Barsanulfo
e João de Gaza
CORRESPONDÊNCIA
VOLUME I
AOS SOLITÁRIOS
CORRESPONDÊNCIA
CARTAS
E RESPOSTAS DE DOIS ANCIÃOS ESPIRITUAIS QUE LEVAM A VIDA SOLITÁRIA EM UM
MOSTEIRO SEDIADO NAS PROXIMIDADES DE GAZA, DITO DO ABADE SERIDOS, TRANSMITIDAS
PELO SUPERIOR, OU SEJA, PELO PRÓPRIO ABASE SERIDOS, QUE ERA AO MESMO TEMPO
SERVIDOR DESTES ANCIÃOS CHAMADOS BARSANULFO E JOÃO.
ENSINAMENTOS
ÚTEIS ÀS ALMAS QUE O SANTO BARSANULFO E JOÃO, SEU DISCÍPULO E COMPANHEIRO DE
ASCESE, DIRIGIRAM POR ESCRITO AOS IRMÃOS QUE OS INTERROGARAM, POR INTERMÉDIO DO
ABADE SERIDOS, QUE ERA SEU SERVIDOR AO MESMO TEMPO QUE SUPERIOR DO MOSTEIRO
SITUADO NA REGIÃO DE GAZA, ONDE ESTES ANCIÃOS LEVAVAM A VIDA SOLITÁRIA.
PRÓLOGO
Rogamos a todos os que
lerem este livro, que recebam com piedade e fé os ensinamentos que nele estão
contidos, e mais, que, pela graça de Cristo, ponham-se a imitar a vida e as
boas obras dos seus autores. Com efeito, estes homens viveram por longos anos
na ascese, em conformidade com Deus, e como paciência e fé combateram “segundo
as regras[1]”,
como disse o santo Apóstolo, e, em tudo seguindo a via dos santos Padres,
mereceram receber de Deus tão grandes carismas. Mas se temos a intenção de ler
as coisas que estão escritas neste livro, devemos saber que algumas foram
endereçadas aos anacoretas, outras aos cenobitas, outras aos que vivem em
comunidades de comum acordo, outras enfim aos padres e aos cristãos leigos; algumas
foram escritas para os jovens e os noviços, outras a pessoas mais avançadas e
experientes em seu estado, e algumas a almas que estão próximas da perfeição da
virtude, segundo o que convém ao entendimento de cada um. De fato, os mesmos
ensinamentos não convêm a todos. Assim como, conforme o desenvolvimento do
corpo, o alimento do recém-nascido é um, o do adolescente é outro e outro ainda
é o do adulto, o mesmo acontece com o crescimento espiritual. Por outro lado,
acontece muitas vezes que, por condescendência intencional, as respostas devem
ser adaptadas à fraqueza do espírito daquele que interroga, para que ele não
seja levado ao desespero, como vemos tantas vezes nas Vidas dos Anciãos. Assim, não devemos tomar como regras gerais as
respostas dadas a alguns em concessão à sua fraqueza, mas lembramo-nos que a
resposta dos santos convém de algum modo a quem os interroga. Acontece,
realmente, que alguém que tenha sido reanimado um dia pelas preces dos santos,
alcance um estado verdadeiramente monástico e venha a entender novamente aquilo
que lhe é útil.
Rogamos em Deus,
lembrem-se de nossa pequenez em suas orações, de nós que, com a ajuda de Deus,
transmitimos aqui por escrito essas respostas para aqueles que as lerão com
temor a Deus, para que as palavras dos santos não representem nossa condenação,
mas que sejamos protegidos pelas orações, deles e suas, agora e no dia do
Juízo. Amém.
1
Resposta do Grande
Ancião [Barsanulfo] ao abade João de Beersheba que lhe pedira [licença] para
que fosse morar com eles no mosteiro [do abade Seridos].
Está escrito no
Apóstolo: “Aquele que começou em vós uma bela obra, encarregar-se-á ele mesmo
de completá-la até o dia de Nosso Senhor Jesus Cristo[2].”
Por outro lado, nosso Mestre disse àquele que se apresentou a ele: “Se alguém
não renuncia a tudo o que possui e à sua família, mais do que isto, se ele não
detestar sua própria alma, ele não pode ser meu discípulo.[3]”
Certamente é possível a Deus realizar por nós estas palavras: “Vede! O que há
de melhor, o que de mais doce, do que viver entre irmãos, todos juntos[4]!”
Eu rezo para que você tenha alcançado a medida descrita nos Atos: “Todos
aqueles que possuíam bens os vendiam, traziam o produto da venda e o
depositavam aos pés dos apóstolos[5].”
E eu, sabendo que a sua determinação é conforme a Deus, disse a nosso querido
filho Seridos, aquele que, depois de Deus, nos protege dos homens – pois em
Deus temos confiança que ele o protegerá, a você também, conosco –: “Receba o
irmão João com muito amor, sem nenhuma hesitação; pois, há dois anos, Deus me
revelou que ele viria para cá e que muitos irmãos iriam se unir a nós. E eu
guardei esta revelação até que eu soubesse exatamente o que faria o Senhor.
Agora que o tempo chegou, eu a revelo a você.” E veio-me o pensamento de
oferecer-lhe uma das vestes que trago, e assim remeto ao irmão meu capuz tirado
de minha cabeça e que eu lhe envio por seu intermédio, dizendo: “Dê este a ele
e traga-me outro em seu lugar.” Guarde-o até a sua morte; ele o protegerá
contra muitos males e tentações; não o dê a ninguém, pois é um presente de Deus
que você recebe de minhas mãos. Apresse-se em terminar sua obra, desembarace-se
de todos os seus negócios como nós fizemos, e venha a nós para ocupar-se apenas
de Deus sem preocupações.
-
E eu, Seridos,
vou dizer-lhe uma coisa admirável: Enquanto o Ancião dizia estas coisas, eu
pensava comigo mesmo: ‘Como poderei reter tudo isto na memória para
escrever-lhe? Se o Ancião consentisse, eu traria tinta e papel para escrever
cada palavra que eu fosse ouvindo.’ Mas ele conhecia meu pensamento, seu rosto
iluminou-se como fogo e ele me disse: ‘Vá, escreva sem medo; mesmo que eu lhe
ditasse milhares de palavras, o Espírito de Deus não permitiria que você
escrevesse sequer uma letra de mais ou de menos, mesmo que fosse
involuntariamente; mas ele guiará sua mão para que você escreva em ordem.’
2
Resposta do mesmo
Grande Ancião ao mesmo, predizendo-lhe as diversas atribulações e a enfermidade
corporal que lhe aconteceriam bem como o progresso que sua alma extrairia disto
e a felicidade que se seguiria.
Diga ao irmão João:
firme seu coração como uma rocha sólida[6]
– eu falo da rocha espiritual – para poder ouvir o que eu vou dizer. Cuide bem
de si mesmo, para que, depois de ouvir isto, você não cresça em seu coração e
não desista da promessa espiritual; pois a presunção já fez perder a muitos, e
mesmo alguns que haviam atingido a perfeição; mas disponha-se a dar graças por
todas as coisas, escutando o que disse o santo Apóstolo: “Em tudo daí graças[7]”.
Assim, “seja nas atribulações, seja nas provações ou nas angústias[8]”,
seja nas doenças e aflições corporais, em tudo o que lhe acontecer, dê graças a
Deus. Com efeito, eu tenho esperança que também você deva “entrar em seu
repouso[9]”,
pois “é de fato em meio às atribulações que devemos entrar no reino de Deus[10]”.
Portanto não tenha nenhuma dúvida em sua alma e não relaxe em nada seu coração,
mas lembre-se da palavra do Apóstolo: “Se o homem exterior em nós se vai em
ruínas, o homem interior ao contrário renova-se a cada dia.[11]”
Assim, se você não resistir às provas, você não poderá se colocar na cruz, mas
se antes você suportar as provas, você entrará no porto de seu repouso, e
viverá desde então na quietude, em um grande desprendimento de todas as necessidades,
com a alma firme a agarrada ao Senhor através de tudo, vigilante na fé, alegre
na esperança, exultante na , guardado na santa e consubstancial Trindade. Então
cumprir-se-á em você a palavra: “Que os céus se regozijem e que a terra fique
alegre[12]”.
Tal é, com efeito, a vida sem necessidades do homem de Deus; pois o Pai, o
Filho e o Espírito Santo se alegrarão com a salvação da sua alma, bem-amado
irmão.
3
Resposta do outro Ancião (João, dito o Profeta) ao
mesmo que lhe pedia uma entrevista:
Diga ao irmão: Perdoe-me
no Senhor, pois embora eu tenha desejo de vê-lo, por causa da consciência dos
outros, não tenho esta liberdade[13].
Eu me alegro por seu amor e as promessas que lhe foram dirigidas pelo santo
Ancião: bem-aventurado seja você por tê-las recebido!
4
Uma provação aconteceu aos monges do lugar onde vivia
o abade João antes de vir ao mosteiro e confusões aconteceriam enquanto ele
ainda estava lá; tendo previsto isto em espírito, o Grande Ancião escreveu-lhe
o seguinte:
Escreva ao irmão João:
Eis que eu lhe envio três testemunhos do poder de Deus e das Escrituras do
Espírito Santo, por meio dos quais eu incito meu espírito a manter-se atento a
Deus e aos pensamentos do Espírito Santo, a fim de que você conheça o que é
oportuno. O primeiro testemunho é este: Deus disse pela boca do santo profeta
Isaías: “Corram, meu povo, entrem em suas casas, fechem um pouco a porta e
escondam-se por uns momentos até que a cólera do Senhor tenha passado[14]”.
Eis o segundo testemunho: “Saiam do meio deles e afastem-se, e não toquem no
que é impuro, diz o Senhor; e eu o acolherei. Eu serei para vocês um pai e
vocês serão meus filhos e filhas, diz o Senhor todo-poderoso.[15]”
O terceiro testemunho: “Vigiem a maneira como caminham, não como insensatos,
mas como sábios, expiando o tempo, pois os dias são maus.[16]”
E eu, eu digo: corra para aquilo que lhe foi proposto e cumpra sua obra
prontamente, lembrando-se da palavra do Senhor: “Quem põe a mão no arado e olha
para trás, não serve para o Reino de Deus.[17]”
E também: “Deixe que os mortos enterrem seus mortos, e venha anunciar o reino
dos Céus.[18]”
Pois eu tenho em vista sua vida na quietude, esperando em Jesus Cristo, nosso
Senhor. A ele a glória pelos séculos dos séculos.
5
Resposta do mesmo Grande Ancião ao abade [Seridos] que
se afligia porque o abade João tardava a vir e ele pensava que não mais viria:
Filho, não fique
desencorajado, nem triste a respeito de nosso irmão. Pois se ele está ausente
em corpo, ele está presente de espírito[19],
e está conosco sem cessar. Com efeito, espiritualmente ele é um conosco, e
ninguém o separará de nosso amor, do instante presente até a eternidade.
6
Carta do mesmo Grande Ancião escrita ao mesmo abade
João que realizava alguns negócios do mosteiro em seu país e que era presa de
um combate corporal:
Escreva ao irmão: você
ainda está fora, trabalhando tanto quanto possível por Deus e pelas almas dos
irmãos, ou antes pelo repouso e a quietude de nós e de você mesmo; pois se os
irmãos estão em repouso e protegidos por nós, também nós, graças a eles,
encontramos a quietude perfeita, e em nós se cumpre a palavra da Escritura: “O
irmão que tem a ajuda de outro irmão é como uma cidade fortificada, cercada de
muralhas.[20]”
Afaste todas as relações e os pretextos que você tiver, enquanto estiver fora[21],
e não deixe que nenhum pretexto nem nenhuma relação com alguém o faça
retroceder. Senão você não desfrutará da perfeita quietude[22].
É o que nós mesmos fizemos. Assim, se você agir desta forma, tenha esperança
que você viverá em completa quietude. E, com efeito, graças a Deus, sua sorte
está associada à nossa, e sua parte está conosco para sempre.
Que ninguém saiba no
momento aquilo que lhe foi escrito. Fazendo assim o seu trabalho, se os
negócios vão bem aos seus olhos, dê graças a Deus e ore, pois é isto que
significa “Em tudo daí graças[23]”.
Não negligenciemos dar graças a Deus e não façamos como aquele cuja história
você me contou um dia: ele ia à igreja rezar para obter o que comer e encontrou
por acaso alguém que lhe disse: “Venha almoçar comigo, e depois você dará
graças.” – “Não irei, respondeu, pois é isto que eu ia pedir a Deus.” Mas nós,
quer obtenhamos quer não, demos graças a Deus e oremos. Vigie também para
trazer sem cessar “em seu corpo a mortificação de Jesus[24]”.
7
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo que deveria
ir-se com alguns irmãos buscar as obras [espirituais] e que temia os lugares
desérticos. Ele o lembra da vigilância em substituição ao combate corporal que
o atormentava e lhe promete a assistência de Deus nesta saída feita com zelo
por eles:
Diga àquele que foi
chamado por um sinal celeste e divino a habitar entre nós, não apenas no século
presente, mas no futuro, ao nosso verdadeiro irmão João que é um conosco:
Cristo nosso Mestre disse a seus discípulos: “Não se vendem dois pardais por
alguns trocados? No entanto, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do
Pai de vocês. Quanto a vocês, até os cabelos da cabeça estão todos contados.
Não tenham medo! Vocês valem mais do que muitos pardais. Portanto, todo aquele
que der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele
diante do meu Pai que está no céu.[25]”
Cuide portanto atentamente para colocar sem cessar Deus diante de você para que
se cumpra em você a palavra profética: “Eu vejo constantemente o Senhor diante
de mim, pois ele está à minha direita para que eu não vacile[26].”
Com toda a sua alma estenda as mãos para as coisas que lhe foram propostas e
faça delas objeto de sua meditação constante a fim de ouvir a voz de Deus
falar-lhe: “Eis que eu envio meu anjo antes de ti, para preparar o caminho
diante de ti[27].”
8
O mesmo afligia-se por estar absolutamente fatigado e
por não haver encontrado obras, e espantava-se que o anjo não tenha sido
enviado em seu socorro, conforme as palavras do Ancião, pois ele não sabia que
isto lhe fora dito para tornar sua saída mais fácil Por isto o Ancião lhe
escreveu o seguinte:
Escreva ao irmão:
enquanto o navio está no mar, ele está exposto aos perigos e ao assalto dos
ventos. Mas quando ele chega ao porto da quietude e da paz, ele não mais
precisa temer os perigos, as atribulações e os assaltos dos ventos, pois ele
está em calma. O mesmo acontece com a seu amor: por todo o tempo em que você
estiver no meio dos homens, espere as atribulações, os perigos e os assaltos dos
ventos espirituais. Mas quando você chegar ao que lhe está preparado, então
você não terá medo.
A respeito das palavras
de nosso Mestre que eu citei precedentemente: “Eis que envio meu anjo diante de
ti”, ele de fato foi enviado. Quanto ao fato de que você não tenha encontrado
obras, Deus disse no livro de Moisés: “Por causa disso ele o cercou e instruiu,
e o esgotou de fome nos desertos temíveis, a fim de conhecer o que existe em
seu coração[28].”
Compreenda as palavras que lhe são ditas por mim, e faça um bom trabalho sem
jamais duvidar, bem-amado irmão.
9
Carta do mesmo Grande Ancião ao mesmo que saíra para
cumprir uma tarefa do mosteiro e que se desencorajava por encontrar muitas
aflições:
Meu filho, escreva ao
irmão João saudando-o no Senhor, de minha parte, da sua e da parte do irmão
João [o Profeta], e diga-lhe: “Não perca a coragem na aflição[29]”,
e nas penas corporais que você suporta e agüenta por nós e pelo seu mosteiro,
pois isto também é dar a vida pelos irmãos[30],
e tenho confiança que será grande o pagamento por este trabalho. Assim como
Deus estabeleceu José para alimentar seus irmãos durante a fome no Egito, da
mesma forma ele o colocou para socorrer nosso mosteiro junto com nosso filho
Seridos. E eu, eu lhe digo as palavras do Apóstolo a Timóteo: “Você, portanto,
meu filho, firme-se na graça do Espírito Santo[31].”
Com efeito, eu vejo como a sua quietude chegará, e me alegro com você no
Senhor. Pois enquanto você estiver fora, você encontrará atribulações e penas
corporais, mas uma vez chegado ao porto da quietude você encontrará repouso e
paz. De fato, nosso Mestre não mente, ele que disse: “Eu lhe darei neste mundo
o cêntuplo, e no outro a vida eterna[32].”
Portanto trabalhe com ardor, irmão, a fim de obter mais plenamente a e o repouso. Antes que o navio atinja o
porto, ele é batido e sacudido pelas ondas; mas uma vez chegado, ele se
encontra em paz. Compreenda estas palavras e guarde-as, “pois o Senhor lhe dará
a inteligência em tudo[33].”
10
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo que havia recebido
uma pedra sobre seu pé e que sofrera muita dor e desencorajamento:
Ao bem-amado irmão João,
saudações no Senhor. Em consideração à fadiga de seu corpo para nós e ao
quebranto do seu espírito para Deus, bem-amado, o Senhor Deus encheu sua alma
com bens celestes ao cêntuplo. Considere as coisas que lhe são escritas por
mim, irmão, e esconda-as em você; pois eu farei soar em você uma alegria
celeste, soberana e divina. Em nome da santíssima Trindade, eu revelo que você
participa de meus carismas, que me foram dados por Deus. E eu aguardo para que,
passo a passo, você chegue prontamente. Pois é pelo trabalho de Deus que
chegamos rapidamente ao seu repouso; é também pela humildade que aí chegamos e
tenho confiança de que você possui as duas coisas, porque a cólera está morta
em você, a irritação no seu coração foi sufocada. Então cumprir-se-á em você a
palavra da Escritura: “Veja minha humildade e meu trabalho, e apague todos os
meus pecados[34].”
E como eu lhe digo que passo a passo você chegará, considere os Evangelhos e
veja como e quão freqüentemente Cristo deu a seus discípulos os carismas, o de
curar os enfermos, o de expulsar os demônios, e o mais perfeito, o de perdoar
os pecados, quando ele lhes disse: “Aqueles a quem vocês perdoarem os pecados,
seus pecados serão perdoados[35].”
Assim, se em consideração ao seu trabalho, que é para Deus, seus pecados são
perdoados, veja a medida que eu espero vê-lo alcançar.
Se você encontrar na
carta coisas difíceis de entender, interrogue aquele que é um com você, Seridos,
meu filho querido, e com a graça de Deus ele lhe explicará as coisas difíceis,
pois eu orei a Deus para ele a este respeito. “Também você, homem de Deus[36]”,
corra sem descanso sobre o caminho que lhe foi preparado, a fim de chegar com
alegria ao porto de Cristo onde chegamos, e ouvir para si a palavra de alegria
cumprida, de luz, de vida e de felicidade: “Muito bem, servo bom e fiel, você
foi fiel nas pequenas coisas, eu o estabelecerei sobre muitos; entre na alegria
de seu Senhor[37].”
Alegre-se no Senhor! Alegre-se no Senhor! Alegre-se no Senhor! Que o Senhor
guarde sua alma, seu corpo e seu espírito de todo mal e de toda oposição
diabólica e de todo fantasma perturbador. O Senhor será sua luz, seu abrigo,
seu caminho, sua força, “coroa de júbilo[38]”
e possessão eterna. Vigie-se, pois está escrito: “Não negligencie as palavras
saídas de meus lábios[39].”
11
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo exortando-o a
se lembrar todo o tempo das coisas que lhe foram escritas para seu proveito e
firmeza de seu coração:
Salomão disse sobre seus
pais: “Aqueles que me instruíram e me disseram: Que nossas palavras fiquem
ancoradas em seu coração![40]”
Do mesmo môo também eu lhe digo, irmão: Que minhas palavras fiquem ancoradas no
seu coração, e que você medite sem cessar nas coisas que eu lhe escrevi,
segundo o que Deus disse pela boca de Moisés: “Amarre-as à sua mão direita e
elas ficarão constantemente fixas diante de seus olhos. Medite sobre elas ao se
deitar e ao se levantar, em viagem ou em casa.[41]”
Mostre-as no cumprimento de suas obras, e Deus estará com você para sempre.
Amém.
12
O mesmo havia ordenado um trabalho a um irmão e, como
este não o fez com ardor, ele lhe havia infligido um castigo. Como o irmão
entristeceu-se, ele determinou-se a nada contar aos outros irmãos. A este
respeito, o Ancião enviou-lhe isto:
Diga ao irmão João:
nossa época é delicada, e é muito difícil encontrar hoje em dia um homem de
coração sólido. Mas lembre-se das palavras do santo Apóstolo: “Repreenda,
ameace, exorte, com toda a paciência e instrução.[42]”
13
Uma construção foi iniciada no mosteiro. Por ser
hábil, o próprio [abade João] havia marcado os contornos da obra. Mas sem seu
consentimento alguns irmãos, pensando agir bem, redesenharam o traçado e o
estragaram um pouco. Como ele se sentiu confuso e desencorajado, o Ancião
enviou-lhe o seguinte:
Diga ao irmão João que
tem um só espírito conosco: muitas coisas lhe foram escritas de minha parte
pelas mãos de nosso verdadeiro e caro filho, que ama a nós três igualmente com
toda sua alma e com um amor perfeito, e tudo isto eu escrevo não por minha
vontade própria, mas por ordem do Espírito Santo, e tudo é para proveito e
correção da alma e da consciência do homem interior, para a aflição e a
correção do corpo, e para contrição do seu coração. Antes de tudo, evite o
espírito da acídia, pois ele engendra todos os males e diversas inquietações.
