GREGÓRIO O SINAÍTA
OUTROS CAPÍTULOS
1. Todos os que foram batizados em Cristo devem passar por todos os
estágios da vida de Cristo. Por que receberam seu poder. E, por meio dos
mandamentos, eles podem descobri-lo e aprende-lo. A concepção é a garantia do
Espírito. O nascimento é a energia da alegria. O batismo é o poder purificador
do fogo do Espírito. A transfiguração é a contemplação da luz divina. A
crucificação é a morte para o mundo. O enterro é a guarda do amor divino no
coração. A ressurreição é o despertar vivificante da alma. A ascensão é o
êxtase em direção a Deus e o arrebatamento do intelecto. Quem não descobriu nem
sentiu a passagem por estes estados ainda é uma criança em seu corpo e em seu
espírito, ainda que diante de todos pareça um homem entrado em anos e cheio de
ações.
2. A paixão de Cristo traz em si uma morte que dá a vida, por aqueles
que sofrem apesar de todos, uma vez que sofremos com ele para sermos
glorificados com ele[1].
Mas as paixões e os prazeres arrastam os que por eles se entregam a uma morte
que traz a morte. Sofrer voluntariamente os sofrimentos de Cristo consiste, de
fato, em crucificar a crucificação e em fazer morrer a própria morte.
3. Sofrer por Cristo consiste em suportar o que acontece. Pois a
instrução do Senhor, que é um ardor ciumento pelo bem dos inocentes, nos
denuncia para que retornemos, abrindo os ouvidos, a nós que somos culpados. É
por isso que o Senhor prometeu a coroa da eternidade àqueles que suportam.
Glória ao nosso Deus, glória a ti, Trindade santa, por tudo, glória a ti.
Da transformação passional
4. A acídia, paixão difícil de combater, afrouxa o corpo. E quando o
corpo está relaxado, também a alma fica frouxa. Esgotados um e outra, a
compleição do corpo é alterada pela preguiça. Esta suscita o desejo; o desejo,
o calor; o calor, a rebeldia; a rebeldia suscita a memória; a memória, a
imaginação; a imaginação, a sugestão; a sugestão, a associação; a associação, o
consentimento; e o consentimento cria o ato, seja por meio do corpo, seja por
meio de outras aberrações. Assim o homem é vencido e tomba.
Da boa transformação
5. A paciência em todas as obras engendra a coragem; a coragem, a
resolução; a resolução, a constância; a constância, a tensão; a tensão do
trabalho, ou a superação, acalma a intemperança do corpo e domina o relaxamento
do desejo; o desejo suscita a aspiração; esta, o amor; o amor suscita o ardor;
o ardor, o calor; o calor, o despertar; o despertar, o esforço; o esforço, a
prece; a prece, a hesíquia; a hesíquia engendra a contemplação, e esta o
conhecimento; o conhecimento engendra a inteligência dos mistérios; o fim dos
mistérios é a teologia; o fruto da teologia é a perfeita caridade; o fruto da
caridade é a humildade; o fruto da humildade é a impassibilidade; o fruto da impassibilidade
é a vidência, a profecia, a previsão. Pois aqui em baixo ninguém é perfeito em
virtudes, nem absorve de uma vez por todas todos os vícios. Mas quando a
virtude cresce pouco a pouco, o vício retorna insensivelmente para o nada.
Das tentações durante o sono
6. Questão: quando a polução
noturna é pecado, e quando não?
Resposta: a polução é pecado em três situações: a prostituição, a frouxidão
e o consentimento dos pensamentos. Mas em sete casos ela não é pecado: quando o
fluxo provém da urina, dos alimentos materiais, dos alimentos purgativos, da
água fria, do relaxamento do corpo, da fadiga extrema e das diversas
imaginações demoníacas. Dentre os ativos, depois da velhice, o fluxo ocorre no
mais das vezes por cinco dos modos mencionados. Mas entre os impassíveis, a
matéria do humor não vem senão com a urina. As numerosas penas e a energia
divina que purifica e santifica sutilizaram as passagens secretas. Ademais,
eles receberam os carismas da temperança. O último modo – o fluxo que provém
dos fantasmas durante o sono – é o dos passionais e dos enfermos. Mas também este,
na medida em que é involuntário, não é um pecado. É o que disseram os Padres.
No impassível, o movimento que não é pecado e que a providência
suscita de tempos em tempos, é consumido pelo fogo divino como o resto da
matéria. No ativo, a necessidade é múltipla, e nada do que sai do corpo é
condenável. No passional, o fluxo é duplo. Ele pode ser mau ou não. Ele pode
ser provocado durante o sono pelos fantasmas, ou na vigília pelo consentimento.
O primeiro modo não é condenável; mas o segundo é pecado, e a ele esta ligada
uma pena.
Nos impassíveis, o fluxo e o alívio do corpo são a mesma coisa. O humor
se vai com a urina, segundo os caminhos da providência. A urina se espalha como
um resíduo e o humor se perde, consumido pelo fogo divino. É o que se diz. Nos
ativos e nos médios, diz-se que o corpo se purifica e se libera do humor
corruptível e daquilo que é natural e necessário, por seis modos gerais e
irrepreensíveis do fluxo: os alimentos materiais, os alimentos purgativos, a
água fria, o relaxamento da natureza, o esgotamento pelo trabalho e por fim a
natureza afetada por si mesma sob a influência da inveja dos demônios. Entre os
doentes e os noviços, os modos passionais são também em número de seis: a gula,
o falatório, o excesso, a vanglória, o duplo consentimento da imaginação e a
inveja agressiva dos demônios. Mas este é o objetivo da providência: purificar a
natureza da corrupção, dos acréscimos estrangeiros e dos desejos selvagens que
penetram nela, e, por meio da atenção, ensinar àquele que combate a humildade e
a temperança em tudo[2]
e longe de tudo.
7. Aquele que vive só e que come o que lhe é dado por caridade, deve
receber a esmola de sete maneiras: a primeira, pedir quando necessário; a
segunda, receber quando necessário; a terceira, receber o que vem como se fosse
dado por Deus; a quarta, ter confiança em Deus, crer que é ele quem retribui; a
quinta, ser um operário dos mandamentos; a sexta, não transgredir nenhum deles;
a sétima, não ser avaro, mas generoso e compassivo. Quem age assim se alegra: este
é conduzido por Deus, não pelos homens.
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