1.
Psicoterapia Ortodoxa
Desenvolvendo o tema da psicoterapia Ortodoxa, neste capítulo devemos
ver o que é a alma e como ela pode ser curada; secundariamente, veremos qual é
a natureza e as inter-relações da imagem, da alma, do nous, do coração e da mente; finalmente, como o nous, o coração e a mente (pensamentos)
podem ser curados. Acredito que esses são os tópicos mais importantes e
essenciais para um conhecimento da purificação e da terapia da alma, assim como
para sua obtenção.
1.1. A
alma (psyché)
1.1.1.
O que é a alma
O termo ‘alma’ é uma das mais difíceis palavras da Bíblia e da
literatura Cristã. ‘Alma’ tem muitos significados na Sagrada Escritura e na
literatura patrística. O Professor Christos Yannaras diz: “Os tradutores da
Septuaginta (Antigo Testamento) transpuseram para o grego, com a palavra ‘psyché’, o Hebraico ‘nephesh’, um termo com diversos significados.
Tudo o que possui vida é chamado de alma, qualquer animal; porém, na Escritura
o mais comum é que ela pertença ao homem. Ela representa o modo como a vida se
manifesta no homem. Ela não se refere simplesmente a um departamento da
existência humana – o espiritual em oposição ao material – mas indica a
totalidade do homem, como uma única hipóstase viva. A alma não apenas reside no
corpo, mas é expressa por ele, o qual em si, como a carne ou o coração,
corresponde ao nosso ego, ao modo pelo qual temos consciência da vida. O homem
é uma alma, ele é um ser humano, ele é alguém”. A alma não é a causa de vida.
Melhor dizendo, é ela quem transporta a vida.
A alma é a vida que existe em toda criatura, inclusive nas plantas e
nos animais. A alma é a vida que existe no homem, e é também todo homem que
possui vida. A alma é também a vida que se expressa no interior do elemento
espiritual em nossa existência, ela é o elemento espiritual de nossa
existência. Uma vez que o termo ‘alma’ possui tantos significados, existem
muitos lugares em que as coisas não foram esclarecidas.
A seguir tentaremos analisar alguns usos do termo ‘psyché’, nos textos do Novo Testamento e
nos textos dos Padres da Igreja.
O termo é utilizado pelo Senhor e pelos Apóstolos para significar
‘vida’. O anjo do Senhor diz a José, que estava noivo da Mãe de Deus:
“Levante-se, pegue a criança e sua mãe, e vá para a terra de Israel; aqueles
que ameaçavam a vida da criança estão mortos[1]”.
O Senhor, descrevendo a si próprio, diz: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá
a sua vida pelas ovelhas[2]”.
Da mesma forma, o Apóstolo Paulo, escrevendo a respeito de Priscila e Áquila,
diz que “eles arriscaram seus pescoços pela minha vida[3]”.
Nesses três casos, o termo usado para ‘vida’ foi ‘psyché’.
‘Psyché’ passou mais tarde a
ser usado, como dissemos, para indicar o elemento espiritual de nossa
existência. Podemos citar algumas passagens para confirmá-lo. O Senhor diz aos
seus discípulos: “Não temam aquele que pode matar seus corpos, mas não pode
matar suas almas. Temam aquele que é capaz de destruir o corpo e a alma no
inferno[4]”.
O homem não pode matar a alma, enquanto que o diabo pode, o que implica que se
a alma não estiver com o Espírito Santo, ela estará morta. O diabo é um
espírito morto, porque ele não tem parte com Deus, e ele transmite a morte
àqueles que se juntam com ele. Ele é uma entidade viva, mas que não existe em
relação a Deus. Na parábola do jovem rico, o Senhor diz a ele: “Tolo! Esta
mesma noite sua alma lhe será cobrada; então, com quem ficarão as coisas que
você preparou?[5]”.
A diferença entre alma (‘psyche’)
por um lado, como elemento espiritual da existência humana, que é mortal por
natureza, mas imortal pela graça, e, de outro lado, a vida (‘psyche’), aparece em outro ensinamento
Cristo: “Aquele que se preocupar com sua própria vida (‘psyche’) estará perdido, mas o homem que perder sua vida (‘psyche’) por mim a encontrará[6]”.
Em um caso, o Senhor utiliza o termo ‘psyche’
para indicar o elemento espiritual de nossa existência, e no outro caso o mesmo
termo significa vida. O Apóstolo Paulo diz, numa carta aos Tessalonicenses:
“Possa o Senhor da paz santificá-los por completo; e possam seu espírito, alma
e corpo ser preservados sem mácula à chegada de nosso Senhor Jesus Cristo[7]”.
Aqui não se trata da falada divisão tripartite do homem, mas o termo ‘espírito’
é usado para indicar a graça de Deus, o carisma, que a alma recebe. O que
queremos destacar aqui é que existe uma distinção entre alma e corpo. João
Evangelista escreve isso no Apocalipse: “Eu vi sobre o altar as almas daqueles
que foram mortos pelo Verbo de Deus e pelo testemunho que sustentaram[8]”.