Se eu lhe contar as provações que eu suportei, seus ouvidos não suportariam e
sem dúvida não suportariam também nenhum dos de nossa época. Mas eu tenho
confiança de que você chegará, não apenas a isto, mas que você poderá também
vê-las com seus próprios olhos e delas libertar-se com a graça de Cristo pela
fé. Que seu coração seja liberto do desencorajamento que vem das ovelhas de
Cristo! Você não sabe quantas dores de cabeça as crianças dão a seu mestre
excelente, até que o honrem? E, no entanto, você ouviu de mim as palavras do
Apóstolo: “Repreenda, ameace, exorte, com toda a paciência e instrução.” Escute
e preste atenção no que eu lhe digo: a paciência é geradora de todos os bens.
Pense em Moisés que escolheu “ser maltratado com o povo de Deus mais do que
conhecer o gozo efêmero do pecado.[43]”
Assim, cada vez que, por instigação do demônio, o pensamento excitá-lo contra
alguém, diga-lhe com paciência: “Estou eu então submetido a Deus para servir a
outro?” e ele o deixará tranqüilo. Corra com firmeza e vigor, lembrando-se de
minhas palavras, ou antes, do Senhor, a fim de que você também nos alcance em
Jesus Cristo nosso Senhor. Amém. Que assim seja! Que assim seja!
14
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo, porque este
havia suportado com tristeza ouvir um dos irmãos dizendo, como se fizesse pouco
caso dele: “Pois quem é ele?” ou então: “Porque ele se atormenta com sua
sorte?”:
Diga ao irmão: como
discutia “Miguel a respeito do corpo de Moisés[44]”,
assim também luto eu por você até que você se desembarace do seu velho homem.
Pois não murmuravam os judeus sobre o Salvador: “Não é aquele o filho de José?
Não conhecemos nós sua mãe e seus irmãos?[45]”
Reflita sobre isto e mantenha-se firme até o fim[46].
15
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo que ainda não
se curara de seu abatimento:
Diga ao irmão: eu me
lembrei da profecia do santo profeta Jeremias que dizia: “Quem colocará água
sobre minha cabeça e uma fonte de lágrimas em meus olhos, para que eu chore por
este povo dia e noite[47].”
Com efeito, eu esperava que o alimento sólido lhe caísse bem, mas percebo que
lhe falta novamente o leite[48].
Considere o que está escrito: “Purifique-me de minhas faltas ocultas.[49]”
Tome cuidado para que os dragões maus não o enganem nem atirem em você o seu
veneno, pois ele é mortal. De fato, jamais se corrige um bem como um mal,
porque se é vencido pelo mal; mas pelo bem se corrige o mal[50].
Agora você está na arena, obrigado a combater contra as feras, como o Apóstolo
em Éfeso[51]:
ele se gloriou por haver triunfado sobre aqueles animais. Você foi atirado às ondas agitadas do mar
para afrontar numerosos perigos e luta conosco contra a terceira onda. Assim
triunfando com a ajuda de Deus, você chegará conosco ao porto da paz, em Jesus
Cristo nosso Senhor. A ele a glória.
16
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo que se
irritara contra os irmãos porque tijolos haviam se estragado devido à chuva;
pois ele o atribuiu à negligência deles. Prevendo de outra parte que ele
acusaria também o abade a respeito, ele primeiro o acalma e o incita a ser
exato em seus pensamentos, lembrando-o também do amor sincero que o abade tem
por ele, a fim de que com tal lembrança o pensamento contrário seja afastado:
Faça-me a , meu filho,
de trazer depressa papel e tinta, deixe a resposta que você veio buscar de
lado, e escreva ao irmão João primeiro uma saudação de minha parte, porque ele
foi levado a irritar os outros e ser por eles irritado.
Alegre-se no Senhor, meu
irmão. Se existem muitas ondas sobre o mar, não haverá alguém para despertar
Jesus, a fim de que ele repreenda os ventos e o mar e que se faça a calmaria[52]
para que se possa compreender e adorar Jesus? Se todas as coisas são vãs e efêmeras,
porque nosso coração é levado por elas a esquecer as palavras evangélicas: “De
que servirá ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?[53]”
Saiba, meu irmão, que se alguém aflige alguém em ato ou palavra, ele será a
seguir afligido cem vezes mais. E muitas vezes, citando as palavras
escriturárias do Senhor, eu lhe escrevi para que fosse paciente em tudo, e para
que tomasse cuidado para que sua vontade não se imiscuísse com fosse lá o que
fosse. Mas cada vez que você me enviar uma demanda por meu bem-amado filho
Seridos, ele que está sempre aflito por vê-lo aflito, esforce-se para ser exato
em seus pensamentos, a fim de que jamais eles atirem um veneno mortal em sua
alma e o enganem, fazendo-o tomar um moscardo por um camelo ou um pedregal por bom
pavimento. Há também o caso do homem que tem uma trave em seu olho, mas vigia o
cisco no olho do outro[54].
Eu lhe escrevi como à
minha própria alma, pois eu sei que seu coração terá com que se alegrar com
estas palavras. De fato, foi dito: “Repreenda o sábio, etc.” E você sabe,
irmão, os sentimentos que eu tenho por você no amor de Cristo. Eu tenho
confiança de que você está agora prestes a desembaraçar-se de todas as
preocupações em relação às coisas terrestres e adquirir a atividade espiritual
dos Padres; pois não devemos temer que Cristo meu Senhor me desonre, ele a quem
eu peço noite e dia por você.
17
Resposta do mesmo ao mesmo Grande Ancião: eu sei, meu
Pai, que isto me acontece por causa dos meus pecados, e que eu sou insensato e
responsável pelo mal. Mas é o abade que me leva a esta aflição, porque ele se
desinteressa dos negócios e os negligencia; eles se perdem por sua falta, e eu
não suporto isto. Que farei então, se eu respondo aos pensamentos e não obtenho
força? Perdoe-me, “eu falei uma vez, não começarei uma segunda vez[55].”
Eu estou surpreendido com o modo como esfriou este calor de amor que eu sentia
pelo abade e pelos irmãos. Reze por mim ao Senhor. Resposta:
Irmão, lembre-se que o
Senhor disse aos seus discípulos: “Também vocês não têm inteligência?[56]”
Eu lhe escrevi que você fosse exato em seus pensamentos. Se você tivesse se
dado ao trabalho de ser exato, você teria se dado conta de que justamente a
força de que você me falou em sua carta, eu a indicara antes. Eu teria assim
necessidade de escrever-lhe, mas eu retomarei mesmo assim com você as suas
questões.
E para começar eu vou
confundi-lo: você se diz pecador, mas na prática se mantém como se não o fosse.
De fato, quem tem a convicção de ser pecador e responsável pelo mal, não contradiz
ninguém, não disputa nem se irrita contra quem quer que seja, mas vê a todos
como melhores e mais inteligentes do que si mesmo. E se os seus pensamentos lhe
dão a ilusão de que é assim, como eles movem seu coração contra aqueles que são
melhores do que você? Atenção, irmão, esta não é a verdade, porque nós ainda
não chegamos a nos considerar como pecadores. Se alguém ama a quem o repreende,
este é sábio[57];
mas se amamos alguém e não fazemos o que ele diz, é um caso de aversão. Se você
é um pecador, porque acusa a seu próximo e o faz responsável pela aflição que o
acometeu? Você não sabe que “cada um é testado” pela sua própria consciência, e
que é isto que engendra a aflição? É o que eu lhe escrevi a respeito dos
irmãos, ao lhe dizer: “que eles não o façam tomar um moscardo por um camelo”,
etc. Reze a fim de que você tome parte no temor a Deus. E quando você se diz
insensato, não brinque, examine bem e você verá que você não se vê assim. Com
efeito, se você tem realmente esta convicção, você não pode nem encolerizar-se,
por não ser capaz de discernir se as coisas foram bem ou mal feitas. Pois o
insensato passa por louco. E quem é insensato e louco é considerado insípido. E
como poderá o insípido temperar e salgar os demais? Observe, irmão, que nos
iludimos falando apenas de boca, e as obras o demonstram. Quando respondemos
aos pensamentos, não obtemos logo a força porque inicialmente aceitamos a
condenação do irmão e a força do espírito enervou-se em nós levando-nos a
acusá-lo, enquanto que somos nós os responsáveis. Se você sustenta que tudo vem
de Deus que faz misericórdia e não daquele que quer ou do que corre[58],
porque não compreender e amar seu irmão de todo coração num amor perfeito? Com
efeito, querendo ter a nós, os Anciãos, como correram, sem que o favor lhes
tivesse sido concedido. Enquanto isto, ao contrário, ele não se mexeu, e Deus
nos enviou a ele e torno-o nosso filho verdadeiro. É na verdade um querer
profundo que Deus quer.
Quanto a dizer: “Eu
falei uma vez[59]”,
etc., se você luta para aí chegar, bem-aventurado seja, pois isto não foi dado
a todos. A respeito dos demais pensamentos, remeta a Deus todos eles, dizendo:
“Deus sabe o que me convém”, e você estará sossegado, e pouco a pouco virá a
força para fazê-lo suportar. Não pare inteiramente de falar, e, quando você
falar, se não for escutado e sua palavra não encontrar graça, não se aflija,
porque você tirará mais proveito.
E a respeito daquilo que
o surpreende, o amor perfeito é indefectível, e aquele que a possui permanece
aquecido, por estar encerrado no amor a Deus e pelo próximo. Quanto às orações
que você me pede ao final, o que eu lhe escrevi deveria bastar: “noite e dia eu
rezo sem cessar a Deus por você.[60]”
Assim sendo, seu pedido era supérfluo. Portanto, você recebeu de mim um
alimento segundo Deus, para muito tempo: “Permaneça firme e espere o Senhor” em
Jesus Cristo nosso Senhor. A ele a glória pelos séculos. Amém.
18
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo que lhe havia
perguntado de onde vem o calor, a frieza e a dureza do coração, e que também o
havia interrogado a respeito do combate corporal:
A respeito do calor e da
frieza, é notório que o Senhor foi chamado de fogo[61],
um fogo que aquece e abrasa “os corações e os rins[62]”.
Se isto é assim, resulta daí que o diabo é frio e que dele vem toda frieza. De
fato, se fosse diferente, como poderia ter sido dito: “então o amor de muitos
se esfriará[63]”?
Que significa este “então”, senão os tempos do Adversário? Se então sentimos
frieza, invoquemos a Deus e ele virá aquecer nosso coração até o perfeito amor,
não apenas para com ele, mas também para com o próximo; e na presença do seu
calor a frieza do inimigo será banida. Pois se este secou em você a fonte de
lágrimas do coração, ele também irrigou as dos órgãos inferiores; mas receba o
Senhor em sua casa[64],
ele secará estas e purificará a fonte de lágrimas pela efusão da água
espiritual. Quem deseja alcançar o temor de Deus, alcançá-lo-á pela constância.
Pois foi dito: “Com constância eu esperei o Senhor, ele inclinou-se para mim e
escutou a minha prece[65].
E o que se segue? “E ele me ergueu da fossa da miséria e da humilhação do
lodaçal.[66]”
É a esta fossa que se refere a dureza do coração. Adquira portanto aquilo que
você tanto deseja, e você será salvo por Jesus Cristo nosso Senhor.
19
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo sobre a
paciência:
Diga ao irmão: eu já lhe
escrevi a respeito da paciência, e agora eu lhe digo: Deus nosso Senhor disse a
seus discípulos: “Eis que dou a vocês o poder de pisotear as serpentes,
escorpiões e todas as potências do Inimigo, e nada poderá feri-los.[67]”
Seja portanto como Jó, “bebendo o sarcasmo como água[68]”.
Reflita sobre estas coisas e medite sem cessar a respeito[69].
20
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo que lhe
perguntara: se o Senhor deu o poder de pisotear as serpentes e os escorpiões[70],
como é possível que eu esteja confuso?
Quem quer que tenha
recebido o poder de pisotear as serpentes e os escorpiões, não receberá mais
ferimentos destes e não estará mais à sua mercê. Examine então seu coração em
face de cada coisa: se alguma coisa puder perturbar seu coração por pouco que
seja, saiba que você ainda está longe de obter este poder. Não negligencie a si
mesmo, para que a ocasião não o surpreenda. Mas seja lá o que for que você vir
acontecendo – sem falar nas coisas do mundo, transitórias como elas são, mas
das coisas terríveis tanto no céu como na terra – , coloque Deus e o Juízo
diante de seus olhos, e pense quão pouco tempo temos a passar neste mundo; e
faça repousar a doçura em seu coração, lembrando-se de Cristo, cordeiro sem
malícia, e de tudo o que ele suportou, ele que era inocente, ultrajes, golpes e
todo o resto. Mas nós, que temos contas a prestar, porque nos irritamos contra
o próximo, não tendo sofrido nada de sua parte? Lembre-se de que “o amor não
fanfarroneia[71]”,
mas ela é paciente, etc., e reze para chegar aquilo a que você se propôs, a fim
de que seu trabalho não seja em vão[72].
Adira então indissoluvelmente a Cristo que o ama. A ele a glória por todos os
séculos. Amém.
21
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo que colocara
na cabeça nunca mais dar ordens a ninguém, mas fixar para si mesmo como regra
clara cuidar de si mesmo e só de si:
Irmão, quanto mais eu
lhe escrevo, mais você deve aplicar-se a compreender as coisas que lhe são escritas
por mim, e a não as deixar de lado, pois elas são ditas com conhecimento de
causa e serenidade de alma. Você sabe, irmão, que aquele que não suporta os
ultrajes não verá a glória, e que aquele que não se desembaraça de sua bílis
não provará a doçura. Você está engajado em meio aos irmãos e aos negócios para
ser aí purificado pelo fogo e testado. Com efeito, é apenas pelo fogo que o
ouro é provado[73].
Não fixe para si nada de absoluto, pois isto o conduziria a uma luta e a
preocupações. Mas considere cada oportunidade conforme o temor a Deus e não
segundo alguma idéia pré-concebida[74].
Por outro lado, faça todo o possível para evitar a cólera, e seja um modelo
útil a todos, sem julgar nem condenar ninguém, mas apenas advertindo-os como a
verdadeiros irmãos. Em primeiro lugar, ame àqueles que o põem à prova, pois
também eu amei aqueles que me testaram. De fato, se refletirmos bem, são eles
que nos fazem progredir. Portanto, não estabeleça para si nenhuma regra. Seja
obediente e humilde, e a cada dia preste contas a si próprio. Já o profeta
queria dizer “cada dia” quando ele dizia: “E eu disse: agora eu começo.[75]”
E Moisés: “E agora Israel.[76]”
Guarde também você este “agora”. E se lhe acontecer ter de dar ordens a alguém,
teste seu pensamento: se ele estiver a ponto de criar perturbação, mesmo que
lhe pareça útil, esconda-o sob sua língua, lembrando-se daquele que disse: “De
que servirá ao homem ganhar o mundo inteiro se perder sua alma?[77]”
Aprenda isto, meu irmão: todo pensamento, no qual não predomine a calma e a
humildade, não vem de Deus, mas é manifestamente uma justiça dos espíritos
maus. Pois nosso Senhor chega com calma, mas tudo o que vem do Inimigo chega
com perturbação e movimentos de cólera. E mesmo se eles aparecem revestidos de
peles de carneiro, saiba que “por dentro são lobos rapaces[78].”
Eles podem ser reconhecidos pelas confusões que causam, pois foi dito: “Por
seus frutos vocês os reconhecerão[79].”
Que Deus nos dê a todos sermos clarividentes para não nos deixarmos perder nas
suas justiças. Pois para ele “tudo está nu e descoberto[80]”.
Também você, bem-amado, faça tudo o que for certo por suas mãos[81],
colocando o temor a Deus diante de seus olhos e lhe rendendo graças. Pois dele
são a glória, a soberania e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.
22
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo, contendo
consolações e uma exortação à alegria espiritual após o abatimento que lhe
ocorrera por diversos motivos:
Escreva ao irmão João
uma exortação espiritual que regozije seu coração em Jesus Cristo nosso Senhor
e diga-lhe: porque você nos quer “como o cervo aspira à agua das fontes[82]”
- mas não tanto como lhe queremos nós – e não suportando mais, como diz o
divino apóstolo Paulo[83],
eu escrevo por seu amor estas coisas ditas por mim, ou melhor, por Deus: que a
sua vinha produza cachos de uvas que, pisadas sob nossos pés, produzam um vinho
espiritual para regozijar uma alma aflita. Que seu campo produza bom grão como
aquele que, semeado em boa terra produziu, cem, sessenta, trinta por um[84].
Que o fogo espiritual queime sem cessar em seu coração, segundo as palavras de
Cristo nosso Mestre: “Eu vim trazer o fogo sobre a terra[85].”
Que a paz do Senhor reine em seu coração, conforme a palavra do Apóstolo[86],
e que sua palmeira cresça com sua folhagem, como disse Davi: “O justo crescerá
como uma palmeira.[87]”
E possa você ser purificado da cólera e da excitação das más paixões, como os
santos perfeitos, em quem seu próprio movimento já não aparece mais, mesmo que
por um instante! E queira o Senhor dar à sua alma a graça de permanecer[88]
na inocência e na doçura, para ser um rebento de Cristo, um cordeiro sem malícia! E possa você seguir
nossos passos como um mateiro inteligente, e chegar à nossa regra como perfeito
herdeiro de meus carismas! Que teus olhos vejam a Deus, puro de coração[89]!
Seja paciente nas aflições, uma vez que agora você alcançou o que o Mestre
predisse: “Vocês terão aflições no mundo, mas tenham coragem, eu venci o mundo![90]”
Possa você chegar ao amor invencível que introduz aqueles que a possuem nas
moradas reais e os faz irmãos de Cristo! Se, assim, você sofre com Cristo para
ser glorificado com ele[91],
se você morre por ele para ressuscitar com ele, não negligencie o tesouro que
está colocado diante de você, porque você ainda não percebeu qual é sua
virtude. Mas quando você tiver atingido a quietude perfeita, então você
conhecerá este tesouro e admirará o dom
de Cristo, e o quanto seus caminhos são impenetráveis[92].
Estando entre os homens, você não poderá compreender isto; mas quando você
estiver estabelecido na solidão desembaraçada de todos os cuidados, como nós,
então você compreenderá o que lhe foi dito. Pois eu rezo a Deus noite e dia[93],
a fim de que, aonde nós estamos, esteja você também em um mesmo coração conosco
na inefável alegria dos santos, na luz eterna, para que você encontre a sua
parte naquilo que foi prometido aos santos, “aquilo que os olhos não viram, nem
os ouvidos ouviram, nem o coração do homem suspeitou, aquilo que Deus preparou
para aqueles que o amam[94]”.
Seja forte no Senhor. Seja feliz. Amém.
23
Pedido do mesmo ao mesmo Grande Ancião: eu lhe peço,
Pai e mestre, não se zangue comigo pelas minhas vacilações, e dê-me uma regra a
seguir quanto à salmódia, ao jejum e à oração. Diga-me se devemos variar
conforme o dia. Resposta:
Irmão, se você tivesse
prestado atenção às palavras das suas questões, você saberia o bastante para
compreender. Considerando-me como pai e mestre, porque você me julga irascível?
Pois o pai é misericordioso, incapaz de se zangar; e também o mestre é
longânime e ignora a cólera.
Quanto à regra que você
me pede, você dá muitas voltas para entrar pela porta estreita da vida eterna[95].
Eis o que Cristo lhe diz, em poucas palavras, sobre como entrar aí: “Aquele que
perseverar até o fim, este será salvo.[96]”
Portanto, se um homem não tem constância, ele não entrará na vida eterna. Não
deseje então um mandamento, pois eu não quero que você esteja sob a lei, mas
sob a graça. De fato, foi dito: “Não existe lei para o justo[97]”,
e nós queremos que você esteja entre os justos. Atenha-se ao discernimento como
um piloto que dirige um navio conforme os ventos. Quando você estiver doente,
faça de acordo com seu estado o que você me escreveu. Quando você se sentir
bem, aja também de acordo com seu estado. Pois quando o corpo está doente, ele
não recebe o alimento como normalmente. A regra, portanto, também aí é inútil.
Quanto aos dias, veja-os todos como iguais, santos e bons. Cumpra tudo com
sabedoria e você chegará à vida, aquela que será em Jesus Cristo nosso Senhor.
A ele a glória por todos os séculos. Amém.
24
Houve uma discussão entre o abade [Seridos] e ele a
respeito de um texto escriturário, e cada qual rivalizava em paciência; o
Ancião enviou-lhe esta carta, mostrando que sua paciência não estava isenta de
perturbação, a fim de que ambos vigiem para evitar completamente esta última:
Criança bem-amada, não
pense que você compreendeu por si só o capítulo de ontem, da epístola de são
Paulo aos Tessalonicenses. Mas eu, sabendo da fragilidade da sua paciência
quando a ela se mistura a irritação, orei a Deus para que você entendesse este
capítulo. É aí que está todo o sentido das cartas que eu escrevi ao irmão João
por seu intermédio. E aplique também seu espírito aos capítulos que irá ler
hoje, os do apóstolo Paulo e do santo Evangelho, porque eles têm o mesmo
sentido. E releia-os ao menos três vezes, buscando o sentido das palavras para
proveito da alma. Pois eu o apóio e me preocupo extremamente com você perante
Deus. Portanto, trabalhe e lute comigo para afastar de você a cólera e a irritação.
