quarta-feira, 6 de março de 2013

Filocalia Tomo I Volume 3 - Thalassius o Africano: Sobre o Amor, a Temperança e a Conduta do Intelecto


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

THALASSIUS O AFRICANO

 

 

 

SOBRE O AMOR, A TEMPERANÇA E A CONDUTA DO INTELECTO


Thalassius o Africano

 

 

Nosso santo Padre Thalassius, que se tornou padre e higoumeno, viveu sob o regime de Constantino Pogonato, por volta do ano 660. Ele foi contemporâneo de são Máximo, que lhe endereçou um conjunto de questões escritas e suas soluções. As quatro presentes centúrias de capítulos, redigidas por ele foram inseridas aqui para grande socorro espiritual de nossos leitores.

 

 

*

 

Thalassius o Africano, ou o Líbio, higoumeno de um mosteiro na Líbia no século VII, teria sido um desses grandes monges que parraram quase sem deixar traços, se sua vida não tivesse sido ligada ao testemunho histórico de Máximo o Confessor. Este, quando de seu exílio depois de 626, foi beneficiado com sua hospitalidade, escreveu-lhe inúmeras cartas[1], dedicou-lhe suas duas centúrias sobre a teologia e, sobretudo, redigiu, para responder às suas interrogações, uma de suas principais obras, as Questões a Thalassius. Ele próprio se dizia seu discípulo[2]. É verdade que o higoumeno teve que confortar o errante, mas também é certo que Thalassius se colocou sob a escola do gênio teológico de Máximo.

 

Em todo caso, existe um paralelismo formal entre suas quatro centúrias sobre o amor, a temperança e a conduta do intelecto, e as quatro centúrias do Confessor sobre o amor: mesma estrutura, mesmo título, mesmo tema, mesma concisão. Notaremos apenas o gosto que Thalassius mostra pelas construções rigorosas e imbricadas. Os capítulos das quatro centúrias são todos reduzidos à sua expressão mais simples: sentenças breves, muitas vezes feitas de duas frases complementares ou contrastantes, à maneira dos provérbios bíblicos, e sempre construídas sobre suas letras iniciais que em conjunto formam um acróstico[3]. Mas a forma lapidar apenas coloca em relevo o fundo comum no qual, ligando-se e se desligando ao sabor das sentenças, passam os grandes temas filocálico.

 

Primeiro o amor absoluto, o eros divino, o amor tensionado para Deus, portanto o amor igual por todos. E paradoxalmente, junto com este amor, a temperança (mestra das paixões e totalmente contida) que permite ao amor a todos se tornar verdadeiramente amor a Deus. Depois a hesíquia (a retirada do criado, a “bela hesíquia”, como diz Thalassius), a ascese do corpo, a ascese do intelecto, a prece, a deificação (“Deus está sobre a terra, o homem está nos céus”). Enfim, para além de toda inteligência, a teologia, conhecimento apofático[4] de Deus e contemplação do invisível a partir daí.

 

Entre Máximo e Thalassius não existe outra influência do que a da energia divina. É a mesma literatura filocálica, feita de osmose e de comunhão, dedicada ao testemunho e à transmissão. Longe de ser um apêndice da obra do Confessor, as quatro centúrias de Thalassius, como um exercício cotidiano da vida monástica, podem ser consideradas uma semente pura e dura.

 

 

 

 


DE NOSSO SANTO PADRE TEÓFORO THALASSIUS O AFRICANO, SOBRE O AMOR, A TEMPERANÇA E A CONDUTA DO INTELECTO, AO PADRE PAULO

 

 

PRIMEIRA CENTÚRIA

 

ACRÓSTICO

 

ΠΝΕΥΜΑΤΙΚΩ  ΑΔΕΛΦΩ  ΚΑΙ  ΑΓΑΠΗΤΩ  ΚΥΡΙΩ  ΠΑΥΛΩ,

ΘΑΛΑΣΣΙΟΣ, ΤΩ  ΜΕΝ  ΦΑΙΝΟΜΕΝΩ  ΗΣΥΧΑΣΤΗΣ, ΤΗ  Δ΄ΑΛΗΘΕΙΑ  ΠΡΑΓΜΑΤΕΥΤΗΣ  ΚΕΝΟΔΟΞΙΑΣ

 

Para meu irmão espiritual amado senhor Paulo. Thalassius, que parece hesiquiasta, mas que é na verdade um estudioso de vaidades.

 

 

1. Um desejo inteiramente tensionado para Deus liga a Deus e liga entre si os que desejam.

 

2. Um intelecto que adquiriu o amor espiritual não leva em conta nada que não convenha ao amor, quando considera o próximo.

 

3. Quem bendiz com a boca mas despreza com o coração[5] esconde a hipocrisia sob uma cobertura de amor.

 

4. Quem adquiriu o amor suporta sem se perturbar as coisas aflitivas e penosas suscitadas pelos inimigos.

 

5. Somente o amor une a criação a Deus e os seres entre si na concórdia.

 

6. Possui o verdadeiro amor aquele que não tolera nem suspeitas nem palavras contra o próximo.

 

7. Quem não empreende nada que possa destruir o amor é honrado por Deus e pelos homens.

 

8. É típica do amor sincero uma palavra verdadeira que provém de uma boa consciência.

 

9. Quem reporta a um irmão as censuras que vêm de outro esconde a inveja sob o manto da benevolência.

 

10. Assim como as virtudes carnais atraem a glória dos homens, as espirituais atraem a glória de Deus.

 

11. O amor e a temperança purificam a alma, mas a prece pura ilumina o intelecto.

 

12. É um homem forte aquele que, pela ação e o conhecimento, expulsa o mal.

 

13. Encontra graça junto a Deus quem adquiriu a impassibilidade e o conhecimento espiritual.

 

14. Se você quiser vencer os pensamentos passionais, adquira a temperança e o amor ao próximo.

 

15. Guarde-se da intemperança e da raiva, e você não encontrará nada que seja um obstáculo no momento da oração[6].

 

16. Assim como não é possível sentir perfumes no lodo, também é impossível sentir o bom odor do amor numa alma rancorosa.

 

17. Domine vigorosamente o ardor e a concupiscência e você logo se livrará dos maus pensamentos.

 

18. O trabalho oculto suprime a vanglória, e não desprezar a ninguém expulsa o orgulho.

 

19. Características da vanglória são a hipocrisia e a mentira; do orgulho, a presunção e a inveja.

 

20. Pode comandar a outros quem comandou a si mesmo e submeteu à razão a alma e o corpo.

 

21. A autenticidade de um amigo se manifesta na provação, quando ele comunga de nossa infelicidade.

 

22. Firme seus sentidos por meio da hesíquia, e julgue os pensamentos que são colocados no seu coração.

 

23. Responda sem ressentimento aos pensamentos que o afligem, mas mostre sua aversão aos pensamentos que amam o prazer.

 

24. A hesíquia, a oração, o amor e a temperança são o quádruplo arreio que eleva aos céus o intelecto.

 

25. Consuma seu corpo por meio dos jejuns e das vigílias, e você expulsará o carrasco, o pensamento do prazer.

 

26. Assim como a cera se funde ao fogo[7], também o pensamento impuro derrete diante do temor a Deus.

 

27. Faz mal à alma prudente deixar por muito tempo o intelecto envolvido com uma paixão condenável.

 

28. Suporte os ataques do que o entristece e aflige, pois é por meio deles que a providência divina o purifica.

 

29. Se você rejeitou a matéria e se desligou do mundo, desligue-se agora dos maus pensamentos.

 