O corpo foi morto, mas a alma está próxima a Deus e certamente conversa com
Deus, como afirma o Evangelista a seguir.
A palavra ‘alma’ é também usada para se referir ao homem completo. O
Apóstolo Paulo recomenda: “Deixe que todas as almas se sujeitem ao governo das
autoridades[9]”.
Creio que esta breve análise demostra que o termo ‘psyche’ possui muitos significados na
Escritura. Ele é usado para designar o homem inteiro, assim como o elemento
espiritual em sua existência, e ainda a vida que existe no homem, nas plantas e
nos animais, e em todas as coisas que participam da energia vivificante de
Deus. São Gregório Palamas, falando a luz incriada que surge naqueles que têm a
Deus em si “através da morada de Deus em seu interior”, diz que esta é a
energia de Deus e não a sua essência, mas que, assim como a essência é chamada
de luz, também a energia é chamada de luz. O mesmo é verdade para a alma. Tanto
a vida espiritual como a vida biológica são chamadas de ‘alma’, mas estamos
perfeitamente conscientes de que a vida espiritual e a vida biológica são
coisas diferentes: “Assim como a alma comunica a vida ao corpo animado – e nós
chamamos a esta vida ‘alma’, mesmo sabendo que que a alma que existe em nós e
que comunica a vida ao corpo é distinta da vida – também Deus, que a habita na
alma que o tem em si, comunica a luz a ela”.
Citamos esta passagem para mostrar que os Padres estavam cientes de
que o termo ‘alma’ se refere tanto ao elemento espiritual em nossa existência
como à própria vida, e que existe uma grande diferença entre esses dois
significados. Veremos isso melhor mais adiante, quando examinarmos a diferença
entre as almas dos animais e a do homem.
Para tentarmos uma definição de ‘alma’ no sentido de elemento
espiritual em nossa existência vamos buscar São João de Damasco, que diz: “A
alma é uma substância viva, simples e incorpórea, por sua própria natureza
invisível aos olhos do corpo, que utiliza o corpo como um órgão e lhe dá uma
vida dotada de vontade. Ela é livre, dotada de vontade e do poder de agir, e
sujeita a mudança, ou seja, sujeita a mudanças de vontade por ter sido criada.
E isso ela recebeu por natureza, por meio da graça do Criador pela qual ela
recebeu também tanto sua existência como seu ser naturalmente como ele é”.
A alma é simples e boa “porque foi criada por seu Mestre”.
Quase a mesma definição de João de Damasco nos foi dada antes dele por
São gregório de Nisse: “A alma é uma essência criada, viva e noética, que
transmite por si própria para um corpo organizado e senciente o poder de viver
e de captar os objetos dos sentidos, tanto quanto uma constituição natural
capaz disto suporta”.
São Gregório Palamas, interpretando São Paulo que diz que “o primeiro
homem, Adão, tornou-se uma alma viva”, afirma que ‘alma viva’ significa “sempre
viva, imortal, o que quer dizer inteligente, porque o imortal é inteligente; e
não apenas isso, mas também divinamente abençoada pela graça. Assim é a alma
viva”.
Ele diz que a alma é imortal. Sabemos que essa ideia da imortalidade
da alma não é Cristã de origem, mas que os Cristãos a aceitaram sob muitas
condições e pressupostos necessários. O Professor John Zizioluas escreve: “A
ideia da imortalidade da alma, embora não seja de origem Crista, passou para a
tradição de nossa Igreja, permeando inclusive nossa hinografia. Ninguém pode
negá-la sem se sentir fora do clima de todo culto da Igreja. Mas a Igreja não
aceita essa ideia Platônica sem condições e pressupostos. Esses pressupostos
incluem, dentre outras coisas, três pontos básicos. Um é que a alma não é
eterna, mas criada. Outro, é que a alma de modo algum pode ser identificada ao
homem (a alma do homem não é o homem; a alma é uma coisa, e o homem, que é um
ser psicossomático, é outra). E o terceiro e mais importante é que a
imortalidade do homem não está baseada na imortalidade da alma, mas na
Ressurreição de Cristo e na ressurreição dos corpos”.
Já enfatizamos que a alma humana é imortal pela graça, não pela
natureza, e devemos estabelecer que na tradição patrística Ortodoxa a
imortalidade do homem não consiste na vida da alma após a morte, mas numa
passagem sobre a morte pela graça de Cristo. A vida em Cristo torna o homem
imortal, pois sem a vida em Cristo o que existe é a morte, porque é a graça de
Deus que dá vida à alma.
Agora que apresentamos diversos elementos para embasar uma definição
de alma, vamos aprofundar um pouco a questão da criação da alma. A alma é
criada, uma vez que ela foi feita por Deus. Nossa fonte básica é a revelação
que foi dada a Moisés: “O Senhor Deus formou o homem do barro do chão, e soprou
em suas narinas o sopro da vida; e o homem se tornou um ser vivo[10]”.
Essa passagem descreve a criação da alma do homem. Interpretando-a, São João
Crisóstomo diz que é essencial olhar o que é dito com os olhos da fé e que
essas coisas estão ditas “com muita condescendência e devido à nossa fraqueza”.