Pois o combate é necessário com a ajuda de Deus.
Eis quais são estes
capítulos: da primeira epístola aos Tessalonicenses, a partir de “nós lhes
pedimos, irmãos, que tenham consideração por aqueles entre vocês que sofrem as
penas e que estão à sua frente no Senhor[98]”,
até o final da epístola.
Do mesmo modo, na
primeira aos Coríntios, a partir de: “quanto aos dons espirituais, irmãos, nós
não queremos que vocês sejam ignorantes; vocês sabem que, quando eram pagãos...[99]”
até “mas na assembléia, eu prefiro colocar cinco palavras com minha
inteligência a fim de instruir os outros, do que dizer dez mil palavras só com
a língua”.
Do Evangelho segundo
Mateus, a partir de “Jesus, ao desembarcar, viu uma multidão e teve compaixão,
curando os enfermos...[100]”
até “aqueles que estavam na barca prosternaram-se, dizendo: Verdadeiramente,
você é o filho de Deus”.
25
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo e ao abade
[Seridos] que pretendia de uma vez por todas endurecer a regra para os irmãos:
Eu já lhe disse, criança,
e ao irmão: eu lhe escrevi sobre a paciência, e agora eu digo: “Traga leite, e
haverá manteiga; mas se você apertar o mamilo com sua mão, sairá sangue.[101]”
Por sua vez, são Paulo diz: “Eu me fiz judeu com os judeus, a fim de ganhar os
judeus...”, e a seguir: “Eu me fiz tudo com todos, a fim de salvar alguns.” Se
alguém pretende curvar uma árvore ou uma vinha, ele a flexiona
progressivamente, e ela não se quebra. Mas se puxarmos violentamente de um só
golpe, a madeira se parte logo. Compreenda o que eu lhe digo.
26
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo, que havia
revelado certas coisas a respeito das quais o Ancião lhe havia prescrito nada
dizer a ninguém, e que por causa disto caíra em tentação. A resposta trata
também da paciência perfeita:
Diga ao irmão: está
escrito: “Quem não possui o Espírito de Deus, não pertence a ele.” Considere de
onde lhe veio o desarranjo consecutivo ao tormento destes pensamentos. Não terá
sido pela traição que constituiu a transgressão de minha ordem? Com efeito, eu lhe
recomendei muitas vezes não entregar este segredo a ninguém, e você o revelou a
muitos. Serei eu Cristo, porque aquilo que ele recomendava não ser dito a
ninguém era logo proclamado às multidões e a todo mundo[102]?
No entanto, o caminho de Cristo é o de não ferir o pensamento de ninguém, ele
que veio com toda a doçura e solicitude para salvar os homens. Pois se o homem
não é como o miolo do pão, ele não pode permanecer entre os homens. Veja o que
Cristo disse a seus discípulos: “Não foram vocês que me escolheram, mas fui eu
quem os escolhi.[103]”
Assim, se foi Deus e não os homens que nos pediu seu amor, trabalhe por
adquirir uma grande perseverança. Pois eu lhe dirigi palavras escritas há muito
tempo: “Com sua perseverança vocês salvarão suas almas.[104]”
Recomece então a observar e guardar o que eu lhe digo; não é o momento de dá-lo
a conhecer. Tenha coragem no Senhor!
27
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo, que se
entristecia porque o Ancião tardava em lhe escrever e que por isso pensava que
ele o havia esquecido:
Escreva logo ao irmão,
primeiramente a alegria, o prazer e a saudação no Senhor. Depois lhe diga: não
pense, meu bem-amado, que eu tirei sua lembrança de meu coração, só porque
demorei a escrever-lhe. Mas, considerando seu comportamento, aguardei com
paciência até agora. Esteja absolutamente convencido do seguinte: assim como
Deus jamais se esquece de fazer misericórdia ao mundo, também eu não esqueço
sua , rezando a Deus noite e dia pela a salvação de sua alma, a fim de que você
alcance a medida que eu já lhe indiquei por escrito.
Saiba também que quando
você sai a serviço do mosteiro, meu coração vai com você, com a permissão de
Deus. Não se desencoraje portanto com nada, meu irmão, pois eu tenho confiança
de que lhe acontecerá tudo o que eu lhe escrevi. Com efeito, Deus não mente:
“Aquele que perseverar até o fim, este será salvo.” Pense no que eu lhe disse e
no que eu lhe escrevi: “Pois é em meio às atribulações que entraremos no reino
dos Céus.[105]”
Regozije-se, portanto, no Senhor. Digo-lhe outra vez: regozije-se[106].
E que ninguém saiba o segredo, pois está escrito: “E suas palavras lhes
pareceram baboseiras.[107]”
Com efeito, quem não tem um coração sólido, não é capaz de sustentá-lo.
28
O mesmo tinha a idéia de estabelecer para si uma regra
de jamais ir a parte alguma nos dias de jejum. O Ancião o dissuadiu, com medo
de que alguma necessidade segundo Deus exigisse sua saída e ele assim se
afligisse por transgredir a regra:
Diga ao irmão: não
recebeu você de mim a garantia de que, onde quer que você vá e o que quer que
você faça por Deus, meu coração estará com você? Mais uma vez agora, irmão,
como já lhe foi dito, não estabeleça para si nenhuma regra; assim, se você sair
em caso de necessidade, você não terá o espírito aflito. Reflita sobre o sentido
das palavras que lhe escrevi. Faça isto e você terá repouso. A paz esteja com
você, de minha parte, ou antes da parte de Deus.
29
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo, para afirmar
sua fé em relação ao que lhe havia sido anunciado e levá-lo através desta
confiança a um zelo crescente:
Diga ao irmão: o
repouso, como todos os dons excelentes e todos os carismas divinos, chega ao
homem pela fé. Assim, não seja insensível à força que lhe vem de Deus a cada
dia através da minha baixeza. E saiba que sua vinda a nós não foi um pequeno
objeto de admiração. Corra, portanto, para o que lhe foi proposto “a fim de
tomá-lo para si[108]”,
e lembre-se sem cessar de onde Deus o tirou. Dê-lhe graças em tudo[109],
orando para que sua misericórdia se cumpra em você até o fim. Amém.
30
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo, que lhe
perguntou se deveria navegar com os irmãos até o Egito em busca de obras. Ele
hesitava porque nem ele nem os irmãos conheciam o mar e os lugares:
Diga ao irmão: enquanto
você estiver fora, você sofrerá com os irmãos por Deus. Coloque assim diante
dos seus olhos as atribulações do Apóstolo. Pois “aquele que perseverar até o
fim, este será salvo.[110]”
Em Jesus Cristo nosso Senhor. Amém.
31
Os irmãos circularam bastante pelo Egito antes de
encontrarem trabalho e sofreram todo tipo de atribulações e tormentos, e [o
abade João] se desencorajou. O Ancião teve uma visão disto em espírito, e lhe
fez preparar a seguinte carta:
Criança, escreva o que é
dito por mim, ou melhor por Deus, e prepare-se para enviá-lo ao irmão João.
Primeiramente, saúda-o no Senhor. Depois lhe diga o seguinte: porque você se
desencoraja nas atribulações, como um homem carnal, como se você não tivesse
ouvido dizer que aflições lhe estavam reservadas, assim como o Espírito disse a
Paulo[111],
que depois consolou com sua alegria aqueles que estavam com ele no navio[112]?
Não sabe você que “inúmeras são as atribulações dos justos[113]”,
e que é através delas que eles são postos à prova, como o ouro levado ao fogo[114]?
Se somos justos, sejamos postos à prova pelas atribulações; se somos pecadores,
suportemo-las porque as merecemos. Pois a constância produz a virtude
comprovada[115].
Consideremos em espírito todos os santos, desde o começo, e veremos o que eles
agüentaram: enquanto eles faziam o bem, diziam boas palavras e se mantinham
firmes na fé, foram odiados e oprimidos pelos homens até a morte, e eles oraram
por seus inimigos e perseguidores conforme as palavras do Salvador[116].
Por acaso você foi vendido como escravo, como o casto José[117],
e sua mãos tiveram que trabalhar com cestaria[118]?
Você foi jogado duas vezes na fossa[119]?
Ou foi, como Moisés, maltratado da infância até a velhice[120]?
O que você suportou, preguiçoso? Ou então você foi perseguido até a morte por
inveja, como Davi por Saul e por seu próprio filho, antes de chorar a perda
deste último[121]?
Ou, como Jonas, foi atirado ao mar[122]?
Letárgico bem-amado, porque seu espírito relaxou? Não tenha medo e não fique
temeroso como uma mulherzinha, a fim de não frustrar-se das promessas de Deus[123].
Não trema como um homem que não tem fé, mas firme os pensamentos pouco
confiantes. Em tudo ame suas aflições, a fim de ser um filho comprovado dos
santos. Lembre-se da perseverança de Jó[124]
e daqueles que o seguiram, e caminhe com ardor sobre suas pegadas. Lembre-se
dos perigos que Paulo enfrentou, de suas atribulações, de suas correntes, de
suas privações de comida e dos outros sofrimentos sem número[125],
e diga à pusilanimidade: eu sou estranho a você. Lembre-se daquele que lhe
escreveu. Que as coisas vão bem ou mal pelo caminho, dê graças a Deus.
Considere que as coisas são corruptíveis e passageiras, mas que a perseverança
em Deus salva aquele que a possui.
Veja, você se debate
para encontrar trabalho e executá-lo. Para lhe mostrar que segundo as palavras
do Apóstolo “isto não depende nem daquele que quer nem daquele que corre, mas
de Deus que faz misericórdia[126]”,
eis que Deus lhe envia alguns homens que desfrutam de bens deste mundo[127];
ao recebê-los, não lhes diga que eu falei consigo a respeito deles, para que
eles não caiam na vanglória. Ame-os como a verdadeiros irmãos e faça com que
seu espírito dê paz de espírito a eles; pois eles desprezaram o mundo por
quererem salvar suas almas. E Deus, através de mim – eu lhe escrevo pelo
conhecimento antecipado que tive disto – os envia a você, de tal modo que você
saberá que eles desprezaram realmente o mundo. Também você então, irmão, levado
pela minha mão, caminhe pela “via estreita e apertada que conduz à vida[128]”
eterna, em Jesus Cristo nosso Senhor. A ele a glória por todos os séculos.
Amém.
32
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo, que lhe
perguntou se deveria comer em separado, e se ele não conseguiria com que ele
saísse às quartas e sextas-feiras para a santa comunhão. Por outro lado,
deveria ele renunciar aos trabalhos manuais? Se, em sua vida solitária, ele
caísse doente, deveria usar remédios?Ele pedia também que lhe fossem dadas
regras para sua salvação:
Eu não quero que o seu
amor ignore a generosidade que você recebeu de Deus que ama os homens. E, com
efeito, eis que as dores do parto. Jesus começou a se ocupar de você e a
introduzi-lo por sua vez em sua quietude abençoada e na constância
irreprochável. É por isso que, mesmo que lhe ocorra um enfraquecimento ou outra
enfermidade, coloque toda sua esperança em seu Mestre, e você será curado. Pois
eu tenho em Deus que você não está longe do caminho de Deus.
Quanto a comer separado
em sua cela, será útil e vantajoso. Mas se se apresentar a ocasião de comer com
os irmãos, não hesite nem fique chateado. Apenas vá se restringindo pouco a
pouco.
Quanto à comunhão,
enquanto você entrar e sair não se prive dela, pois seria um escândalo para os
demais. Vigie também para passar sua vida na cela na humildade, no temor a Deus
e num amor sincero para com todos, e para construir sua casa sobre a rocha[129]
sólida e inquebrável, pois foi dito: “Esta rocha, é Cristo[130]”.
A respeito de outras
regras, isto não é mais necessário. Contente-se com os que lhe foram escritos
de minha parte; pois eles são suficientes para conduzir um homem do começo até
o fim. Medite-os, guarde-os em sua memória e não os esqueça. Eles contêm de
fato toda a Bíblia. Conduza-se sempre bem diante do Senhor, humilde nas
palavras, obras e gestos.
33
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo, quando seu
irmão de carne, pretendendo se retirar para a vida monástica, interrogara o
Ancião por seu intermédio:
Nosso Senhor Jesus
Cristo disse: “Ninguém vem a mim, se o Pai celeste não o enviar; a este eu
ressuscitarei no último dia[131]”,
“e eu me manifestarei a ele[132]”.
Veja, os campos estão prontos para a colheita, e o apanhador receberá seu
salário e recolherá o fruto para a vida eterna, a fim de que o semeador se
regozije com o apanhador. Pois é nisto que se verifica a frase: “Um é o que
semeia, outro o que colhe[133]”.
Irmão, quem quer ir à cidade não fica na cama, quem vê o sol e quer trabalhar
não pode ser indolente e quem quer cultivar seu campo não pode ser
inconseqüente. De fato, quem quer entrar na cidade caminha depressa e não se
demora; quem vê o sol nascer corre a trabalhar, para não ser impedido; e quem
quer cultivar seu campo apressa-se para que ele não seja tomado pela erva
daninha. “Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça![134]”
34
Tendo seu irmão voltado a ele pela segunda vez, ele
estava atormentado por sua salvação, e lembrou a ele sua promessa anterior. Mas
ele próprio pediu que o Ancião lhe desse um sinal a respeito. E o Ancião lhe
enviou:
A respeito de seu irmão
de quem você disse: “A falta de fé o ataca”, trata-se do mesmo erro dos
Fariseus aos quais o Senhor disse: “Esta geração pede um sinal, mas não lhe
será dado um sinal.[135]”
Nada tenho a dizer, senão a palavra dos Apóstolos: “As coisas antigas passaram,
eis que agora tudo é novo.[136]”
Ou esta: “Agora, Israel[137]”,
e “Não tentarás ao Senhor teu Deus[138]”,
e ainda: “Hoje em dia, se vocês ouvirem sua voz, não endureçam o coração.[139]”
“Aquele que tiver ouvidos para ouvir, que ouça![140]”
Ore por mim.
35
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo, que o
interrogara a respeito dos irmãos enfermos corporalmente e de outros, enfermos
espiritualmente: deveria ele trazê-los para perto de si? Por outro lado,
deveria ele falar com o abade para aliviar um pouco aos noviços a vigília
noturna? Ele também interrogava a respeito do silêncio prolongado:
Irmão, a resposta a
estas três questões é única: não force a vontade, mas semeie a esperança. Com
efeito, nosso Senhor jamais obrigou ninguém, mas apenas anunciava o Evangelho,
e escutava quem quisesse. Você não ignora, eu sei, que eu não negligencio nem
desdenho seu amor, mas a demora vem em seu benefício, pois cada vez que nós
rezamos e Deus tarda em nos escutar, ele age em nosso interesse, a fim de que
aprendamos a perseverança e não nos desencorajemos, dizendo que oramos e que
não fomos atendidos. Deus sabe bem o que é útil para o homem. Alegre-se no
Senhor, meu irmão, não tenha nenhuma preocupação, e ore por mim, bem-amado,
você que é um comigo.
36
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo, permitindo a
ele iniciar sua vida solitária desembaraçada de todos os laços, e também
respondendo ao seu pensamento de que estavam já nos últimos tempos, bem como à
questão que ele colocara a respeito de uma longa conversa que tivera com um
Padre, perguntando-lhe se havia feito bem ou não:
Irmão, escute-me, a mim
que o amo em Cristo Jesus. Primeiramente a respeito da cela, nosso Senhor Jesus
Cristo disse: “A hora vem – ela já está aí – em que os mortos ouvirão a voz do
filho de Deus, e aqueles que a tiverem escutado viverão. Porque assim como o
Pai possui a vida em si mesmo, do mesmo modo ele concedeu ao Filho possuir a
vida em si mesmo.” Também eu digo-lhe que chegou o momento em que você pode
entrar, com a ajuda de Deus. Estabeleça-se em sua nova cela, e penetre em seu
interior com Deus por guia. E quando você estiver instalado nela, não se
inquiete mais com o que quer que seja. Pois de um lado a preocupação com os
negócios e de outro as provações atraem-se mutuamente.
Quanto ao pensamento que
foi semeado em você, ele é inútil agora, e ademais traz consigo a vanglória.
Quem ignora, de fato, que estamos nos últimos tempos? Enfim, a respeito das
conversas, quando você estiver a ponto de falar em Deus, saiba que o silêncio
será mais estimável do que as palavras. Você não precisa mais que eu lhe
escreva daqui para frente, pois eu já escrevi tudo, do alfa ao ômega, como o
manda a . Eu o confio portanto a Deus, pois dele é que vêm o socorro e a
misericórdia. Amém.
37
Um cristão do mundo havia pedido interrogar o abade
João a respeito de um negócio. Este havia lhe dado uma resposta, mas depois se
arrependeu, e transmitiu-o ao Grande Ancião, dizendo: “Perdoe-me, pois eu sou
ébrio e não sei o que faço”. Resposta:
Eu lhe disse muitas
vezes: “Deixe que os mortos enterrem seus mortos[141]”,
e você ainda não se cansou de sua podridão. Veja o que você disse, porque precisamente
você não sabe o que disse. Com efeito, o ébrio é ridicularizado, maltratado,
desprezado pelos homens, não estima a si mesmo, não opina nem ensina ninguém;
ele não aconselha nem julga: isto é bom, isto é ruim. Se sua boca exprime uma
coisa e suas obras exprimem outra, você fala sem saber o que diz. Não se feche,
para que não soe aos seus ouvidos o chamado: “Eis o esposo, saiam ao seu
encontro.[142]”
Dirá então você: eu estou ocupado? Ele o buscou sem cuidados e você não o
aceita. Ele aliviou suas inquietudes e você amarra a si próprio? Ele lhe trouxe
repouso e você quer afadigar-se? É o tempo de tomar o luto e chorar seus
pecados. Lembre-se, ele disse que a porta seria fechada[143].
Apresse-se para não ficar de fora junto com as virgens tolas. Passe em espírito
deste mundo de vaidades para o da eternidade. Deixe de lado as coisas da terra
e procure as do céu. Abandone as coisas corruptíveis e você encontrará as
incorruptíveis. Fuja em pensamento daquilo que é passageiro, e você irá ao
encontro do eterno. Morra totalmente a fim de viver eternamente em Jesus Cristo
nosso Senhor. A ele a glória por todos os séculos.
38
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo que desejava
receber dele freqüentemente cartas para o socorro e a salvação de sua alma, e
que queria saber se deveria conversar com algum dos irmãos ou ser interpelado
por ele sobre seus pensamentos:
Como eu sei a quem eu o
confiei e que alimento lhe apresentei, se você prestar atenção nisso, eu não
lhe escreverei mais tantas vezes. Pois aquele a quem eu o confiei conhece as
suas necessidades antes que você lhe peça. Como você está a par disto, fique
sem preocupações. Pois é desembaraçando-se de todos os cuidados que você se
aproximará da cidade[144],
e é o fato de não ser contado entre os homens que lhe permitirá nela habitar. E
é a morte em relação aos homens que o fará herdar a cidade e seus tesouros. E
como você quer ouvir repetir a mesma coisa muitas vezes a respeito de uma
conversa ou de um pensamento dos irmãos, quando houver necessidade, eu lhe
direi o que fazer. Você, portanto, não se preocupe com nada senão com conduzir
bem sua viagem. Eu protejo sem cessar o seu amor. Quanto a extinguir pouco a
pouco em você o movimento desta funesta cólera, é você quem deve fazê-lo. A paz
esteja com você, meu irmão e bem-amado João.
39
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo que pretendia
cessar as conversas com seu próprio servidor, porque ele havia lhe dito que o
desembaraçar-se dos cuidados o faria aproximar-se da cidade, e que tivera a
idéia de procurar as causas das tentações diversas que o assaltavam:
Diga ao irmão: espere um
pouco mais, pois ainda não é o momento. E, de fato, eu me preocupo com você
mais do que você próprio, e Deus mais ainda. Irmão João, não tenha nenhum medo
das tentações que o assaltam para prová-lo, pois o Senhor não o trairá. Assim,
cada vez que lhe acontecer algo deste gênero, não se canse buscando-lhe as
razões, mas invoque em grandes gritos o nome de Jesus, dizendo: “Jesus, venha
em meu socorro[145]”,
e ele o ouvirá, “pois ele está próximo daqueles que o invocam[146]”.
Não seja timorato, mas corra com ardor, e você chegará ao final[147],
em Jesus Cristo nosso Senhor. A ele a glória.
40
Pergunta do mesmo ao mesmo Grande Ancião: deveria ele
ensinar seu servidor o trançado? Por outro lado, um irmão o havia interrogado
sobre seus pensamentos, não claramente, mas por enigmas; ele fez bem? Resposta:
O ensinamento mais digno
de nota de nosso Salvador é este: “Faça-se a sua vontade[148]”.
Assim, se qualquer um de vocês disser esta oração com sinceridade, rejeitará
sua própria vontade e entregará tudo à vontade de Deus. Então, quanto a ensinar
o irmão, isto é útil, mas pode talvez tornar-se motivo de ciúme. Entretanto
isto é possível em poucas ocasiões, às vezes só de passagem, e assim a coisa
escapará à consciência dos irmãos.