30. A obra que compete ao intelecto é de sempre estudar a palavra de Deus.

 

31. Assim como a obra de Deus consiste em dirigir o mundo, a obra da alma consiste em governar o corpo.

 

32. Com que esperança iremos ao encontro de Cristo, nós que até hoje estamos subjugados aos prazeres da carne?

 

33. A vida dura e a aflição – voluntárias ou suscitadas pela Providência – apagam o prazer.

 

34. O amor ao dinheiro é a matéria das paixões, pois ele aumenta o prazer que abarca tudo.

 

35. A perda do prazer engendra a tristeza, mas o prazer estava ligado a todas as paixões.

 

36. Você será medido por Deus com a mesma medida que você usa para medir tudo em relação a seu corpo[8].

 

37. As obras dos julgamentos divinos são as justas retribuições daquilo que foi feito pelo corpo.

 

38. A virtude e o conhecimento geram a imortalidade, mas sua privação é a mãe da morte.

 

39. A tristeza conforme a Deus apaga o prazer, e a desaparição do prazer é a ressurreição da alma.

 

40. A impassibilidade é a imobilidade da alma diante do mal. É impossível atingi-la sem a compaixão de Cristo.

 

41. Cristo é o Salvador da alma e do corpo; quem seguir suas pegadas estará livre do mal.

 

42. Se você quiser obter a salvação, rejeite o prazer e tome sobre si a temperança e o amor, juntamente com uma prece assídua.

 

43. O discernimento verdadeiro é típico da impassibilidade. Faça tudo com tal discernimento, observando a medida e a regra.

 

44. Jesus Cristo é nosso Senhor e nosso Deus. O intelecto que o seguir não andará nas trevas[9].

 

45. Recolha seu intelecto e guarde seus pensamentos. E combata os que achar passionais.

 

46. Existem três canais pelos quais você recebe os pensamentos: os sentidos, a memória e o temperamento do corpo. Os pensamentos mais importunos provêm da memória.

 

47. Aquele a quem foi dada a sabedoria conhece as razões dos incorporais: qual o começo e qual o fim do mundo.

 

48. Não negligencie a prática e sua inteligência será iluminada. Foi dito: “Eu lhe abrirei secretamente tesouros invisíveis[10]”.

 

49. Quem se liberta das paixões encontra a graça de Deus. Quem se torna digno do conhecimento encontra sua grande piedade.

 

50. O intelecto liberto das paixões se torna luminoso; ele é iluminado sem cessar pela contemplação dos seres.

 

51. A luz da alma é o santo conhecimento. Privado disto, o insensato caminha nas trevas[11].

 

52. Insensato é aquele que vive nas trevas; as trevas da ignorância o seguem.

 

53. Quem ama a Jesus será liberto do mal, e quem o segue verá o verdadeiro conhecimento.

 

54. O intelecto liberto das paixões vê os pensamentos nus, quando vela sobre o coro e durante o sono.

 

55. O intelecto purificado ao extremo sente-se apertado no meio dos seres; ele quer se afastar de todas as criaturas.

 

56. Bem-aventurado aquele que alcançou o infinito sem limites; ele chegou a ultrapassar tudo o que tem um fim.

 

57. Quem venera a Deus busca as suas razões. Quem é presa da verdade as encontra.

 

58. O intelecto movido pela retidão encontra a verdade; mas o intelecto movido por qualquer paixão a perderá.

 

59. Assim como Deus não pode ser conhecido em sua essência, também em sua grandeza ele é infinito.

 

60. Se uma essência não tem começo nem fim, é impossível descobrir sua natureza.

 

61. A salvação de toda a criação é a providência mais do que boa com a qual o Criador a cerca.

 

62. Em sua compaixão, o Senhor sustenta todos os que caem, e levanta todos os que foram derrubados.

 

63. Cristo dá a justa retribuição aos vivos e aos mortos, e às ações de cada qual.

 

64. Se você quiser comandar a alma e o corpo, antes de tudo afaste as causas da paixão.

 

65. Una as virtudes às potências da alma, e elas se afastarão totalmente da tirania das paixões.

 

66. Refreie os impulsos do desejo com a temperança. E refreie os impulsos do ardor com o amor espiritual.

 

67. A hesíquia e a prece são as armas supremas da virtude. Pois, purificando o intelecto, elas o tornam clarividente.

 

68. A conversa é útil, mas apenas a conversa espiritual. Quanto às demais conversas, a hesíquia é preferível elas.

 

69. Dos cinco modos de conversação, escolha os três primeiros, não frequente o quarto e evite o quinto.

 

70. Quem não é afetado pelas coisas do mundo ama a hesíquia. E quem não ama as coisas humanas, ama a todos os homens.

 

71. A consciência é um verdadeiro mestre. Quem a obedece está sempre protegido contra tropeços.

 

72. A consciência não julga aqueles que sozinhos vão até o fim da virtude, ou até o fim do mal.

 

73. A impassibilidade extrema afina os pensamentos, e o conhecimento extremo conduz até Aquele que é mais do que incognoscível.

 

74. A perda dos prazeres é uma aflição vergonhosa; quem despreza os prazeres permanece sem aflição.

 

75. A aflição geralmente é a privação do prazer, quer seja concebida segundo Deus, quer seja concebida segundo o mundo.

 

76. O Reino de Deus é a bondade e a sabedoria; quem as descobriu é cidadão dos céus[12].

 

77. É miserável o homem que, em suas obras, preferiu o corpo à alma e o mundo a Deus.

 

78. Quem não inveja os bons e se apieda dos maus traz em si o amor a todos.

 

79. Quem coloca as coisas da virtude como uma lei na alma e no corpo deveria sempre comandar.

 

80. Executa uma obra espiritual aquele que rejeita do mesmo modo os encantos e as aflições da vida em função das coisas do século por vir.

 

81. O amor e a temperança fortificam a alma; a prece pura e a contemplação espiritual fortalecem o intelecto.

 

82. Quando você ouvir um discurso útil, não julgue aquele que fala, a fim de não se privar da advertência que lhe fará bem.

 

83. A má vontade deseja o mal e, desconhecendo as ações direitas do próximo, as considera como defeitos.

 

84. Não dê confiança ao pensamento que julga o próximo, pois, sendo o mal seu tesouro[13], ele considera o mal.

 

85. O bom coração carrega bons pensamentos, pois é em direção ao seu tesouro que vão as reflexões.

 

86. Guarde seus pensamentos e fuja da malícia, a fim de que o intelecto entenebrecido não tome uma coisa pela outra.

 

87. Considere os judeus e guarde a si mesmo, pois, cegos pela inveja, eles ignoraram seu Senhor e seu Deus e tomaram-no por Belzebu[14].

 

88. Uma suspeita maldosa entenebrece o intelecto e o faz considerar, ao invés do caminho, a via contrária[15].

 

89. Os vícios foram colados às virtudes. É por isso que os bandidos ignoram as virtudes e as transformam em vícios.

 

90. O intelecto que se demora no prazer ou na aflição logo cai na paixão da acídia.

 

91. Uma consciência pura eleva a alma; mas um pensamento imundo a afunda na terra.

 

92. Quando suscitamos as paixões, elas expulsam a vanglória. Mas quando as apagamos, elas a fazem retornar.

 

93. Se você quiser se desembaraçar de todas as paixões de uma vez, tome sobre si a temperança, o amor e a oração.

 

94. O intelecto que, pela oração, passa seu tempo com Deus, liberta as paixões da parte passional da alma.

 

95. Deus, que fez ser as criaturas, ligou todas as coisas à sua providência.

 

96. Ele, que é mestre e se fez escravo[16], revelou à criação o cume de sua providência.

 

97. Deus o Verbo, que se encarnou sem se alterar, uniu-se na carne a toda a criação.

 

98. Um estranho milagre aconteceu no céu e na terra: Deus está sobre a terra, e o homem está nos céus.

 

99. Depois de ter unido os homens aos anjos, ele concedeu a deificação a todo o mundo criado.

 

100. A santificação e a deificação dos anjos e dos homens é o conhecimento da Trindade santa e consubstancial.

 

101. O perdão dos pecados é a libertação das paixões. Quem, pela graça, ainda não se viu livre das paixões, é porque ainda não descobriu o perdão.