A frase “Deus fez o homem e soprou sobre ele” é “indigna de Deus, mas a Sagrada
Escritura explica desta maneira para nossa salvação devido à nossa fraqueza,
concedendo a nós que, sendo dignos dessa condescendência, tenhamos força para
nos erguermos até tais alturas”. O modo como Deus formou o corpo do homem e o
tornou uma alma viva tal como descrito na Sagrada Escritura é condescendente.
Ele é descrito assim por causa de nossa fraqueza.
São João Damasceno escreve que o que quer que seja dito sobre Deus em
termos humanos é “dito simbolicamente”, mas possui um sentido superior, uma vez
que o “divino é simples e sem forma”. Assim, uma vez que a Escritura diz que
Deus soprou sobre a face do homem, devemos nos debruçar sobre a interpretação
de São João Damasceno referente à boca de Deus: “Como ‘sua boca e voz’ devemos
entender a expressão de Sua vontade, por analogia com nossa própria expressão
de nossos pensamentos interiores por meio da boca e da voz”. Certamente boca e
sopor são coisas diferentes, mas eu menciono isso como uma indicação, uma vez
que existe aí uma relação e uma conexão. Geralmente, como diz João Damasceno,
tudo o que é afirmado a respeito de Deus em termos corporais, com exceção do
que é dito sobre a presença do Verbo de Deus na carne, “contém significados
ocultos que nos ensinam coisas que excedem nossa natureza”.
Assim é que a alma, como o corpo, foi criada por Deus.
São João Crisóstomo interpreta esse sopro de Deus dizendo que “não
apenas não faz sentido, como ainda é deslocado” dizer que aquilo que foi
assoprado sobre Adão foi a alma e que a alma foi transmitida ao corpo a partir
da substância de Deus. Se isso fosse verdade, então a alma não seria sábia num
lugar e tola e insensata em outro, ou justa num lugar e injusta em outro. “A
substância de Deus não é divisível e mutável, mas é, ao contrário, imutável”.
Assim sendo, o sopro divino foi “a energia do Espírito Santo”. Tal como Cristo
disse: “Recebam o Espírito Santo”, também o sopro divino “entendido humanamente
é o venerado e santo Espírito”. De acordo com o santo, a alma não é um pedaço
de Deus, mas a energia do Espírito Santo, que criou a alma sem ter se tornado
alma ela mesma. “Esse Espírito veio e não se tornou alma, mas criou a alma; ele
não se transformou em alma, mas criou a alma; pois o Espírito Santo é criador,
ele teve uma parcela na criação do corpo e na criação da alma. Pois pelo poder
divino, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, criaram a criatura”.
Outro ponto enfatizado pelos santos Padres é de que nós não temos
existência no corpo sem uma alma, nem existência numa alma sem o corpo. No
momento em que Deus criou o corpo, ele criou também a alma. São Atanásio do
Sinai escreve: “Nem o corpo existe antes da alma, nem a alma existe antes do
corpo”. São João Damasceno enfatiza, em oposição ao ponto de vista de Orígenes:
“Corpo e alma foram formados ao mesmo tempo, não um antes e outro depois”. O
mesmo afirma São João Clímaco.
O homem foi feito à imagem de Deus. Essa imagem certamente não se
refere ao corpo, mas principal e primeiramente à alma. A imagem no homem é mais
forte do que nos anjos pois, como veremos, a alma humana dá a vida ao corpo que
lhe é ligado. De modo geral, podemos dizer que a alma é a imagem de Deus. E,
como Deus é trino – Nous, Verbo e
Espírito – também a alma humana possui três potências: nous, alma e espírito. Em toda a natureza existem “exemplos
icônicos” da Santíssima Trindade, mas esta transparece principalmente no homem.
A imagem no homem é mais forte do que nos anjos. São Gregório Palamas, falando
do batismo de Cristo no Jordão, e explicando porque “o mistério do criado e
recriado [homem] revela o mistério da Santa Trindade”, escreve que isso
acontece não apenas porque somente o homem é um iniciado e um adorador
terrestre da Santa trindade, mas também porque “somente ele é à sua imagem”. Os
animais sencientes e irracionais possuem apenas um espírito vital e este não
pode existir por si próprio; assim, eles não possuem nous nem palavra. Os anjos e arcanjos possuem nous e palavra, visto que são noéticos e inteligentes, mas não
possuem o espírito vivificante, porque não possuem um corpo que receba vida do
espírito. Então, desde que o homem possui o nous,
a palavra e o espírito vivificante que dá vida ao corpo que lhe está ligado,
“apenas ele é a imagem da natureza três vezes pessoal”.
São Gregório Palamas desenvolve o mesmo ensinamento em seus capítulos
naturais e teológicos. Assim como o Deus Trinitário é Nous, Verbo e Espírito, assim é também o homem. O espírito do
homem, o poder vivificador em seu corpo, constitui “o amor noético do homem”,
“ele procede do nous e do verbo,
existe no verbo e no nous e possui em
si tanto o verbo0 como o nous”. Por
sua vez, a natureza noética e racional dos anjos possui o nous, o verbo e o espírito, “mas não possui o espírito
vivificante”. Como indicamos, a imagem se refere em primeiro lugar à alma, mas
uma vez que o corpo recebe a vida do espírito, a imagem no homem é mais forte
do que nos anjos.