Quanto à interrogação
por enigmas, é de uma auto-suficiência à qual falta discernimento, e este irmão
tem necessidade de muitas orações. Pois os signos não são “para os fiéis, mas
para os infiéis[149]”.
41
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo que era presa
de muitos pensamentos e inquietações a respeito do futuro do mosteiro:
Numerosos são os
pensamentos que borbulham no seu coração. É como foi dito: “Eu os contarei e
eles serão mais numerosos do que os grãos de areia.[150]”
Irmão, ninguém sabe no que este lugar deverá tornar-se, senão Deus “que conhece
os corações[151]”;
e ele me deu plena confiança. Tenha então como certo que o Senhor não o
abandonará, mas que ele o guardará e glorificará em honra do nome de sua
Majestade. A ele a glória por todos os séculos. Amém. Viva assim sua vida
solitária, desembaraçado de todas as preocupações. Todas as coisas, com efeito,
acontecem a propósito e em sua ordem.
42
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo que lhe
perguntara de onde vinha a enfermidade que o acometera. E se ele deveria dizer
aos irmãos que iriam ao Egito sobre como deveriam se comportar. Por outro lado
ele estava preocupado a respeito deles, temendo o quanto iriam penar por não
conhecerem os lugares.
Diga aos irmãos:
Egípcios e Hierosolimitas estão misturados diante de você, mas não se preocupe.
Pois Deus se ocupará disto para você. Quanto ao seu pensamento, aja conforme o
temor a Deus, e não se aflija por seus irmãos. Apenas ore, e o Senhor os guiará
segundo sua vontade em todas as coisas. Pois nada se faz sem a permissão de
Deus; e sobretudo neste lugar, se for conforme o temor a Deus para o repouso e
benefício das almas.
43
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo para que
entregasse a Deus todos os seus assuntos:
Se alguém bebe da água
que eu lhe enviei por cartas ele não terá mais sede. Quanto a você, você
deveria aguardar e esperar em repouso na fé de Cristo. Tome este pão como
alimento, e não se preocupe. Nada tema, mas receba por intermédio do Espírito
Santo força e esperança. Acredite firmemente que a mão de Deus está com você.
44
Do pedaço de pão que lhe fora enviado, ele deu uma
parte ao seu servidor, não se sua mão, pois ele não era clérigo, mas pousando-a
diante dele para que a tomasse. E tendo-o recebido uma segunda e uma terceira
vez, agiu da mesma forma, e, fazendo isto sem regra ou instrução, não se deu
conta do pecado. Ao contrário, quando se viu aliviado de suas paixões pelas
orações do Ancião, ele disse: “As paixões extinguiram-se em mim.” A respeito, ele interrogou o Ancião sobre um
pensamento blasfemo e não recebeu resposta. Como ele se perguntava espantado
sobre a razão de tal silêncio, subitamente com a permissão de Deus e por sua
correção, ele teve uma visão terrível uma primeira e uma segunda vez, e depois
a visão desapareceu. Cheio de medo e confusão, ele lembrou-se subitamente da
falta cometida no assunto do pão, pois ele havia esquecido o que dissera sobre
a extinção das paixões. Colocando o capuz que lhe havia sido enviado pelo
Ancião, ele se prosternou numerosas vezes e implorou para obter misericórdia.
Então o Ancião lhe escreveu a respeito das duas faltas e também sobre o
pensamento blasfemo; depois lhe disse que colocar os presentes diante de seu
servidor para que este os tomasse não era humildade, mas um exagero pueril:
Se alguém sabe que
transgride um preceito, deixa provado que o conhece. E aquele que conhece, se
corrige. Mas falemos tão simplesmente quanto possível: eu o coloquei nas mãos
de Deus, e você escapa, quando a Escritura afirma pela boca de Deus que os
justos não escaparão[152].
O que pensa você disto? Serei eu a dize-lo? Já foi dito também: “Que uma
linguagem arrogante não saia de sua boca[153]”.
E você teve a audácia de abrir a sua boca diante de Deus e dizer: “As paixões
estão extintas em mim!” Será que você não deveria dizer: “Elas estão todas em
reserva em mim”? Eis porque você foi um pouco relaxado, e toda sua fraqueza
ficou exposta. E se eu não fosse uma abrigo para você, você iria penar. Mas foi
dito: “Deus é fiel, ele não permitirá que você seja tentado além das suas
forças; mas com a tentação ele também propicia que você a possa suportar.[154]”
Quanto à coisa que você
fez de modo tão inoportuno, foi um exagero que nasceu de sua própria vontade.
Não ter recebido uma instrução específica e dar a outro um presente como se
fosse um arcebispo, não sei como classificar isto. E então? Não estaria eu em
condições de enviar presentes a todos, ao invés de enviá-los sempre a você? É
assim que você se vê corrigido um pouco por causa de faltas numerosas e graves.
Daqui em para frente seja vigilante para exterminar com vigor as oito nações[155]
estrangeiras. Não se deixe arrastar por infantilidades e adquira a firmeza que
é, de fato, a simplicidade, porque você já ouviu dizer inúmeras vezes: “Faça
tudo com ponderação[156]”
Em todas as paixões e em todas as blasfêmias, ore a Deus e ele virá em seu
socorro e as afastará de você pouco a pouco. Seja vigilante no futuro e
conserve estas coisas no seu coração[157].
Não é preciso que se saiba, mas o que aconteceu, aconteceu. Jesus estará com
você. Perdoe-me o passado, e eu arrumarei o futuro por todos os séculos. Amém.
45
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo que, caindo
gravemente enfermo e presa de uma febre muito alta, não tendo comido nem
dormido por dias a fio, havia, por instigação do diabo, vociferado contra o
abade e os irmãos que o serviam:
Ó
irmão, porque seu coração se derreteu a ponto de fazê-lo abandonar o Bem-amado,
e correr atrás do Inimigo? Você deixou a voz do Pastor, Cristo, para seguir
este lobo do diabo! O que você sofreu? O que você suportou? Que gritos são
estes, como os que o Apóstolo classificou entre os maus propósitos, quando ele
disse: “Que todo grito, toda blasfêmia e toda cólera sejam banidas do meio de
vocês, assim como toda malícia”? Você não sofreu nada acima de suas forças,
porque o Apóstolo proclama: “Deus é fiel, ele não permitirá que sejamos
tentados além das nossas forças”, etc. Desperte deste pesadelo de maus
pensamentos. Agarre o bastão da cruz e com ele expulse os lobos, ou seja o
demônio. E lembre-se de dizer: “Porque está tão abatida, alma minha, e porque
me perturba você? Espere em Deus, pois eu o louvarei, ele a salvação de minha
face e meu Deus.” Seja vigilante daqui para diante e não se inflame como uma
criancinha estúpida que não possui inteligência. Você que deve subir com Cristo
na cruz e nela ser fixado com pregos e perfurado com uma lança, porque você
ousa, infeliz, gritar deste modo contra Cristo e injuriar seus irmãos? Onde
está o “sejam carinhosos uns com os outros, rivalizando na mútua estima”? Isto
basta, pois foi dito: “Dê oportunidade ao sábio e ele se tornará mais sábio.”
Suporte, viva na quietude e dê graças por tudo, assim como foi dito: “Dêem
graças em tudo”, o que evidentemente quer dizer: “tanto nas derrotas e
atribulações”, como nas doenças e nos momentos de alívio. Agarre-se, portanto,
a Deus, e ele permanecerá com você e lhe dará a força de seu Nome. A ele a
glória por todos os séculos. Amém.
46
Depois de se recuperar de sua fraqueza e remido desta
provação, o Adversário lhe sugeriu sonhos maus, a fim de perturbá-lo de novo.
Como isto não aconteceu, ele lhe mostrou então um mosteiro com uma igreja,
aonde um grande número de refugiados aparentemente buscava socorro. Para
colocá-lo em guarda, o Ancião escreveu-lhe o seguinte:
Glória
a Deus no mais alto dos céus[158]!
Irmão, nosso inimigo, o diabo, como um leão que ruge[159],
prepara-se para devorá-lo. Mas a mão de Deus, que sempre nos protege, não o
permitirá fazê-lo. Assim que ele se deu conta de que não permitiríamos que ele
cumprisse nada do que pretendia, ele tentou confundir o seu espírito mostrando
a você certas coisas em sonhos condenáveis. E como um pervertido em suas
enganações, vendo que o Senhor não permitiria que você fosse tentado até o fim
nem além de suas forças[160],
ele o fez ver um mosteiro e uma igreja aparentemente auxiliar. Você, então,
ponha seu coração em segurança, fazendo o sinal da cruz sem se perturbar em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E eu tenho confiança que Deus nos
ajudará a pisar sua cabeça sob nossos pés[161].
Adquira portanto um coração humilde e dê graças àquele que o salvou da
armadilha da morte. Com efeito, foi por sua negligência que você sofreu essas
coisas.
47
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo, que caíra
numa luta provocada por diversos pensamentos, extremamente difícil e
incompreensível à maioria:
Diga
a o irmão João: Eu me admiro o quanto seu amor não compreende as coisas. De
fato, vendo suas numerosas atribulações, muitas vezes eu lhe enviei
pessoalmente um presente, para que você obtivesse com isto forças em Deus. Mas
você deve meditar sem cessar no salmo 106 por causa destas palavras: “Ele disse
e ergueu-se um vento de tempestade, as ondas se levantaram, subindo até os céus
e mergulhando até os abismos.” E ainda: “Sua alma afundava na desgraça[162]”.
É o que nos aconteceu, e deveremos suportar tais perigos até que cheguemos ao
porto de sua vontade[163],
como já lhe escrevi. Portanto, Deus não o entregou nas mãos dos inimigos;
então, não se entregue você em suas mãos. Você quer ser libertado das
atribulações e não mais ser acossado por elas; previna-se contra o pior e você
ficará em repouso. Lembre-se de Jó e de todos os santos que o seguiram, pense
em todas as atribulações que eles sofreram, adquira a sua constância, e o
Espírito o consolará. Seja corajoso e forte[164],
ore por mim, lembrando-se das minhas palavras, e sua alma será renovada.
48
Tendo o abade [Seridos] demorado por qualquer razão e
lhe entregar a resposta esperada, ele[165]
lhe fez violentas reprimendas e o jogou num grande abatimento. E alguns irmãos,
que haviam sido destacados para servi-lo devido à sua fraqueza, lhe disseram
que certas coisas feitas no mosteiro eram vãs e inúteis; ao invés de
repreende-los e corrigi-los por estas críticas, ele lhes disse que tampouco ele
as aprovava. Tendo o abade lhe dito que fizera tais coisas aconselhado pelo
Ancião, ele replicou: “O Ancião o deixa fazer segundo a sua vontade.” Por isso
o Ancião lhe dirigiu a seguinte resposta, fazendo-o lembrar-se de que as coisas
que não nos parecem bem, são feitas com uma sabedoria que está acima de nossa
compreensão:
Mais
uma vez depois de um tempo o amor nos empurra a bater-lhe com a vergasta de
Cristo, a vergasta da correção e do castigo, a fim de que se cumpram em nós as
palavras da Escritura: “As feridas de um amigo são mais dignas de fé[166]”,
etc. E se nós o corrigimos, não fique abatido, lembrando-se ainda do provérbio
que diz: “Meu filho, não fraqueje sob o corretivo do Senhor, e não se
desencoraje quando ele o repreende; pois o Senhor corrige a quem ele ama, e
fustiga todo filho que reconhece como seu[167].”
E mesmo se eu o repreendo, não esqueça do modo como fala o Apóstolo:
“Repreenda, ameace, exorte[168].”
Onde está seu espírito, cabeça dura? Onde vai seu pensamento, obtuso? Porque os
mestres do seu espírito usam-no para opor-se aos discípulos do Mestre, a fim de
que o Mestre não o use como montaria[169]
para entrar em Jerusalém, expulsar os traficantes e os mercadores do Templo e
confundir os escribas e os fariseus[170]?
Porque o puxam para Babilônia, se você deve habitar em Jerusalém? Porque você
deixa a água viva de Siloé[171],
para ir beber das águas impuras dos egípcios? Porque você se desvia do caminho
da humildade, aquele onde dizemos: “Que sou eu? Sou terra e cinzas![172]”,
e prefere caminhar pela via tortuosa, a que é cheia de atribulações e perigos?
Aonde você atirou minhas palavras, que lhe eram dirigidas noite e dia? Aonde
foi parar o objetivo para o qual, a você como a mim mesmo, eu sempre dizia que
nos inclinássemos, e aonde você pretende chegar? Aonde eu queria que você
estivesse, e aonde está você, por não haver segurado sua língua e ter deixado
tudo correr a torto e a direito? E se você dá razão ao próximo, porque não ter
antes o cuidado de se lembrar que devemos dar razão antes de mais nada àquele
que abaixo de Deus nos protege e dá sua vida por nós? Devemos ser-lhe
reconhecidos e orar a Deus para que o guarde de todo mal, para nosso benefício
e de muitos, como aprendemos com o santo Apóstolo, que dava graças a todos
aqueles que, dizia ele, “expuseram suas vidas por mim[173]”.
Você não se lembra mais de nada disso? Da desobrigação de todas as preocupações
que Deus lhe concedeu por meio dele? E da vida retirada da qual você faz parte
na quietude como um rei? E não é igualmente ele que suporta o fardo das idas e
vindas dos nossos visitantes e evita que sejamos importunados? Pois se eles vêm
por nossa causa, nós é que deveríamos suportá-los, não ele. Assim, eu ofereço
abundantes ações de graças a Deus que nos deu um filho verdadeiro de nosso
coração como o desejou. E em lugar disso você disse tolamente: “Eu lavo minhas mãos a seu
respeito.[174]”
E isto não apenas umas vez, mas várias, atirando sua alma numa grande tristeza;
você esqueceu as palavras do Apóstolo: “Para que ele não caia presa de uma
tristeza excessiva.[175]”
E se não fosse pela mão de Deus e as orações de seus Padres, ele teria seu
coração partido. Aonde estão os preceitos que lhe dirigi, dizendo-lhe: “Chore,
esteja de luto, não tente se dar importância em coisa alguma e não se valorize
em nada?” Terei eu arrastado seu amor por outra via? Emigre do mundo, daqui
para frente suba na cruz. Despeça-se da terra, sacuda a poeira dos pés[176].
“Despreze a vergonha![177]”
Não se inflame no fogo dos caldeus, para não ser consumido com eles[178]
pela cólera de Deus. Considere-se inferior a todos os homens. Chore sobre o
morto[179].
Retire a trave de seu olho[180].
Reconstrua sua casa que está toda revirada. Grite: “Tenha piedade de mim, filho
de Davi, para que eu veja![181]”
Saiba que “toda boca será fechada[182]”,
então “não seja falador.[183]”
“Feche sua porta[184]”
ao Inimigo. Mantenha suas palavras sob jugo e coloque uma tranca na porta[185].
Você sabe como eu lhe falo. Pensa nas palavras que lhe são ditas. Dê-se ao
trabalho de entendê-las bem, você descobrirá os tesouros divinos que se escondem
nelas, e não desonre os cabelos brancos de quem reza por você noite e dia[186].
Que o Senhor lhe permita pensar e agir em seu temos. Amém.
E
como você disse ao abade: “O Ancião o deixa fazer segundo sua vontade”, é então
sobre mim que recairá o julgamento que o Senhor deu através do profeta: “Eu
verdade eu lhe digo, se você ver que seu irmão caminha por uma via que não é
boa e não lhe diz que este é o mau caminho, é da sua mão o sangue que eu
reclamarei.[187]”
Não ria, mas creia no Apóstolo, que diz que nós prestaremos contas por ele[188].
Mas você não entende o que se passa.
49
Tendo agradecido ao Ancião por este corretivo, ele
rogou a este que lhe escrevesse mais vezes a respeito da salvação da alma. Da
mesma forma, pedia ao Ancião que lhe falasse a respeito de um pensamento que
tivera a respeito do abade. Resposta:
Irmão João, o que
acontece? Eu não sei, pois eu lhe escrevi do alfa ao ômega, do noviciado à
perfeição, do começo da via até o seu final, do despojamento do homem velho com
suas ambições até a investidura do homem novo[189],
“aquele que foi criado segundo Deus[190]”, da
condição de estrangeiro em relação à terra, a que é visível , à de cidadão dos
céus e herdeiro da terra espiritual das promessas. Rumine as cartas e você será
salvo. Pois nelas você tem, se as compreender, o Antigo e o Novo Testamento.
Tendo-as em mente, você não terá necessidade de outro livro. Sacuda o
esquecimento e separe-se das trevas, a fim de que seu coração esteja em paz com
seus sentidos, e todas essas coisas virão até você. Que se dissipe a fumaça dos
sacrifícios idólatras da sua Nínive espiritual, e espalhar-se-á por esses
lugares o odor do perfume da penitência espiritual, que afastará a cólera
ameaçadora que provocaria sua ruína[191]. Sobre
o quê você está dormindo? Porque você usa como travesseiro as cartas destinadas
à sua salvação, ou ao menos à salvação daqueles que se debruçam sobre elas com
fé? Daqui para frente acabe com os sonhos; desperte deste sono profundo.
Apresse o passo. Corra para Segor, para que não sobrevenha a ruína das cinco
cidades e que, voltando-se para trás, não se torne você uma estátua de sal[192]. Seja
prudente como a serpente[193], a fim
de que seus inimigos não o confundam. Seja simples como as pombas[194], a fim
de que o espírito de vingança não lhe declare guerra. Seja o sincero servidor
de um único Mestre[195], ou
você será escravo de muitos. Não se afaste dele, pois assim foi condenado o
infiel[196].
Veja como você se mantém em sua cela e pergunte a si mesmo: “Porque eu sou
assim? Que benefício tiro de toda esta reclusão?” E Deus que ama os homens
iluminará seu coração para que você tenha o entendimento. Até aqui ele o tornou
livre de todas as preocupações terrestres. Vigie a si mesmo e veja aonde você
está e o que você quer, e Deus o ajudará em tudo, meu irmão.
Quanto ao pensamento
que você me pediu que dissesse ao meu filho, eu bem poderia fazê-lo, mas se
você não o disser com sua própria boca, você se desviará do verdadeiro e
perfeito amor para com ele. Se vocês não são senão uma só alma e um só coração,
conforme a Escritura[197],
ninguém pode esconder nada em seu coração. Seja inteligente, ó coração ainda
tão pesado. Que o Senhor o perdoe!
50
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo, que lhe
perguntara se deveria evitar toda e qualquer conversa, com quem quer que fosse,
a partir da Semana Santa:
Depois da festa da
Páscoa passe na solidão cinco dias por semana, e nos outros dois dias veja os
irmãos se houver necessidade. Depois que direi o que fazer. Mas desembarace-se
tanto quanto puder de todas as preocupações. Pois Deus dá a cada homem o que
lhe convém, seja enchendo seu coração de compunção, seja incitando-o por meio
de um outro para seu benefício.
51
Depois da Páscoa, como um bispo viera desejoso de
vê-lo, e também alguns noviços queriam consultá-lo sobre seus pensamentos, ele
consultou-se com o Grande Ancião. Resposta de Barsanulfo:
Você sabe que nós
jamais impusemos regras a ninguém, assim como a nós mesmos. Como eu lhe disse
que guardasse a solidão cinco dias da semana e encontrar-se com as outras
pessoas por dois dias, também não se preocupe com isto. E se lhe digo para que
converse com os outros, tampouco se preocupe com o que dizer nem como dizer,
pois Cristo disse: “É o Espírito do Pai que falará por vocês.[198]”
Enfim, a respeito dos irmãos de que você falou, se houver necessidade, não os
recuse, e Deus virá em seu socorro. Amém.
52
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo, que lhe
falava da inversão do mundo:
Irmão, “enquanto
tivermos tempo[199]”,
vigiemos a nós mesmos, porque todo o mundo está na agitação, e dediquemo-nos ao
silêncio. Se você quiser obter o repouso total, seja um morto para os homens, e
você terá o repouso. Em todos os pensamentos, todos os assuntos, atividade ou
preocupação, ponha na cabeça o que lhe digo e leve sua vida solitária em paz.
53
Depois desta resposta, ele se esforçava para suprimir
completamente as conversas. Um irmão, aflito por isto, suplicou uma entrevista
em caso de necessidade, e por compaixão ele a prometeu. Ele o interrogou a este
respeito e também sobre um manto que lhe havia sido enviado por um irmão,
perguntando se deveria aceitá-lo. Resposta de Barsanulfo:
Irmão, eu lhe enviei
uma instrução: não se preocupe. O que você quer? Vigie a si mesmo: “A colheita
é abundante[200]”.
Não a deixe para colher os restolhos atrás dos vindimadores[201]. Deixe
tudo e dedique-se a colher e vindimar para colher os frutos em trigo, vinho e
azeite, a fim de que seu coração seja fortalecido e se alegre no Senhor[202].
Medite sobre as cartas que lhe escrevi, pois elas não são vãs. Quanto ao manto,
se o irmão quer dá-lo de todo coração, aceite-o, mas considerando-se indigno.