 


SEGUNDA CENTÚRIA

 

 

ACRÓSTICO

 

ΕΥΞΑΙ  ΥΠΕΡ  ΕΜΟΥ  ΑΔΕΛΦΕ  ΤΙΜΙΩΤΑΤΕ,

ΟΤΙ ΜΕΓΑΛΑ ΚΑΚΑ  ΠΡΟΣΔΟΚΩ, 

ΑΞΙΑ  ΤΗΣ  ΕΜΗΣ  ΠΡΟΑΙΡΕΣΕΩΣ, ΛΥΠΑΣ  ΤΗ  ΨΥΧΗ

 ΚΑΙ  ΟΔΥΝΑΣ  ΤΩ  ΣΩΜΑΤΙ.

 

Ore por mim, honesto irmão, porque estou esperando coisas muito ruins contra a minha vontade, tristeza na minha alma e dores no meu corpo.

 

1. Se você quiser se livrar dos vícios com um só golpe, rejeite a mãe dos vícios, o amor por si mesmo.

 

2. A saúde da alma consiste na impassibilidade e no conhecimento, coisas impossíveis de se atingir enquanto somos escravos dos prazeres.

 

3. A temperança unida à paciência e o amor unido à longanimidade secam os prazeres do corpo e da alma.

 

4. O começo dos males da alma foi o egoísmo. Ora, o egoísmo não passa do amor que dedicamos ao corpo.

 

5. É característico da natureza racional submeter-se à razão, trabalhar arduamente e sujeitar o corpo[17].

 

6. A desmedida, para a natureza racional, consiste em se submeter à irracionalidade e se deixar levar por desejos infamantes[18].

 

7. A má obra da alma dotada de razão consiste em desleixar o Criador e servir ao corpo.

 

8. Foi-nos ordenado fazer do corpo um servidor, e não sermos submetidos contra a natureza aos seus prazeres.

 

9. Rompa os laços de amor que você com seu corpo, e não conceda nada ao seu servidor que não seja absolutamente necessário.

 

10. Encerre seus sentidos na cidadela da hesíquia, a fim de que eles não arrastem o intelecto aos seus próprios desejos.

 

11. As maiores armas daquele que, com paciência, leva sua vida na hesíquia são a temperança e o amor, a atenção e a leitura.

 

12. O intelecto não cessa de traçar um círculo em torno dos prazeres, até conseguir se consagrar à contemplação, depois de haver sujeitado a carne.

 

13. Combatamos pelos mandamentos, a fim de nos livrarmos das paixões. E combatamos pelos dogmas divinos, para que nos tornemos dignos do conhecimento.

 

14. A imortalidade da alma consiste na impassibilidade e no conhecimento. Quem permanece sujeito aos prazeres é incapaz de obtê-la.

 

15. Conduza duramente o corpo despojando-o dos prazeres e livre-o de toda servidão dolorosa.

 

16. Criado livre e chamado à liberdade[19], não suporta estar submetido às sugestões da impureza.

 

17. Por meio das aflições e dos prazeres, dos desejos e dos medos, os demônios amarram o intelecto ao sensível.

 

18. O temor a Deus domina os desejos; e a tristeza conforme a Deus liberta do prazer.

 

19. O desejo de sabedoria despreza o medo, e o prazer do conhecimento expulsa a aflição.

 

20. As Escrituras contêm estas quatro coisas: os mandamentos, os dogmas, as ameaças e as promessas.

 

21. A temperança e as penas detêm a concupiscência. A hesíquia e o eros divino a reduzem.

 

22. Não fira seu irmão com palavras maldosas. Pois se você tivesse que sofrer o mesmo tratamento, você não suportaria.

 

23. A paciência e a ausência de ressentimentos detêm a cólera. O amor e a compaixão a reduzem.

 

24. A quem recebeu o conhecimento foi dada a luz do intelecto. Mas quem, depois de haver recebido esta luz, a desonra, verá as trevas.

 

25. A observância dos mandamentos de Deus engendra a impassibilidade. E a impassibilidade da alma preserva o conhecimento.

 

26. Faça subir o sensível até a contemplação intelectual, e você arrastará os sentidos acima do sensível.

 

27. O sensível feminino simboliza a alma ativa; quando o intelecto se une a ela, ela gera as virtudes.

 

28. O estudo das palavras de Deus ensina o conhecimento de Deus a quem busca a verdade, com desejo e piedade.

 

29. O que a luz representa para o que vê e o que é visto, representa Deus para o que pensa e o que é pensado.

 

30. O firmamento sensível simboliza o firmamento da fé, no qual os santos brilham como luminares.

 

31. Jerusalém é o conhecimento celeste dos incorporais. É nela onde se contempla a paz.

 

32. Não negligencie a ação quando diminuir o conhecimento; e se vier a fome, você descerá para o Egito[20].

 

33. A libertação das paixões é a liberdade intelectual, à qual ninguém chega sem a compaixão de Cristo.

 

34. O Reino dos céus é a terra prometida, suscitada pela impassibilidade e o conhecimento.

 

35. O entenebrecimento das paixões é o Egito, para onde ninguém vai se não tiver sentido fome.

 

36. Se seu ouvido frequenta as palavras espirituais, seu intelecto se afastará dos pensamentos impuros.

 

37. Somente Deus é bom e sábio por natureza. Mas o intelecto se torna bom e sábio por participação, se se aplicar a isto.

 

38. Domine o ventre, o sono, o ardor e a língua, e seu pé não se ferirá na pedra[21].

 

39. Esforce-se por amar todos os homens igualmente, e você afastará todo o conjunto das paixões.

 

40. A contemplação do sensível é comum ao intelecto e aos sentidos. Mas o que é característico do intelecto é o conhecimento do inteligível.

 

41. É impossível ao intelecto se consagrar ao inteligível se ele não tiver rompido toda relação com os sentidos e com o sensível.

 

42. Os sentidos têm um pendor natural para as coisas sensíveis, e eles distraem o intelecto, que se deixa arrastar e passa a girar em torno deles.

 

43. Incline os sentidos a serviço do intelecto, e não lhes dê tempo para arrastá-lo em sentido contrário.

 

44. Quando ocorrer de o intelecto se ocupar de coisas sensíveis, arraste os sentidos na direção contrária, conduzindo para o intelecto tudo o que está próximo.

 

45. Este é o sinal de que o intelecto se ocupa do inteligível: ele despreza tudo o que adula os sentidos.

 

46. Quando o intelecto se abre à contemplação do inteligível, é difícil arrancá-lo do prazer que ele extrai disto.

 

47. Quando o intelecto se enriquece com o conhecimento da unidade, ele mantém sujeitos os sentidos.

 

48. Impeça seu intelecto de girar ao redor das coisas sensíveis, a fim de não colher nelas o prazer e a aflição.

 

49. Naqueles em quem o intelecto se consagra continuamente às coisas de Deus, mesmo a parte sensível se torna uma arma divina.