São Gregório também enxerga a diferença entre a imagem do homem e a
imagem dos anjos de outro ponto de vista. É conhecido seu ensinamento de que em
Deus existe a essência e a energia, e que estas estão conectadas separadamente
e separadas conectadamente. Esse é o mistério da invisível junção entre
essência e energia. A essência de Deus não é partilhada pelo homem, enquanto
que as energias o são. E, uma vez que o h omem é a imagem de Deus, esse
ensinamento sobre a essência e as energias se aplica igualmente à alma. A alma
é, portanto, inseparavelmente dividida em essência e energia.
Ao comparar a alma do homem com as dos animais, São Gregório diz que o
animal possui a alma não como uma essência, mas como uma energia. “A alma de
cada animal irracional é a vida do corpo que é animado por ela, de modo que o
animal possui a vida não essencialmente, mas como uma energia, uma vez que essa
vida depende de outra coisa e não é auto- subsistente”. Dessa forma, uma vez
que a alma dos animais possui apenas a energia, ela morre com o corpo. Ao
contrário, a alma do homem não possui apenas a energia, mas também a essência:
“A alma possui a vida não apenas como uma atividade, mas essencialmente, uma
vez que ela vive por si. Por essa razão, quando o corpo perece, a alma não
perece com ele”. Ela permanece imortal. A alma inteligente e noética é
composta, mas “desde que sua atividade é dirigida a algo além, ela não produz
síntese naturalmente”.
Em seu ensinamento, São Máximo o Confessor estabelece que a alma
possui três potências, sendo: a) nutrição e crescimento, b) imaginação e
instinto, e c) inteligência e intelecção. As plantas compartilham apenas da
primeira dessas potências; os animais partilham também da imaginação e do
instinto, enquanto o homem possui as três potências. Isso mostra o grande valor
do homem em relação aos animais irracionais. Da mesma forma, o que foi dito
previamente mostra como os anjos diferem dos homens. Assim, quando Cristo se
tornou homem, ele recebeu um corpo humano e não a forma de um anjo, e ele se
tornou um Deus homem, e não um Deus anjo.
Do que foi dito, podemos agora vislumbrar a divisibilidade da alma.
Não pretendemos nos estender sobre esse tema, mas apresentaremos as coisas que
apresentam aspectos essenciais para o tema geral deste estudo.
São João Damasceno disse que a alma é inteligente e noética. Deus deu
ao homem “uma alma inteligente e noética mediante um sopro apropriado”. É um
ensinamento básico dos Padres que o nous
e a inteligência são duas energias paralelas da alma. São Gregório Palamas,
referindo-se ao fato de que a alma é uma imagem da Santa Trindade, e escrevendo
que esta consiste em Nous, Verbo e
Espírito, diz que a alma, criada por Deus à Sua imagem, “é dotada de nous, verbo e espírito”. Deste modo ela
deve guardar sua ordem, inteiramente associada a Deus. Ela deve olhar apenas
para Deus, adornar-se constantemente com sua lembrança e contemplação e com o
mais cálido e ardente amor por Ele.
A alma é prejudicada por paixões e pecados. Assim, ela deve ser
unificada e oferecida da Deus. A unificação acontece de muitas maneiras, em
especial quando se colocam em prática as palavras de Cristo. Teolepto,
Metropolita de Filadélfia, enfatiza especialmente o valor da prece. “A prece
pura, depois de unificar em si o nous,
o verbo e o espírito, invoca o nome de Deus em palavras, olha para Deus a quem
está invocando, com um nous livre de
distrações, e mostra contrição, humildade e amor. então ela inclina para si a
eterna Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo – Um Deus”. Pela palavra nos
recordamos constantemente do nome de Cristo, com um nous livre de distrações olhamos para Deus, e com o espírito nos
deixamos possuir pela contrição, a humildade e o amor.
Dessa forma as três potências da alma são unidas e oferecidas à
Santíssima Trindade. É assim que a cura da alma tem lugar, e trataremos disso
mais extensamente adiante. O desmonte das potências da alma é sua enfermidade,
e a unificação sua cura.
Nicetas Stethatos divide a alma em três partes mas fala principalmente
de duas, das partes inteligente e passional. A parte inteligente é invisível e
não está ligada aos sentidos, “como se existisse tanto dentro como fora deles”.
Creio que aqui ele está se referindo ao nous.
Mais tarde veremos a distinção entre inteligência e nous, mas agora vamos enfatizar que o nous tem uma relação com Deus, enquanto que a inteligência,
enquanto energia, é aquilo que formula e expressa as experiências do nous. A parte passional da alma é
dividida entre sensações e paixões. Essa parte é chamada de passional, porque
“está sujeita às paixões”.