54
Um irmão que tinha um combate difícil pela frente e que tinha vergonha
de confiá-lo ao abade, pediu que contra sua vontade o abade o recebesse para
escutar seu pensamento. Este ficou aflito por duas razões: de um lado ele não
queria recebê-lo sem permissão, para não escandalizar os outros, e por outro
ele não queria entristecer o irmão. Não sabendo o que fazer, ele indagou em
espírito ao mesmo Grande Ancião se deveria fechar a porta. Resposta de
Barsanulfo:
Diga a o irmão: Quem
é insensato o bastante para escolher para si a coisa mais penosa e aflitiva, em
lugar da mais leve e mais suportável na humildade e na oração? Não feche sua
porta, pois a mortificação não consiste em fechar a porta, mas me fechar a
boca. Eu o abraço “com o beijo santo[203]”.
55
Um ancião egípcio que viera habitar no mosteiro em que
se achavam os Padres, escreveu em egípcio ao Grande Ancião – que era também
egípcio – solicitando suas orações e uma palavra para benefício de sua alma e,
se possível, o favor de uma entrevista. O Grande Ancião fez-lhe responder em
grego a seguinte missiva:
Como eu me determinei
a não escrever pessoalmente a ninguém, mas de responder através do abade, por
esta razão não lhe escrevo em egípcio como você me escreveu em egípcio, mas sou
forçado a lhe dizer que escreva em grego, porque ele não sabe o egípcio. Se em
sua carta você me tem como seu bem-amado e seu Pai no Senhor, conhecendo as
penas, as necessidades e os perigos da alma, se eu sou seu Pai como você
escreve, eu lhe ordeno que não me atormente mais a respeito de uma entrevista.
Pois eu não faço distinção entre pessoas, tão certo como estou vivo!, e se eu
abrir para você, terei que abrir para todos. E se não abro para você, tampouco
abrirei a qualquer outro. Eu lhe escrevo isto, porque você me disse o seguinte
em sua carta: “Se for possível, torne-me digno de sua doçura e tenha piedade de
minha alma miserável.”
E você ainda me diz
isto em sua carta: “Meu pecado me separou de você, meu mestre.” De minha parte,
ao menos, pela graça de Cristo, Filho de Deus, eu jamais me separei de você,
mas estou sempre com seu amor no Espírito.
Quanto ao que você me
escreve ainda na mesma carta: “Ore por meus pecados”, também eu lhe digo a
mesma coisa: ore por meus pecados. Pois está dito: “Faça aos outros o que você
quiser que lhe façam.[204]” Eu,
embora sendo o mais miserável e o menor dos homens, faço o melhor que posso por
causa destas palavras: “Rezem uns pelos outros e vocês serão curados.[205]”
Irmãos, nós somos
estrangeiros, sejamos estrangeiros, consideremo-nos como ninguém, e ninguém nos
levará em consideração, e assim ficaremos em paz. Como você veio até nós,
esforce-se para permanecer. Pois está dito: “Aquele que perseverar até o fim,
este será salvo.[206]” Acima
de tudo, lute para morrer para os homens, e você será salvo. E diga aos seus
pensamentos: “Eu estou morto e deitado em minha tumba.” Creia-me, bem-amado, é
forçado pelo amor de Deus que eu ultrapassei meus limites para lhe dizer isso
por amor a você. Que sou eu, com efeito?
O menor dos homens. Assim, eu lhe peço perdão, dizendo: perdoe-me minha
falação, em nome do Senhor, e ore por mim, servidor de Deus, Abrahão.
56
Resposta do mesmo Grande Ancião ao abade Paulo, Ancião
que levava a vida solitária e que pretendia tomar um irmão cego para servi-lo:
Irmão Paulo, existe
um provérbio que diz: “Quando você vê um jovem correndo, saiba que um velho o
treinou”. Para nós, o velho que nos treina é Satanás. Por inveja ele quer nos
atirar em dias ruins sob pretexto da justiça. E nós sabemos que muitos que
tentaram resgatar outros do rio, foram nele precipitados junto. Veja há quanto
tempo ele tentar lhe colocar armadilhas. Cada vez que você pede e recebe uma
resposta, ele torce seu sortilégio de uma maneira ainda pior. Deus não pede que
você faça o bem ao próximo além das suas possibilidades. De fato, foi dito:
“Não deixe de fazer o bem ao próximo com aquilo que você tiver à mão[207]”. O
cego vai chegar, mas você também está doente. Quem servirá a quem, você ou ele?
Mesmo que alguém fique contente em servi-lo, aquele que lhe apresenta seus atos
de justiça lhe perguntará sempre: “Veja o peso que você impõe ao mosteiro”. E o
homem é, como você sabe, difícil de suportar, como diz a Escritura: “Quem
suportará um homem, e ainda velho, deprimido?[208]” Se é
preciso experimentar alguns dias ruins, faça o que quiser; se você não tivesse
me perguntado, eu não teria falado. E ainda o que eu digo, o digo pelo amor de
Cristo, a fim de que meu irmão não se perca. Se você se compadece dele por Deus
e tem confiança em que Deus é capaz de socorrê-lo, reze a ele e Deus fará como
quiser com ele. Eu não lhe imponho obrigações, irmão, e não lhe dou uma ordem,
mas um conselho. Assim, faça como quiser. Perdoe-me no Senhor e ore por mim, o
menor dos homens.
57
Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo que havia
provocado uma discussão com alguém sobre a fé, e que, não conseguindo sustentar
o argumento, viu-se confundido no debate:
O divino Apóstolo,
inspirado pelo Espírito Santo, disse: “Deus é fiel, ele não permitirá que vocês
sejam tentados além das suas forças; mas com a tentação ele fará também com que
vocês se acostumem a suportá-la.[209]” Irmão
que é um comigo e verdadeiramente bem-amado, esteja inteiramente certo no
Senhor que, vendo a aflição e a perturbação que lhe sobrevieram, também eu
fiquei terrivelmente afligido como jamais havia estado antes, lembrando-me
sobretudo das palavras do Apóstolo: “Quem é fraco, que eu não seja fraco
também?[210]”
etc. E ainda: “Se um membro sofre, todos os demais sofrem com ele.[211]” Pois
se eu não faço as obras do Apóstolo, ao menos ouvi-o mandar “chorar com os que
choram e alegrar-se com os que se alegram.[212]” Mas
glória ao Deus altíssimo que não permitiu ao Inimigo do bem de cumprir com toda
a sua maldade, segundo sua própria vontade. Este quer realmente engolir vivos
os homens, conforme o testemunho de Pedro, o príncipe dos apóstolos, ao dizer
que “ele ruge como um leão buscando a quem devorar.[213]” Meu
Mestre, não acolhamos com tanta presteza a agitação dos maus pensamentos, para
que não fiquemos perturbados e confusos diante do nosso próximo. Com efeito,
isto não passa de um efeito da atividade diabólica e nada além disto. E que
faremos das palavras: “Bem-aventurado aquele que suportar a tentação, pois ele
será aprovado,[214]” etc.
Portanto, não escrevo
estas por caridade, como se você tivesse necessidade de ensinamento; pois
quando você perscruta as Escrituras você é muito mais clarividente e
inteligente do que eu. Eu sou de fato miserável e fraco, não mais do que um
nome vão. Mas por causa das penas do coração e de um amor transbordante por
Deus, “eu lhe escrevo com muitas lágrimas[215]”. Que
ele afirme seu coração no temor a Deus, “ele que estabeleceu solidamente e
fixou o céu[216]”,
e que ele estabeleça sua morada sobre uma rocha sólida[217], ele
que assentou os fundamentos da terra sobre as águas[218]. Que
ele reprima os torturadores, ele que reprimiu os ventos e o mar[219]. Que
ele afaste de você o esquecimento dos mandamentos, ele que afastou o crepúsculo
dos astros da sua alvorada[220]. Que
ele tenha piedade da sua alma “como um pai tem piedade de seus filhos[221]”. Que
ele ilumine seu coração, ele que iluminou as coisas que antes estavam
mergulhadas nas trevas[222]. E que
ele lhe dê paciência para permanecer comigo na paz, seu bem-amado, até o último
suspiro, como ele nos fez saber de antemão, ele que disse que “aquele que
perseverar até o final, este será salvo[223]”. Que
ele nos dê a paz entre nós até o final, esta paz que ele deu aos seus
discípulos[224].
E que ele nos permita alcançar seu perfeito amor, ele que disse: “Se vocês me
amam, guardem meus mandamentos[225]”, e
também: “Assim todos reconhecerão que vocês são meus discípulos, se vocês
amarem uns aos outros[226]”. Se
tivermos este amor, nada nos separará uns dos outros até a morte. Porém, também
está escrito: “E agora Israel[227]”. E
também: “Se o espírito do príncipe se levantar contra você, não deixe o seu
lugar[228]”.
Quanto a mim, eu lhe digo as palavras de Ruth: “Que não me aconteça separar-me
de você! Somente a morte me separará de você.[229]” Mas,
se você inverter qualquer dessas coisas, eu estarei absolutamente inocente
disto, e você o verá e reconhecerá no Dia terrível. Pois de boa vontade eu dou
até minha vida por você, meu irmão. E não existe mandamento: leve sua vida
solitária com toda confiança, admirando e glorificando a Deus que o livrou de
grandes perigos e de diversas atribulações e provações. A ele a glória por
todos os séculos. Amém.
Perdoe-me por ter
tagarelado tanto. É a abundância de tristeza e a grandeza da alegria que me
fizeram estender este discurso para você. Que o Senhor esteja sempre com você,
meu bem-amado.
58
Tendo recebido a carta precedente, ele lhe respondeu o
seguinte: Mestre e Pai, perdoe-me no Senhor e ore por mim. A respeito de minha
tristeza e minha perturbação, que você diz virem do diabo, você sabe Mestre,
que desde a infância eu recebi a fé dos trezentos e dezoito santos Padres[230],
que eu nunca recebi outro ensinamento, e fiquei confuso. Assim, se você sabe,
Pai, que eu fiquei perturbado a respeito, dê-me a segurança de que meu senhor
responderá por mim diante de Deus e que não haverá para mim nenhuma reprovação;
assim eu me livrarei da tristeza e da perturbação. De fato, eu estou
terrivelmente torturado a respeito, pois eu sou ignorante e cheio de estupidez,
e estou sendo castigado por numerosas faltas. Não tome partido contra mi,
Mestre, mas envie-me seu perdão; para tanto, envie-me também o socorro de suas
orações agradáveis a Deus, e eu tenho confiança em Deus de que você ganhará
minha pobre alma. Resposta do mesmo Grande Ancião ao mesmo:
Se você tivesse
refletido nas coisas que lhe foram escritas por mim, você teria compreendido
que foi por você mesmo que eu as escrevi. Com efeito, dizer: “Eu dou a minha
vida por você[231]”,
significa que eu respondo ao seu amor. Eu não enrubesço de dizê-lo, a você meu
irmão: você é incapaz de perscrutar as coisas da fé. Não sendo capaz,
abstenha-se de perscrutá-las, do contrário você atrairá o acabrunhamento e a
perturbação. Pois, discutindo ou falando com heréticos ou infiéis, o crente não
ficará jamais perturbado e se manterá calmo, tendo Jesus, o “Príncipe da Paz[232]”,
consigo. E este homem poderá, discutindo calmamente e com amor, levar o
conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo a muitos heréticos e infiéis. Daqui
em diante, irmão, como está além da sua capacidade pesquisar outras matérias,
mantenha-se firmemente na “via real[233]”,
quero dizer, na fé dos Trezentos e dezoito Padres na qual você foi batizado.
Pois ela contém tudo para aqueles que distinguem bem a perfeição. Viva sua solidão,
ponderando seus pecados e sobre como você deverá se apresentar a Deus. E se
você guardar assim meu mandamento, ou melhor, o mandamento de Deus, eu lhe
prometo responder por você “neste dia em que Deus julgará as ações escondidas
dos homens[234]”.
Então não duvide, e nem se permita piorar. Pois o Inimigo transforma em amargor
as coisas doces. Que o senhor Jesus o torne inofensivo para todos nós. Em
primeiro lugar, desde já fique tranqüilo em relação às outras coisas. Pois o
Senhor lhe retirou a preocupação, e o demônio mau, vendo que você foi libertado
pelas orações dos santos, tentou lançar sobre você uma parte da fumaça de tal
tentação. Reze por mim, irmão, a fim de que eu não me ouça dizendo para mim
mesmo: “Você que ensina os outros, mas não ensina a si próprio![235]” Não
titubeie mais nessas coisas e não se entristeça mais, meu bem-amado. Que o
Senhor nos proteja sob suas asas. Amém.
59
Um ancião que vivia solitário, o abade
Euthymo, interrogou o mesmo Grande Ancião na forma de uma prece[236],
nos seguintes termos: Fonte de luz, caminho daqueles que estão nas trevas,
ilumine a nós que estamos na escuridão. Foi você mesmo quem disse, ó Santo:
“Peçam e receberão[237]”;
“batam, e ser-lhes-á aberto[238]”.
E como você quer abrir, também a nós, a porta da salvação, apresse-se, pois foi
você quem começou. E se você não nos quisesse salvar, você não teria declarado
que aquilo que nos é impossível é possível a você e a Deu[239]s.
Você quis nos dizer, ó Santo: “Purifique-se, se quiser que eu venha”. E eu
disse: “Santo, o pântano não consegue purificar a si mesmo”. E você nos disse
então, ó Mestre: “Que aquele que desejar obter meus dons, observe minhas
pegadas em tudo”. Mas como pode observar quem é cego de nascença[240],
se seus olhos não forem abertos? O cego busca um guia, a fim de obter de algum
modo seu humilde ministério. De fato, Timeu, filho de Bartimeu, estava sentado
à beira do caminho, pedindo esmola, e, quando ouviu que por ali passava a luz
de justiça, gritou: “Filho de Davi, tenha piedade de mim!” Rodeado pela
multidão, ele não gritava outra coisa: “Filho de Davi, tenha piedade de mim!” E
quando, em sua bondade, e movido pela misericórdia, este o chamou e disse: “O
quer você quer que eu faça?”, ele implorou: “Senhor, que eu veja!”. E logo, em
sua bondade, o Senhor disse: “Veja”, e ele recuperou a vista, viu suas pegadas
e o seguiu[241].
Também eu quero gritar, mas ele me envolve, aquele que sempre tenta obscurecer
os olhos dos que vêem. Se sua bondade quiser me responder, dizendo-me: “Que
quer você que eu faça?[242]”,
também eu responderei: “Senhor, que meus olhos sejam abertos![243]”
Com efeito, se o leproso pudesse purificar a si mesmo, ele não pediria:
“Senhor, se você quiser você pode me purificar[244]”,
mas ele próprio faria sua purificação. Também eu grito como ele. Também a mi,
dê a mesma palavra salvadora: “Eu quero, esteja purificado[245]”,
e logo a lepra sairá de mim. Com a vista recuperada e purificado, então eu
observarei suas pegadas para caminhar atrás de você, pois você é o caminho dos
perdidos.
Eu invoco assim meu Pai: Sim, Pai, peça
ao nosso Mestre, o Cristo, que ele me abra os olhos, pois é a você que eu
considero como o guia que me conduzirá ao Senhor Jesus, a ele a glória, junto
com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.
Resposta de Barsanulfo:
É
“agora o tempo favorável[246]”
para cantarmos as palavras do Evangelho: “Não são as pessoas saudáveis que
precisam de médico, mas os enfermos[247]”.
Se aquele que está doente ai procurar um médico, é preciso que ele observe as
recomendações deste médico, conforme as palavras: “Quem busca a Deus deve
acreditar que ele existe e que ele é o retribuidor daqueles que o procuram[248]”.
Pois é fiel aquele que disse: “Eu lhes darei neste mundo o cêntuplo, e no mundo
do futuro a vida eterna[249]”.
Aqueles que se aproximam de nosso grande médico são iluminados por ele, e ele
os cura de todas as enfermidades espirituais. Mas nós não nos gloriamos de
sermos fiéis, sob pena de sermos condenados como hipócritas e infiéis. É com
efeito pelos sinais exteriores que se manifesta a fé invisível que reside no
segredo do coração. Se cremos no Salvador quando ele disse: “Seja-lhe feito
segundo a sua fé[250]”,
que agora vele diga à alma que habita nosso corpo: “Tenha confiança. Filha, sua
fé a salvou[251]”.
Assim, falar e proclamar de boca não é a fé, mas nossa fé perfeita se manifesta
pela cura. Portanto, se você acreditou e foi curado, caminhe e não titubeie
mais. Você foi curado, não vacile mais. Você está curado, não está mais branco
de lepra[252].
Você foi curado, mostre que seu fluxo de sangue estancou. E se isto lhe
aconteceu, ó homem, você está perto de ouvir o Senhor dizer à sua alma tão pura
e tão bela: “Você é inteira linda e não há defeito em você[253]”,
e também perto de ouvir as palavras do Apóstolo: “Sem marcas nem rugas, nem
nada de tal[254]”.
A porta está aberta para nós e o caminho desimpedido, mas lembremo-nos de que
“a porta é estreita e a via é apertada[255]”
e que “é preciso passar por muitas atribulações para entrar no reino dos céus[256]”.
Perseveremos resolutamente na prática de nosso trabalho, pois em verdade “os
sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória futura que deve se
revelar em nós[257]”.
E “Deus não é injusto para esquecer[258]”
tais trabalhos, se mantivermos a constância até o final. Com efeito, foi dito:
“Aquele que perseverar até o fim, este será salvo[259]”,
em nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
60
Pedido do
mesmo ao mesmo Ancião, sob forma de oração, a respeito dos pensamentos impuros
e da ressurreição: Você que é o Caminho e a Ressurreição[260],
visite-nos, pois somos sua criatura, e purifique-nos da legião do mal, ó Santo,
pois você foi movido pela compaixão por sua criatura e expulsou a legião, e os
demônios pediram para serem introduzidos nos porcos[261].
Mas teria sido em porcos desprovidos de razão ou em mim, porco racional, pois
eu os recebi, precipitei-me no mar e sinto as ondas me baterem[262]
sem que eu saiba o porquê?Mas agora alguém me estimula a despertar o piloto[263]
para que ele me dê a mão e me retire do abismo, como ele fez com Pedro, dizendo
a mim também: “Porque duvidou, homem de pouca fé?[264]”
E como você me prometeu por seu servidor Barsanulfo em suas cartas que seríamos
colocados na mesma tumba, será que ressuscitaremos juntos? Com efeito, eu temo
o que foi dito: “Dois estarão no campo, um será tomado e outro será deixado.
Dois estarão no moinho, um será tomado e outro será deixado[265]”.
Desde a criação do mundo os homens morrem, e muitas vezes os corpos dos santos
e os dos pecadores se acham juntos no mesmo sepulcro, irão eles ressuscitar
juntos na ressurreição, quando os anjos vierem despertar todos os justos? Ou
apenas os eleitos? É por isso que, temeroso, eu lhe suplico por intermédio de
seu servidor, como você revelou que seríamos colocados na mesma tumba,
indique-nos também se você nos ressuscitará juntos.
E eu lhe
suplico, meu Pai, Barsanulfo, porque ambos recebemos, eu e ele, grãos para
moer, e porque eu, que por ser fraco não consigo moer, que ele lute, ele, forte
como é, para levar-lhe, Senhor, os ramos de justiça por ele e por mim. Com
efeito, tivemos entre os antigos Padres um caso semelhante: três irmãos saíram
a moer; um tombou sem forças e teve que retornar à sua cela; os outros
prosseguiram moendo com sucesso. Quando terminaram seu trabalho e regressaram,
obrigaram o terceiro a receber sua parte do salário. Mas ele se opôs: “Que salário?
Um salário pelo qual não trabalhei,
enquanto vocês dois penaram?” E como eles discutiram com ele para que
recebesse seu salário, os Padres consideraram que ele devia recebe-lo. E seu
julgamento foi louvável. Assim, também você, Mestre, Cristo Deus, ratifique
esta prece que eu lhe dirijo. Pois sua é a glória por todos os séculos. Amém.
Resposta:
Dentre os homens o
dono da casa toma intendentes fiéis a quem ele confia suas chaves, seus bens,
seu pessoal, e é ao intendente fiel que cabe determinar como dormir, comer,
obter os favores de seu mestre, a quem freqüentar, se bêbados ou se pessoas que
vivem dignamente; a um está reservado o suplicio, a outro a beatitude. Da mesma
forma nosso Deus tomou como intendentes homens fiéis, a quem entregou as chaves
para fechar e para abrir, quero dizer, o livre arbítrio: fiéis, pelo fato de
que todos os cristãos são batizados, e são bons intendentes dos bens que lhes
são confiados, ou seja, das obras do batismo para sua salvação. Se portanto
algum deles se afastar da caminho reto, partilhará da sorte dos bêbados
embriagados pelo vinho da iniqüidade. Este homem será um porco dotado de razão,
e você sabe o que ele sofrerá quando da vindo do Mestre[266]. Se, a
contrário, ele bem administrar aquilo que lhe foi confiado, todos sabem da
beatitude que ele receberá de seu mestre. Pois foi dito: “Por toda a terra
espalhou-se a sua voz, e suas palavras chegaram até os confins do mundo[267]”.