 

50. É impossível que o intelecto se dedique ao conhecimento, se primeiro não expulsar para longe de si, por suas próprias virtudes, a parte sensível.

 

51. O intelecto se torna estrangeiro às coisas do mundo quando interrompe totalmente sua relação com os sentidos.

 

52. É típico da parte racional da alma consagra-se ao conhecimento de Deus, e é típico da parte sensível consagrar-se ao amor e à temperança.

 

53. É impossível que o intelecto se ocupe realmente do sensível se não houver nenhuma paixão que o arraste para ele.

 

54. Perfeito é o intelecto afeito ao conhecimento. E perfeita a alma que se mistura às virtudes.

 

55. A relação que liga os sentidos ao intelecto o torna escravo dos prazeres do corpo.

 

56. Quando a parte sensível da alma é conduzida para fora das virtudes que lhe são próprias, o intelecto é levado para fora do lugar do conhecimento.

 

57. Nós recebemos a faculdade de nos tornarmos filhos de Deus[22]. Mas se não nos despojarmos das paixões, jamais nos tornaremos tais.

 

58. Ninguém deve considera que se tornou realmente filho de Deus se não tiver em si próprio as marcas divinas.

 

59. Aquilo que permite nos juntarmos ao bem ou ao mal faz de nós filhos de Deus ou filhos de Satanás.

 

60. O homem prudente é atento a si mesmo[23]: ele se apressa em se livrar de qualquer mancha.

 

61. A alma endurecida não sente quando é fustigada, e não se dá conta de seu benfeitor.

 

62. Uma veste manchada nos interdita participar das bodas divinas e nos atira nas trevas exteriores[24].

 

63. Quem teme a Deus cuida de sua alma e se afasta de toda má relação.

 

64. Quem é desleixado e se sujeita aos prazeres é incapaz de descobrir a compaixão de Deus.

 

65. Foi Jesus quem disse, mesmo que não acreditemos, que não se pode servir a dois senhores[25].

 

66. A alma manchada de paixões se torna endurecida; sem amputação e sem cauterização, ela não suporta crer.

 

67. Julgamentos terríveis aguardam os corações duros. Pois sem grandes penas eles não aceitam amolecer.

 

68. O homem prudente vela sobre si mesmo, e por meio de penas voluntárias ele evita as penas involuntárias.

 

69. A alma deve assumir a vida dura e a humildade, pois é por meio delas que Deus perdoa os nossos pecados.

 

70. Assim como as concupiscências e cóleras multiplicam os pecados, a temperança e a humildade os apagam.

 

71. A tristeza conforme a Deus parte o coração; mas ela é gerada pelo temor do castigo.

 

72. A tristeza conforme a Deus purifica o coração e afasta dele as manchas do prazer.

 

73. A paciência é o amor às penas na alma. Onde existe o amor às penas, o amor ao pecado é banido.

 

74. Todo pecado provém do prazer, e todo perdão nos vem da vida dura e da aflição.

 

75. A providência faz cair nas penas involuntárias a quem não se aplica a se arrepender pelas penas voluntárias.

 

76. Cristo é o Salvador do mundo inteiro, e ele deu para a salvação dos homens o arrependimento.

 

77. A observância dos mandamentos gera o arrependimento e purifica a alma.

 

78. A purificação da alma é a libertação das paixões, e a libertação das paixões gera o amor.

 

79. É pura a alma que ama a Deus. Do mesmo modo, é puro o intelecto que se desembaraçou da ignorância.

 

80. Combata até a morte pelos mandamentos de Cristo. Pois, purificado por eles, você entrará na via.

 

81. Trate o corpo como um servidor dos mandamentos, guardando-o tanto quanto possível longe de todo o prazer e de toda enfermidade.

 

82. A revolta da carne provém da negligência em relação à prece, à frugalidade e à bela hesíquia.

 

83. A bela hesíquia faz nascer lindas crianças: a temperança, o amor e a oração pura.

 

84. A leitura e a oração purificam o intelecto. O amor e a temperança purificam a parte sensível da alma.

 

85. Mantenha a temperança sempre igual, a fim de não cair nos caminhos contrários por falta de equilíbrio.

 

86. Quem estabelece uma lei para si mesmo não a transgrida. Pois quem engana a si mesmo se ilude.

 

87. As almas passionais são ocasos inteligíveis; é sobre elas que se põe o Sol de justiça.

 

88. Filho de Deus é quem se faz semelhante a Deus por meio da bondade e da sabedoria, do poder e da justiça.

 

89. O estado de malícia é a enfermidade da alma, mas o pecado ativo é a sua morte.

 

90. A impassibilidade total é a despossessão inteligível. Quando o intelecto chega a este ponto ele parte para longe das coisas daqui.

 

91. Mantenha num mesmo acordo as virtudes da alma, pois é daí que nascerá o fruto da justiça.

 

92. Diz-se que a contemplação dos inteligíveis é incorpórea, pois ela é inteiramente desprendida da matéria e da forma.

 

93. Assim como os quatro elementos nascem da matéria e da forma, também nascem assim os corpos feitos de matéria e de forma.

 

94. Quando o Verbo se fez carne[26] em seu amor pelo homem, ele não mudou aquilo que ele era, nem modificou aquilo no que se tornou.

 

95. Assim como dizemos que o único e mesmo Cristo nasceu da divindade e da humanidade, e que ele existe em sua divindade e sua humanidade, também afirmamos que ele nasceu das duas naturezas e que existe nas duas naturezas.

 

96. Nós confessamos em Cristo uma única hipóstase indivisivelmente unida em duas naturezas.

 

97. Nós pensamos que a única hipóstase de Cristo é sem divisões, e que a união das naturezas é sem confusão.

 

98. Nós adoramos a essência da Divindade, uma em três Pessoas, e confessamos a santa Trindade consubstancial.

 

99. As três hipóstases têm cada qual como característica a paternidade, a filiação e a sucessão. E elas têm em comum a essência, a natureza, a divindade e a bondade.


 

TERCEIRA CENTÚRIA

 

ACRÓSTICO

 

ΠΛΗΝ ΚΑΚΑ ΚΥΡΙΩΣ  ΟΥ  ΤΑ  ΤΗΝ  ΣΑΡΚΑ  ΜΕΝ ΚΑΚΟΥΝΤΑ,  ΤΗΝ   ΔΕ ΨΥΧΗΝ ΚΑΘΑΙΡΟΝΤΑ. ΤΑ ΔΕ ΤΗΝ ΣΥΝΕΙΔΗΣΙΝ ΛΥΠΟΥΝΤΑ, ΤΕΡΠΟΝΤΑ  ΔΕ  ΤΗΝ  ΣΑΡΚΑ.

 

 

Mas as coisas ruins não são as dores do corpo, mas as que quebram a alma, entristecem a consciência, mas dão prazer ao corpo.

 

 

1. Pense somente o bem daquele que é bom por natureza; e tenha belos pensamentos a respeito de todos os homens.

 

2. No dia do Juízo Deus nos pedirá contas de nossas palavras, nossas obras e nossos pensamentos.

 

3. O costume da virtude ou do vício nos leva a pensar, dizer ou fazer o que é bom ou o que é mau.

 

4. O intelecto dominado pelas paixões pensa o que é inconveniente; depois as palavras e as ações manifestam o pensamento.

 

5. A paixão precede o mau pensamento; os sentidos são a causa da paixão; e a causa do mau uso dos sentidos é manifestamente o intelecto.

