalia Grega I, pgs. 1-11.
[5] I
Coríntios 11: 27-30.
[6]
Mateus 16: 18.
[7]
Colossenses 1: 18.
[8] I
Timóteo 3: 15.
[9]
Tiago 1: 26-27.
[10]
Lucas 10: 33 ss.
[11]
Salmo 38: 5.
[12]
Mateus 9: 12.
[13]
Mateus 4: 23 ss.
[14] I
Coríntios 8: 12.
[15]
Apocalipse 22: 1 ss.
[16] I
Coríntios 12: 8.
[17]
Romanos 5: 19.
[18]
Mateus 23: 36.
[19]
Atos 15: 8 ss.
[20]
II Coríntios 7: 1.
[21]
Hebreus 9: 14.
[22] I
Timóteo 3: 9.
[23] I
Pedro 1: 22.
[24] Lucas
4: 23.
[25]
Mateus 5: 1-12.
[26]
Romanos 7: 12.
[27] I
João 2: 3-5.
[28]
Máximo o Confessor, Filocalia.
[29]
Isaac o Sírio, Homilias Ascéticas.
[30]
Thalassus, Filocalia.
[31]
Ibid.
[32]
Filocalia 4.
[33]
Mateus 14: 23.
[34]
Cf. Apocalipse 3: 18.
[35]
João 6: 53.
Obrigada irmão por postar um texto de tão extrema relevância!
ResponderExcluir