Quanto à
ressurreição, o mundo presente é um espaço em que o trigo está misturado com o
joio[268]. Na
ressurreição, ensina-nos o Evangelho, nós nos levantaremos misturados, conforme
a palavra: “E ele separará uns dos outros, como o pastor separa os cordeiros
dos bodes[269]”,
etc. Quanto às duas mulheres e aos dois homens de que se fala no fim do mundo, isto
foi dito a respeito da lei e da infidelidade, pois ao final somente uma será
tomada e será somente nesta que o homem permanecerá firme[270].
Enfim, quanto ao
trabalho dos irmãos, de parte e de outra foi tudo bem feito. De seu lado, o
irmão doente desejava trabalhar, mas sua doença o impediu; por sua vez, os dois
outros consideraram que foi graças às preces do irmão doente que eles foram
fortificados pelo Senhor e receberam a graça do Espírito Santo. Portanto, assim
como disse o Senhor aos seus apóstolos: “Não se regozijem porque os demônios
lhes são submetidos, mas regozijem-se por estarem seus nomes inscritos nos céus[271]”, não
queiramos saber se todos ressuscitarão, mas queiramos apenas ouvir: “Venham,
benditos de meu Pai, recebam como herança o reino que lhes foi preparado desde
a fundação do mundo[272]”, e
desejemos estar juntos com Jesus “no Pai”, como ele disse[273]. A ele
a glória por todos os séculos. Amém.
61
Pedido do
mesmo ao mesmo Ancião, sob forma de oração: Senhor Jesus Cristo, médico das
almas feridas, nós lhe oferecemos preces formadas por suas santas palavras.
Receba-as por seu servidor. Pois você próprio disse, ó Santo: “Não são as
pessoas saudáveis que precisam de médico, mas os enfermos[274]”.
Seu servidor Paulo também menciona o seguinte: “Que o vacilante não se desvie,
mas antes que ele se cure[275]”.
Você disse, ó Santo, em uma de suas respostas: “Se você se porta bem, porque
vacila? Quem se porta bem não vacila e caminha direito. Mas eu sou vacilante e
estou ferido, e é por isso que lhe imploro a fim de que você olhe como olhou
aquele que, vindo a Jericó, caiu em meio dos ladrões[276].”
De fato, também eu caí no meio dos mesmos ladrões e fui ferido. Consinta pensar
minhas feridas e coloque-me sobre sua santa montaria, ou seja, a boa fé, para
me introduzir na santa hospedagem e me curar como você curou todos os que se
achavam esgotados de fadiga. Mestre, a hemorrágica chegou a você por trás e foi
curada tocando as suas vestes[277].
Mas eu, a cada dia recebo de seus santos membros o remédio, aquele do Corpo
sagrado e do Sangue, da água que saiu do seu santo flanco[278],
e entretanto meu mal prolifera ainda. E como você disse, ó Santo, que aquele
que vai ao médico e quer ser curado “deve fazer tudo o que prescreve o médico”,
envie-me, ó Mestre, tudo o que quiser em matéria de medicamentos, de
cauterizações e cataplasmas, desde que estanque meu fluxo nauseabundo, ou seja,
o pensamento impuro. E você também disse, Senhor, que a porta estaria aberta,
mas que os cães montam guarda de todos os lados e não deixam ninguém se aproximar.
Assim, quando ele vê de longe o mendigo chegar e ser molestado pelos seus, o
bom mestre envia o porteiro para afastar os cachorros e permitir que o mendigo
se aproxime para receber a esmola de sua bondade.
Pai, o que significa o que você nos escreveu:
“Quem tiver vivido uma semana de anos[279]
verá coisas que não aconteceram desde a criação do mundo”? E que faremos nós,
os mais novos? Como poderemos ser salvos? Reze ao Senhor para que nos mostre
quais são as santas montanhas para onde ele ordenou fugirmos para sermos salvos[280]!
Serão elas espirituais ou serão montanhas visíveis? Que nós possamos sabe-lo,
também nós, a fim de que, chegada a hora, possamos fugir para lá e sermos
salvos, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, por todos os séculos.
Amém.
Resposta de
Barsanulfo:
Irmão, reflitamos
naquilo que dizemos, e veremos que somos confundidos por nossas próprias
palavras. De fato, qualquer um que vá ao médico e não se conforme exatamente
com as suas ordens, não pode livrar-se de seu mal. E quando você fala em
receber outros medicamentos e outros remédios, fico surpreso que seu amor não
perceba a sabedoria universal de nosso grande médico, como ele cortou o
pretexto de todo homem que procura uma desculpa. Tendo, com efeito, aberto
todos os seus livros de medicina a todo homem que quiser lê-los para sua
salvação, eles os mostrou irrecusáveis. Pois se as próprias mulheres cantam os
versos: “Eu sou um verme e não um homem, o opróbrio dos homens e o rebotalho
dos povos[281]”,
quê não deveriam fazer os homens? E eu não falo assim por desprezo às mulheres.
Apraza a Deus! Não é isto que nos é pedido, mesmo porque, desde a origem,
embora elas tenham sido causa de transgressão, Deus não as descartou da
doutrina divina. Se portanto este remédio nos agrada, porque o rejeitamos,
mesmo que, presas da ilusão, pensamos não o rejeitar e o guardamos? Assim, é
por fingimento que falamos, e não segundo a realidade. Pois é certo que, se
examinarmos nosso homem interior, descobriremos realmente que não suportamos
nem vergonha, nem injúria, nem desprezo, nem opróbrio. E você pode se dar conta
disto a partir do pensamento que você teve hoje na seqüência da prova a que eu
o submeti outro dia – de fato, logo você lamentou de não ter percebido – e foi
para experimentar seu amor que eu fiz aquilo, e encontrei ainda o velho homem
habitando em seu interior. Mas creio que seu amor extraiu disto um proveito que
não foi pequeno. Nosso Senhor é perfeito, e ele quer que todos os seus sejam
perfeitos. Pois ele disse: “Sejam vocês perfeitos como seu Pai celeste é
perfeito[282]”.
Quem suportar suas cauterizações será salvo; pois aquele que tem nas narinas
seu próprio fedor, não sente outro cheiro, mesmo que esteja sobre um amontoado
de cadáveres. E aquele que foi despojado pelos ladrões, nada mais tem para dar
aos outros. Veja então, bem-amado, que irresponsabilidade nos domina, a nós que
não queremos nos desembaraçar completamente dos cuidados por nós mesmos tal
como somos, terra e poeira. Assim envelheceremos nutrindo em nós a vanglória.
Imaginar, de fato, que nossa obra agrada a Deus, que nossa vida na cela edifica
o mundo todo, e que somos livres para julgar e condenar, é o cúmulo da
vanglória e nada além disto. Se então nosso grande e celeste médico nos deu
remédios e cataplasmas, aonde encontraremos a causa de nossa perda, senão na
enfermidade de nossa vontade? Acima de tudo ele nos deu a humildade que expulsa
todo orgulho e “toda altura que se levanta contra o conhecimento da glória do
Filho de Deus[283]”,
obediência que extingue todas “as flechas incendiárias do inimigo[284]”, o
afastamento da vontade própria em tudo diante do próximo; e isto engendra a
impassibilidade do coração, um estado mais radioso e mais feliz do rosto, e o
domínio do olhar. Ele nos deu também o grande cataplasma que envolve todos os
membros, “curando toda enfermidade e todo langor[285]”, o
amor, aquele que é conforme a ele. Pois ele próprio se fez nosso modelo. De
fato, ele disse: “Ele se humilhou, fazendo-se obediente até a morte[286]”. E ao
dar sua vida por nós, ele nos ensinou esta lição: “Amem uns aos outros como eu
os amei[287]”,
e: “Desta forma reconhecerão que vocês são meus discípulos, se se amarem uns
aos outros[288]”.
Se você não quiser vacilar, tome o bastão da cruz, fixe nele as suas mãos,
morra e você não vacilará mais. Pois quem está morto não vacila mais. E, se
você tiver este bastão, você não precisará mais do porteiro. Com este bastão,
com efeito, você não perseguirá apenas os pequenos cães, mas também o rei das
feras, o leão que ruge[289]. Jacó
dizia: “Graças ao meu bastão, eu atravessei o rio[290]”; e
também: “Apoiado em sua extremidade, ele se prosternou[291]”. Foi
também com seu bastão que Moisés fez prodígios[292].
Aquele que estiver agarrado a este bastão será completamente libertado de seu
fluxo. Pois aquele que está morto, está morto para o pecado. E o que tem ele a
esperar, senão a ressurreição ao terceiro dia? Pois ao crucificado basta
ressuscitar com Jesus.
O que eu disse da
semana, significa que haverá atribulações e reviravoltas. Quanto às montanhas
de que você fala, entendamos que se trata da santa Maria, a Mãe de Deus, dos
outros santos e daqueles que se encontrarem naqueles tempos tendo o selo do
Filho de Deus. Por meio deles, com efeito, ele mesmo salvará a muitos, pois
dele é a glória por todos os séculos. Amém.
62
Pedido do
mesmo ao mesmo Ancião: Trindade inseparável, não se separe de nós. “Da boca dos
pequeninos e daqueles que mamam você preparou para si um louvor[293]”.
Pai, você é verdadeiramente um bom discípulo do verdadeiro médico, pois você
nos deu remédios e antídotos. A primeira cauterização aguilhou meu coração, e
eu não pude suportar as dores. Com efeito, você nos escreveu para que
cantássemos: “Eu sou um verme e não um homem[294]”.
E na verdade eu canto, eu adoro, eu glorifico e exalto por toda a eternidade.
Mas eu não ouso dizer que sou um verme e não um homem[295]:
pois eu sou um homem roído pelo verme da corrupção. Mas qual é o significado
daquele verme, o que é incorruptível[296]?
Este verme veio a mim para me livrar do verme corruptível, daquele que corrompe
o gênero humano. E como este verme de corrupção, corrompido e corruptor,
penetrou nas feridas e gerou nelas a putrefação e o mau cheiro, o verme
incorruptível veio, aquele de quem foi dito: “Eu sou um verme e não um homem[297]”.
E da mesma forma como o verme corrompido penetrou nas feridas, também o verme
incorruptível penetrou “nas profundezas da terra[298]”
e de lá se pôs a destruir toda a impureza do antigo verme. E tendo assim
purificado todos os homens, ele subiu e tornou-se ele próprio incorruptível.
Foi este verme que livrou Jó do verme corrupto e lhe disse: “Levante-se, cinja
seus rins como um homem[299]”.
Foi também este verme que atirou o anzol no dragão[300],
quando estava suspenso à cruz. A este verme “tudo foi submetido, à exclusão
daquele que lhe submeteu todas as coisas. Pois ele colocou tudo sob seus pés[301]”.
O verme corrupto corrompeu tudo, e não há na terra absolutamente nada, nem
madeira, nem alimento, nem terra, nem carne, que ele não consuma, fora o sal e
o azeite. Mas o que significam o sal e o azeite, senão que o Pai a ele tudo
submeteu, ele que ungiu sua criação com sua misericórdia, que deu aos apóstolos
o sal para salgar o mundo contra o fetiche dos ídolos, a fim de que este
alcance a suavidade de nosso verdadeiro Deus? Que assim seja! Por outro lado,
qual é o significado da mostarda com a qual o reino dos céus foi comparado[302]?
Não à palmeira, à oliveira ou alguma outra grande árvore, mas a este vil
arbusto? Pois ele é acre e aperta nossos corações. Assim, Pai, reze ao Senhor
para que nos mostre este mistério do verme e da mostarda, a fim de que, também
nós glorifiquemos o Pai, o Filho e o Espírito Santo por todos os séculos. Amém.
Pai, como você me lembrou coisas antigas,
(saiba que) também eu não as esqueci, mas me lembro sempre do que não fez o
Inimigo, quando, transportado de furor, ele viu os frutos produzidos neste
lugar. Sua paciência e a bondade de Deus para com o homem não deixaram que se
cumprisse sua vontade criminosa, e até hoje não cessamos de louvar a Deus. E
como você disse que logo eu lamentaria, queira o céu que seja logo, a fim de
que eu não fique sem me arrepender! E como você me disse também que aquele que
caiu em meio aos ladrões nada terá para dar aos outros, tendo sido despojado,
por causa disto eu lhe suplico, faminto que estou, que me atire suas migalhas,
você que as possui, a fim de que também eu receba alimento como um cão sob a
mesa[303].
Enfim, como você me disse que o orgulho e a pretensão haviam envelhecido
comigo, reze por mim, a fim de que eles me deixem, em nome do Senhor. Amém.
Resposta de
Barsanulfo:
Davi proclamou:
“Minhas cicatrizes estão infectas e corrompidas”. Como? “Por causa de minha
loucura[304]”.
A loucura é assim um amontoado de todos os males. A loucura, com efeito,
engendra a desobediência, e a desobediência a ferida. E depois da ferida, a
mesma loucura engendra a negligência, e a negligência produz a putrefação e o
mau cheiro[305],
e a infeliz carne, invadida por esses vermes, se corrompe. Assim corrompida,
ela foi atirada ao mar, tornou-se alimento do grande peixe e permaneceu em suas
entranhas até a chegada do verme celeste que, preso ao anzol da cruz, deixou-se
descer até as entranhas do grande peixe e fez subir à sua boca o alimento que
ele havia absorvido com as vísceras[306]. E
tendo tomado a carne, ele a untou de azeite, purificou-a[307] na
água e a cozinhou no fogo. Com efeito, foi dito: “Ele os batizará no Espírito
Santo e no fogo[308]”. E
ele a alimentou com pão, regou-a com vinho, temperou-a com sal e a libertou da
corrupção. Por cima ela aplicou a mostarda que expulsa toda corrupção, aperta
as narinas do dragão a fim de que ele não possa sequer senti-la, e perturbou
sua visão para que ele não percebesse a perfeição de sua humildade.
Sabendo disso, não
desdenhemos sua advertência, para que não se cumpra em nós a palavra: “Se o sal
perde o sabor, com que se poderá salgar?[309]” E
qual é o defeito das pessoas que perdem o sabor, senão este: “O insensato diz
em seu coração: não existe um Deus[310]”? Se
então você não esquece as coisas antigas e se você conhece as novas, escute a
palavra: “Quem conhece a vontade de seu senhor e não a cumpre, receberá um
grande número de golpes[311]”.
Assim, se nós dizemos: “Nós a conhecemos” e não nos preocupamos, não estará
longe de nós a maldição dirigida àqueles que pecam em conhecimento de causa. Se
ao contrário nos consideramos como terra e cinzas qual Abraão e Jó[312],
jamais seremos despojados e teremos sempre algo que dar aos outros, não em ouro
e prata[313],
mas em exemplo de humildade, de perseverança e de amor a Deus. A ele a glória
por todos os séculos. Amém.
63
O mesmo, não
tomando mais o pão, interrogou o mesmo Grande Ancião sobre o regime alimentar.
Resposta:
Irmão, alegre-se no
Senhor! Ore a Deus para me dar a constância perfeita. Pois eu começo uma coisa
e não vou até o fim, mas logo enjôo da empreitada. Tenho o desejo de começar e
ir até o final, sabendo do que diz o Apóstolo a respeito do começo e do fim,
“que aquele que começou em nós uma bela obra prosseguirá por si só o
cumprimento até o Dia de nosso Senhor Jesus Cristo[314]. E
embora eu, miserável, não faça nada que agrade a Deus, entretanto, sob seu
comando, lhe darei um conselho como a um irmão. Tome se possível quatro
pãezinhos por semana, e, no domingo, por causa da fraqueza do corpo, um purê ou
uma sopa, e, na minha opinião, você ficará bem. Talvez seja loucura minha falar
assim. Pois quem não é capaz de dirigir a si mesmo, como poderá dirigir os
outros? Perdoe-me, irmão, sou eu quem
deveria lhe pedir uma direção, mas ainda sou levado pelo orgulho, que é a raiz
de todos os males. Reze, irmão, para que nós sigamos o trajeto que se estende
diante de nós. Pois ele está cheio de peripécias e de arrecifes, e eu, como um
tolo, rio e vivo despreocupado. Mas eu não abandono a esperança, tendo um
Mestre misericordioso e compassivo. Dê-me a mão, por caridade, leve-me a ele, e
por você ele salvará este miserável que sou eu. A ele a glória por todos os
séculos. Amém.
64
O mesmo, não
tendo observado o regime alimentar que lhe indicara o Ancião, interroga-o
novamente sobre o mesmo assunto. Este lhe responde:
Irmão, como você me
considera submisso à sua caridade, talvez por isso não dê grande importância às
minhas palavras. E isto não por você, pois toda a responsabilidade é minha,
porque minhas palavras são estéreis. Elas não provêm do suor da prática, e por
isso não têm eficácia. Quem interroga e não obedece, irrita a Deus. Porque o
interrogar provoca também a inveja dos inimigos. Até este dia nós
desconhecíamos as artimanhas dos demônios, apesar de o Apóstolo não cessar de
proclamar que “nós não ignoramos seus desígnios[315]”.
Tenha como certo, meu irmão, que se eu não o considerasse como um comigo pelo
amor de Cristo, eu não lhe daria resposta. Pois, como eu lhe disse, isto está
além de mim. Mas como Deus me ligou estreitamente ao seu amor, novamente eu
falo como um insensato, tome seus quatro pãezinhos por semana, como lhe disse,
com um purê ou uma sopa no domingo por causa da fraqueza. E que seu coração não
pense que eu lhe estabeleci um preceito, porque não é um preceito, mas um
conselho de irmão. O jogo começou, corramos para ganhar o prêmio[316]. Com
efeito, somos homens corrompíveis que estão por pouco tempo sobre a terra.
Possamos obter a misericórdia na hora terrível e temível, em Jesus Cristo nosso
Senhor. Amém.
65
Resposta do
mesmo Grande Ancião ao mesmo, em que aparece o sentido da pergunta:
Irmão, que posso
responder a isto, eu que não fiz absolutamente nada? Mesmo que você diga que eu
fiz e faço, de nada me recordo, senão que irrito a Deus a todo instante com
minhas obras. Das obras, portanto, eu nada espero, mas é graças à sua bondade
para com o homem que eu espero ser salvo, pois ele morreu para salvar os
pecadores[317].
Assim, eu permaneço sentado, colocando minha confiança em seu nome, até que ele
próprio venha e me diga: “Que quer você
que eu faça?[318]”,
para que eu também posa dizer com o cego: “Senhor, que eu veja![319]” Com
efeito, mesmo que eu tivesse obras, temendo a condenação do Fariseu[320], eu
não ousaria falar delas. Entretanto eu lhe digo, a você, irmão, toda minha vida
e minha esperança estão postos nele, e noite e dia eu rezo para ser purificado
das paixões visíveis e daquelas que estão ocultas. Pudesse eu falar de boas
obras, sabendo que “toda boca será fechada[321]” etc.,
e também “Que aquele que se glorifica, glorifique-se no Senhor![322]”
Bem-aventurado aquele que, purificado da cólera e das outras paixões, observa
todos os mandamentos[323] e diz:
“Eu sou um servidor inútil[324]”. Pois
se fazemos uma única boa obra e se com outra a perdemos, que proveito temos em
construir e destruir a cada dia? Quem quer que despreze tanto a glória como a
ignomínia será salvo, em Jesus Cristo nosso Senhor. A ele a glória. Amém.
Recomende-me ao
Senhor e leve confiante sua vida solitária orando pelo pobre miserável que sou
eu.
66
Pedido do
mesmo ao mesmo Grande Ancião: Pai, ore por mim, pois eu sofro. Antes de
consultá-lo, tudo o que eu achava bom fazer, eu fazia de minha própria cabeça e
sem dificuldade. Mas desde que você me deu suas palavras, eu sofro até ficar
doente. Precedentemente eu lhe escrevi a este respeito, e você me tratou como
orgulhoso e falou-me do Fariseu. Mas eu, Pai, não falava por orgulho, mas por
necessidade. Eu lhe peço que reze para que o Senhor lhe revele o que há comigo.
Resposta de
Barsanulfo:
Irmão, a divina
Escritura diz: “Faça tudo com aconselhamento[325]”, e
“Não faça nada sem aconselhamento[326]”.
Quando você agia não com aconselhamento mas segundo sua própria vontade, seu
espírito não sofria. Com efeito, não existe pessoa que não necessite de
conselho, a não ser Deus que criou a sabedoria[327]. Ora,
quando conforme a Deus você tentou afastar sua vontade própria, ter humildade e
me tomar como conselheiro, a mim, irmão, o último de todos, você excitou a
inveja do demônio, o inimigo do bem, que sempre tem inveja de nós. Vê você a
astúcia diabólica? Por mim mesmo eu nunca prescrevi nada a você, mas você me
interrogou e eu lhe dei conselhos como a um irmão. Depois de havê-los recebido,
você os deixou de lado considerando-os como acessórios. E eu lhe falei do
Fariseu, pois este se vangloriava dizendo o que dizia, e você procurou uma
garantia de verdade, que não é outra coisa que o orgulho. Esteja atento e
observe com cuidado de quem modo, quando você começa uma coisa, logo aparece um
pretexto para que a abandone; você recomeça, e logo a abandona de novo. Você
não se recorda que “aquele que perseverar até o final este será salvo[328]” e que
“aquele que começou em você uma bela obra prosseguirá por si só com seu
cumprimento até o dia de nosso Senhor Jesus Cristo[329]”? Se
para você é um repouso agir por sua
conta como o fazia, eu não me afligirei absolutamente, pois eu não desejo de
modo algum ser abade ou mestre de quem quer que seja. Com efeito, eu tenho para
me confundir as palavras do Apóstolo: “Você que ensina aos outros, não ensina a
si mesmo![330]”
Irmão, cabe aos que estão salvos “consumir sua alma como a aranha[331]”. È
preciso, portanto, muita perseverança até que entremos no “reino de Deus
através de muitas atribulações[332]”, em
Jesus Cristo nosso Senhor. Amém. Perdoe-me, irmão, e reze por mim.