 

6. Firme os sentidos, combata a presunção e destrua as paixões por meio das armas dos mandamentos.

 

7. O vício inveterado precisa de uma longa ascese. Pois o hábito enraizado não muda de um golpe.

 

8. A ascese mantida pela temperança e o amor, pela paciência e a hesíquia, suprime aquilo que nos oprime.

 

9. Leve continuamente o intelecto à oração e você destruirá os pensamentos que chegam ao coração.

 

10. A ascese requer paciência e longanimidade. Pois o amor durável às penas bane o amor pelo prazer.

 

11. É fácil se dedicar às penas da ascese se você o fizer moderadamente e entro das regras.

 

12. Mantenha sempre igual a medida da ascese, e você não romperá a regra sem necessidade.

 

13. Assim como o amor e a temperança purificam os pensamentos, a contemplação e a oração abatem as alturas do orgulho[27].

 

14. As penas da ascese, como o jejum, a vigília, a paciência e a longanimidade tornam a consciência pura.

 

15. Quem suporta os ataques das tentações involuntárias se torna humilde, possui a boa esperança e é experiente.

 

16. A paciência é na alma um amor sem sofrimento que nasce das penas voluntárias e das tentações involuntárias.

 

17. A constância nas vicissitudes faz afundar a malícia, e manter-se até o fim paciente acaba por destruí-la por completo.

 

18. A intrusão das penas aflige os sentidos, e a irrupção da tristeza arranca o prazer.

 

19. Existem quatro paixões gerais, das quais a providência se serve opondo-as entre si.

 

20. Pois a intrusão da tristeza reduz o prazer e o medo do castigo derruba a concupiscência.

 

21. Um intelecto prudente exercita sua alma e acostuma o corpo à ascese.

 

22. Livrando-se das paixões, esforce-se por mostrar que o monge não é o homem exterior, mas o interior.

 

23. A primeira renúncia é se desembaraçar das coisas. Mas a segunda e a terceira renúncias consistem em se desprender das paixões e da ignorância.

 

24. Para quem quer, é fácil se desprender das coisas. Mas é muito difícil se desprender dos pensamentos voltados para as coisas.

 

25. Dominando o desejo você se tornará mais forte do que o ardor, porque o desejo é a causa que suscita o ardor.

 

26. Já nos desembaraçamos dos pensamentos passionais e recebemos em troca a prece pura e imaterial, ou ainda não?

 

27. Grande é o intelecto que se desprendeu das paixões, que se separou dos seres e que vive com Deus.

 

28. É um filósofo quem progride nestas três vias: nos mandamentos, nos dogmas e na fé na Santíssima Trindade.

 

29. O intelecto separado das paixões se encontra aqui: nos pensamentos simples, na contemplação dos seres e na sua própria luz.

 

30. As piores paixões estão escondidas em nossa alma, e elas aparecem quando afastamos as coisas.

 

31. O intelecto que descobriu uma impassibilidade parcial eventualmente escapa à perturbação, mas ainda não possui a experiência da ausência das coisas.

 

32. As paixões são suscitadas por estas três coisas: pela memória, pela compleição do corpo e pelos sentidos, conforme já dissemos.

 

33. O intelecto que fechou os sentidos e acalmou a compleição do corpo permanece em guerra apenas com a memória.

 

34. Quando faltam a temperança e o amor espiritual as paixões são suscitadas pelos sentidos.

 

35. O jejum calculado, a vigília e a salmodia apaziguam naturalmente a compleição do corpo.

 

36. Estas três causas alteram, e evidentemente degradam a compleição do corpo: a desordem do regime alimentar, a mudança de ares e o contato com os demônios.

 

37. Despojamo-nos das lembranças passionais por meio da prece, da leitura, da temperança e do amor.

 

38. Primeiro feche os sentidos por meio da hesíquia, e então combata as lembranças com as armas das virtudes.

 

39. O vício da reflexão é o mau uso dos pensamentos, e o pecado ativo é o mau uso das coisas.

 

40. O mau uso dos pensamentos e das coisas consiste em não utilizá-los com piedade e justiça.

 

41. As paixões vergonhosas são entraves ao intelecto, pois o encerram nas coisas sensíveis.

 

42. Existe uma impassibilidade perfeita, que não é afetada nem pelas coisas nem pelas suas lembranças.

 

43. Uma boa alma faz o bem ao próximo. Se este é ingrato para com ela, ela é paciente a respeito; se a faz sofrer, ela suporta o mal que lhe é feito.

 

44. Os maus pensamentos são males reais: quem não se desembaraçar deles não poderá ser instruído pelo conhecimento.

 

45. Quem escuta a Cristos se ilumina, e que o imita se endireita.

 

46. O ressentimento é lepra da alma. Ele chega a ela por causa de uma desonra, de uma aflição, ou de uma suspeita gerada em seus pensamentos.

 

47. O Senhor cega o intelecto invejoso, pois este se aflige injustamente diante dos bens do próximo.

 

48. Uma alma maledicente tem uma língua de três pontas. Pois ela faz mala si própria, a quem a escuta e até aquele em quem ela pensa.

 

49. Quem ora por seu opressor não tem ressentimentos, e quem doa com generosidade se livra do ressentimento.

 

50. A morte da alma é o ódio ao próximo. É ele que possui e faz a alma do caluniador.

 

51. A acídia é a negligência da alma. A alma negligente é aquela doente de amor ao prazer.

 

52. Quem ama a Jesus se exercita sofrendo; a resistência aos sofrimentos expulsa a acídia.

 

53. A alma se fortalece pelas penas da ascese. E, fazendo tudo com medida, ela expulsa a acídia.

 

54. Quem domina o ventre submete a concupiscência, e seu intelecto não é mais sujeito aos pensamentos da prostituição.

 

55. O intelecto do homem temperante é um templo do Espírito Santo. Mas o intelecto do guloso é um ninho de corvos.

 

56. A saciedade faz desejar a variedade de alimentos, enquanto que a sua falta faz considerar delicioso o próprio pão seco.

 

57. Livra-se da inveja o homem que se diverte secretamente com quem é invejado; afasta a inveja o homem que cobre o que é invejado.

 

58. Afaste-se de quem leva uma vida negligente, mesmo que ele tenha muito renome perante muitos.

 

59. Tenha por amigo um homem que ama as penas, e você encontrará uma proteção para os seus olhos.

 

60. O homem negligente passa por muitos mestres, e vive como eles o conduzem.

 

61. Ele é benevolente como um amigo quando você está em paz, e lhe combate como um inimigo quando você passa por uma provação.

 

62. Ele dá a sua vida por você antes que cheguem as paixões, mas quando elas chegam, ele toma a sua vida.

 

63. A terra inculta se cobre de espinheiros[28], e a alma negligente se cobre de paixões impuras.

 

64. O intelecto prudente coloca um freio à sua alma. Ele trata o corpo com dureza e subjuga as paixões[29].

 

65. Os movimentos manifestados são sinais dos movimentos interiores, assim como os frutos que nascem em árvores que não conhecemos bem são sinais que nos permitem reconhecer estas árvores.

 

66. As palavras e as obras denunciam o hipócrita e desmascaram o falso profeta que se oculta nele.

 

67. Um intelecto que perdeu a razão já não corrige sua alma. Ele se afasta do amor e da temperança.

 

68. A causa dos falsos pensamentos é o mau hábito feito de orgulho e de presunção.

 

69. São características dos vícios mencionados acima a hipocrisia e a astúcia, a enganação, a dissimulação e toda ilusão mentirosa.