São Gregório do Sinai, analisando as potências da alma e descrevendo
com precisão o que cabe a cada uma delas, diz que os pensamentos malignos
trabalham na parte inteligente; as paixões bestiais na parte excitável;
lembranças de paixões animalescas, na parte apetente; as fantasias, na parte
noética; e as noções na parte racional.
O mesmo santo diz que quando, por seu sopro vivificante Deus criou a
alma inteligente e noética, “ele não a criou com ódio ou luxúria animal; ele
dotou a alma apenas com o poder concupiscente e com a coragem para ser atraída
amorosamente”. Com a criação da alma, “nem a luxúria nem o ódio foram incluídos
no seu ser”. Estes foram resultantes do pecado.
Não iremos agora desenvolver mais a fundo o tema da divisão da alma,
porque isso será descrito no quarto capítulo, que se refere às paixões.
Incluímos algo a respeito da divisão da alma neste capítulo apenas porque estamos
tratando especificamente da alma.
Também existe uma relação e uma conexão entre a alma e o corpo. Mas
qual é essa relação e até quanto ela existe? É o que veremos a seguir.
O home é feito de corpo e alma. Cada um desses elementos por si não
constitui um homem. São Justino, o filósofo e mártir, diz que a alma em si não
é um homem, mas é chamada de ‘alma do homem’. Do mesmo modo o corpo não é
chamado de homem, mas de ‘corpo de homem’. “Apesar de o homem não ser nenhum
dos dois, a combinação dos dois é chamada de homem; Deus chamou o homem para a
vida e a ressurreição, e não chamou uma parte, mas o todo, que é a alma e o
corpo”.
A alma, como destacamos, foi criada junto com o corpo em sua
concepção. “O embrião é dotado de uma alma na concepção”. A alma é criada na
concepção e “a alma, nesse instante, é tão ativa quanto a carne. Assim como o
corpo cresce, cresce a alma manifestando suas energias”.
Existe uma clara distinção entre alma e corpo, uma vez que “a alma não
é um corpo, mas é incorpórea”. Ademais, é completamente impossível para o corpo
e a alma existirem ou serem chamados de corpo e alma sem estarem relacionados,
ou independentemente um do outro. “Porque essa relação foi fixada”.
Os filósofos antigos acreditavam que a alma possui um lugar específico
no corpo, que o corpo é a prisão da alma e que a salvação da alma consiste em
se livrar do corpo. Os Padres ensinaram que a alma está em todas as partes do
corpo. São Gregório Palamas dizia que os anjos e a alma, sendo incorpóreos,
“não estão localizados em um lugar, nem estão em toda parte”. A alma, na medida
em que sustenta o corpo junto do qual foi criada, “está em todo lugar no corpo,
não como se estivesse em um lugar, nem como se estivesse circunscrita, mas como
algo que sustenta, circunscreve e dá vida a ele, porque possui em si também a
imagem de Deus”.
O mesmo santo, percebendo que algumas pessoas (helenizantes)
localizavam a alma no cérebro como se este fosse uma acrópole, enquanto outras
a colocavam no centro do coração, “nesse elemento que foi purificado do sopro
da alma animal” como um veículo genuíno (judaizantes), disse que sabemos
precisamente que a parte inteligente está no coração, não como num continente,
porque é incorpórea, nem fora do coração, visto que está associada a ele. O coração
do homem é o órgão controlador, o trono da graça, de acordo com Palamas. Nele
devem ser encontrados o nous e todos
os pensamentos da alma. Os santos afirmam ter recebido esse ensinamento do
próprio Cristo, que fez o homem. Ele nos relembra as palavras de Cristo: “Não é
o que entra na boca do homem que o corrompe, mas o que sai dela[11]”,
e: “Porque é do coração que procedem os maus pensamentos[12]”.
O santo ainda acrescenta que São Macário disse: “O coração dirige todo o
organismo, e quando a graça toma posse do coração, ele reina sobre todos os
pensamentos e sobre todos os membros, pois é no coração que o nous e a alma têm assento”. Portanto, o
objetivo básico da terapia, diz ele, consiste em fazer retornar o nous “que por causa dos sentidos se
dissipou algures para fora do coração”, que é a “sede dos pensamentos” e o
“primeiro órgão inteligente do corpo”.
Voltaremos ao tema, mas o que desejo em primeiro lugar é sublinhar que
de acordo com o ensinamento dos Padres, a alma usa o coração como seu órgão e
dirige o corpo. A alma está em união com o corpo; ela não é estranha a ele.
Nemésio de Edessa ensina que “a alma é incorpórea, e não está circunscrita a
uma porção específica do espaço, mas se alastra toda ela por toda parte: como o
sol que se estende até onde alcança sua luz tanto quanto por todo o corpo do
próprio sol, não sendo uma parte daquilo que ela ilumina, como aconteceria se
ela não estivesse onipresente ali”. Acima de tudo, “a alma está unida ao corpo,
mas permanece distinta dele”.