67
Pedido do
mesmo ao mesmo Grande Ancião: você que buscou a ovelha perdida[333]
de Jesus,ensine-me a buscar o Pastor. Pai, quero ainda lhe fazer uma pergunta.
Está escrito: “Busquem ao Senhor e sejam fortalecidos; procurem sua face a todo
momento[334]”.
Mas como pode um pecador buscar o Senhor a todo momento? Explique-nos estas
palavras por aquele que lhe deu a sabedoria, a fim de que nós busquemos a todo
momento a face do Senhor. A ele a glória por todos os séculos. Amém.
Resposta de
Barsanulfo:
Irmão Euthymo, peço à
sua caridade que colabore comigo para implorar a Deus que ama os homens. Com
efeito, foi seu amor que me pediu para lhe escrever sobre como encontrar o
Pastor. Mas desde o primeiro dia até hoje eu suplico a Deus por aquilo que você
me pede, e ele me disse: “Purifique seu
coração dos pensamentos do homem velho, e eu lhe concederei o que você me pede.
Pois meus dons só têm lugar nos puros e é a eles que eles são concedidos.
Enquanto seu coração for sacudido pela cólera, o rancor e as outras paixões
semelhantes do velho homem, a sabedoria não penetrará nele. Se você quer meus
favores, ponha para fora de si os móveis do estrangeiro, e os meus chegarão por
si mesmos a você. Não sabe você que “o escravo não pode servir a dois mestres”?
Se é a mim que ele serve, não será ao diabo e, se for ao diabo, não será a mim.
Assim, se alguém quiser se tornar digno de meus favores, que caminhe sobre
minhas pegadas considerando que eu suportei todas as aflições como um cordeiro
inocente, sem nenhuma resistência. Eu lhe disse para ter a simplicidade das pombas,
e ao invés disto você teve a selvageria das paixões. Cuidado para que eu não
lhe diga: “Caminhe na luz do seu próprio fogo”.
Ao ouvir essas
palavras, eu caí em profunda tristeza e gemidos, até que sua bondade foi movida
pela compaixão por mim e me libertou das terríveis paixões do velho homem, a
fim de que eu marchasse sobre as pegadas do homem novo e recebesse com grande
paciência tudo o que me acontecesse. Com efeito, você sabe o que a perseverança
opera, como Apóstolo mencionou. Reze
então, irmão, a fim de que ela me venha, e por caridade repreenda-me, se algo
me escapar daquilo que eu devo corrigir. Pois eu sou insensato, mas amo àqueles
que me ensinam e me repreendem, sabendo que seu ensinamento será para a
salvação de minha alma. Reze ainda para que eu evite cair na mania da
justificação, pelo fato de ser sido provado em tudo. E, sobretudo, perdoe-me
por colocá-lo sempre em aflição. Mas tudo isso receberá abundante retribuição,
em Jesus Cristo nosso Senhor. Amém.
68
Pedido do
mesmo ao mesmo Grande Ancião: Pai, os sofrimentos que lhe causo, coloque-os na
minha conta. Isto fazem os sábios para suportar o fardo do próximo. Quando lhe
perguntei pedindo uma resposta, o fiz não apenas por mim mas por muitos, tendo
em vista o benefício de nossas almas, sobretudo porque você, Pai, em sua grande
misericórdia, nos estimula a indagar sobre o caminho da vida. Mas eu lhe peço,
uma vez que o Senhor o enviou a mim como um porto e um refúgio, tenha piedade e
peça ao Mestre que tenha piedade de mim e me dê qualquer luz, por pequena que
seja, pois eu não sei como caio. Esclareça-me como você me esclareceu da
primeira vez, a fim de que eu faça a penitência. Depois mostre-me a via e o
modo como devo caminhar, porque você tomou minha alma a seu encargo.
Resposta de Barsanulfo:
Irmão, eu falo a você
como à minha alma, pois o Senhor ligou sua alma à minha ao dizer: “Não se
afaste dele”. Mas não seria eu que deveria ensiná-lo, mas antes eu teria que
aprender com você. De fato, eu temo as palavras: “Você que ensina os outros,
mas não ensina a si mesmo”. E embora tenha sido dito que o menor sinal basta
para um sábio, para você ainda não foi o bastante, e você quer entender
claramente as coisas. Se um insensato se engana nas palavras, todo mundo o
perdoa, pois ele é insensato e não sabe o que diz. Mas se um sábio se engana, é
imperdoável, pois ele é um sábio e se engana com conhecimento de causa. Da
mesma forma, se um irmão do exterior se engana nas palavras, é desculpável,
porque ele está com todos; mas nós que somo reclusos e solitários e tidos como
bons aos olhos dos homens, que desculpa podemos ter? E como você quer conhecer
claramente as coisas, eu digo: Mantenha-se no interior como se estivesse morto
para o mundo. Como é possível que, quando você vai conversar com os outros por
amor e com alegria, você retorne à irritação e ao rancor, acusando o próximo e
não a si mesmo? Não é você que diz: “Eu sou indigno”, embora estime a si
próprio? Porque, quando se apresenta a ocasião, você declara: “Diga que fui eu
que o disse, e eles escutarão de boa vontade”. Por quem você se toma para que
eles acolham suas palavras? Por Elias o
Profeta? Acuse a si mesmo. E tudo o que lhe acontecer, saiba que não acontece
sem a vontade de Deus, seja o repouso pela ação de graças ou a aflição na perseverança.
Onde está a palavra da Escritura: “Suportem até mesmo aquele que lhes bate no
rosto”, etc.? Por causa disso nós estamos longe de Deus. Assim, se você quiser
conhecer o caminho, eis no que ele consiste: considere o que bate como quem
acaricia, o que despreza como quem glorifica, o que ofende como quem honra, o
que aflige como quem sustenta. E se, por esquecimento ou por um propósito
deliberado, não lhe trouxerem sua ração habitual, não se aflija, mas diga: “Se
fosse da vontade de Deus, eles viriam”; e quando eles chegarem, receba-os com
um rosto alegre, feliz porque o Senhor teve misericórdia de você, indigno, como
Daniel que, quando visitado pelo Senhor, disse apenas: “O Senhor se lembrou de
mim!”, considerando-se indigno. Além disso desista desta mania de se
justificar, que o faz repetir, cada vez que você diz uma palavra: “Falei bem”,
e a cada pensamento: “Pensei bem”. “Bem”, “bem”: mas aonde está o “Bem”? Porque
não prestamos atenção em não afligirmos ninguém nem por palavras nem por ações,
a fim de que Deus esteja conosco em tudo? Você se aplicou em mostrar claramente
aos irmãos o pensamento que você tinha de cumprir sua vontade, dizendo: “Se o
trabalho não for feito hoje...!” E você feriu o espírito dos mais jovens que
disseram: “Porque o Ancião não tem paciência para esperar dois dias?” Diga-me,
em verdade, o trabalho foi feito? Você subiu aos céus? Você foi simplesmente
trespassado pelo diabo. Daqui em diante, irmão, deixemos os mortos enterrarem
seus mortos e anunciemos o reino de Deus, em Jesus Cristo nosso Senhor. Amém.
69
Pedido do
mesmo ao mesmo Grande Ancião sob forma de oração: Vida dos desesperados, não me
despreze, porque estou em desespero. “A manifestação de suas palavras iluminará
e instruirá as crianças”. Você me aconselhou, ó Santo, a me purificar e
expulsar de mim o homem velho. Mas pode o pântano purificar a si mesmo? Pode a
casa enfeitar-se sozinha, se quem a construiu não a ornou? Ou ainda, pode o
vaso de argila fabricado pelo oleiro cozer a si próprio, se o que o fez não o
puser no fogo para ver se ele é utilizável? Também você, ó Santo, se quiser
salvar a sua obra, envie seu fogo divino para cozer o vaso de argila que você
fabricou, a fim de que ele receba o óleo que vem de você e não vaze. Pois sua é
a glória e a misericórdia por todos os séculos. Amém.
Resposta de
Barsanulfo:
Irmão, não me obrigue
a falar, a mim que quero abraçar a quietude e o silêncio. Mantenha seu coração
firmemente agarrado ao Senhor e fortaleça-o para que ele não se agite. Pois
aquele que, na origem, levou a inveja a Adão e o expulsou do Paraíso, inveja
também nossa concórdia em Cristo. Mas que aquele que disse: “Eu vi Satanás cair
do céu como um raio” o torne inofensivo para nós e rompa suas redes. Quanto a
você, não se deixe enganar por ele no que quer que seja nem mover-se do seu
posto. Com efeito, foi assim que ele enganou a Malchus. Pois ele está
terrivelmente irritado contra nós, mas se nos humilharmos, o Senhor o tornará
inofensivo. Assim, aceitemos a todo o momento a vergonha sobre nós, pois aí
está a vitória.
Quanto à idéia que
lhe ocorreu de partir para o deserto, os Padres disseram: “Existem três coisas
capitais, e quem as guardar poderá residir, seja no meio dos homens, seja nos
desertos, ou não importa aonde: envergonhar-se, lançar fora a própria vontade e
considerar-se inferior a todas as criaturas”. Saiba seu amor também que todos
os esforços do diabo tendem a nos separar uns dos outros, pois ele bem sabe o
que se dá em nós pelas palavras: “O irmão ajudado por seu irmão é como uma cidadela
forte, cercada de muralhas”. Que o Senhor não lhe conceda levarmos a cabo nossa
própria vontade, mas que, segundo as palavras do Apóstolo, “ele a apague
depressa sob nossos pés”. Você não duvide, pois tenho a esperança de que
sejamos depositados na mesma tumba, como já lhe disse, juntos, e Deus nos uniu
para isto, a fim de que nos ajudemos mutuamente. E essas tentações serão exemplo que servirão
a muitos e os fortalecerão. Assim, leve sua vida solitária, irmão, e ore para
que atravessemos esta passagem de modo a não perdermos nossos dias em vão. Pois
aproxima-se o tempo e o Inimigo se agita. Deus não tornou inútil seu trabalho,
longe disto! Mas ele mesmo, que quer “que todos os homens sejam salvos e
alcancem o conhecimento da verdade”, quer também que você chegue à perfeição.
Pois ele disse aos Apóstolos: “Digam então: nós somos servidores inúteis”. E
assim nós teremos domínio sobre nós e o Senhor nos fará misericórdia por causa
de seu nome que é invocado por nós. A ele a glória nos séculos. Amém.
70
O diabo,
invejoso, semeou no espírito do Ancião que interrogava a desconfiança em
relação ao mesmo Grande Ancião por causa da utilidade de suas respostas. Este,
conhecendo seus pensamentos no seu coração, escreveu-lhe o que segue:
Em primeiro lugar e antes
de tudo eu glorifico a santa e consubstancial Trindade e digo: “Glória ao Pai,
ao Filho e ao Espírito Santo, agora e para sempre, por todos os séculos. Amém”.
Não é fora de propósito que eu começo expressando esta Doxologia, mas para
mostrar ao demônio, inimigo do bem, que, nos fantasmas produzidos por ele, nada
aparece de tal Doxologia, mas apenas confusão, tristeza e ansiedade. Agora,
irmão, dediquemo-nos à ação de graças para com Deus por nos libertar da grande
tentação que nos tomou em nossa grande estupidez. Pois sua bondade não nos
deixou perecer, e serão sempre verdadeiras as palavras: “Em verdade eu lhes
digo, diz o Senhor, que eu não quero a morte do pecador, mas a sua conversão e
que ele viva”. Portanto, demos graças sem cessar àquele que nos salvou e nos
salva sempre. A ele dão graças os anjos, as potências supraterrestres e os
exércitos supracelestes, os querubins e os serafins, clamando e proclamando sem
cessar e sem nunca acabar com suas vozes magníficas: “Santo, santo, santo, o
Senhor dos exércitos”, etc. Com este pensamento, demos-lhe graças, também nós,
a ele que “tem o céu como trono e a terra sob seus pés”, a ele “que tem todas
as criaturas a seu serviço”.
E, a exemplo daquilo
que nos mostra também a Escritura, comecemos, também nós, e demos graças ao Pai
por ter piedade do mundo e não ter deixado de enviar seu Filho único como
Salvador e Redentor de nossas almas. Demos graças ao Filho que “se humilhou,
fazendo-se obediente até a morte, e morte na cruz”, por nós os homens. Demos
graças ao Espírito Santo vivificador, que falou pela Lei, pelos Profetas e os
Doutores, que tornou Pedro penitente, ordenou-lhe que fosse ver a Cornelius,
glorificou-o e lhe deu o poder de ressuscitar os mortos como Tabitha, que
sempre prevê e rompe as redes do Inimigo para aqueles que o invocam, segundo a
profecia de Davi: “A rede foi rompida, e fomos libertados; nosso socorro está
no nome do Senhor que fez o céu e a terra”. Assim ele teve piedade de nós e nos
curou de tão grande enfermidade. Ouçamo-lo dizer-nos: “Você está curado; daqui
para frente não peque mais, para não sofrer ainda mais”. Em tudo nos dediquemos
à humildade; pois o humilde está por terra, e quem está por terra, onde pode
cair? É evidente que quem está nas alturas cai facilmente. Assim, se nos convertermos
e nos reformarmos, isto não virá de nós, mas será dom de Deus. Com efeito, foi
dito: “O Senhor endireita os alquebrados e instrui os cegos”, etc.
Quanto a me escrever:
“Quem nos separará do amor de Cristo?”, estas palavras demonstram um alto grau
de perfeição. Faltou pouco para que rompêssemos os aços do amor para morrermos
abandonando o barco de Cristo. Mas não é preciso que eu rompa o selo e lhe diga
bobagens, basta isto. Pois alguém me detém, dizendo-me: “Aonde existem sábios,
não banque o sábio”. Assim, vou terminar este discurso. Eu lhe escrevi como um
verdadeiro amigo. Se você fizer isso, você alcançará o caminho, aquele que
conduz à vida eterna, o que está em Jesus Cristo nosso Senhor, a quem, junto
com o Pai e o Espírito Santo, sejam dadas a glória, a honra e a soberania por
todos os séculos. Ore por mim, irmão.
71
Tendo recebido
esta resposta, o Ancião caiu em profunda tristeza e lágrimas durante muitos
dias. Para consolá-lo, o Grande Ancião escreveu-lhe o seguinte:
Irmão, deixemos para
trás tudo o que passou, conforme as palavras do Apóstolo: “As coisas antigas
passaram, eis que tudo é novo”. Vamos nos atrelar em um só coração ao jugo de
Cristo e nos fortalecer no amor de Cristo. Pois foi dito: “Deus é amor”. Se
alguém diz que tem amor, que não tenha portanto absolutamente nada odioso a
Cristo. Assim apressemo-nos em purificar nosso coração das paixões do homem
velho que desgosta a Deus, pois “somos seus templos”, e num templo sujo de
paixões o divino não virá habitar. Entremos e exerçamos nossa humilde solidão,
pois ela é suficiente. E oremos para que nossa vida solitária seja segundo sua
vontade, glorificando a Trindade santa e imaculada. Entre, portanto, e
recomende-me também a Deus, e não se atormente mais interrogando-me ou me escrevendo,
pois de agora em diante eu já não tenho tempo disponível. Estou lhe enviando o
escapulário que você me pediu . Sabendo que não passo de “terra e cinzas”, não
o envio como se eu fosse digno dele, pois sou impuro e devedor em tudo, mas é
para não violar o preceito: “Dê a quem lhe pede”. E é pelo amor de Cristo que
eu o envio. Receba-o então, e ore por mim. Reze “para que nosso trabalho não
seja em vão”, mas em Jesus Cristo nosso Senhor. A ele a glória por todos os
séculos dos séculos. Amém.
[1]
“Participe dos sofrimentos como bom soldado de Jesus Cristo. Ao se alistar no
exército, ninguém se deixará envolver pelas questões da vida civil, se quiser
satisfazer a quem o alistou no regimento. Do mesmo modo, um atleta não receberá
a coroa se não tiver lutado conforme as regras. O agricultor que trabalha deve
ser o primeiro a participar dos frutos. Procure compreender o que estou
tentando dizer, e o Senhor certamente lhe dará inteligência em todas as
coisas.” (2 Timóteo, II, 3-7)
[2] Filipenses,
I, 6
[3] Lucas,
XIV, 26.
[4] Salmo
CXXXII, 1.
[5] Atos,
IV, 34-35.
[6] 1 Romanos
II, 1; Isaías L, 7.
[7] 1 Timóteo
V, 18.
[8] 2 Coríntios
VI, 4
[9] Hebreus
IV, 1.
[10] Atos
XIV, 22.
[11] 2 Coríntios
IV, 16.
[12] Salmo
XCV, 11.
[13] João o Profeta não quer faltar à regra da
reclusão para não perturbar nenhuma consciência.
[14] Isaías,
XXVI, 20.
[15] 2 Coríntios
VI, 17-18.
[16] Efésios
V, 15-16.
[17] Lucas
IX, 62.
[18] Lucas
IX, 60.
[19] 1 Coríntios
V, 3.
[20] Provérbios
XVIII, 19.
[21] “Estar fora” é entendido no início da carta
no sentido dos serviços que João de Beersheba prestava à sua comunidade saindo
do mosteiro. Trata-se também de uma atitude interior para viver como monge e
como eremita, separado de todos.
[22] A palavra hesíchia
tornou-se um termo técnico da vida monástica que exprime a realidade de uma
vida solitária e a quietude que recebe aquele que permanece em sua cela só e em
silêncio. O hesiquiasta não falava com ninguém, senão o absolutamente
necessário com o irmão que o serve. Em Gaza, nas cercanias do cenobium havia eremitas que viviam sós
cinco dias da semana, às vezes com um ou outro companheiro. Este estado de vida
podia desembocar na solidão completa, na reclusão, como praticada por
Barsanulfo, João e outros monges, que eram então chamados de egklestoi, os “encerrados” (carta 68,
l.25). Na Correspondência, a palavra
exprime o estado de quietude do coração (ex.: carta 119, l.13), o repouso
(carta 2, l.24; carta 48, l.48), a quietude perfeita, como aqui (Tb.: carta 22,
l.37; carta 185 ls. 4-7), a vida solitária e até mesmo a solidão completa
(carta 207, l.2; carta 208, l. 2).
[23] 1 Tiago
V, 8.
[24] 2 Coríntios
IV, 10.
[25] Mateus
X, 29-32.
[26] Salmo
XV, 8.
[27] Malaquias
II, 1; Mateus XI, 10.
[28] Deuteronômio
VIII, 2-3.
[29] Efésios
III, 13.
[30] Cf. João
XV, 13.
[31] 2 Timóteo
II, 1.
[32] Marcos
X, 30.
[33] 2 Timóteo
II, 7.
[34] Salmo
XXIV, 18.
[35] João
XX, 23.
[36] 1 Timóteo
VI, 11.
[37] Mateus
XXV, 21.
[38] Eclesiástico
I, 9.
[39] Salmo
LXXXVIII, 35.
[40] Provérbios
IV, 4.
[41] Deuteronômio
VI, 6-8.
[42] 2 Timóteo
IV, 2.
[43] Hebreus
XI, 25.
[44] Jude
9 (referência não encontrada)
[45] João
VI, 42; Mateus XIII, 55.
[46] Mateus
X, 22.
[47] Jeremias
VIII, 23.
[48] Cf. Hebreus
V, 12.
[49] Salmo
XVIII, 13.
[50] Cf.
Romanos XII, 21.
[51] Cf. 1 Coríntios
XV, 32.
[52] Mateus
VIII, 26.
[53] Mateus
XVI, 26.
[55] Jó
XL, 5.
[56] Mateus
XV, 16.
[57] Provérbios
IX, 8.
[58] Romanos
IX, 16.
[59] Jó
XXXIX, 38.
[60] 2 Timóteo
I, 3.
[61] Cf. Deuteronômio
IV, 24; Hebreus XII, 29.
[62] Salmo
VII, 9; XXV, 2.
[63] Mateus
XXIV, 12.
[64] Cf. Lucas
XIX, 5-6.
[65] Salmo
XXXIX, 2.
[66] Salmo
XXXIX, 3.
[67] Lucas
X, 19.
[68] João
XXXIV, 7.
[69] Cf.
Timóteo IV, 15.
[70] Cf.
Lucas X, 19.
[71] 1 Coríntios
XIII, 14.
[72] Cf. 1 Timóteo
III, 5.
[73] Cf. 1 Pedro
I, 7.
[74] Cf. Filipenses
II, 3.
[75] Salmo
LXXVI, 11 (referência não encontrada).
[76] Deuteronômio,
IV, 1.
[77] Mateus
XVI, 26.
[78] Mateus
VII, 15.
[79] Mateus
VII, 16.
[80] Hebreus IV, 13.
[81] Cf. Salmo I, 3.
[82] Salmo
XLI, 2.
[83] 1 Tessalonissenses
III, 5.
[84] Cf. Marcos IV, 8.
[85] Lucas XII, 49.