 

70. As virtudes devem subjugar a inveja, a querela e a cólera, a tristeza e o ressentimento.

 

71. Lá está o caminho dos que levam a vida na negligência. E aqui o tesouro do que está oculto em mim.

 

72. A vida dura e a humildade salvam a alma e a libertam das paixões mencionadas acima.

 

73. Característica de um pensamento prudente é uma palavra útil, e de uma alma boa uma ação virtuosa.

 

74. O intelecto iluminado profere palavras de sabedoria. E a alma pura cultiva pensamentos divinos.

 

75. Os pensamentos do homem fervoroso se aplicam à sabedoria, e suas palavras iluminam aos que o escutam.

 

76. Quando as virtudes estão no fundo da alma esta cultiva pensamentos bons. Mas quando são os vícios que estão no fundo da alma, ela engendra falsas ideias.

 

77. A alma do passional é uma fábrica de maus pensamentos, e ele extrai coisas malignas de seus próprios tesouros[30].

 

78. O bom tesouro é o costume das virtudes. O bom intelecto retira deste costume as coisas do bem.

 

79. O intelecto dirigido pelo amor divino cultiva os bons pensamentos em torno de Deus. Mas quando ele é dirigido pelo amor a si próprio ele faz o contrário.

 

80. O intelecto levado pelo amor ao próximo não cessa em pensar no bem deste. Mas quando ele é levado pelo contrário, imagina o mal.

 

81. As causas dos bons pensamentos são as virtudes, e as causas das virtudes são os mandamentos. Já a causa da prática das virtudes está na resolução.

 

82. As virtudes e os vícios que vêm e vão dispõem a alma para o bem ou para o mal, levando-a a ter pensamentos que correspondem a um ou outro.

 

83. As causas dos maus pensamentos estão nos vícios. A causa destes está na desobediência, e a causa desta está num erro dos sentidos. Mas a causa do erro dos sentidos é a negligência do intelecto que não vigia por sua segurança.

 

84. Naqueles que progridem, as disposições dos adversários são firmes. Mas nos perfeitos, os hábitos são difíceis de mudar dos dois lados.

 

85. A força da alma está no estado inflexível da virtude. Quem alcançou este estado disse, como um homem a quem nada mais é capaz e corromper: “Quem nos separará do amor de Cristo?”.

 

86. O amor por si próprio precede todas as paixões, e o orgulho ainda permanece ao final de tudo.

 

87. Os três pensamentos fundamentais da concupiscência têm sua origem na paixão do amor por si mesmo.

 

88. Queremos dizer com isto as paixões da gula, da vaidade e da avareza, que seguem todos os pensamentos passionais, embora não com a mesma intensidade.

 

89. O pensamento da prostituição se segue ao da gula. O pensamento do orgulho se segue ao da vaidade. E os demais seguem-se comumente aos três.

 

90. Os que seguem os três são os pensamentos da tristeza, da cólera, do ressentimento, da inveja, da acídia e todos os demais.

 

PRECE

 

91. Mestre de tudo, ó Cristo, livra-nos de todos estes males,

das paixões que nos destroem

e dos pensamentos nascidos das paixões.

 

92. Por causa sua fomos criados,

para usufruirmos das delícias em que nos colocou no jardim do Paraíso

por você plantado.

 

93. Mas atraímos sobre nós a desonra presente

porque preferimos às delícias bem-aventuradas a ruína

 

94. da qual recebemos em nós a retribuição

em nós, que trocamos a vida eterna pela morte.

 

95. Agora, ó Mestre, como nos olhou então,

olha-nos agora.

assim como você se fez homem, salve-nos agora.

 

96. Porque você veio nos salvar, a nós que estávamos perdidos.

Não nos separe da parte dos que se salvam.

 

97. Ressuscite as almas e salve os corpos,

purifique-nos de toda mancha.

 

98. Quebre os laços das paixões que nos mantêm,

você que destruiu as falanges dos demônios impuros.

 

99. E livre-nos de sua tirania,

a fim de que possamos servir apenas a você, Luz eterna,

 

100. ressuscitados dentre os mortos e com os anjos,

dançando a bem-aventurada ronda,

eterna e indissolúvel. Amém.

 

 

 

 


QUARTA CENTÚRIA

 

ACRÓSTICO

 

ΟΜΩΣ  ΟΥΝ  ΚΑΙ  ΕΚ  ΤΩΝ  ΚΥΡΙΩΣ  ΚΑΚΩΝ,  ΚΑΙ  ΤΩΝ  ΜΗ  ΚΥΡΙΩΣ, ΝΟΜΙΖΟΜΕΝ  ΔΕ, ΕΥΞΑΙ  ΕΚΤΕΝΩΣ  ΠΡΟΣ  ΚΥΡΙΟΝ  ΤΟΝ  ΘΕΟΝ  ΗΝΩΝ  ΛΥΤΡΩΘΗΝΑΙ  ΗΜΑΣ.

 

Mas, não importa se essas coisas são muito ou pouco ruins, eu penso em você para que ore profundamente por mim para que o nosso Senhor Deus nos salve.

 

 

1. Quem afastou o intelecto do amor e da adulação pela carne leva à morte, pela ação do Espírito vivificante, as ações do corpo.

 

2. Não creia que você deixou de estar ligado à carne se seu intelecto ainda se ocupa das coisas da carne.

 

3. Assim como os sentidos e o sensível são próprios à carne, o intelecto e o inteligível são próprios à alma.

 

4. Retire sua alma da sensação do sensível e seu intelecto se encontrará em Deus no inteligível.

 

5. As naturezas intelectuais perceptíveis apenas pelo intelecto são próprias da divindade. Os sentidos e o sensível foram feitos para servir ao intelecto.

 

6. Que os sentidos e o sensível o ajudem a encontrar a contemplação espiritual, e que, inversamente, o que conduz à concupiscência da carne não sirva aos seus sentidos.

 

7. Foi-nos ordenado que matássemos as ações do corpo[31], a fim de ressuscitarmos por meio das penas a alma destruída pelos prazeres.

 

8. Seja dominado por Deus e domine os seus sentidos. Você traz o melhor em si; não entregue o poder ao pior.

 

9. Deus é eterno, sem fim, sem limites, e ele prometeu bens eternos, sem fim, inefáveis, aos que o escutarem.

 

10. É próprio do intelecto viver em Deus, pensar nele, em sua providência, em seus julgamentos terríveis.

 

11. Você tem o poder de se inclinar para um ou outro lado. Dê o melhor de si, e você submeterá o pior.

 

12. Os sentidos são belos e o sensível é belo, como todas as obras do bom Deus. Mas eles não se comparam ao intelecto e ao inteligível.

 

13. O Mestre criou o ser dotado de razão e de intelecto para receber o universo e o conhecimento de si próprio, e suscitou os sentidos e o sensível para servir à razão e ao intelecto.

 

14. Assim como não convém que um mau servidor submeta seu bom mestre, não convém que um corpo corruptível submeta um intelecto racional.

 

15. O intelecto que não domina os sentidos cai no mal por causa deles. Pois, iludido pelo prazer do mundo, ele engendra em si próprio a falsidade.

 

16. Se você dominar os sentidos, coloque também num lugar seguro sua memória. Pois as noções adquiridas pelos sentidos suscitam as paixões.

 

17. Conduza com dureza seu corpo[32], ore continuamente, e logo você se libertará dos pensamentos nascidos das noções adquiridas.

 

18. Jamais deixe de se consagrar às palavras divinas. Pois as penas que você suporta por elas consomem as paixões.

 

19. A leitura e a vigília, a oração e a salmodia colocam o intelecto acima do erro das paixões.

 

20. Assim como a primavera faz crescer as plantas, a impassibilidade leva o intelecto ao conhecimento dos seres.

 

21. Observe os mandamentos[33] e você encontrará a paz, amará a Deus e obterá o conhecimento.

 

22. É em meio às penas, ao sofrimento e ao suor do seu rosto que você foi condenado a comer o pão do conhecimento[34].