A alma ativa e dirige o corpo e todos os membros do corpo. É um
ensinamento da Igreja Ortodoxa que Deus dirige o mundo pessoalmente sem
intermediários criados, apenas com sua energia incriada. Portanto, assim como
Deus ativa toda a natureza, do mesmo modo a “alma ativa os membros do corpo e
move cada um em conformidade com a operação do membro em questão”. Assim tal
como é a tarefa de Deus administrar o mundo, “é tarefa da alma guiar o corpo”.
São Gregório Palamas, que se debruçou sobre o tema das relações entre alma e corpo, diz que
aquilo que acontece em Deus acontece na alma. A alma tem em si, em forma
simples, “todas as potências providenciais do corpo”. E mesmo quando algum
membro do corpo é ferido, se os olhos são removidos ou os ouvidos ensurdecidos,
a alma não deixa de possuir as potências providenciais do corpo. A alma não
constitui as potências providenciais, mas ela possui essas potências. Apesar da
presença dessas potências providenciais nela, ela continua sendo “simples e não
formada por partes”, não “composta nem sintética”.
É típico que nessa passagem São Gregório correlaciona o que acontece
na alma em relação ao corpo com a relação de Deus com toda a criação. Deus
dirige o mundo com suas potências providenciais mesmo antes do mundo ter sido
criado. Contudo, Deus, que não apenas possui muitas potências como ainda é
todo-poderoso, não fica privado de sua unicidade e simplicidade por causa das
potências que há nele. Isso mostra claramente que a alma é “à imagem de Deus”.
O que se passa com relação a Deus se passa analogamente em relação à alma do
homem.
São Gregório de Nissa diz que a alma é imaterial e incorpórea
“operando e se movendo de uma maneira correspondente à sua natureza peculiar, e
evidenciando essas emoções peculiares através dos órgãos do corpo”. O mesmo
santo ensina epigramaticamente que a alma não é suportada pelo corpo, mas que
ela suporta o corpo. Ela não está no interior do corpo como em um vaso ou um
saco, ao contrário, é o corpo que está dentro dela. A alma está em toda parte
no corpo “e não existe parte iluminada por ela, na qual ela não esteja
inteiramente presente”.
A conclusão geral no que se refere ao relacionamento entre alma e
corpo é de que a alma está em todo o corpo, que não existe setor do corpo do
homem no qual a alma não esteja presente, que o coração é a primeira sede
inteligente da alma, que o centro da alma está nele, não como num vaso, mas
como num órgão que guia todo o corpo, e que essa alma, embora distinta do
corpo, está intimamente ligada a ele.
Todas essas coisas foram ditas, porque estão estreitamente ligadas ao
tema deste estudo. Pois não podemos entender a queda e a enfermidade da alma se
não soubermos o que é a alma e como ela está ligada ao corpo.
1.1.2.
Enfermidade e morte da alma
Na igreja fala-se com frequência da queda do homem e da morte que
chegou como resultado dessa queda. Primeiro veio a morte espiritual, a morte
física seguiu-se a ela. A alma perdeu a graça incriada de Deus, o nous deixou de ser relacionar com Deus e
se obscureceu. Ele transmitiu este obscurecimento e esta morte ao corpo. De
acordo com São Gregório o Sinaíta, o corpo do homem foi criado incorruptível e
“assim ele ressuscitará”, e a alma foi criada impassível. Mas como havia uma
tenaz ligação entre a alma e o corpo devido à sua interpenetração e à sua
comunicação, ambos se corromperam. “A alma adquiriu as qualidades das paixões,
ou antes, dos demônios, e o corpo se tornou coo de um animal irracional por
causa da condição em que caiu e pela predominância nele da corrupção”. Uma vez
que a alma e o corpo se corromperam, eles formaram “um ser animal, irracional e
insensato, sujeito ao ódio e à luxúria”. Foi assim segundo as Escrituras, que o
homem “se uniu aos animais e se tornou como eles”. Em decorrência da queda, a
alma do homem se encheu de paixões, seu corpo se tornou como o dos animais. O
homem ornou-se das vestes de uma pele de decadência e mortalidade e se
assemelhou aos animais irracionais.
Essa enfermidade, escravidão, impureza e morte da alma é
admiravelmente descrita nos textos patrísticos. Todo pecado é uma repetição do
pecado de Adão, e com cada pecado mergulhamos mais na escuridão e morte da alma
decaída. Vejamos mais de perto esses estados decaídos da alma.
Quando o homem deixa livres seus sentidos e, permeando esses sentidos,
o nous se afasta do coração, sua alma
se torna cativa. “O descontrole dos sentidos coloca grilhões na alma”. Essa
escravidão é o equivalente do obscurecimento. O crepúsculo do sol cria a noite.
E quando Cristo se retira da alma e as trevas das paixões a tomam, então “as
feras imateriais a fazem em pedaços”. A alma humana cai numa escuridão
impenetrável e os demônios passam a operar nela. Ela está como que numa noite
sem lua.
Isso também constitui a moléstia da alma. São Thalassius diz: “A
doença do coração é uma disposição para o mal, enquanto que sua morte é o
pecado posto em ação”. A alma doente é conduzida passo a passo para a morte.