[86] Cf. Colossenses III, 5.
[87] Salmo
XCI, 13.
[88] Cf. Salmo
XXIV, 13.
[89] Cf. Mateus
V, 8.
[90] João
XVI, 33.
[91] Cf. Romanos VIII, 17.
[92] Romanos XI, 33.
[93] Cf.
2 Timóteo I, 3.
[94] 1
Coríntios II, 9.
[95] Mateus VII, 13-14.
[96] Mateus X, 22.
[97] 1 Timóteo I, 9.
[98] “Irmãos, pedimos que tenham consideração para
com aqueles que se afadigam em dirigi-los no Senhor e admoestá-los. Vocês devem
tratá-los com muito respeito e amor, por causa do trabalho que eles realizam.
Vivam em paz entre vocês. Por favor, irmãos: corrijam os que não fazem nada,
encorajem os tímidos, sustentem os fracos e sejam pacientes com todos. Cuidem
que ninguém retribua o mal com o mal, mas procurem sempre o bem uns dos outros
e de todos. Estejam sempre alegres, rezem sem cessar. Dêem graças em todas as
circunstâncias, porque esta é a vontade de Deus a respeito de vocês em Jesus
Cristo. Não extingam o Espírito, não desprezem as profecias; examinem tudo e fiquem
com o que é bom. Fiquem longe de toda espécie de mal. Que o próprio Deus da paz
conceda a vocês a plena santidade. Que o espírito, alma e corpo de vocês sejam
conservados de modo irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.
Quem chamou vocês é fiel e realizará tudo isso. Irmãos, rezem também por nós.
Saúdem todos os irmãos com o beijo santo. Peço-lhes encarecidamente que esta
carta seja lida a todos os irmãos. Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo
esteja com vocês.” (1 Tessalonicenses
V, 12)
[99] “Sobre os dons do Espírito, irmãos, não quero
que vocês fiquem na ignorância. Vocês sabem que, quando eram pagãos, se sentiam
irresistivelmente arrastados para os ídolos mudos. Por isso, eu declaro a vocês
que ninguém, falando sob a ação do Espírito de Deus, jamais poderá dizer:
«Maldito Jesus!» E ninguém poderá dizer: «Jesus é o Senhor!» a não ser sob a
ação do Espírito Santo. Existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo;
diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo; diferentes modos de agir, mas é o
mesmo Deus que realiza tudo em todos.Cada um recebe o dom de manifestar o
Espírito para a utilidade de todos. A um, o Espírito dá a palavra de sabedoria;
a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; a outro, o mesmo
Espírito dá a fé; a outro ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das
curas; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o
discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar em línguas; a outro ainda,
o dom de as interpretar. Mas é o único e mesmo Espírito quem realiza tudo isso,
distribuindo os seus dons a cada um, conforme ele quer. De fato, o corpo é um
só, mas tem muitos membros; e no entanto, apesar de serem muitos, todos os
membros do corpo formam um só corpo. Assim acontece também com Cristo. Pois
todos fomos batizados num só Espírito para sermos um só corpo, quer sejamos
judeus ou gregos, quer escravos ou livres. E todos bebemos de um só Espírito. O
corpo não é feito de um só membro, mas de muitos. Se o pé diz: «Eu não sou mão;
logo, não pertenço ao corpo», nem por isso deixa de fazer parte do corpo. E se
o ouvido diz: «Eu não sou olho; logo, não pertenço ao corpo», nem por isso
deixa de fazer parte do corpo. Se o corpo inteiro fosse olho, onde estaria o
ouvido? Se todo ele fosse ouvido, onde estaria o olfato? Deus é quem dispôs
cada um dos membros no corpo, segundo a sua vontade. Se o conjunto fosse um só
membro, onde estaria o corpo? Há, portanto, muitos membros, mas um só corpo. O
olho não pode dizer à mão: «Não preciso de você»; e a cabeça não pode dizer aos
pés: «Não preciso de vocês.» Os membros do corpo que parecem mais fracos são os
mais necessários; e aqueles membros do corpo que parecem menos dignos de honra
são os que cercamos de maior honra; e os nossos membros que são menos decentes,
nós os tratamos com maior decência; os que são decentes não precisam desses
cuidados. Deus dispôs o corpo de modo a conceder maior honra ao que é menos
nobre, a fim de que não haja divisão no corpo, mas os membros tenham igual
cuidado uns para com os outros. Se um membro sofre, todos os membros participam
do seu sofrimento; se um membro é honrado, todos os membros participam de sua
alegria. Ora, vocês são o corpo de Cristo e são membros dele, cada um no seu
lugar. Aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar,
apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres... A seguir
vêm os dons dos milagres, das curas, da assistência, da direção e o dom de
falar em línguas. Por acaso, são todos apóstolos? Todos profetas? Todos mestres?
Todos realizam milagres? Têm todos o dom de curar? Todos falam línguas? Todos
as interpretam? Aspirem aos dons mais altos. Aliás, vou indicar para vocês um
caminho que ultrapassa a todos.” (1 Coríntios
XII, 1-31) “Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, se eu não
tivesse o amor, seria como sino ruidoso ou como címbalo estridente. Ainda que
eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a
ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se
não tivesse o amor, eu não seria nada.
Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que
entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse o amor, nada disso me
adiantaria. O amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se
ostenta, não se incha de orgulho. Nada
faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não
guarda rancor. Não se alegra com a
injustiça, mas se regozija com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará. As profecias
desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência também desaparecerá. Pois o nosso conhecimento é limitado;
limitada é também a nossa profecia. Mas, quando vier a perfeição, desaparecerá
o que é limitado. Quando eu era criança,
falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Depois que
me tornei adulto, deixei o que era próprio de criança. Agora vemos como em
espelho e de maneira confusa; mas depois veremos face a face. Agora o meu
conhecimento é limitado, mas depois conhecerei como sou conhecido. Agora,
portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior
delas, porém, é o amor.” (1 Coríntios
XIII, 1-13) “Procurem o amor.
Entretanto, aspirem aos dons do Espírito, principalmente à profecia. Pois
aquele que fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus. Ninguém o entende,
pois ele, em espírito, diz coisas incompreensíveis. Mas aquele que profetiza
fala aos homens: edifica, exorta, consola. Aquele que fala em línguas edifica a
si mesmo, ao passo que aquele que profetiza edifica a assembléia. Eu desejo que
vocês todos falem em línguas, mas prefiro que profetizem. Aquele que profetiza
é maior do que aquele que fala em línguas, a menos que este mesmo as
interprete, para que a assembléia seja edificada. Suponham, irmãos, que eu vá
encontrá-los falando em línguas: como serei útil, se minha palavra não levar
para vocês nem revelação, nem ciência, nem profecia, nem ensinamento? O mesmo
acontece com os instrumentos musicais, como a flauta ou a cítara: se não
produzirem sons distintos, como reconhecer quem toca a flauta ou quem toca a
cítara? E se a trombeta produzir um som confuso, quem se preparará para a
guerra? Assim também vocês: se a sua linguagem não se exprime em palavras
inteligíveis, como se poderá compreender o que vocês dizem? Estarão falando ao
vento. No mundo existem não sei quantas espécies de linguagem, e não existe
nada sem linguagem. Ora, se eu não conheço a força da linguagem, serei como
estrangeiro para aquele que fala, e aquele que fala será um estrangeiro para
mim. Assim também vocês: já que aspiram aos dons do Espírito, procurem tê-los
em abundância para edificarem a lgreja. Por isso, aquele que fala em línguas
deve rezar para que ele mesmo possa interpretá-las. Se rezo em línguas, o meu
espírito está em oração, mas a minha inteligência não colhe fruto nenhum. O que
fazer então? Rezarei com meu espírito, mas rezarei também com a minha
inteligência; cantarei com o meu espírito, mas cantarei também com a minha
inteligência. De fato, se é apenas com o seu espírito que você bendiz, como
poderá o ouvinte não iniciado dizer «Amém» ao agradecimento que você faz, uma
vez que ele não sabe o que você está dizendo? A ação de graças que você faz é
sem dúvida valiosa, mas o outro não se edifica. Agradeço a Deus por falar em
línguas mais do que todos vocês. Numa assembléia, porém, prefiro dizer cinco
palavras com a minha inteligência para instruir também os outros, a dizer dez
mil palavras em línguas.” (1 Coríntios
XIV, 1-19)
[100] “Ao sair da barca, Jesus viu grande
multidão. Teve compaixão deles, e curou os que estavam doentes. Ao entardecer,
os discípulos chegaram perto de Jesus, e disseram: «Este lugar é deserto, e a
hora já vai adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados
comprar alguma coisa para comer.» Mas Jesus lhes disse: «Eles não precisam ir
embora. Vocês é que têm de lhes dar de comer.» Os discípulos responderam: «Só
temos aqui cinco pães e dois peixes.» Jesus disse: «Tragam isso aqui.» Jesus
mandou que as multidões se sentassem na grama. Depois pegou os cinco pães e os
dois peixes, ergueu os olhos para o céu, pronunciou a bênção, partiu os pães, e
os deu aos discípulos; os discípulos distribuíram às multidões. Todos comeram,
ficaram satisfeitos, e ainda recolheram doze cestos cheios de pedaços que
sobraram. O número dos que comeram era mais ou menos cinco mil homens, sem
contar mulheres e crianças. Logo em seguida, Jesus obrigou os discípulos a
entrar na barca, e ir na frente, para o outro lado do mar, enquanto ele
despedia as multidões. Logo depois de despedir as multidões, Jesus subiu
sozinho ao monte, para rezar. Ao anoitecer, Jesus continuava aí sozinho. A
barca, porém, já longe da terra, era batida pelas ondas, porque o vento era
contrário. Entre as três e as seis da madrugada, Jesus foi até os discípulos,
andando sobre o mar. Quando os discípulos o avistaram, andando sobre o mar,
ficaram apavorados, e disseram: «É um fantasma!» E gritaram de medo. Jesus,
porém, logo lhes disse: «Coragem! Sou eu. Não tenham medo.» Então Pedro lhe
disse: «Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a
água.» Jesus respondeu: «Venha.» Pedro desceu da barca, e começou a andar sobre
a água, em direção a Jesus. Mas ficou com medo quando sentiu o vento e, começando
a afundar, gritou: «Senhor, salva-me.» Jesus logo estendeu a mão, segurou
Pedro, e lhe disse: «Homem fraco na fé, por que você duvidou?» Então eles
subiram na barca. E o vento parou. Os que estavam na barca se ajoelharam diante
de Jesus, dizendo: «De fato, tu és o Filho de Deus».” (Mateus, XIV, 14-33)
[101] Provérbios
XXX, 33.
[102] Cf. Marcos
VII, 36.
[103] João
XV, 16.
[104] Lucas
XXI, 19.
[105] Atos
XIV, 22.
[106] Filemon
IV, 4.
[108] 1 Coríntios
IX, 24.
[109] Cf. 1 Tessalonicenses
V, 18.
[110] Mateus
X, 22.
[111] Cf. Atos
XX, 23
[112] Cf. Atos
XXVII, 1-44.
[113] Salmo
XXXIII, 20.
[114] Cf. 1 Pedro
I, 7.
[115] Romanos
V, 4.
[116] Cf. Mateus
V, 44.
[118] Salmo
LXXX, 7.
[119] Cf. Gênesis
XXXVII, 24; XL, 15.
[120] Cf. Hebreus
XI, 25.
[121] Cf. 2 Reis
I, 11-27; XIX 1-18.
[122] Cf. Jonas
I, 15.
[123] Cf. Hebreus
IV, 1.
[124] Cf. Jó V,
11.
[125] Cf. 2 Coríntios
XI, 24-27.
[126] Romanos
IX, 16.
[127] Tratava-se de homens de negócio que poderiam
ajudar João de Beersheba em seu trabalho de construção.
[128] Mateus
VII, 14.
[129] Cf. Mateus
VII, 24.
[130] 1 Coríntios
X, 4.
[131] João
VI, 44.
[132] João
XIV, 21.
[133] João
IV, 35-37.
[134] Lucas VIII, 8.
[135] Lucas
XI, 29.
[139] Salmo
XCIV, 7-8.
[140] Lucas
VIII, 8.
[141] Lucas
IX, 60.
[142] Mateus
XXV, 6.
[143] Mateus
VI, 8.
[144] A cidade é a Jerusalém celeste. Barsanulfo a
menciona diversas vezes, em suas cartas a João de Beersheba e André o
Solitário. Também João o Profeta a menciona. Os monges no caminho estão a
caminho desta cidade.
[145] Salmo
LXIX, 2.
[146] Salmo
CXLIV, 18.
[147] Cf. 1 Coríntios
IX, 24.
[148] Mateus
VI, 10.
[149] 1 Coríntios,
XIV, 22.
[150] Salmo
CXXXVIII, 18.
[151] Atos
XV, 8.
[152] Provérbios
XXIV, 7.
[153] 1 Reis
II, 3.
[154] 1 Coríntios
X, 13.
[155] As
“oito nações”, expressão tirada das Homilias sobre Josué, de Orígenes.
Trata-se do número infinito de vícios, que foram circunscritos a oito primeiro
por Evagro e depois por seu tradutor e discípulo Cassiano, aqui retomados por
Barsanulfo.
[157] Lucas
II, 51.
[158] Cf. Lucas
II, 14.
[159] I Pedro
V, 8.
[160] Cf. 1
Coríntios X, 13.
[161] Cf. Gênesis
III, 15.
[162] Salmo
CVI, 25-26.
[164] Deuteronômio
XXXI, 6.
[165] No
caso, João de Beersheba.
[166] Provérbios
XXVII, 6.
[167] Provérbios
III, 11-12.
[168] Hebreus
XII, 5-6.
[169] Cf. Lucas
XIX, 33-35.
[170] Cf. Mateus,
XXI, 1-16.
[171] Cf. Isaías
VIII, 6.
[172] Gênesis
XVIII, 27.
[174] Cf. Mateus
XXVII, 24.
[175] 2 Coríntios
II, 7.
[176] Cf. Mateus
X, 14.
[177] Hebreus
XII, 2.
[178] Cf. Daniel
III, 23.
[179] Cf. Eclesiástico
XXII, 11.
[180] Cf. Mateus
VII, 5.
[181] Lucas
XVIII, 38-41
[182] Romanos
III, 19.
[183] Abdias
12
[184] Isaías
XXVI, 20.
[185] Cf. Eclesiástico
XXVIII, 25.
[186] Cf. 2
Timóteo I, 3.
[187] Ezequiel III, 18.
[188] Hebreus
XIII, 17.
[190] Efésios IV, 24.
[191] Cf. Jonas
III, 9.
[192] Cf. Gênesis
XXII, 26.
[193] Mateus
X, 16.
[194] Mateus
X, 16.
[195] Cf. Mateus
XXIII, 10.
[196] Cf. 1
Coríntios VII, 15.
[197] Cf. Atos
IV, 32.
[198] Mateus
X, 20.
[199] Gálatas
VI, 10.
[200] Mateus
V, 37.
[201] Cf. Eclesiástico
XXXIII, 16.
[203] Romanos
XVI, 16.
[204] Mateus
VII, 12; Lucas VI, 31.
[205] Tiago
V, 16.
[206] Mateus
X, 22.
[210] 1 Coríntios
XI, 29.
[211] 1 Coríntios
XII, 26.
[212] Romanos
XII, 15.
[213] 1 Pedro
V, 8.
[217] Cf. Mateus VII, 24.
[218] Cf. Salmo CXXXVI, 6.
[219] Cf. Mateus VIII, 26.
[220] Cf. Salmo CIII, 12.
[221] Salmo CIII, 13.
[222] Cf. Gênese I, 2-3.
[223] Mateus X, 22.
[224] Cf. João XIV, 27.
[225] João XIV, 15.
[226] João XIII, 35.
[227] Deureronômio IV, 1.
[228] Eclesiastes X, 4.
[230] Os 318 santos Padres exprimem a fé do
primeiro Concílio ecumênico de Nicéa em 325.
[231] João X, 11.
[236] As
preces de Euthymo são belas expressões do florescimento da ruminação interior
das santas Escrituras pelos monges de Gaza.
[237] João XVI, 24.
[238] Mateus VII, 7.
[239] Cf. Mateus XIX, 26; Lucas
XVIII, 27.
[240] Cf. João IX, 1-14.
[241] Marcos X, 46-52.
[242] Lucas XVIII, 35-43.
[243] Lucas XVIII, 41.
[244] Mateus XX, 33.
[245] Mateus VIII, 2.
[246] Mateus VIII, 3.
[247] II Coríntios VI, 2.
[248] Lucas V, 31.
[249] Hebreus XI, 6.
[250] Marcos X, 30.
[251] Mateus IX, 29.
[252] Mateus IX, 22.
[254] Efésios V, 27.
[257] Romanos VIII, 18.
[259] Mateus X, 22.
[260] Cf. João XI, 25.
[261] Cf. Marcos V, 9-12.
[262] Cf. Marcos V, 13.
[263] Cf. Marcos IV, 38.
[264] Mateus XIV, 31.
[266] Cf. Mateus XXIV, 42-51.
[267] Salmo XVIII, 5.
[268] Cf. Mateus III, 12; XIII, 30.
[269] Mateus XXV, 32.
[270] Cf. I Coríntios XVI, 13.
[271] Lucas X, 20.
[272] Mateus XXV, 34.
[274] Lucas V, 31.
[275] Hebreus XII, 13.
[276] Cf. Lucas X, 30-34.
[277] Cf. Mateus IX, 20-22.
[278] Cf. João XIX, 34.
[279] Uma semana de anos equivale a sete anos.
[280] Cf. Mateus XXIV, 16.
[281] Salmo XXI, 7.
[283] II Corintios X, 5.
[286] Filipenses II, 8.
[287] João XIII, 34.
[289] Cf. I Pedro V, 8.
[290] Gênese XXXII, 10.
[291] Gênese XLVII, 31.
[292] Cf. Êxodo IV, 7.
[294] Salmo XXI, 7.
[295] Id.
[296] O verme incorruptível é o Senhor Jesus
chamado assim quase vinte vezes por Euthymo nas cartas 61 e nesta. A fonte de
inspiração é o Salmo XXI, 7, que alude à humilhação e à paixão de Jesus,
enquanto o adjetivo incorruptível evoca a ressurreição. Por sua vez, Barsanulfo
fala unicamente em sacrifício incorruptível (Carta 137b). Ele considera a si
mesmo como um “verme malcheiroso, terra e cinzas” (Careta 125).
[298] Efésios IV, 9.
[299] Jó XXXVIII, 3; XL, 2.
[300] Cf. Jó XL, 19-25.
[301] I Coríntios XV, 27.
[302] Cf. Mateus XIII, 31.
[303] Cf. Marcos V II, 28.
[304] Salmo XXXVIII, 6.
[305] Id.
[306] Na origem desta passagem está a imagem de Jó
XL, 19-20, aludindo, como evoca Heródoto, ao modo como os Egípcios
capturavam os crocodilos. Encontramos também aí o Leviatã, grande peixe que
come tudo o que é corrompido e que é purificado pelo Senhor Jesus, o verme
celeste. A multiplicação das imagens prossegue pelas da água, do azeite, do
fogo, alusão ao batismo seguido da eucaristia. Enfim aparece a mostarda ligada
à humildade lembrando ainda o antigo modo de caçar o crocodilo: depois de tê-lo
trazido para a margem com um arpão, jogava-se graxa sobre seus olhos para
cegá-lo e agarrá-lo mais facilmente.
[308] Mateus III, 11.
[309] Mateus V, 13
[310] Salmo XIV, 1.
[311] Lucas XII, 47.
[312] Gênese XVIII, 27; Jó XLII, 6.
[313] Atos III, 6.
[314] Filipenses I, 6.
[315] II Coríntios II, 11.
[317] Cf. I Timóteo I, 5.
[318] Lucas XVIII, 41.
[321] Romanos III, 19.
[322] I Coríntios I, 31.
[323] Cf. Mateus XIX, 20.
[326] Eclesiástico XXXII, 19.
[327] Cf. Provérbios VIII, 22.
[329] Filipenses I, 6.
[331] Salmo XXXIX, 12.
[332] Atos XIV, 22.
[334] Salmo
CV, 4.
Aqueles que tiverem a humildade de lerem estes textos perceberão que trata-se de explicações no sentido espiritual dos textos literais da Sagrada Escritura. Considerando que, quando nos dispomos a estudar os textos sagrados descobrimos que estamos na presença de algo que o nosso pensamento não consegue alcançar. Muitos passaram pela mesma experiência e nos deixaram obras que podem auxiliar nossa compreensão, dentre eles, além dos textos citados destacam-se os textos de Santo Tomás de Aquino, Santo Agostinho e Hugo de San Vitor. Empreendendo um estudo metódico e profundo embasado no patrimônio histórico filosófico desenvolvido por eles e outros autores do gênero com certeza poderemos acender um luzeiro que permita um vislumbre da verdade. Tudo porque, a mente adormecida pelas paixões do corpo, seduzida e conduzida pelas formas sensíveis para fora de si esqueceu-se do que era, e nada mais se lembrando ter sido, julga também não ser nada mais do que aquilo que vê. Ela pode, porém, ser reparada pela doutrina que ensina a conhecer a nossa natureza e a não buscar nas coisas exteriores aquilo que em nós mesmos podemos encontrar.
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