 

23. Foi a negligência que levou o Ancestral à transgressão. Em lugar das delícias do Paraíso, ele foi condenado à morte[35].

 

24. Seja mais forte do que Eva. Vigie a serpente, para que ela não o engane e não lhe transmita o fruto da árvore[36].

 

25. Assim como a alma vivifica o corpo de acordo com a natureza, a virtude e o conhecimento vivificam a alma.

 

26. Uma nuvem sem água[37] é como o intelecto cheio dos fumos da presunção e levado pelos espíritos da vaidade e do orgulho.

 

27. Se você dominar a vaidade, guarde-se da prostituição, para que ao fugir das honrarias você não caia na desonra.

 

28. Se você fugir da vaidade, volte seus olhos para Deus. Senão você poderá cair na presunção ou na prostituição.

 

29. É típica da vaidade a busca da ostentação. Típicos do orgulho são o desprezo e a animosidade.

 

30. Se você fugir da gula, guarde-se de tentar sensibilizar os homens mostrando ostensivamente a palidez do seu rosto.

 

31. O jejum conveniente é aquele que se satisfaz com uma alimentação frugal, que se contenta com uma comida simples e que não tenta agradar aos homens.

 

32. Se você jejua até o entardecer, não coma então até se saciar, para não reconstruir o que você demoliu[38].

 

33. Se você não bebe vinho, não se sacie de água. Senão você estará entregando a mesma matéria à prostituição.

 

34. O orgulho afasta o socorro divino, faz com que confiemos em nós mesmos e nos voltemos contra os homens.

 

35. Duas coisas se opõem ao orgulho. Quem não acolhe estas duas coisas receberá uma terceira, extremamente violenta.

 

36. Destroem o orgulho a oração entre lágrimas, não desprezar ninguém e as infelicidades involuntárias.

 

37. Aprender com as tentações é como um açoite espiritual, que ensina a humildade a quem se levanta na irracionalidade.

 

38. É obra característica do intelecto não suportar nenhum pensamento que calunie insidiosamente o próximo.

 

39. Assim como o jardineiro que não arranca as ervas daninhas sufoca os legumes, o intelecto que não purifica os pensamentos perde sua pena.

 

40. O homem salvo é aquele que escuta o conselho, e em especial o conselho que seu pai espiritual lhe dá segundo Deus.

 

41. Aquele que sucumbiu às paixões não percebe o conselho e não suporta a instrução espiritual.

 

42. Quem não recebe o conselho não vai reto pelo caminho, mas é engolido pelas valas e os abismos.

 

43. Monge é o intelecto que renunciou aos sentidos e que não suporta sequer o pensamento do prazer.

 

44. Médico é o intelecto que curou a si próprio e que cura os demais daquilo que ele mesmo se curou.

 

45. Procure a virtude e não lhe cause nenhum dano, a fim de não viver vergonhosamente e de não morrer miseravelmente.

 

46. Nosso Senhor Jesus trouxe a luz a todos, mas os que não se confiam a ele cobrem a si próprios de trevas.

 

47. Não creia que não é grave o mal que causamos à virtude. Pois é por causa dele que o mal penetrou no mundo.

 

48. A obediência ao mandamento é a ressurreição dos mortos, pois a vida acompanha a virtude, não a natureza.

 

49. Quando o intelecto morre pela transgressão do mandamento, a morte do corpo se segue por necessidade.

 

50. Do mesmo modo como Adão, depois de haver transgredido[39], caiu sob o domínio da morte, o Salvador, depois de haver obedecido[40], destruiu a morte.

 

51. Mate o vício a fim de não ressuscitar morto, e para não passar da pequena morte para a grande.

 

52. Por causa da transgressão de Adão o Salvador se fez homem, para ressuscitar todos os seres apagando a condenação.

 

53. Quem deu morte às paixões e se separou da ignorância passa da vida à vida.

 

54. Sonde as Escrituras e você encontrará os mandamentos; faça o que está dito ali e você se livrará das paixões.

 

55. A obediência aos mandamentos purifica a alma, e a purificação da alma permite participar da luz.

 

56. A árvore da vida[41] é o conhecimento de Deus. O homem puro que recebe sua participação nesta árvore se torna imortal.

 

57. O começo da prática é a fé em Cristo, e seu fim o amor de Cristo.

 

58. Cristo, nosso Senhor e nosso Deus, é Jesus, que nos deu a fé e nos conduziu à vida.

 

59. Ele nos apareceu numa alma e num corpo e em sua divindade, a fim de nos livrar da morte da alma e do corpo, ele que é Deus.

 

60. Adquiramos a fé a fim de alcançarmos o amor, do qual nascem a iluminação e o conhecimento.

 

61. O temor a Deus, o domínio dos prazeres, a paciência nas penas, a esperança em Deus, a impassibilidade e o amor se seguem, nesta ordem, à aquisição da fé.

 

62. Do amor puro nasce o conhecimento natural. A este sucede a última aspiração do desejo, que é a graça da teologia.

 

63. O intelecto que domina as paixões certamente as domina pelo temor: ele se confia a Deus nas coisas que espera, das quais recebeu a promessa.

 

64. A quem foi dada a fé é pedida a temperança. Com o tempo, esta engendra a paciência, que é um estado que suscita muitas penas.

 

65. O sinal da paciência é o amor às penas. Confiando-se a elas, o intelecto espera descobrir o que foi prometido, e fugir do que o ameaçava.

 

66. A espera do bens por vir liga o intelecto àquilo que ele espera. De tanto viver com estes bens, ele esquece as coisas presentes.

 

67. Quem provou das coisas que espera abandona as coisas presentes, pois dedica àquelas todo o seu desejo.

 

68. Deus é quem nos prometeu as coisas que virão. O homem temperante que crê nele deseja estes bens como se eles estivessem presentes.

 

69. O sinal de que o intelecto vive nos bens que ele espera é que ele esquece totalmente das coisas aqui de baixo, e se apaga no conhecimento das coisas por vir.

 

70. Bela é a impassibilidade que nos ensina o Deus da verdade, o qual, a partir dela, cumula de certeza a alma a que ama.

 

71. Mais alto que os séculos, antes de todos os séculos, além do intelecto e da razão, estão os bens reservados aos herdeiros da promessa.

 

72. Regremo-nos a partir dos modelos da piedade, para não descambarmos da esperança desviando-nos pelos caminhos das paixões.

 

73. Jesus é Cristo, um dos da Trindade, da qual também você deve se tornar herdeiro[42].

 

74. Quem aprendeu com Deus o conhecimento dos seres não tem dificuldade em crer na Escritura quanto ao que já referimos.

 

75. Quando encontra um intelecto despojado de paixões o Espírito Santo o inicia, conforme o grau de seu despojamento, nos bens que ele espera.

 

76. A alma recebe o conhecimento das palavras divinas conforme o grau de purificação do intelecto.

 

77. Quem submete seu corpo à regra e passa a vida no conhecimento, purifica-se a cada dia por meio deste conhecimento.

 

78. O intelecto que se dedica ao estudo do divino começa pela fé, depois continua pelas coisas intermediárias e termina por desembocar na fé mais elevada de todas.