Na realidade, a doença da alma é a impureza. “A impureza da alma
reside no fato dela não funcionar de acordo com a natureza. É por isso que os
pensamentos passionais se produzem no intelecto”. De acordo com São Máximo,
“uma alma cheia de pensamentos de desejo sensual e ódio é impura”.
Hesíquio o Sacerdote descreve o modo como a alma adoece e acaba por
morrer. Deus criou a alma simples e boa, mas ela se delicia com as provocações
do demônio e, “uma vez que ela se corrompe, ela passa a perseguir algo sinistro
como se fosse bom”. Nesse caminho “seus pensamentos se tornam enlaçados com as
fantasias provocadas pelo diabo”. Então “a alma consente com a provocação e,
para sua própria condenação, tenta fazer com que essa fantasia mental
desregrada se torne uma ação concreta por intermédio do corpo”.
São Gregório Palamas, citando passagens da Escritura, como as palavras
do Apóstolo Paulo, “mesmo quando estávamos mortos por nossas faltas, Ele nos
fez reviver junto a Cristo[13]”,
e as palavras de João Evangelista, “existe um pecado que conduz à morte[14]”,
e as palavras de Cristo ao seu discípulo, “Deixe que os mortos enterrem os
mortos[15]”,
diz que, embora a alma seja imortal pela graça, isso não impede que “quando ela
se dissipa, se abandona aos prazeres e à autoindulgência, ela morre, ainda que
viva”. É assim que ele interpreta as palavras de Paulo: “Ela [a viúva] que vive
no prazer está morta, ainda que viva[16]”.
Embora a alma esteja viva, ela está morta, uma vez que ela não possui a
verdadeira vida que é a graça de Deus. Quando nossos ancestrais se afastaram da
lembrança e da theoria de Deus e
desrespeitaram seu Mandamento, tomando o partido do espírito mortal de Satanás,
eles foram despidos “da vestimenta luminosa e viva da irradiação sobrenatural e
também se tornaram espíritos mortos como Satanás”. É assim que sempre acontece.
Quando alguém se une a Satanás e faz sua própria vontade, sua alma falece, porque
Satanás não é apenas um espírito morto, como ainda ele leva a morte àqueles que
dele se aproximam.
Quando a alma não trabalha de acordo com a natureza ela está morta.
“Quando ela não está saudável, embora ela mantenha a aparência de vida, ela
está morta... Quando, por exemplo, alguém não se preocupa com a virtude, mas é
voraz e transgride a lei, como posso dizer que ele possui uma alma? Porque
anda? Mas os animais irracionais também andam. Porque come e bebe? Mas as feras
selvagens também fazem isso. Está bem, porque a pessoa se mantém sobre seus
dois pés? Ao contrário, isso me convence de que ela é uma besta em forma
humana”.
Nos ensinamentos do Apóstolo Paulo, o homem ‘morto’ é chamado de ‘carnal’ ou de ‘não espiritual’. Em
sua carta aos Coríntios, ele escreve: “o homem não espiritual não recebe os
dons do Espírito de Deus[17]”.
Ele também escreve: “Enquanto houver inveja e conflito entre vocês, não serão
vocês carnais, apenas caminhando como meros homens?[18]”.
De acordo com o Professor Romanides, as palavras usadas para ‘não espiritual’ (psychikos), ‘carnal’ (sarkokos) e ‘caminhando como meros
homens’ (kata anthropon peripateite)
possuem o mesmo significado. “O homem carnal e não espiritual é o homem
inteiro, alma e corpo, que abandonou a energia do Espírito Santo que torna a
pessoa incorruptível”. “Quando um homem não segue o Espírito, ele se priva da
energia vivificante de Deus e se torna não espiritual”.
1.1.3.
A terapia da alma
Toda a tradição da Igreja Ortodoxa consiste em curar e trazer para a
vida a alma morta pelo pecado. Todos os sacramentos e toda a vida ascética da
Igreja contribuem para essa cura. Quem não estiver consciente deste fato não
será capaz de sentir a atmosfera da Tradição Ortodoxa. Poderemos ver a seguir
no que consiste essa saúde e vitalidade da alma, e os muitos modos de se obter
isso, e como funciona uma alma viva e saudável.
A saúde da alma consiste na impassibilidade e no conhecimento
espiritual. “A alma é perfeita quando está permeada pelas virtudes”. Uma alma é
perfeita se “seu aspecto passional está totalmente orientado para Deus”. A alma
pura é “aquela que ama a Deus”. A alma pura é “aquela que se libertou das
paixões que se se delicia constantemente no amor divino”.
Os santos Padres também descrevem muitos caminhos por meio dos quais a
alma pode ser revivida, vitalizada e curada. A divina lamentação, ou
arrependimento, conduz ao fim do prazer sensual, mas somente “a destruição do
prazer sensual constitui a ressurreição da alma”. Antônio, o grande servo de
Deus, dizia ser preciso purificar nossa mente. “Pois eu acredito que quando a
mente é completamente pura e se encontra em seu estado natural, ela obtém uma
percepção penetrante, e vê mais claramente e mais longe do que os demônios, uma
vez que o Senhor lhe revela as coisas”. Vale dizer, o santo servo do Senhor nos
conjura a que purifiquemos nossas mentes. Já foi comentado que se alguém mantém
seu nous puro de maus pensamentos e
de imagens variadas, ele conseguirá manter pura sua alma.