 

79. No começo do estudo do divino vemos conforme o temor; no final, vemos preceder o amor.

 

80. O intelecto que se dedica ao estudo do divino vai da fé atenta à teologia, que está para além de toda inteligência e que podemos definir coo a fé sem fim e coo a contemplação da realidade invisível.

 

81. As palavras que dizemos sobre Deus são consideradas pelos santos não como se referindo a ele, mas ao que está ao redor dele.

 

82. Todas as palavras que designam as coisa que estão ao redor de Deus também se referem a Deus, umas por afirmação, outras por negação.

 

83. A essência, a divindade, a bondade, tudo o que é dito de maneira catafática[43] é dito por afirmação.

 

84. Sendo a Santíssima Trindade uma essência única que ultrapassa o intelecto e a razão, bem como uma divindade oculta, podemos afirmar que as qualidades supracitadas que vemos ao redor dela são semelhantes.

 

85. Assim como os Padres afirmam que existe apenas uma divindade na Santíssima Trindade, eles pensam que existem três hipóstases da divindade única.

 

86. Os Padres consideram que as qualidades mencionadas por afirmação ou por negação são comuns à Santíssima Trindade consubstancial, salvo os caracteres próprios, uma vez que eles falam da maioria deles por afirmação, mas de alguns por negação.

 

87. Eles dizem, de resto, que os caracteres próprios das hipóstases divinas são a paternidade, a filiação e a sucessão, e toda denominação particular.

 

88. Eles definem a hipóstase como sendo a essência somada aos caracteres próprios. Assim, cada hipóstase tem em comum a essência, e como própria a sua hipóstase.

 

89. Eles consideram igualmente fundamental aquilo que, por negação, foi dito do que é comum à Santíssima Trindade. Mas o mesmo não acontece com os caracteres próprios, pois eles falam de alguns por afirmação e de outros por negação, conforme dissemos. É o que acontece com o engendrado e com o não engendrado, e com outros caracteres semelhantes. Pois não ter sido engendrado não difere do engendrar senão pelo significado: não ter sido engendrado se refere ao Pai; e ter sido engendrado se refere ao Filho.

 

90. Assim é que nos servimos de termos e de nomes para que fiquem claras as palavras que versam sobre o que está ao redor da essência da Santíssima Trindade, como foi dito. Estas palavras são desconhecidas e inefáveis para qualquer intelecto ou razão, e elas só são conhecidas da Santíssima Trindade.

 

91. Assim como os Padres dizem que a essência única da divindade é tri-hipostática, eles confessam que a Santíssima Trindade é consubstancial.

 

92. Consideramos também que o Pai não tem começo e que ele é o começo. Ele não tem começo, porque é não engendrado; e ele é o começo, pois é o gerador e o processador dos que provêm dele pela essência e que existem nele por toda eternidade, ou seja, o Filho e o Espírito Santo.

 

93. A unidade que eles trazem em si na Trindade permanece Unidade. E, por seu turno, a Trindade reunida na Unidade permanece Trindade, o que é igualmente paradoxal.

 

94. Eles pensam também que o Filho e o Espírito também não têm começo e são eternos. Eles não são sem começo como o Pai, pois eles remontam a um começo e a uma fonte. Mas eles são eternos, pois existem com o Pai por toda eternidade, um por ser engendrado, outro por sucessão.

 

95. Eles mantêm indivisível a divindade única da Trindade e mantêm inconfundíveis as três hipóstases da Divindade única.

 

96. Quanto aos caracteres próprios, eles dizem que o Pai não tem começo e que ele é não engendrado; que o Filho estava no começo e é engendrado; e que o Espírito Santo estava no começo e procede. Eles dizem que o começo do Filho e do Espírito Santo não é temporal. De fato, como seria? Eles mostram a causa pela qual eles existem por toda eternidade, assim como a luz existe por causa do sol. Eles não existem depois da causa, mas existem por causa dela na essência.

 

97. Eles afirmam ainda que as hipóstases tem como caráter próprio serem sem movimento e sem falha, e que a essência, ou seja, a divindade, tem como caráter comum ser indivisível.

 

98. Eles confessam que a Unidade está na Trindade e que a Trindade está na Unidade, indivisivelmente separada, e unida na separação.

 

99. Eles sabem que o começo de tudo é o Pai, pois ele é o genitor e a fonte eterna do Filho e do Espírito, ele é eterno e infinito com eles, sem limites, consubstancial, sem divisão. E ele é o criador, a providência e o juiz dos seres. Ele o é, evidentemente, pelo Filho e pelo Espírito Santo.  Com efeito, foi dito: “Tudo é dele, por ele e para ele. A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

 

100. Eles dizem ainda que o Filho e o Espírito são eternos com o Pai, mas não são sem começo do mesmo modo que ele. Eles são eternos com o Pai, pois existem com ele no infinito, mas não são sem começo da mesma maneira que ele, pois eles não são sem causa. Eles são dele como a luz é do sol, mesmo não sendo depois dele, como foi dito. Mas eles acrescentam que eles não têm começo, se entendemos por começo um começo temporal, para que não pensemos que estão submetidos ao tempo aqueles de quem o tempo procede. Assim, eles não são sem começo perante Aquele que é sua causa, mas são sem começo em relação ao tempo. Pois eles existem antes de todo tempo e de todo século, acima de todo século e acima do tempo, eles por quem existem todo tempo e todo século, e tudo o que está no século e tudo o que está no tempo. E eles são eternos com o Pai, como foi dito. A ele, com eles, a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.



[1] Cartas 9, 26, 40-42.
[2] Cf. Carta 9 (PG 91, 449A: Opúsculos, ibid. 29D).
[3] Os apócrifos estão apresentados em grego e português, no início de cada centúria.
[4] Apófase: refutação feita pelo autor daquilo que afirmara anteriormente.
[5] Cf. Salmo 61 (62): 5.
[6] Cf. Evagro, Sobre a oração, 13.
[7] Salmo 67 (68): 3.
[8] Cf. Mateus 7: 2.
[9] Cf. João 12: 46.
[10] Isaías 45: 3 LXX.
[11] Cf. Salmo 81 (82): 5; Eclesiastes 2: 14.
[12] Cf. Filipenses 3: 20.
[13] CF. Mateus 6: 21; 12: 35.
[14] Cf. Mateus 10: 25.
[15] Cf. Eclesiastes 3: 24.
[16] Cf. Filipenses 2: 6-7.
[17] Cf. I Coríntios 9: 27.
[18] Cf. Romanos 13: 14.
[19] Cf. Gálatas 5: 13.
[20] Cf. Gênesis 41: 57 e 46: 6.
[21] Cf. Salmo 90 (91): 12.
[22] Cf. João 1: 12.
[23] Cf. Êxodo 23: 21.
[24] Cf. Mateus 22: 12-13.
[25] Cf. Mateus 6: 24.
[26] Cf. João 1: 12.
[27] Cf. II Coríntios 10: 5.
[28] Cf. Isaías 5: 6.
[29] Cf. I Coríntios 9: 27.
[30] Cf. Mateus 23: 35; Lucas 6: 45.
[31] Cf. Colossenses 3: 5.
[32] Cf. I Coríntios 9: 27.
[33] CF. Eclesiástico 15: 14; 37: 12.
[34] Cf. Gênesis 3: 19.
[35] Cf. Gênesis 3: 22.
[36] Cf. Gênesis 3: 1-5.
[37] Cf. Judas 12.
[38] Cf. Gálatas 2: 18.
[39] Cf. Gênesis 3.
[40] Cf. Romanos 5: 19.
[41] Cf. Gênesis 9.
[42] Cf. Romanos 8: 17.
[43] Perspectiva de Deus que se aproxima por afirmação.

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