Teolepto, Metropolita de Filadélfia, ensina: “Quando, depois de dar
fim às distrações exteriores, você ainda mantém pensamentos interiores, então
seu nous está agitado por atos e
palavras espirituais”. O esforço para manter a mente pura e para libertar a si
mesmo das muitas distrações tem como resultado o aparecimento do nous em nosso interior, ele que estava
morto e oculto. Assim é que Teolepto adverte: “Coloque um fim em se misturar
com o mundo exterior e lute contra os pensamentos interiores até encontrar a
paz da prece pura e a morada onde habita Cristo”. O coração, como veremos
adiante, é essa morada. Mas só descobriremos isso quando nos esforçarmos para
viver em quietude e quando lutarmos contra os pensamentos que o mantém sob seu
jugo dentro de nós. A pureza do nous
é muito importante. Esse método é simples, mas abrangente, e traz grande
benefício à alma, porque faz dela o templo do Espírito Santo.
A alma se cura quando ela rejeita relações com as coisas inferiores e
se abre em amor ao que é superior.
São Gregório Palamas, interpretando a tradição da Igreja Ortodoxa, diz
que por meio da transgressão e do pecado perdemos a semelhança com Deus, mas
não perdemos a imagem. E é exatamente por não termos perdido a imagem, que
podemos restaurar a alma. A alma, liberta das relações com as coisas exteriores
e aberta ao amor daquilo que é superior, submissa a ele por meio das obras e
caminhos da virtude, “recebe dele a iluminação, o ornamento e o melhoramento, e
obedece seus conselhos e exortações, recebendo assim a vida verdadeira e
eterna”. Quando a alma obedece a lei de Deus, ela se torna gradualmente mais
saudável, é iluminada e recebe a vida eterna.
Paralelamente ao método prático de cura da alma, Nicetas Sthetatos
oferece ainda outro método, por meio da theoria.
Onde existe o amor a Deus, um nous ativo,
e a participação na inalcançável luz, “existe também a paz nas potências do
coração, a purificação do nous e a habitação interior da Santíssima Trindade”.
Sendo assim, ao lado do esforço para manter puro o nous, é preciso acostumar o nous
à ação interior e à prece interior, para adquirir a caridade e o amor a Deus –
porque, onde este amor habita, a paz chega para as potências da alma – e a
pureza do nous.
Em outra seção deste livro falaremos de modo mais analítico sobre o
modo como a alma é curada quando ela se move de acordo com a natureza, e
descreveremos o movimento natural de cada parte da alma. Aqui, embora estejamos
tratando da cura da alma, apenas sublinhamos alguns fatos.
São Gregório Palamas escreve que nós lutamos para conduzir para fora
de nosso corpo a lei do pecado e para instalar em seu lugar a vigilância do nous, e desta forma estabelecer uma lei
apropriada para cada potencia da alma e para cada membro do corpo. Para os
sentidos, ordenamos o autocontrole. Para a parte passional da alma, o amor.
Aumentamos a inteligência rejeitando tudo o que impeça a mente de ascender para
Deus, e chamamos isso de ‘nepsis’. Se
uma pessoa conseguiu purificar seu corpo por meio do autocontrole, se fez de
suas emoções e desejos ocasiões para a virtude, se apresentou a Deus uma mente
purificada pela prece, então ela irá “adquirir e ver em si mesma a graça
prometida àqueles cujos corações foram purificados”.
São Máximo, dentro da tradição Ortodoxa, exorta: “Refreie a potência
irascível de sua alma por meio do amor, extinga seu desejo por meio do
autocontrole, dê asas à sua inteligência com a prece, e a luz de seu nous jamais será obscurecida”.
Não são conselhos nem remédios que curam a alma adoecida, que dão vida
ao nous morto, que purificam o
coração impuro, mas o método ascético da Igreja, o autocontrole, o amor, a
prece e a guarda do nous das
provocações de Satanás através dos maus pensamentos. É por isso que acreditamos
que a tradição Ortodoxa é muito importante em nossos tempos, pois ela é a única
coisa que pode libertar o homem e curá-lo de sua ansiedade e insegurança
trazidas pela morte de sua alma.
[1]
Mateus 2: 20.
[2]
João 10: 11.
[3]
Romanos 16: 4.
[4]
Mateus 10: 28.
[5]
Lucas 12: 20.
[6]
Mateus 16: 25.
[7] I
Tessalonicenses 5: 23;
[8]
Apocalipse 6: 9.
[9]
Romanos 13: 1.
[10]
Gênesis 2: 7.
[11]
Mateus 15: 11.
[12]
Mateus 15: 19.
[13]
Efésios 2: 5.
[14] I
João 5: 16.
[15]
Mateus 8: 22.
[16] I
Timóteo 5: 6.
[17] I
Coríntios 2: 14.
[18] I
Coríntios 3: 3.
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